I'm standing on a bridge
I'm waiting in the dark
I thought that you'd be here by now
There's nothing but the rain
No footsteps on the ground
I'm listening but there's no sound

       Natsumin respirou fundo, colocando a música no último volume. Ela ajeitou os fones no ouvido e deitou-se de lado. Definitivamente, não conseguia dormir. Não sem pensar em tudo o que estava acontecendo. Não sem se indagar por que não conseguia parar de pensar nele.

There's nothing but the rain
No footsteps on the ground
I'm listening but there's no sound

       Natsumin estava deitada no sofá de Castiel, no pequeno quartinho em frente ao dele, que ele gostava de chamar de “sala das guitarras”. E ainda dizia isso com muito orgulho. Natsumin pôde comprovar que, realmente, o nome fazia jus ao local. Havia sete Guitarras no total, todas de mascas ótimas. Um Les Paul branca, uma Gibson vermelha, uma Les Paul preta, vermelha e amarela, parecida com a primeira Guitarra que Natsumin havia ganhado, uma Fender vermelha e branca, uma Jackson totalmente vermelha, a que ele havia falado com orgulho que era a sua preferida, uma Giannini totalmente preta e, por fim, mais duas Gibson. Uma preta e outra branca.

Isn't anyone trying to find me?
Won't somebody come take me home   

      Natsumin descobriu-se e sentou-se no sofá de couro preto. A sala de guitarras era tudo o que Natsumin sempre sonhou e vê-las ali, a lembrava de quem ela foi, a um tempo atrás. Natsumin era como Castiel. Mas, o tempo a havia mudado tanto. Ela estava tão fria agora, que nem conseguia mais se reconhecer. Ela não conseguia mais descobrir a linha tênue que dividia quem ela foi e quem ela é agora.

It's a damn cold night
Trying to figure out this life
Won't you take me by the hand
Take me somewhere new?
I don't know who you are
But I'm, I'm with you
I'm with you

       Natsumin deixou o refrão da música invadi-la por um momento. Ainda sentada, ela fechou os olhos, deixando as notas soarem em sua cabeça, o som da Guitarra contagiar sua mente, fazendo todo o seu corpo se responder ao ritmo, à batida que acompanhava a voz de Avril Lavigne, na música “I’m with you”. Era uma das músicas preferidas de Natsumin e, estranhamente a lembrava de Castiel.
             
      “Don’t know who you are, but I’m with you”.  Sim, Natsumin realmente não sabia quem ele era de verdade. Não sabia anda sobre Castiel. Aquele Diamante Bruto frio e arrogante, com a aproximação dos dois, ao invés de fazê-la conhecê-lo melhor, a deixou com ainda mais dúvidas. Quem era Castiel afinal? Por que todos viviam falando tanto sobre ele? Natsumin lembrou-se do dia em que ficou trancada no vestiário. Brad e Viktor haviam falado um nome... Era Demi, Dani, Débora... Debrah. Debrah, era isso. Eles disseram que Castiel não amaria nunca mais ninguém depois dela. Mas, o que essa garota tinha feito a ele? E por que?
     Tudo o que Natsumin sabia era que estava com ele. “I’m with you”. E sim, assim como na música, aquela noite estava fria. Natsumin estava com ele em sentidos diferentes. Castiel não gostava dela. Nem podia. Desde que o conhecera, Natsumin só havia conseguido coloca-lo em confusão. Só havia feito afirmações fúteis, nunca falara dela para ele e nem ousaria falar. Natsumin não servia para ninguém. Ela não conseguiria se sentir bem fazendo alguém feliz. E justamente porque ela não sabia mais se conseguia ser feliz. Não depois do que ela fez.
     Natsumin sabia que a culpa era dela. Ela havia matado os pais.
     Ainda olhando as guitarras, Natsumin lembrou-se do seu talento. Lembrou-se da música que compôs. Automaticamente, lembrou-se do seu talento ingrato.   
     Ela levantou-se. Usava um pijama curto. A blusa era preta, de alças e tinha um desenho da Torre Eiffel no canto, com um lacinho vermelho na ponta. O short era curtinho, de algodão e cinza claro.     
     Ela abriu a porta da “sala de guitarras” e observou a figura de um ruivo dormindo. A porta do quarto de Castiel estava aberta e ele estava sem camisa, deitado de costas para ela. Usava umas calças de algodão pretas e parecia com frio.
     Natsumin deixou um sorriso escapar, lembrando-se do momento em que ele insistiu que ela deveria dormir na cama dele e ele dormiria na sala de guitarras. Mas, teimosa como só ela, Natsumin havia insistido que dormiria na sala de guitarras. Agora, nem dormir conseguia mais.
     Natsumin, descalça, andou na ponta dos pés, ultrapassando a porta e entrando no quarto de Castiel. Ela observou a razão de seu frio. A janela estava aberta. Natsumin fechou a janela com calma e, em seguida, foi se aproximando do garoto de cabelos vermelhos, que dormia tranquilamente.
                                                                   ***   
     Castiel ouviu os passos leves e abriu os olhos lentamente. Natsumin havia acabado de passar por ele e, agora, fechava a janela. Ele observou a garota de costas, vendo como era bonita a sintonia de suas formas. A cintura fina estava escondida por uma blusa preta de algodão. Os cabelos dela estavam soltos e balançavam com o vento que vinha da janela. Ela usava fones de ouvidos brancos e parecia gostar muito da música que ouvia, visto que, involuntariamente, seu corpo se movia de acordo com as batidas. Ela estava quase dançando. Castiel deixou escapar um sorriso. Ela não podia ser normal.
     Ele fechou novamente os olhos assim que ela virou e caminhou na direção dele.   
                                                            ***             
     Natsumin pegou o cobertor de Castiel que estava no chão e colocou nele. O ruivo soltou um suspiro baixo e Natsumin pôde ver de perto a beleza dele. Castiel estava ainda mais lindo iluminado pela lua. Natsumin agachou-se ao lado dele e endireitou o cobertor ao redor do ruivo. Sem ela esperar, ele passou um dos braços fortes ao redor da cintura dela e puxou-a para cama. Natsumin tentou se soltar, mas quando olhou o rosto de Castiel, percebeu que o ruivo ainda dormia. Procurando fazer o mínimo de barulho possível, ela se inclinou para frente, mas o ruivo não a soltava. Agora, seus dois braços fortes envolviam a barriga nua dela, por baixo da blusa, que havia levantado um pouco com o impulso que Natsumin levou para frente, quando ele a puxou.     
     Natsumin ruborizou, assim que sentiu a pele dele na sua, assim que o peito dele se encostou à pele exposta de seus ombros e braços.
     Castiel a envolveu ainda mais contra si e, agora, Natsumin via-se deitada de frente para ele, com a cabeça no peito nu dele. Os braços fortes de Castiel contornavam as costas dela, trazendo-a para si. Natsumin teve uma última tentativa, que também não deu muito certo. Ela desistiu e suspirou. Não ia conseguir sair dali nem tão cedo.