Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 11
Chegadas e retorno


Notas iniciais do capítulo

Hora de conhecer o resto da família



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Chegadas e retorno

Hora de conhecer o resto da família

Nunca antes a montanha ficara tão agitada, notou Anna. Era evidente que todos estavam muito animados, especialmente depois das notícias dos corvos e dos vigias avançados.

As caravanas de Ered Luin já tinham atravessado o rio Corrente e iriam chegar à Montanha Solitária a qualquer momento.

Fíli e Kíli mal conseguiam se conter de tão ansiosos. Um tinha refeito as tranças do outro, polido as armas e ajeitado suas roupas, a fim de se apresentar para sua mãe. Anna também notou certa trepidação até em Thorin e, curiosamente, no sempre comedido Dwalin. Será que o guerreiro feroz tinha alguma preferida vindo na caravana?, especulou Anna.

Finalmente, as carroças e pôneis chegaram à montanha. Thorin acompanhou Anna até o portão principal, por onde as montarias entravam, ao som de aplausos de todos os habitantes da montanha. Era uma grande festa.

Os recém-chegados eram recepcionados por todos com grande entusiasmo. Anna estava emocionada ao ver a alegria e a esperança nos rostos, tanto dos que chegavam quanto dos que os recebiam. Ela ouviu um grito:

— Milna!

Glóin correu a abraçar uma mulher emocionada que estava acompanhada de um jovem anão. Deviam ser a mulher dele e o filho, Gimli.

Havia um grande clima de reencontro, que fez Anna lembrar-se de um saguão de rodoviária ou aeroporto. Era grande a emoção.

Thorin subiu numa escada próxima e ficou acima da multidão, antes de pedir:

— Amigos! Amigos, sua atenção por um minuto!

Anna quase tinha se esquecido do pendor de Thorin por palavras pomposas e discursos inflamados. Ela ficou no chão logo abaixo, com o resto dos Durin, à exceção de Glóin.

Quando o burburinho morreu e a atenção se voltou para Thorin, o Rei Sob a Montanha pronunciou:

— Quero dar as boas-vindas a vocês, representantes do povo de Durin, que deixaram Ered Luin, seu lar de fato, para finalmente retomar Erebor, seu lar de direito. Com sua ajuda, em breve da montanha estarão fluindo riquezas mais do que o rio Corrente! Aqui, todos nós juntos, podemos esquecer o flagelo do dragão e construir o futuro. Juntos, faremos a cidade prosperar e voltar a ser o maior reino de nosso povo em toda Terra Média!

Aplausos e gritos abafaram as últimas palavras do rei, ruidosamente saudado por seus súditos. Anna emocionou-se com a cena. Em seu peito, ela sentiu um orgulho palpável do marido, um homem talhado para ser um líder, nascido para ser rei — amor de sua vida e pai de seu filho.

Perdida em seus sentimentos, Anna quase levou um susto quando Kíli soltou um grito animado:

— Mãe!

E perdeu-se na multidão, seguido por Fíli. Thorin juntou-se a Anna, com um sorriso:

— Dís está vindo até nós.

Anna sentiu borboletas no estômago ao ouvir aquilo. Ela queria muito se dar bem com Dís, pois sabia da importância de uma boa relação com a irmã de Thorin para seu casamento. Se Dís não a aceitasse, a vida de Anna seria muito difícil na montanha. Todos da companhia estavam certos de que as duas seriam grandes amigas, e Anna também queria ter uma amiga mulher depois de tanto tempo. Por isso era tão importante para ela que as duas se dessem bem.

Thorin adiantou-se para encostar a testa com ternura na testa de uma anã de cabelos pretos como os seus, um rosto parecido com o dos meninos e olhos azuis como safiras. Dís trazia a beleza da família Durin, e deveria ter sido uma beldade cobiçada até se casar.

— Irmão meu, finalmente!

Thorin a pegou pelos braços, num grande sorriso, dizendo:

— Bem-vinda ao lar, minha irmã.

— Thorin, seu anão teimoso — disse ela com carinho. — Você conseguiu, meu irmão. Conseguiu matar o dragão. Nosso avô estaria orgulhoso.

— Obrigado.

Fíli e Kíli a abraçaram de novo. Dís correspondeu:

— Oh, meus amores! Olhem só: estão crescidos e agora viraram heróis!

Os dois sorriram, com orgulho, e de repente Dís agarrou cada um pelas orelhas, puxando com força. Os irmãos fizeram caretas de dor, e Kíli protestou:

— Ei! O que eu fiz agora?

Ela respondeu, irritada:

— Isso é por matar sua pobre mãe de preocupação! Eu ouvi as canções! Não bastava o dragão? Goblins? Orcs?! Trolls?! Por Mahal, querem me levar para os Salões de Espera antes que o Criador me chame?

Fíli tentou dizer:

— Mas mãe-

Ela o ignorou, e virou-se para aplicar um soco no ombro de Thorin.

