Os Demônios de Mara escrita por Clementine


Capítulo 6
Capitulo 6


Notas iniciais do capítulo

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Ficamos em silencio por um tempo enquanto John termina de comer e eu me recupero do susto que levei na Ala Infantil. Ainda consigo sentir o cheiro de sangue e inferno e isso me deixa tonta. Eu e John trocamos algumas palavras e ele sorri para mim com muita frequência, e eu decido que seu sorriso é a coisa mais bonita que já vi. Mesmo que eu tenha passado uma vida no Paraíso.
Mas tem algo que esta me incomodando. Uma ideia que se infiltrou debaixo da minha pele sem eu perceber e agora não quer mais sair: Eu quase morri mais uma vez hoje. Quase fui para o inferno e se fosse, esqueceria de John. Eu nasceria de novo nesse estupido ciclo de vida e não lembraria do sorriso dele, nem do jeito que ele me faz sentir como se eu não fosse só uma mensageira. Como se eu fosse mais humana. Mais viva.
E tudo isso desapareceria se eu morresse de novo.
E agora, pego-me pensando o tempo todo nas pessoas que eu deixei para trás. Quantos me faziam rir e chorar quando eu ainda era viva. Essa ideia me enche com um tipo de nostalgia por algo que eu nunca cheguei a conhecer.
É apenas uma ideia. Uma promessa vazia. Palavras que me enchem de esperança.
– John, eu preciso te pedir uma coisa. – Eu digo, antes de me preparar para ir embora. Estou tão cansada que agora experimento um pouco da dor. Ela queima meus ossos muito devagar e corroi o me coração. Ela tem gosto de promessas quebradas, de amores não correspondidos e mães chorando para ter seus filhos de volta.
Quero ir pra casa.
– Qualquer coisa. – Ele diz isso com tanta convicção que eu chego a acreditar que se pedisse a Lua, o Sol e as estrelas, ele subiria aos céus e além para buscar para mim. Isso me da confiança para continuar.
– Eu preciso... Eu preciso saber quem eu sou John. - Por favor, por favor, não me ache ridicula por isso, por favor por favor... - Eu, Mara, não faço ideia de quem eu costumava ser antes dessas asas e pegar almas e levar. Não faço ideia de como é sentir algo como você sente e isso me corta por dentro. Eu quero saber quem eu sou, de onde vim, quem eram meus amigos e minha família. E não posso fazer isso sozinha.
Olho em seus olhos, procurando aceitação.
John assente com a cabeça.
– Eu entendo Mara, entendo mesmo. Eu sei como é se sentir desse jeito, sem saber suas origens. Eu mesmo não sei as minhas e isso me mata. Não sei porque eu sou o único que consegue ver o que os outros não conseguem.
Não sei dizer se isso foi um sim ou não, e não vou perguntar. A curiosidade acaba gritando mais alto e não posso me impedir de fazer perguntas.
– Você já contou para alguém?
Ele respira fundo, e eu sei, no instante em que abre a boca, que vai falar algo importante.
– Quando eu era pequeno, não via as coisas com clareza. Os demônios eram vultos que enchiam meu quarto de noite e os anjos, os raros e poucos anjos, eram luzes brilhantes que enchiam meu coração de promessas proferidas no silencio. Eles sempre me prometiam que as coisas iriam melhorar, Mara. Que um dia eles viriam para me salvar, mas ninguém nunca veio. Eles me deixavam lá chorando para meus pais como tudo o que eu via me assustava e eu queria desesperadamente que os vultos fossem embora, mas sabe de uma coisa? Ninguém acreditava em mim. Meus próprios pais em jogaram de consultório medico a consultório medico a sessões de terapia. E isso também nunca me salvou. Com o tempo, parei de falar sobre o que via, porque estava cansado de ser taxado de louco. Então, respondendo a sua pergunta, sim. Sim, eu já contei as pessoas, as conto todos os dias, eu grito sem usar palavras, mas ninguém nunca me ouve. - A verdade em suas palavras me atinge no estomago. Posso perceber pelo seu tom que são palavras que nunca foram ditas para ninguém antes. - Eu só quero ser normal Mara, só isso.
Ele esta se abrindo para mim e eu não sei porque, só sei que gosto da sensação. Gosto e ao mesmo tempo a confiança que ele deposita em mim me assusta. Quero ajuda-lo mas não sei como.
– Mara eu sempre achei que os anjos me salvariam. Mas foi o contrário. Sinto que estava destinado a isso. Estava destinado a salvar você. E vou continuar salvando. Me diga o que eu tenho que fazer e eu faço.
Meu coração vai explodir no peito. Nele irradia algo novo. Algo que nunca tinha sentido antes durante toda essa curta e solitária vida de anjo: É um calor que ferve muito lentamente e aquece os pedaços congelados da minha alma.
Por algum motivo, desejo poder toca-lo agora.
Meus próprios pensamentos me assustam.
Eu não sei o que dizer.
– Obrigada – As palavras soam tão cruas. Queria poder lhe oferecer mais. Queria poder salva-lo.
De repende, essa ideia cresce como uma semente dentro de mim. Vou salva-lo. Vou salvar John. Vou fazer tudo o que posso para ajuda-lo com seja lá o que ele precisa. Mesmo que isso seja fazer ele parar de ver coisas que não deveria e viver como uma pessoa normal. Mesmo que isso signifique nunca mais me ver.
– Eu vou salva-lo um dia John. Isso é uma promessa. – São as ultimas coisas que digo antes de partir.


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