Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 27
Inimigo interno


Notas iniciais do capítulo

Anna passa por momentos desagradáveis



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Inimigo interno

Anna passa por momentos desagradáveis

Os biscoitos de Bilbo fizeram o maior sucesso, tanto na enfermaria quanto nas minas. Mestre Gildail mostrou-se honrado que o rei e a consorte fossem até as minas desfrutar de um lanche feito pela consorte em pessoa - ainda que ela insistisse em enfatizar a ajuda do cozinheiro real, Mestre Bombur. Anna e um dos ajudantes de Bombur se encarregavam de alimentar os mineiros enquanto Thorin e Gildail inspecionavam os estragos do incêndio.

Depois foi a vez da enfermaria. Enquanto o ajudante arrumava a refeição, Anna foi fazer uma ronda entre os doentes mais graves. Para alívio dela, Dwalin não estava entre eles. Seu grande amigo realmente parecia bem melhor, o que a deixou aliviada.

Enquanto fazia visitas aos doentes, Anna sentiu a luz dourada manifestando-se novamente. Ela ficava impressionada que ninguém mais a enxergasse quando ela a via de forma tão clara. Os doentes juravam se sentir melhor só com a visita do casal real. Thorin comentou que era um exagero e uma gentileza, mas Anna sabia que provavelmente não era. Sua magia recém-adquirida (pois era o que ela imaginava ser a luz dourada) lhe dava certeza que eles estavam realmente melhor de saúde — incluindo Dwalin.

Como Gandalf dissera, parecia que seus poderes não seriam estagnados por falta de um mentor. Cabia a Anna, porém, desenvolver-se sozinha em suas novas habilidades.

A luz dourada que se manifestava dentro dela parecia ser uma energia ligada à cura. Anna não sabia se essa energia se manifestava com essa natureza porque ela aprendia as artes da cura com Óin ou se era de sua própria natureza. Só o que ela sabia era que essa energia, fosse o que fosse, muito provavelmente salvara a vida de Dwalin. E isso deixava Anna muito feliz.

Discretamente, ela experimentava tal habilidade na enfermaria, ajudando a curar os doentes mais graves. Ao contrário da habilidade de troca-peles, Anna não se sentia cansada ao usar seu dom. Mas ela notava que, se abusasse, como fizera com Dwalin, afetava suas emoções. O mais interessante era que Darin notava isso, reagindo quando sua mãe estava mais sensível ou instável. Foi nesse momento que Anna percebeu a profundidade da ligação que ela dividia com o filho. Era algo tão grande que podia superar até mesmo seu imenso amor por Thorin.

Também por esse motivo, Anna procurava incluir Darin em praticamente tudo que fazia. Além dos passeios no campo, o pequeno sempre estava com ela. Não era apenas na enfermaria ou no campo de cultivos. Até mesmo o dia de audiências tinha a presença de Darin ao lado de Anna. Thorin também apreciava a chance de poder passar mais tempo ao lado do filho, mesmo que não fosse um momento de lazer.

Fíli e Kíli também gostavam de poder ver o primo sempre que podiam, ainda que fosse por poucos minutos. Normalmente eles apareciam de manhã, no chamado Jardim da Rainha, onde Anna cultivava suas plantas e Darin tomava solzinho, sempre com Hila a seu lado.

Ocupada com o filho, sua família e suas tarefas, Anna não percebia uma movimentação de bastidores, discreta e insidiosa. Após a volta de Dwalin às suas tarefas, era grande a movimentação para investigar os mercadores de escravos. Os dados que Nori (o espião-mor) levantara tinham deixado Thorin de cabelo em pé: esses traficantes não costumavam transitar por aquelas bandas, e tinham praticamente vindo a convite de indivíduos khazâd contrários à presença de uma estrangeira no trono de Erebor. A descrição de Anna foi passada aos homens do comércio vil, e eles consideraram que seria uma mercadoria única, cara e lucrativa. A única condição era que a escrava fosse vendida e levada para longe da Montanha Solitária.

A informação deixou Thorin quase fora de si. Tramar contra a Consorte era tramar contra o rei; e tramar contra o rei era traição. Por já ter dito ser contrária a qualquer tipo de retaliação, Anna não podia saber que eles estavam à caça dos malfeitores.

Contudo, Anna reparara que a segurança tinha sido reforçada. Sempre que ela saía da montanha, havia pelo menos dois guardas armados com ela. Ela indagou o motivo. Thorin respondeu que ele temia um ataque dos mercadores de escravos, por isso até Hila tinha permissão para portar armas. Normalmente avessa a violência, Anna concordou sem resistir. Thorin percebeu que essa era a medida do terror de Anna. O trauma do que ela vivera nas mãos de Azog tinha sido maior do que ele imaginara.

