Homecoming por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu não sabia o que fazer. Como reagir. Acredite, isso raramente acontecia comigo. Mas naquele momento eu fiquei verdadeiramente paralisado, em choque. Eu não via minha irmã há muitos anos e olhar para ela correndo em minha direção me fez perceber que a hora de reencontrar a todos realmente havia chegado.

“Meu irmão! Você está vivo! Você está aqui, é você mesmo!” ela exclamou em russo, ao mesmo tempo em que se lançou para mim, me abraçando com força. Eu ainda demorei alguns momentos para reagir, mas em segundos todo o receio que eu estava sentindo acabou e eu consegui sentir a emoção do que estava acontecendo. Eu finalmente estava em casa novamente. Comecei a devolver o abraço e apertei meus braços em volta dela e só pude responder que sim, que eu estava vivo. Victoria percebeu, então, que Rose estava comigo e me soltou para abraçá-la.

“Muito obrigada por trazê-lo de volta para nós, muito obrigada!” Victoria exclamou em russo para Rose, provavelmente esquecendo que ela não entenderia uma palavra do que falava. Apesar de parecer um pouco desconfortável, Rose se limitou a sorrir educadamente e a abraçou de forma gentil.

Atrás de Victoria o restante da família veio ao meu encontro. Karolina e Sonya também abraçaram a mim e a Rose alegremente despejando palavras em russo. Junto com elas, veio minha mãe. Ela me olhou de forma calorosa e orgulhosa e eu tive a sensação de que nunca havia me afastado dela. Nós nos abraçamos longamente, chorando. Eu não me importei em conter qualquer emoção viria dali. Pouco tempo depois, ela virou-se para Rose. Foi quando pude ver que esta observava a tudo com os olhos cheios de lágrimas. Rose realmente me surpreendia. Mesmo chorando ela passava força e determinação.

“Entrem, entrem,” minha mãe falou em inglês, provavelmente lembrando que Rose não entendia russo. “Vamos sentar e conversar.”

Nós entramos na casa e passamos para sala de estar, que parecia a mesma de quando fui embora. Pouco, muito pouco havia mudado. As prateleiras com os livros que eu tanto li permaneciam no mesmo lugar. Quadros, enfeites, tudo parecia igual. Foi como voltar no tempo. No canto da sala estava um menino que eu supus que seria meu sobrinho Paul. Ele ainda era muito pequeno quando saí, mas agora, ele me olhava com olhos vidrados, provavelmente por causa de todas as histórias sobre mim que chegaram até ele. Perto dele, havia um carrinho com um bebê dentro. Eu fingi ignorar o que aquela criança representava, mas sabia que só podia ser filho de uma das minhas irmãs. Não era o momento de levantar esse assunto, então simplesmente sentei no sofá.

Percebi que Rose – que não tinha saído do meu lado, até então – havia se afastado, numa tentativa de abrir espaço para minha família. Rapidamente, Karolina e Sonya sentaram também, uma de cada lado e logo, Victoria se juntou a nós, se sentando no chão à minha frente, encostando a cabeça nos meus joelhos. Eu me vi cercado, mas realmente não me importei, aquela aproximação toda era, de fato, muito boa. Pude observar como minhas irmãs estavam mudadas. Victoria ainda era criança quando parti e hoje, assim como Karolina e Sonya, havia se tornado uma mulher muito bonita. Ou quase isso, suas ações imaturas me faziam lembrar que ela tinha somente dezessete anos.

Minha mãe, parecendo bastante apreensiva, puxou uma cadeira e se sentou bem à minha frente, juntando as mãos no colo.

“Isto é um milagre,” ela falou em inglês, com o sotaque russo bastante carregado. “Não posso acreditar nisso. Quando recebi a notícia pensei que fosse algum engano ou uma mentira,” ela deu um suspiro de alívio misturado com felicidade, mostrando o quanto ela deve ter sofrido com todos os acontecimentos que me envolveram. “Mas aqui está você. Vivo. O mesmo.”

“O mesmo,” confirmei, embora eu soubesse que jamais conseguiria se a mesma pessoa novamente.

