Eu realmente não esperava ter aquela festa surpresa no meu aniversário, na verdade eu sequer imaginei que alguém lembraria a data, e tenho certeza que a ideia partiu de Johnny, já que ele nunca deixava passar despercebido. Havia sido, de fato, uma ótima noite, e poder assistir ao nascer do sol de frente para o lago foi ainda melhor. Mike estava me mostrando um lado que eu ainda não conhecia, mas que só aparecia quando ele estava totalmente a vontade.

O ruim de tudo isso é que talvez tenhamos que interromper o que está indo muito bem, o nosso relacionamento. Não sei como será se alguma das Universidades me aceitar, não sei como Mike irá reagir a essa mudança, não sei como eu vou conseguir viver longe de todos mais uma vez, não sei de absolutamente nada.

Sei que deveria ter contado a ele, contudo, talvez não tenha feito por medo da sua reação, além do mais não quero criar uma confusão desnecessária, afinal eu posso não ser aceita.

Conforme os dias iam passando, mais eu me convencia de que havia feito a coisa certa. Três das quatro Universidades haviam respondido negativamente, faltava apenas a KU.

Na Prefeitura Johnny aprendia a função que era minha. Ele não sabia o real motivo por estar fazendo aquilo, mas como queria muito começar a trabalhar não hesitou em aceitar. Papai queria alguém de confiança para ficar no meu lugar, e segundo ele a KU teria o bom senso de me aceitar.

Além de toda a turbulência que estava acontecendo na minha vida, Carlla também decidiu dar um rumo na dela. Ela e Lucca James se acertaram de vez na semana do meu aniversário. Assumiram o namoro perante toda a cidade e pouco se importavam com o que poderiam dizer. O problema nisso tudo era que Lucca teria que voltar para a Califórnia em alguns dias, já que precisava cuidar dos negócios da família.

Carlla sempre teve vontade de sair de Ellsworth, e aquela era a oportunidade ideal, contudo, não podia simplesmente largar seu avô na mão de qualquer pessoa, e nem queria isso. Apesar do seu jeito meio louco, ela sempre cuidou muito bem dele, e pegou muito no pé de Isa quando precisou passar uns dias fora.

– Pela primeira vez na minha vida eu estou me sentindo você. - Ela disse, enquanto eu terminava de guardar umas roupas no armário.

– Como, linda e irresistível?

– Não. Idiota e sem saber o que fazer! - Respondeu ironicamente, fazendo uma careta em seguida.

– Bom, idiota você sempre foi, por isso combinamos.

– Claro, um idiota reconhece o outro, o que é mais um motivo para você e o muchacho estarem juntos.

– Por falar nele, eu preciso de uma opinião. - Carlla assentiu com a cabeça, e endireitou-se na cama para prestar atenção no que eu diria. Contei a ela sobre a inscrição na faculdade e o fato de não ter comunicado nada a ninguém além do meu pai.

– Uau! Você realmente está recomeçando a sua vida, finalmente!

– Você acha?

– Claro. Olha Haley, nossa como fica estranho eu te chamar pelo nome, não é porque vocês estão juntos que você deva fazer sua vida girar em torno dele. Tem que fazer aquilo que for melhor. Se tem a vontade de estudar, então vá. Por outro lado, tenho certeza que se não contar a ele as coisas podem ficar bem feias.

– É isso que não sai da minha cabeça, a reação que ele terá.

– Se bem conheço aquele cabeça dura, será pior se não contar. Lembre-se do que ele já passou e como ele demorou para amolecer novamente.

– Tem razão. Eu vou falar com ele, é melhor assim.

Carlla concordou e continuou a contar sobre os "dramas" da sua vida. Passamos todo o final de tarde e início de noite fazendo planos do que faríamos depois que fôssemos embora de Ellsworth. Ela realmente não pretendia voltar. Para Carlla toda a cota de pecados cometidos durante a vida já haviam sido pagos no tempo em que morou ali. Depois que fiquei sozinha na casa, deitei na cama e comecei a pensar em como faria para contar ao Mike sobre a minha decisão de ter me inscrito na faculdade e na possibilidade de ir embora de Ellsworth. Acabei pegando no sono, acordando somente no dia seguinte.

Logo no início da manhã encontrei Mike no caminho para a Prefeitura. Ele parecia mais caipira do que nunca. Vestia a camisa xadrez vermelha com uma camiseta branca por baixo, o que era sua marca registrada, porém, estava bem arrumado, e parecia até ter penteado o cabelo, coisa que dificilmente ele fazia, devido ao corte estilo militar, mas que por algum motivo ele já não cortava há alguns meses.

– Bom dia, gatinha! - Falou marotamente enquanto me beijava.

– Bom dia. Viu um passarinho verde?

– Na verdade não, mas tenho uma novidade pra te contar, só que só posso fazer isso hoje à noite.

– Por que tanto mistério?

– Não é um mistério, apenas uma coisa que não podia contar antes, mas agora eu posso. No final da tarde eu passo na sua casa e te levo pra jantar no Taylor's, tudo bem? - Indagou ansioso.

– Tudo bem, estarei esperando. - Mike se despediu de mim e foi na direção do bar-restaurante cantarolando alguma música que eu desconhecia, enquanto eu fui em direção a Prefeitura.

Eu até tentei me concentrar no trabalho que tinha para fazer, mas a ansiedade por saber o que Mike tinha a me dizer era tanta que simplesmente não conseguia.

– O que você tem que essa perna não para de tremer? - Johnny perguntou em um determinado momento do dia.

– Estou nervosa. Mike apareceu hoje pela manhã dizendo que precisava falar comigo.

– E o que tem demais nisso?

– Tem que eu também preciso falar com ele, e não sei se aquele ótimo humor que ele estava hoje vai permanecer assim.

– Quer me contar o que ta havendo? Não sou burro, Hay, sei que o papai não me colocaria aqui se você não estivesse planejando alguma coisa. - Johnny tinha razão, e eu não podia deixar todos sem saber o que eu havia planejado para minha vida dali para frente, além do mais, ele era uma das únicas pessoas em quem eu confiava. Ele ouviu toda a história com muita atenção e ao final só perguntou se era realmente isso que eu pretendia fazer.

– Sim, é isso. Esse quase um ano que passei aqui me fizeram amadurecer muito, mas só poderei amadurecer por completo quando estiver andando com as minhas próprias pernas.

– Você está certa. Claro que eu vou sentir falta da minha irmã preferida, principalmente na hora de implicar com a minha outra metade do óvulo, mas se é melhor para você, então se arrisque.

– Não sei o que faria da minha vida sem você!

– Eu sei, a vida seria em preto e branco sem a minha presença! - Johnny riu descaradamente do próprio comentário. Eu não daria a oportunidade de dizer que ele estava certo, mas certamente seria mesmo do jeitinho que ele falou.

– E a humildade foi parar onde?

– Irmãzinha, é a mais pura e absoluta verdade, você me ama, e sem mim a sua vida seria sem forma e vazia.

– Okay eu não vou ficar discutindo com você a respeito disso.

Johnny me abraçou de forma paternal e eu retribui o abraço e não fizemos mais nada além de conversar durante a tarde.