Vida em Erebor escrita por Vindalf
Notas iniciais do capítulo
Anna volta ao lugar onde viveu grandes emoções
Velhos amigos
Anna volta ao lugar onde viveu grandes emoções
Em poucos dias, Anna viu-se novamente na estrada, rumo a Rivendell. Ela agradeceu profundamente aos senhores de Lórien e a Eliel, pela hospitalidade durante sua viagem. Mesmo sem pedir, ganhou nomes élficos, como Eruanna (graciosa, tradução de Anna) e Elvellonwen (amiga dos elfos). Mas agora era hora de voltar a cruzar as Montanhas Enevoadas.
Desta vez, seus acompanhantes eram Elladan e Elrohir, os gêmeos de Lord Elrond. Inicialmente, Anna pensava nos dois como o equivalente a George e Fred Weasley, os gêmeos brincalhões de Harry Potter. Ela especialmente tentava não compará-los a Fíli e Kíli, que não eram gêmeos, mas eram ligados como se fossem. Mas embora Elohin fosse mais descontraído que o irmão, ambos eram elfos, e portanto eram, por definição, altivos e solenes.
Nada disso mudou durante a viagem. Os dois elfos foram extremamente corteses com Anna, eventualmente até ajudando com Darin. Eliel tinha feito uma espécie de canguru de pano para Anna levar Darin de maneira mais confortável, e Elrohir uma vez carregou o bebê às suas costas, no lugar da aljava. O pequeno gostou da novidade.
— Começa a esfriar — observou Elrohir numa noite, em volta do fogo. — As noites estão mais longas.
O irmão comentou:
— Mesmo que tarde, o outono se faz presente. Já deveria estar bem mais frio, irmão.
O outro gêmeo se virou para Anna e indagou:
— Você deve estar acostumada a frio, já que morava numa montanha.
— O interior da montanha podia ser bem aconchegante e aquecido — lembrou Anna. — E era fresco no verão. Havia um sistema de ventilação bem eficiente. As caldeiras das fornalhas forneciam água quente diretamente das fontes aquecidas. Darin gostava muito do banho quentinho.
Elrohir confessou:
— É surpreendente. Suponho que tenha levado algum tempo para se adaptar à vida na escuridão da rocha.
Anna respondeu:
— Oh, mas eu não vivia na escuridão. As janelas do meu quarto davam de frente para a floresta. E eu tinha um jardim de ervas na face leste que muito ajudava na enfermaria. Pegava o sol da manhã, Darin também. Sem mencionar as aberturas de luz e luminárias. Câmaras inteiras cheias de luzes douradas...
Elladan confessou:
— Jamais poderia imaginar que anões pudessem viver com tanto... conforto.
— Erebor é uma cidade muito bonita, e deveria ter sido magnífica antes de Smaug — sorriu Anna. — Quero crer que voltará logo a seu esplendor.
— Sua voz se torna adocicada ao falar da Montanha Solitária — notou Elladan. — Tem certeza de que não pretende contar a sua família que está viva?
Anna não pôde conter a emoção ao responder:
— Não, caro Elladan, não tenho certeza de nada. Sinto terríveis saudades da família e dos amigos que lá deixei. Mas não posso ignorar os ataques que sofri, meu filhinho... Como viver sob este risco constante?
Elladan assentiu, gravemente, e comentou:
— Entenda que não estou julgando sua decisão. Mas tenho a impressão de que você parece punir seu marido e sua família. Eles estão sofrendo, com certeza.
Anna se angustiava, porque o elfo estava certo. E ela estava confusa.
— Desculpe, mas eu realmente não sei o que fazer. Amo muito meu marido, o suficiente para entender que ele não é dono de sua própria vida. Ele é um rei. Mas seu povo não me aceita. Não posso pedir que ele deixe de ser rei só para ficar comigo. Isso o deixaria ressentido comigo. Talvez não no início. Mas um dia ele me odiaria.
Elladan fez menção de argumentar alguma coisa, mas nesse momento Darin chorou, exigindo a atenção de Anna. O assunto se encerrou.
Não demorou muito até Anna perceber que os elfos tinham um caminho próprio, pois a exemplo de sua viagem a Mirkwood, um ano antes, eles chegaram a Rivendell em um período recorde — considerando a média de duração de uma viagem naqueles tempos. Por isso, em menos tempo do que imaginava, Anna viu-se de volta ao Vale Escondido.
Assim que o grupo se aproximou de Rivendell, as sentinelas tocaram trompas, anunciando sua chegada. Desta forma, quando os três entraram no pórtico, já havia uma espécie de comitê à espera. Ao reconhecer quem a esperava, Anna soltou um grito, sorrindo:
— Eldrin! Lindir! Mellonen!
O elfo que atuava como braço direito de Lord Elrond curvou-se, sempre cerimonioso:
— Boas vindas, Anna de Erebor, consorte de Thorin II, Rei Sob a Montanha! Rivendell se alegra com sua presença.
Anna foi abraçá-los, pondo Darin às costas.
— Quanta saudade, meus amigos. Vê-los é uma alegria para meu coração.
Eldrin comentou:
— Você parece bem, Anna. Espero que a viagem tenha sido tranquila.
— Muito, graças a Elladan e Elrohir — cumprimentou Anna. Ela pôs Darin nos braços. — E também agradável. Deixe-me apresentar a luz dos meus olhos. Eldrin, Lindir, este é meu filho Darin.
Ela mostrou o bebê. Lindir fez uma reverência.
— Bem-vindo, príncipe Darin, filho de Thorin.
— Não é preciso cerimônia, Lindir — riu-se Anna. — Basta dizer alô.
