Vida em Erebor escrita por Vindalf
Notas iniciais do capítulo
Heranças nunca ficam escondidas para sempre
Coisas extraordinárias
Heranças nunca ficam escondidas para sempre
Óin pegou o braço de Anna. Ela não acordou. Alarmado, o curador tentou verificar o pulso.
— Muito fraco. Milady? — Anna não respondeu. — Ela não acorda.
Hila se assustou ao notar, apontando a cama:
— Oh, Mestre Óin!... O sangue!...
Ele verificou que era verdade. Rapidamente, convocou a ajuda das duas, para pegar instrumentos e água. Era preciso ter pressa, sabia Óin, sob pena de Anna não sobreviver.
Ao verificar o sangramento, Óin constatou que o dano era grande, mas silencioso. A parteira provavelmente não se dera conta, sendo Anna tão pequena, de uma raça diferente. Era preciso medidas drásticas.
— Perdoe-me, minha senhora — ele disse baixinho, em Khuzdul.
Hila estava apavorada. Por sua vez, Tauriel torcia, pedindo silenciosamente a todas as estrelas pela rainha de Erebor. Ela se surpreendeu quando Óin virou-se para ela:
— Mestra elfa, alguma de sua magia medicinal pode ajudar minha senhora?
— Não sou curadora ou mágica, senhor — disse Tauriel. — Gostaria de ter magia pura, como Gandalf, para ajudar Lady Anna...!
Óin exclamou:
— Gandalf!... Sim, é isso! Gandalf pode ajudá-la! Pode trazê-lo?
Antes que Tauriel respondesse, Hila se ofereceu:
— Eu vou! Será mais rápido, pois conheço a montanha! Volto já!
Hila já corria quando Óin gritou:
— Não pare por nada! O caso é grave!
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Da primeira vez que Hila passou correndo, provavelmente ninguém a notou porque o bebê atraía a atenção de todos, ainda chorando desesperadamente. Mas quando a criada voltou, trazendo dois magos, foi impossível não notar.
Dori foi o primeiro a protestar:
— Vocês não podem entrar aqui!
Hila se apressou a dizer:
— É uma emergência, Mestre Óin pediu que viessem! — Ela apontou a porta do quarto. — Por ali, sr. Gandalf, por favor!
Gandalf seguiu na direção indicada, e Thorin foi atrás dele para dentro do quarto. Atraído pelo choro de Darin, Radagast abriu um sorriso:
— Oh, um pequenino! Uma bênção dos deuses!
Darin em nada se impressionou com um dos Istari, e estava vermelhinho de tanto chorar, no colo de Dìs.
— Por que não para de chorar?
— Estará com fome?
— Não, Thorin disse que ele acabou de tomar leite da mãe.
— Talvez ele precise ser limpo.
Radagast se aproximou:
— Posso tentar? Tem uma coisa que bebezinhos adoram.
Com a permissão de Dís, o mago aproximou o cristal de seu cajado da criança, entoando um encantamento para acalmar o pequeno. Mal o mago pronunciou as palavras sagradas, um halo de luz totalmente branca envolveu a criança. A tia teve que fechar os olhos, de tão forte que a luz era.
Os olhos azuis de Radagast se arregalaram, e ele exclamou, maravilhado:
— Oh, sua belezura...!
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Tauriel afastou Thorin enquanto Óin explicava a situação (ou o que ele sabia) para Gandalf.
— Fechei o ferimento e fiz o que pude, mas a rainha não responde — explicava o velho khuzd, angustiado. — Nós a estamos perdendo, e não sei mais o que fazer!...
O mago sentou-se na cama e pôs a mão sobre os olhos de Anna, chamando seu espírito de volta. Os demais não viram nada acontecer, mas Gandalf sabia plenamente que algo acontecia, algo importante. Ele pegou seu cajado e acendeu-o, jogando a luz sobre Anna. De novo, nada aconteceu — até Gandalf tirar seu frasquinho de água de Lórien e fazer Anna beber um pouco.
A reação desta vez foi bem visível.
Luz branca, puríssima e rara, saiu do corpo inerte de Anna, inundando o quarto com uma sensação de paz e conforto. Gandalf olhou para cima, admirado, enquanto Thorin protegia os olhos e Óin se admirava. Tauriel estava tão emocionada que seus olhos se encheram de lágrimas.
Aos poucos, a luz se apagou e Gandalf instruiu:
— Acredito que ela esteja melhor agora. Thorin, por favor, traga Radagast e seu filho. Os demais podem sair.
Sem pestanejar, todos se puseram a obedecer ao mago. Thorin entrou com Darin em seus braços e Radagast veio falando, animado:
— Gandalf, não sabe o que eu descobri.
— Só um pouco, Radagast — disse o outro maiar. — Thorin, traga seu filho.
Thorin obedeceu, e Gandalf pôs o bebê em cima do peito de Anna. Imediatamente Darin parou de chorar. Ambos foram banhados da luz branca e forte, que rapidamente se apagou. Radagast soltou, admirado:
— Oh! Gandalf, você viu? Mãe e filho!...
Thorin estava entre terrificado e maravilhado com o que tinha visto. Ele ainda não sabia direito o que exatamente ele tinha visto, mas sabia que era algo extraordinário. Ele indagou:
— Gandalf... O que houve?
O mago estava comovido, e sua voz tremia:
— Oh, meu caro Thorin... Fomos testemunhas privilegiadas de um acontecimento sem precedentes, graças a esta dádiva que é Anna.
Thorin quis saber:
— Ela vai ficar bem?
— Acalme-se, meu amigo. Ela ficará bem. Posso lhe explicar tudo assim que conferenciar com Radagast.