Dwalin estava de volta à ativa, mas a investigação mais produtiva vinha não apenas de Nori, mas também de uma fonte surpreendente: acionados por sua ligação ancestral com a casa de Durin, os corvos observaram movimentação de "homens que aprisionavam outros homens" e que falavam com o povo da montanha. Restava apenas saber quem eram os khazâd envolvidos.

Thorin enviou relatórios para os elfos de Mirkwood, para os homens de Valle e também da Cidade do Lago. Todos foram alertados. Exceto Anna. O Rei Sob a Montanha deu ordens expressas para que a Consorte nada soubesse a esse respeito. Ele queria poupá-la das lembranças desagradáveis e protegê-la a todo custo.

Só Mahal saberia se a proteção que Thorin queria dar à sua amada era suficiente.

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— Milady?

— Sim, Hila?

— O guarda acaba de me informar que o rei requer sua presença, senhora. Ele a espera para escoltá-la.

— Ele disse o motivo? Tem algo a ver com aquele enviado de Valle que chegou de manhã?

— Não sei dizer, madame.

— Está bem — disse Anna, passando Darin. — Se eu demorar muito, pode levar Darin para a sala da família, por favor? Obrigada, Hila.

Anna acompanhou o guarda até a sala de audiências. Balin a recebeu:

— Senhora Consorte, bem-vinda. Este é Tuxwine, de Valle. Ele recebeu uma missão especial de um enviado do Oeste.

Anna assentiu ao homem, que se curvou diante dela. Thorin a recebeu com animação:

— Você não vai acreditar no que ele trouxe, yâsith: cartas de Bree! Mestre Baggins nos escreveu!

Anna sentiu seu coração se acelerar.

— Bilbo escreveu? O que ele conta? Onde está a carta?

— Ele escreveu uma carta para cada um da Companhia — disse Thorin. — Mestre Tuxwine trouxe a sua.

O homem sorriu e entregou um envelope, dizendo:

— Sua carta, senhora. Espero que sejam boas notícias.

Anna agradeceu ao homem e rasgou o envelope, ansiosa por notícias. Leu:

“Minha querida Anna,

Aproveito a ida de um mensageiro a Valle para escrever essas poucas linhas apressadas.

Espero que todos aí estejam bem. Mandei bilhetes para todos, incluindo Bifur. Gostaria que lessem para ele, se ele não conseguir.

A essa altura, calculo que Erebor já esteja começando a se recuperar, bem como Valle. Cabe a você também estreitar os laços com Mirkwood. Não vejo como uma aliança e amizade com o rei Thranduil possa prejudicar nossos amigos anões.

Agora deixe-me falar um pouco de mim. Gandalf e eu chegamos em segurança a Hobbiton depois dos meses para a viagem de volta. Orcs parecem ter desaparecido do caminho, ou simplesmente evitam a Grande Estrada do Leste.

Ao chegar, tive muito trabalho. Aquela odiosa de minha parente, Lobelia Sackville-Baggins, já estava a um passo de tomar posse de Bag End, que é minha casa, como você sabe. Muitas de minhas coisas já tinham trocado de mãos e tive que recomprar a maior parte delas. Felizmente, as colheres de prata de minha mãe estavam em lugar seguro. Lobelia jamais me devolveria se tivesse conseguido colocar as patas nessas colheres.

Hoje sou considerado um pária entre os hobbits. Não que eles me tratem mal, mas agora sou completamente não respeitável. Já Gandalf é considerado uma ameaça à sociedade. Ele se divertiu imensamente com a informação.

Calculo que, até essa carta chegar a você, seu bebê já estará próximo de nascer, ou talvez já tenha até nascido. Por favor, receba meus cumprimentos antecipados pela adição de sua família e Thorin. Tenho certeza de que o bebê os fará ainda mais felizes.

Como seu Responsável, sei que seu contrato de casamentos e esponsais prevê a chance de pelo menos uma viagem por ano. Estarei esperando de braços abertos você e quem mais da Companhia quiser vir conhecer o Shire, incluindo o seu bebê. Será meu prazer e meu dever, como seu tio.

Tenho saudades, e muitas vezes eu me pego lembrando nossas aventuras. Precisamos fazer mais dessas, não é? Matar mais dragões é divertido! (É só brincadeira, eu juro!)

Peça ao emissário que espere uma resposta. Ficarei desapontado se não souber notícias o quanto antes. E depois, se for o caso, mande me dizer sobre seu bebezinho. Estou morto de curiosidades. É um menino?