— E você! O que estava pensando, ouvindo aquele mago? Se alguma coisa tivesse acontecido com você ou com um de meus bebês, eu juro que jamais o perdoaria!

Thorin não parara de sorrir.

— Eu sei.

Dís também sorria para ele.

— E como vocês têm se virado na minha ausência?

O rei respondeu:

— Pessimamente, é claro. Venha, irmã. Quero que conheça o verdadeiro tesouro de Erebor.

Anna observava tudo aquilo com um sorriso e deixou Thorin levá-la até a anã imponente que era sua irmã.

— Aqui está ela. Dís, esta é minha mulher, a joia mais preciosa de meu tesouro, Anna.

Anna fez uma mesura, dizendo:

— É uma grande honra conhecê-la.

Dís a encarou de cima abaixo, observando:

— Então essa é a pequena de que tanto ouvi falar. Fiquei em dúvida se os relatos sobre minha cunhada eram verdadeiros.

Anna apressou-se em dizer:

— Muito exagerados.

Kíli e Fíli garantiram:

— São todos verdadeiros!

— Minha tia é extraordinária.

Dís comentou:

— Meus filhos a têm em alta estima.

Anna ficou vermelha.

— São ótimos rapazes.

— E você vai me dar um sobrinho, pelo que vejo. Para quando é a criança?

— Não se sabe ao certo, mas provavelmente no fim do verão.

— E está indo tudo bem?

— Excelente, temos sido abençoados.

Então a irmã de Thorin virou para o lado ao ver:

Oy! Dwalin!

Ele inclinou a cabeça:

— Lady Dís.

— Pare com essas formalidades agora mesmo, seu anão brutamontes — disse ela, sorrindo. — O que anda fazendo de bom?

Ele respondeu:

— Tentando evitar que seu irmão cabeça-dura se meta em encrencas!

— Então não fez seu trabalho muito bem, não é? É só eu me descuidar e ele anda puxando briga com dragões, sem mencionar que está casado e esperando um filho!

Todos riram, e Anna estava insegura. Dís passou a cumprimentar outros da companhia. Anna se sentiu frustrada e com vontade de chorar. Provavelmente ela tinha decepcionado Dís. Mesmo lembrando que anões eram desconfiados e não se abriam com quem não conheciam, Anna estava com a sensação de ter falhado numa prova importante.

Houve uma refeição festiva para a família real, incluindo primos e outros parentes. Por isso eles terminaram indo para uma sala de banquetes, onde Anna conheceu a esposa de Glóin, Milna, com quem conversou longamente, revelando que Glóin tinha sido o Negociador dela no contrato de casamento. Anna notou a satisfação dos recém-chegados com a informação de que um contrato fora negociado, e as tradições, observadas.

O pequeno Gimli se encantou com Anna, porque ela fez questão de contar as coisas que seu pai Glóin dizia a seu respeito.

— Sabe que ele carrega o retrato de vocês dois, seu e de sua mãe? — garantiu Anna. — E vivia falando de vocês. Sinto que eu os conheço!

Gimli observou:

— Você é pequena e mulher. Não deveria ter ido numa jornada tão perigosa.

Anna ia responder, mas Dwalin interveio:

— Eu também achava isso, rapaz, até ela sozinha salvar a companhia de três trolls da montanha!

O jovem anão ficou desconfiado:

— Está brincando comigo! Isso não tem graça, primo!

Glóin garantiu:

— Não é brincadeira, filho. Dwalin estava sendo tostado no espeto dos trolls. Eu estava preso dentro de um saco.

Gimli ficou boquiaberto. Olhou para Anna, depois para o pai, depois para Dwalin. Então ele se voltou para Anna, pedindo:

— Lady Anna, é imperativo que me conte como fez isso!

Anna riu-se e disse:

— Está combinado! Amanhã, assim que terminar suas tarefas e ajudar seus pais, pode vir me procurar, Mestre Gimli. Vou lhe contar tudo que aconteceu.

— Por que não hoje? — exigiu o jovem anão.

Milna ralhou:

— Gimli! Isso não são modos de se falar com a Consorte do Rei!

Anna garantiu:

— Gimli não me incomoda. Mas hoje devo me recolher cedo. Estou um pouco indisposta.

Thorin alarmou-se:

— Não se sente bem, ghivashel?

— Eu estou bem — garantiu Anna. — Acho que fiquei emocionada com a chegada de todos, só isso. O bebê também está inquieto.

Dís comentou:

— Pode mesmo ter sido um dia agitado e emocionante.

Anna sorriu:

— É bom reunir a família. Sempre imaginei como seria ter uma família grande.

Milna indagou:

— Não tem irmãos?

— Meu pai morreu quando eu era pouco mais do que um bebê. Éramos apenas eu e minha mãe.

