Ele dirigiu até um lugar que eu com certeza não iria por vontade própria. As árvores eram inclinadas e as suas folhas caiam constantemente como se fossem frágeis e o mínimo volume de vento as atingisse com força. A neblina densa impedia Damen de dirigir.

— Vou esperar a neblina se dissipar um pouco. É quase impossível ver o que tem a nossa frente desse jeito — ele apoiou suas mãos no volante e continuou olhando fixamente para a estrada a nossa frente.

— Irmão de Kera... É? — Comentei, enquanto enchia a boca e mastigava aceleradamente uma porção de salgadinho que havíamos comprado na estrada. — Deve ser legal isso.

— Haven, não conta pra ninguém! É sério. Você é uma vampira novata e sei como é. Suas emoções estão ampliadas e tenho certeza que você não consegue ficar sem falar nem um minuto. Mas isso é extremamente secreto.

Concordei com a cabeça. Tá. Eu não queria admitir que tinha parado de prestar atenção assim que a palavra "Vampira" saiu da boca dele. E que boca!

— Bom, com certeza teremos que esperar amanhecer. — Ele se virou para mim. Senti minha pele formigar com o peso dos seus olhos. Sério! Eu odiava ser observada. Mas parece que tudo que ele faz é tão bom.

— Damen, para onde estamos indo? — perguntei, na tentativa evidente de tirar os olhos dele de mim.

— Uma casa na praia. Fica a alguns quilômetros daqui. Chegaremos rápido amanhã. Mas talvez eu terei que caçar e então pode atrasar um pouco — ele disse como se a palavra "caçar" fosse usada constantemente.

— Caçar? O quê?

— Não seja tola, a gente tem que se alimentar. — Ele me olhou seriamente.

Fechei os olhos, imaginando uma grande pizza na minha frente. Sim, eu sentia muita saudades dos velhos tempos. Do cheiro do café doce demais da minha mãe. E do pão italiano do meu pai. E foi com esses pensamentos que cai no sono.

— Haven? — Damen me chamou calmamente.

— Eu só quero ir pra casa — Comentei um pouco, ou muito, grogue de sono.

— Eu vou ir caçar... — Essas palavras deveriam soar boas? Porque pra mim elas eram extremamente nojentas.

E como era de se esperar de um vampiro de 100 anos - ou mais - ele sumiu rapidamente de dentro do carro.

Abri meus olhos lentamente, ainda sentindo a minha respiração pesar. Meu corpo estava dolorido e não poderia ser de menos pra quem acabara de dormir no banco de carro. Será que Damen tinha ficado me observando enquanto dormia? Eu sinceramente espero que não. Qual é, não é legal o garoto que você tá afim te ver babar e falar enquanto dorme!

Olhei para fora enquanto o sol agora, começava a iluminar o Céu. Eu nem sabia o que eu estava fazendo ali. De quem e porquê estava fugindo. É, realmente a vida é uma caixinha de suspresas que adora foder com a nossa vida.

Se passaram algumas horas - umas 4, eu diria- até que Damen voltasse. Suas mãos estavam cheias de sangue e seus olhos azuis, agora davam lugar para duas bolas vermelhas.

Engoli um seco e mordi fortemente o lábio. Enquanto ele se sentava do meu lado e me encarava com seus olhos assustadoramente vermelhos.

— Eu não trouxe nada pra você. Acho que ainda é muito cedo pra você se alimentar só de sangue, então na estrada eu compro algo. Tudo bem? — Claro! Na verdade estava tudo ótimo. Eu nem conseguia me imaginar comendo algo com Sangue. ECA!

— Damen, porquê ele está atrás de mim? A Lisandra vai notar que eu sumi. Ou a Zoe!

— Eu não sei Haven. Eu também queria entender! Eu só tô seguindo as instruções que John me passou. Mas... — ele se interrompeu e passou os dedos pelos cabelos — Eu não sei.

— Vamos logo. Por favor — me virei para a janela, tentando ignorar que tinha um vampiro do meu lado.

***