Com grandes saudades e afeição, assino seu tio,

Bilbo Baggins, de Bag End.”

— Oh, Thorin. — Anna não tinha percebido que seu rosto estava coberto de lágrimas. — Posso escrever agora mesmo para meu tio?

Thorin beijou sua fronte e respondeu:

— É claro que sim. Mestre Tuxwine só partirá amanhã, claro. Haverá bastante tempo.

— Não quero perder nenhum minuto. Ele vai adorar saber sobre Darin! -— Ela se virou para o homem. — Oh, abençoado seja o portador de boas notícias, Mestre Tuxwine. Por favor, não repare que eu esteja tão emocionada ou apressada. A carta vem de um parente muito querido, preciso responder o quanto antes!

Ele se curvou:

— Fico feliz por ter podido agradar à Senhora de Erebor. Fique em paz, pois não sairei da Montanha sem sua resposta.

— Mahal o abençoe, senhor!

Anna saiu correndo tão rápido que o guarda que a escoltava teve que apertar o passo para acompanhá-la até a biblioteca, onde Ori tinha papéis, penas e tinta. Sua mente corria com as ideias que queria escrever e outras.

Visitar o Shire soava muito bem.

Ela ainda estava no caminho para a biblioteca quando deu um encontrão num anão.

— Oh, perdão, meu senhor.

O khuzd esbravejou:

— Olhe para onde está indo, mahlin!

— Desculpe — repetiu Anna. — Foi minha culpa.

— É claro que a culpa é sua, intrusa!

O guarda adiantou-se, alertando:

— Cuidado com o modo como fala com a consorte do rei! Peça desculpas!

O anão olhou Anna de cima a baixo com extrema arrogância e disse:

— Não vou me curvar à malinh responsável pela morte de meu primo! Ouça isso, rameira. Você ainda vai se arrepender do que fez a Bendar!

Anna arregalou os olhos, e o guarda puxou a espada:

— Para trás!

Foi quando Anna ouviu uma voz conhecida às suas costas. E não havia traço de bom-humor.

— O que em nome de Durin está acontecendo aqui? Quem ousa incomodar a Consorte?

O tamanho de Dwalin não intimidou o anão, que respondeu:

— Eu sou Fendar, filho de Trendar. E não tenho medo nem do chefe da guarda real. Quem precisa ter medo é essa-

O guarda ergueu a espada:

— Se repetir o que disse, vai conhecer Mandos antes do tempo!

Dwalin dirigiu-se a Anna:

— Milady, ele a ofendeu e pode ser preso por isso. Basta dar a ordem.

Anna olhou para Fendar e indagou:

— Fendar, o que você acha do rei?

O anão a encarou, despeitado:

— Sua Majestade foi enfeitiçado por seus poderes obscuros, estrangeira. Você não é digna do trono de Erebor. Muito menos essa aberração conspurcando a linhagem de Durin, essa que chama de filho.

Anna empalideceu, mas respondeu, agora com a voz endurecida:

— O primogênito do rei não deve ser chamado de aberração.

— Então Sua Alteza, o príncipe — Fendar pôs um tom jocoso nas palavras — deve se cuidar. Seria uma pena se alguma coisa acontecesse a ele.

Sem esperar resposta, Fendar deu as costas e foi embora. Dwalin disse:

— Vou atrás dele.

— Espere — pediu Anna. — Não tenho desejo de repetir o que houve anteriormente.

Dwalin rosnou:

— Ele merece punição!

— Por dizer o que pensa? Ele é grosseiro, mas não cometer nenhum crime. Sou bem grandinha: posso aguentar alguns insultos. Mas como mãe não gostei da ameaça a Darin.

— O que quer que eu faça?

— Conte o que houve a Thorin e ponha espiões atrás dele. Será melhor verificar se ele é alguém apenas com desejo de dizer ofensas ou com planos de tomar o trono.

— Como queira, Senhora Consorte.

Dwalin assentiu e curvou-se. Anna sorriu:

— Além do mais, meu amigo, com você por perto nada temo. E sua guarda provou ser a melhor em Erebor. — Ela se virou para o seu segurança. — Agradeço por me defender, bom homem.

O guarda curvou-se

— Fiz apenas o meu dever, milady.

Anna reforçou:

— Não é por isso que ficarei menos agradecida. Obrigada. — Ela voltou à animação de antes. — Agora podemos ir à biblioteca? Ainda tenho uma carta para escrever!

Palavras em Khuzdul

ghivasha = tesouro

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

khuzd = anão

khazâd = anões

mahlin = prostituta, vadia

ukurduh = meu coração

yasîth = esposa


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