Depois da manhã um pouco conturbada, May decidiu tirar a tarde para agir como ela mesma. Dispensou os sapatos de salto, as roupas de grife e enfiou-se em um vestido de moletom largo e comprido, e depois, jogou-se na imensa cama de casal segurando um balde de pipoca e ligou a TV. Capitão juntou-se a ela no segundo seguinte, deitando no vão entre os travesseiros. Não queria assistir nada em particular, por isso zapeou os canais em busca de um filme que estivesse no início. Achou por fim, em um dos últimos canais, uma comédia romântica que odiava porem sempre chorava no final, embora detestasse admitir isso.

– Tá assistindo o que? – Skye perguntou entrando subitamente no quarto. Usava um vestido semelhante ao da mais velha e deu uma risadinha ao perceber.

– Um lugar chamado Nothing Hill – a chinesa respondeu.

– Abre espaço – a hacker pediu e jogou-se na cama ao lado de sua mãe de mentirinha – De todas as pessoas que eu imagino que gostam desse filme, você é a última da lista – ela provocou e pegou um punhado de pipoca.

– Eu gosto de filmes assim – disse dando de ombros – E o Hugh Laurie é um sonho – declarou e as duas riram em alto e bom som e Skye quase parou por um momento pois não conseguia aceitar o quão louca era essa situação. Estava fingindo ser filha de May há menos de 24 horas e as duas já estavam emboladas nas cobertas, comendo pipoca e rindo juntos.

– Eu ouvi risadas – Coulson exclamou ao entrar no quarto e as duas pararam de súbito – Não parem porque eu cheguei. Posso saber o motivo? – questionou encostando-se no batente.

– Na verdade não – May respondeu subitamente e ele arqueou os olhos – Assunto de garotas.

– Vocês são mãe e filha há um dia e já escondem coisas de mim, ótimo – ele disse parecendo ressentido – Realmente muito bom – e com isso saiu do quarto.

– Você acha que ele ficou triste de verdade? – Skye perguntou preocupada e May sorriu.

– Me acerto com ele, agora quieta porque eu realmente gosto desse filme – afirmou e as duas voltaram sua atenção para a TV.

– Posso saber agora qual era o assunto de garotas? – Phil perguntou ao entrar no quarto novamente, horas depois, quando Skye já havia saído e May ainda encontrava-se entre os lençóis, assistindo um filme de ação.

– Hugh Laurie – ela respondeu sem se abalar e ele revirou os olhos.

– Realmente ótimo – ele disse tirando a camisa branca que vestia antes de entrar no closet. Voltou minutos depois, de pijama e chinelos – Vou buscar alguma coisa pra comer na cozinha, quer? – ofereceu e ela fez um som em afirmação e ele saiu em seguida. Cruzou o corredor e parou no início da escada, de frente para porta entreaberta de Skye, que conversava no telefone, quase sussurrando.

– É sério, eles estão totalmente no papel – a hacker comentou com seu O.S que estava do outro lado da linha.

– Ou eles nem estão fingindo – sugeriu com uma risadinha.

– Eu não desconsidero essa possibilidade.

– Eles são tão ...

– Casados – disseram ao mesmo tempo e riram depois.

– Como foi o seu dia? – ela perguntou.

– Normal, FitzSimmons estão super ansiosos para estar em uma missão – respondeu parecendo entediado.

– Não quero nem ver, Simmons necessita aprender a mentir – Skye comentou e Ward riu – Que foi? – perguntou rindo nervosa.

– Vai dar tudo certo, seu plano é muito bom – disse com a voz rouca através do telefone – Sinto sua falta aqui – constatou e ela sorriu.

– Já? Saí há um dia – disse parecendo envergonhada.

– É o maior tempo que eu já fiquei sem ver você desde que nos conhecemos – ele respondeu simplesmente e ele ouviu uma batida na porta – Tenho que desligar, Hartley tá chamando para o jantar. Ela tomou o papel da Mama e nos faz comer nos horários certos.

– Aposto que se eu falar isso pra May ela vai até tratar a Izzy com mais carinho – comentou com uma risadinha e eles se despediram.

– Vejo você na sexta – Ward disse quase em sussurro.