Foi a vez de Dís indagar:

— Ela também não tinha irmãos?

— Não, por isso posso entender a animação de Kíli e Fíli com o primo ou prima. Eu teria me sentido da mesma maneira.

Milna comentou:

— Imagine nossa surpresa quando ouvimos que Thorin não só tinha se casado, mas também esperava um herdeiro, e a escolhida nem sequer era de nossa raça!...

Houve um momento desconfortável. Anna viu Thorin fechar a cara, Kíli também. Antes que a situação ficasse ainda mais tensa, Anna emendou, mostrando-se igualmente animada:

— E eu estava cada dia mais ávida por companhia feminina! Os homens foram todos muito gentis, mas para me dar uma dica de beleza, eram absolutamente inúteis!...

Milna se sentiu encorajada a indagar:

— E é verdade que teve que cortar o cabelo para se disfarçar de homem?

— Sim, mas já está crescendo de novo.

Ela fez uma careta:

— Que horror, pobrezinha!

Anna deu de ombros:

— Foi inevitável. Eu estava disfarçada de hobbit – de um menino hobbit.

— E deu certo? — indagou Gimli.

— Bom, os homens da Curva do Rio não desconfiaram que eu não fosse hobbit.

— Então não é um hobbit de verdade?

— Sou humana.

Gimli protestou:

— Mas não é grande como os outros humanos!

— Bom... Na minha terra, todos têm minha estatura, mais ou menos.

— Você não é da Terra Parda, Dunland. De onde vem?

Anna respondeu:

— Fui raptada por orcs, e a companhia me salvou. Devo a todos minha vida.

Glóin riu:

— Dona Anna era uma coisinha assustada quando a encontramos naquela caverna. Muitos de nós apostamos que ela não sobreviveria ao Ermo.

Aquilo era novidade para Anna:

— Vocês apostaram? E quem ganhou?

— Bilbo. E o mago — respondeu Óin. — Mas Bilbo era ele mesmo alvo de outra aposta, então muitos recuperaram a aposta.

Anna quis saber:

— E que outra aposta era essa?

Balin trazia um sorriso grande ao responder:

— A aposta era se Bilbo aceitaria lutar contra Thorin por sua mão, pequena.

Anna arregalou os olhos:

— Vocês apost... B-Bilbo...?! Ele é meu tio!

Dwalin esclareceu:

— Isso não estava muito claro na ocasião.

— E quando foi isso?

— Na Curva do Rio. E antes de encontrarmos aquele outro mago, o maluco dos coelhos.

— Radagast? Mas eu mal tinha chegado à companhia!... Bilbo sabe disso?

— Ele só soube depois. Mas achamos que ele ia enfrentar o desafio. Não por sua mão, claro. Por outro motivo, em outra ocasião.

— E qual foi?

Glóin olhou para Óin, que olhou para Kíli, que olhou para Fíli, que olhou para Dwalin, que olhou para Balin, que se virou para Thorin. Esse último, vermelho, baixou os olhos e hesitou. Anna notou o clima e indagou:

— O que há? O que vocês não querem me contar? Thorin?

Relutantemente, quase a contragosto, o rei respondeu, constrangido:

— Bilbo quis se amotinar e deixar o grupo para ir atrás de você. Ele... chegou a me ameaçar com uma espada.

Anna estava boquiaberta:

— Como eu nunca soube disso? Quando isso aconteceu?

O clima era tenso à mesa. Todos pareciam constrangidos, e os recém-chegados não entendiam coisa alguma. Anna também não.

Thorin respondeu:

— Foi depois que a companhia deixou o vale oculto de Imladris.

Rivendell, pensou Anna, entendendo tudo num átimo.

Bilbo deveria ter se revoltado quando eles deixaram Rivendell e abandonaram Anna com os elfos. Ela nunca soubera, porém, que a coisa chegara a esse ponto com Bilbo.

Anna indagou, sem demonstrar reação:

— E quando exatamente vocês planejavam me falar sobre esse episódio?

Thorin estava mais do que vermelho e rosnou, contrariado:

— Certamente não nesse momento. Talvez possamos discutir isso mais tarde.

Calada até então, Dís comentou:

— Receio que seja tarde demais para isso, irmão meu. Está claro que essa pequena tem todos vocês na palma da mão. — A irmã de Thorin ergueu o copo com vinho e saudou: — Só por isso, cunhada, posso ver que você e eu seremos grandes amigas. Saúde!

Anna abriu um grande sorriso, totalmente surpresa e aliviada. Por outro lado, ela pôde ouvir o gemido exasperado de Kíli:

— Duas delas, por Mahal!... Estamos perdidos, irmão.

Fíli respondeu:

— Não tanto quanto nosso tio.

Não houve como não rir diante desse fato, e Anna sentiu a refeição muito mais agradável dali para frente.

Palavras em Khuzdul

ghivashel = tesouro de todos os tesouros


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