“Então foi a primeira possibilidade,” Karolina falou, franzindo o cenho, tateando com as palavras. “Então foi tudo um engano? Você não era... verdadeiramente um Strigoi?”

O silêncio reinou na sala e, em minha mente, as lembranças passaram como o trailer de um filme. Todas as pessoas que eu havia matado, todas as atrocidades que eu havia cometido e, principalmente, todo mal que eu havia feito e desejado fazer contra Rose. Não. Tudo aquilo não foi um engano. Tudo foi real. Dolorosamente real. Quase que instintivamente, meus olhos encontraram os de Rose e eu soube que ela havia pensado o mesmo que eu. Mas havia algo ali. Ela me transmitiu força e energia, como sempre fez, desde que eu fui restaurado.

“Não. Eu fui um Strigoi. Eu fui um deles. Eu fiz... coisas terríveis,” tentei falar de forma leve, mas não consegui suprimir o tormento que aquelas lembranças me traziam. “Eu estava perdido. Não havia esperanças para mim. Exceto... exceto por Rose, ela acreditou em mim e nunca desistiu.”

Eu ainda estava aprendendo a substituir o sentimento de dor e de culpa por gratidão a Rose. Lissa tinha me restaurado, mas foi a determinação de Rose que me salvou.

“Como eu previ.”

Todos nós nos voltamos para olhar para minha avó que havia entrado na sala. Ela estava um pouco mais envelhecida do que eu me lembrava, mas sua forte personalidade e presença não mudaram. Ela tinha o dom de prever o futuro, mas de alguma forma, sua presença incomodou Rose.

“Não, você não previu isso,” Rose soltou, sem conseguir se conter. “Tudo que você disse foi que eu precisava ir embora daqui, para fazer uma outra coisa.”

Aparentemente, minha avó tinha feito uma de suas premonições para Rose, que logicamente, não conseguiu levar a sério. Rose estava longe do tipo de garota que acreditava em coisas místicas – o que era bem contraditório se considerássemos sua convivência com Morois, usuários da magia.

“Exatamente,” minha avó respondeu com um grande sorriso de satisfação. “Você precisava ir e restaurar o meu Dimka,” ela falou enquanto caminhava pela sala, em minha direção, mas eu não consegui esperar que ela chegasse até mim. Meu coração apertou ao ouví-la me chamar tão carinhosamente. Eu me levantei e fui até ela e abracei com cuidado, ela era muito pequena e parecia tão frágil perto de mim. A nossa diferença de altura era absurda.

“Vovó, senti sua falta,” murmurei em russo, perto do seu ouvido.

“Mas você nunca disse o que eu ia fazer,” Rose insistiu, parecendo indignada, quando minha avó já havia se sentado numa cadeira de balaço. “Você não pode levar crédito por isso.”

“Eu sabia,” minha avó respondeu com firmeza. Pela forma que ela olhava para Rose, tive a impressão que a velha Yeva podia ver além do que dizia. Como sempre.

“Então, porque você não me disse o que eu iria fazer?” Rose falou com tom de exigência.

Minha avó pareceu pensar por um momento, antes de responder. “Simples, você precisava descobrir sozinha.”

Eu observava as duas e sabia que nenhuma delas iria ceder. Eu conhecia bem cada uma. Minha avó realmente tinha previsto algo, mas Rose nunca ia entender isso. Nós íamos ficar naquilo a noite inteira. Era divertido ver como as duas podiam ser amigas, mas não enxergavam essa possibilidade.

A indignação de Rose pareceu crescer com aquela resposta. Os olhos dela me encontraram e eu lhe passei um olhar que ela entendia bem. Não adiantava levar aquilo adiante, ceder é algo que devemos fazer de vez em quando. Como se tivesse lido meus pensamentos ela se conteve e não protestou mais. Vendo que Rose não argumentaria mais, minha avó sorriu de satisfação, como se tivesse vencido. Mas eu conhecia Rose bem e sabia que não era o fim. Aquela era somente uma trégua momentânea.


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