Eldrin gostou da ideia:
— Alô, príncipe Darin. Bem-vindo a Rivendell.
Lindir indicou:
— Uma ama foi designada para ajudá-la no que precisar. Agora descanse, acomode-se. Meu senhor Elrond foi verificar as fronteiras e só voltará mais tarde.
Darin começou a reclamar, e Anna disse:
— Estou ansiosa por revê-lo. Mas Darin prefere tirar sua sonequinha primeiro. Elladan, Elrohir, fico muito grata por sua companhia e proteção durante a viagem.
Elladan curvou-se:
— Foi nosso prazer e nosso dever para com nossa parente, Eruanna.
Os aposentos reservados a Anna eram amplos, iluminados e arejados, bem ao estilo de Rivendell. Além de um aposento de banho, havia no quarto um lindo bercinho espaçoso ao lado da cama de Anna.
A criada mencionada por Lindir bateu à porta do quarto, oferecendo ajuda. Seu nome era Authiel. Juntas, as duas banharam Darin e o alimentaram. O som das cachoeiras se combinou à canção suave da Montanha Solitária e ao balanço nos braços de Anna para fazer o pequeno dormir.
Anna sussurrou:
— Ele está muito agitado com tanta coisa nova. Normalmente ele é mais tranquilo.
Authiel notou:
— Madame deve me deixar ajudá-la. Não precisa fazer tudo sozinha. Não tinha uma criada?
— Prefiro lembrar-me dela como uma amiga. Ela se sacrificou tentando nos dar tempo para fugir de nossos agressores. — Anna se emocionou. — Eu nunca a esquecerei.
— Lamento por sua perda.
— Mesmo quando eu a tinha, porém, sempre cuidei de Darin. Foi uma boa providência, porque estou pronta para me virar sozinha. — Anna completou. — Mas sua ajuda é muito bem-vinda, Authiel.
Ela sorriu e olhou para Darin, adormecido:
— Seu pequeno parece ser bonzinho. Será um prazer cuidar dele. Faz muito tempo que Rivendell viu um bebê pela última vez.
Anna sorriu, recordando-se:
— Eu me lembro de uma criança aqui em Rivendell. Espero que ele ainda esteja aqui, pois gostaria de revê-lo.
— Sim, sim, Estel — confirmou Authiel. — Eu me lembro de como todos notaram que vocês se deram bem.
Anna se espantou:
— Desculpe, nós nos conhecemos antes? Eu não tenho essa lembrança.
Authiel corou:
— Não, senhora, eu fazia serviço longe dos convidados. Só ouvi falar. Causou espanto que Mestre Estel se desse bem com alguém tão rapidamente. Ele é muito reservado.
Anna sorriu:
— Estel é um menino muito doce. Vou adorar revê-lo. Authiel, pode me fazer um favor?
— É meu dever servi-la, senhora.
— Não, só preciso de um pequeno favor. Gostaria de me banhar. Poderia olhar Darin para mim um minuto? Prometo não demorar.
— Não se preocupe, senhora, e demore o tempo que desejar.
— Se ele acordar, basta cantar para ele.
Anna se refrescou e trocou de roupas, pronta para jantar. Quando deixou o aposento de banho e voltou para o quarto, viu que havia visitas.
— Anna!...
O rosto maravilhado do menino fez Anna abrir um sorriso.
— Estel!
Eles se abraçaram, e Anna reparou, encarando:
— Como você cresceu! Já é um rapaz!
— Sim, e já estou treinando espada!
— Puxa, você cresceu mesmo.
— Anna, quero que conheça alguém: esta é Arwen Undómiel, filha de meu pai Lord Elrond.
Só então Anna reparou na elfa de longos cabelos escuros e grandes olhos azuis que a encarava com um sorriso doce. Seu rosto era de uma beleza etérea, lábios rosados e maçãs do rosto saltadas. Anna fez uma reverência e cumprimentou:
— Lady Arwen, é uma honra.
A voz agradável da elfa soou com simpatia:
— Finalmente nos encontramos, Anna de Erebor. Muito tenho ouvido falar a seu respeito, há tempos.
— Milady é gentil. Estel também, supondo que ele falou sobre mim. — O jovem corou e Anna sussurrou: — Agora me deixe apresentar um homem muito importante na minha vida.
Anna pegou Estel pela mão e levou-o até o bercinho onde Darin dormia.
— O nome dele é Darin, e eu sou a mãe dele — explicou, sem conseguir esconder uma ponta de orgulho.
— Ele é pequeno — Estel torceu o nariz. — Vai crescer logo?
Anna riu-se:
— Eventualmente ele vai crescer, ficar forte e ser um homem — como você, Estel.
O jovem inocente indagou:
— E o pai dele?
O sorriso de Anna caiu e Arwen se alarmou. Anna respondeu, tentando esconder a tristeza o mais que podia:
— O pai dele é uma pessoa muito importante: um rei. Por isso não está aqui.
Arwen delicadamente disse a Estel:
— Vamos deixar Lady Anna descansar um pouco de sua longa viagem. Meu pai voltará em breve e depois poderemos ver Lady Anna e o pequeno Darin de novo.
Estel abraçou Anna de novo, dizendo:
— Estou feliz em ver você, Anna.
— Eu também, Estel. Foi gentil em vir me ver.
— Descanse bem.
Após os dois saírem, Anna notou que as palavras de Estel seriam repetidas por outras pessoas. Iriam lhe perguntar sobre o pai de Darin. Ela teria que saber lidar melhor com isso. Por mais que a ausência de Thorin a cortasse o coração, Anna precisaria parar de chorar. Eventualmente, ela pararia, claro.
Mas não seria aquele dia.
Palavras em Sindarin
mellonen = meu amigo
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