— Posso vê-la?
— É claro. Volto já.
Os dois Istari se juntaram num canto do quarto, e Thorin se sentou na cama. Pegou Darin no colo, e o bebê se ajeitou para dormir, exausto de tanto chorar. O Rei Sobre a Montanha observou sua amada, o coração ainda cheio de emoções. Não podia negar que estava abalado. Ele poderia ter perdido sua ghivasha, e ele não saberia o que fazer sem ela.
Mais uma vez Anna o surpreendia. Gandalf tinha razão: ela era uma dádiva, e nem sempre Thorin se lembrava disso. Como ele era abençoado que uma pessoa assim fosse sua!...
Gandalf afastou o rei da cama, levando-o para um canto do quarto, para deixar Anna descansar. Darin ficou aconchegado à mãe. O mago tratou de acalmar o rei, que ainda parecia abalado:
— Tudo ficará bem, Thorin. Pode ficar sossegado. Mas acho que deve saber o que aconteceu com sua extraordinária esposa.
— Gandalf, não me esconda nada — pediu.
— Anna acaba de passar por uma transformação fenomenal. Radagast concorda comigo: é parte da herança verdadeira de Anna se manifestando.
Thorin sabia que sua mulher era de uma raça praticamente extinta em Arda — ninfas. Por isso os elfos a tratavam com tanta deferência: eram seus parentes. Mas, diferentemente dos elfos, Anna tinha habilidades extraordinárias, poderes de transformação.
Ao se casar com Thorin, ela praticamente renunciara a tudo isso.
Gandalf continuou:
— A maternidade sempre é uma experiência extraordinária e transformadora para qualquer mulher. Mas Anna não é uma mulher qualquer. No caso dela, isso foi muito além. Ao se tornar mãe, Anna aparentemente ativou uma herança mágica adormecida dentro dela. Ela agora tem poderes.
— Poderes? — indagou ele. — Que poderes?
— Não posso dizer com certeza. A única certeza que tenho é que seu filho também compartilha dessa herança. Eu até diria que, de alguma forma, a criança é a responsável pela ativação desses poderes.
Thorin estava dividido entre assustado, boquiaberto, orgulhoso e maravilhado. Gandalf continuou:
— Cabe a você, Thorin Oakenshield, amá-los e protegê-los. Pois eles são preciosos não só para você, mas para toda a Terra Média. Eu sempre disse que sua mulher tem um papel importante nesta terra. Você, caro Thorin, tem o privilégio de ser o guardião desse verdadeiro tesouro de Erebor.
O Rei Sob a Montanha suspirou:
— Ah, Gandalf... Nem sei direito como reagir.
— Alegre-se, Thorin! Quando por nada, alegre-se pela bênção de sua mulher e de seu filho perfeito.
Enquanto os dois conversavam, o mago Radagast aproximava o cajado de mãe e filho, criando fachos de luz em diferentes cores. Um passarinho sobrevoava os dois e piava insistentemente para o mago de Rosghobel. Foi quando Radagast notou uma discrepância nas leituras que fazia com o cristal mágico. Ele franziu o cenho.
— Hum, Gandalf?
— O que é, Radagast?
— Você usou água de Lórien na mulher?
— Você sabe que sim; você viu. Por que pergunta?
O mago castanho respondeu:
— Porque estou captando as mesmas leituras na criança.
O cinza disse, impaciente:
— Bom, então você viu errado! Não usei no bebê. Faça de novo.
— Já fiz três vezes.
— Não é possível! Como a criança teria tido acesso a esta água se... A menos que...
Gandalf interrompeu-se, de olhos arregalados. Ele olhou para Anna e o bebê, dormindo. Animado, virou-se para Thorin:
— Você disse que o bebê veio antes do tempo. Isso é verdade? Quanto tempo antes?
— Anna ainda ia entrar no sexto mês de gestação — respondeu o pai. — O bebê não deveria estar tão formado nem tão forte.
— Desculpe a pergunta, mas, antes da data da concepção do bebê, você e Anna tiveram outros er, encontros íntimos?
Thorin enrubesceu:
— Er, sim, mas—
Gandalf estava tão animado que o interrompeu:
— Teria sido em Imladris?
Thorin estava impressionado:
— Sim, mas como você poderia saber disso?
Gandalf o encarou com extrema afeição, um sorriso terno e olhar doce, ao dizer:
— Thorin, Thorin, meu caro Thorin...! Suas bênçãos são ainda maiores do que você podia prever. Pois seu filho é um presente dos deuses, concebido em Imladris graças à magia pura que atuava no corpo de Anna naquele momento: a água de Gil-Estel, a Luz da Esperança. Ela permitiu a vida de seu filho, que nasceu em bom termo e no tempo correto.
Levou alguns segundos até Thorin compreender exatamente o que Gandalf dizia. As implicações ainda demorariam a serem absorvidas, com certeza.
— Então... O bebê está maduro...?
— Ele está ótimo — garantiu Gandalf. — Ambos vão precisar de descanso e muito sol para se recuperar.
— Sol?
— Oh, isso é muito importante. Sol e comida colorida: frutas, verduras, grãos, leite.
Thorin quis saber:
— Então não há dúvida? O bebê nasceu no termo certo?
Radagast confirmou:
— É o que diz aqui: um bebê saudável nascido aos nove meses de gestação com fortes traços de uma magia que nunca encontrei antes. — O mago sorriu, entusiasmado: — A neve florida nunca falha! Coisas extraordinárias acontecem na neve florida!
Palavras em Khuzdul
ghivasha = tesouro
ghivashel = tesouro de todos os tesouros
khuzd = anão
khazâd = anões, povo dos anões
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