No Need to Say GoodBye escrita por Céu Costa, Raio de Luz


Capítulo 34
Volta para casa.


Notas iniciais do capítulo

Sim, é o último capítulo.



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Susana Pevensie, 1928.

Acredito que uma das piores sensações que uma pessoa pode sentir é a sensação de ser impotente. Sem poder ser dono de si, senhor de seu corpo, sua mente e seus pensamentos.

Ouvia vozes, como se estivessem em um plano distante, e uma dimensão paralela. Ouvia um bip-bip infernal, o som de gotas de soro caindo suavemente, como uma torneirinha incessante. Sentia meu corpo todo dolorido, como se a dor despertasse cada pedacinho meu, verificando se tudo estava em seu devido lugar, como o pior scanner do mundo. Mas meus olhos ainda não me obedeciam, e eu não conseguia abri-los.

— Oi Christy... - uma voz doce e feminina disse, abrindo a porta. Eu conhecia essa voz, mas não conseguia me lembrar a quem ela pertencia.

Ouvi  passos atravessando o quarto em que eu estava, aproximando-se, e então se afastando. E depois parando.

— Jimmy mandou flores para você. Petúnias! - ela riu - Ele disse que você ia adorar!... Você odiou, não é?  Claro que sim! Você adora lírios! Vou me livrar delas para você!

 Ela se levantou, e ouvi um barulho de água, em um cômodo pouco mais distante. E depois ela retornou.

— Pronto! - ela disse - Ah! Charlie disse que vai vir ainda hoje! Ele só ia dar uma passadinha no consultório para falar com seu médico... Eu fiquei preocupada... Sabe, quando o doutor chama ele para conversar, as notícias não são animadoras...

Ela fez uma pausa. Como se estivesse com medo do que pensava.

— Sinto sua falta. - eu senti que ela segurava minha mão - Já fazem três meses que você....... está aqui. Eu sei que se não fosse por você, eu que estaria aí no seu lugar, ou... não quero nem pensar. Agradeço muito, Christy. Mas sinto sua falta. Todos sentimos.     

Eu tentei me concentrar, dizer para ela que eu podia ouvi-la, mas meus olhos não me obedeciam. Concentrei-me ainda mais. Eu queria que ela soubesse que eu estava ali, que podia ouvi-la. Comecei a ouvir o bip-bip infernal do marcador de batidas do meu coração ficar mais intenso e rápido.

— Oh, meu deus... - ela falou - Enfermeira! Enfermeira, me ajude aqui! Socorro! Socorro!

— Jasmine... - minha voz quase não saía da minha garganta.

Finalmente consegui abrir meus olhos. Aqueles doces olhos castanhos me encaravam, aflitos.

— Cristal?

 ************

— Prontinho! - Jasmine abriu a porta, sorrindo. - Aqui estamos de novo! Nossa, tenho tantas coisas para contar para você! Sabia que eu adotei um gato? Adotei mesmo! Eu ia levar no hospital pra você ver mas, eles não permitem animais!...

Entrei em silêncio, apenas olhando em volta. Meu apartamento no Brooklin. Tudo estava no seu devido lugar. Meu tapete branco... meu sofá... A televisão, com o dvd e o x-box... Jasmine corria de um lado para o outro, colocando as compras de comida na cozinha, e minhas roupas velhas do hospital no sofá. Caminhei lentamente até o sofá, e retirei o grande objeto dourado do seu embrulho grosso de jornal.

 Sorrindo, pendurei-o na parede, acima do sofá, e fiquei admirando ele. Um enorme relógio dourado, um sol radiante. Meu sol. Suspirei suavemente, enquanto me lembrava de todas as aventuras que vivi, naquela terra de contos de fadas.

E enquanto sentia meu coração se aquecer com as lembranças do Pedro, o rosto do Edmundo me veio à mente, junto com uma forte sensação de dever não cumprido.

— Jasmine! - eu chamei. - Você trabalha em um jornal agora, certo?

— Certo, - ela respondeu da cozinha - quer panquecas pro jantar?

— Quero... - eu sorri - Vamos trabalhar muito agora...

— No que está pensando? - ela veio até mim, com uma latinha de coca-cola - Pintura? Trabalho social?

— Eu diria... - eu sorri - Procurar uma velha amiga. Quantas Susanas podem ter nascido em 1928?

Jasmine arqueou a sombracelha, confusa. Mas depois sorriu.

— Vamos partir em uma aventura? - ela se empolgou.

— Isso. - eu sorri ainda mais, olhando meu relógio. - Aventura.


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