– Até sexta – Skye respondeu e sorriu antes de desligar. Odiava sentir o que sentia no momento, e odiava mais ainda ter que guardar isso. Droga, por que se apaixonar justo por ele? Perguntou-se irritada e afundou a cara em um travesseiro por alguns instantes, antes de Coulson bater a sua porta.

– Tá tudo bem? – questionou colocando a cabeça pra dentro do quarto. Ela assentiu e recebeu um sorriso – Vou fazer algo pro jantar, você quer ?

– Por favor – respondeu levantando-se e ofereceu ajuda, que rapidamente foi aceita, e os dois foram para a cozinha.

– Hamburgueres – Phil anunciou entrando no quarto do casal com uma bandeja cheia de sanduíches. Skye vinha logo atrás, segurando três garrafas de Heineken.

– Cerveja – ela disse seguindo o tom de Phil, e May endireitou-se na cama expulsando Capitão de seu colo.

– Comida na cama? – ela perguntou segurando um sorriso.Ela sentia-se estúpida por estar curtindo esses momentos com eles.

– Não vamos morrer por algumas migalhas – ele respondeu dando de ombros e colocou a bandeja firmemente em cima da cama. A mais jovem distribuiu as cervejas e os três abriram e deram um gole quase ao mesmo tempo.

– Eu vou morrer se cair algum condimento em cima desse lençol – a chinesa comentou e pegou um hambúrguer.

– Eu tava pensando sobre o que podemos fazer amanhã – Skye declarou – Sabe, as pessoas precisam nos ver como família, então eu pensei que podíamos sair para caminhar ou dar uma volta com a Lola.

– É uma boa ideia, podemos ser uma família e levar a Lola pra passear – Coulson empolgou-se e mordeu um pedaço generoso de seu sanduíche. May apenas revirou os olhos e comentou irônicamente:

– Aceito tudo que me permita vestir Stella.

– Esse é o espírito – a mais jovem comemorou, e os três encerraram seu jantar com comentários esparsos e sem grandes finalidades.

– Vai se agarrar a mim de novo como fez ontem? – Coulson perguntou não resistindo ao impulso. Estava sentado entre os lençóis, encostado na cabeceira enquanto May trocava-se no closet. Ela havia saído há alguns minutos do banheiro, enrolada em uma toalha branca e passara quase correndo pelo quarto, em direção ao cômodo anexo.

– E se eu disser que sim? – ela rebateu saindo do closet, vestindo uma camisola preta que o fez desviar o olhar imediatamente, pois não poderia conter o gemido caso olhasse diretamente para a quantidade de pele exposta.

– Você não vai chegar perto de mim com essa roupa – respondeu encarando o livro em seu colo.

– E por que não Phil? – perguntou próxima a sua orelha. Quando foi que ela chegou até a cama, em primeiro lugar? Perguntou-se mentalmente e ela riu.

– Que droga May, não faz isso – disse irritado e em um impulso violento, levantou-se da cama e saiu do quarto.

– Já fazem 15 anos Coulson, supera isso – ela disse em voz alta, esperando que ele escutasse do corredor, e no instante seguinte se arrependeu de sua atitude.

Ele voltou 20 minutos depois, com um copo de água na mão, e encontrou a luz do quarto apagada.

– Desculpa – ela pediu quando ele finalmente conseguiu distinguir sua silhueta no escuro. Ela estava exatamente na mesma posição que ele estava há minutos atrás.

– Tá tudo certo – disse caminhando para seu lado da cama. Colocou o copo na mesinha de cabeceira e deitou-se lentamente.

– Eu não devo provocar você desse jeito – ela continuou, e diria mais se ele não a interrompesse.

– Está tudo bem May, foi uma brincadeira, e eu não sei brincar assim – explicou e virou-se para encará-la – Só não faça de novo, por favor – pediu e ela assentiu.

– Boa noite Phil – respondeu e virou-se de costas para ele.

– Boa noite Melinda – disse e repetiu o mesmo movimento da noite passada. Tocou-lhe o ombro e ela o olhou – Eu não ligo de te abraçar – declarou sinceramente, e ela virou-se completamente, encolhendo-se novamente entre os braços fortes.

– Assim tá bom – sussurrou e fechou os olhos. Poucos minutos depois, ambos estavam entregues ao sono.