Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 10
Planos


Notas iniciais do capítulo

Emoções quando o bebê se mexe



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Planos

Emoções quando o bebê se mexe

Dori bateu à porta na manhã seguinte, dizendo:

— Madame Hila pede permissão para entrar, Milady.

— Por favor, Mestre Dori, peça a ela que entre.

A costureira esperou que a posta se fechasse antes de indagar, de cabeça baixa:

— Milady ainda está aborrecida comigo?

Anna respondeu:

— Não estou aborrecida, só me sinto um fracasso.

Hila arregalou os olhos:

— Como, Milady? Não entendo.

Anna suspirou:

— Deve ter alguma coisa muito errada comigo, se você não se sentiu à vontade para conversar comigo sobre sua situação. Pensei que fôssemos chegadas, Hila, que fôssemos amigas. E se não sou capaz de inspirar confiança nas pessoas próximas de mim, como poderei ter a confiança do povo? Como poderei ser rainha?

A costureira estava mortificada:

— Milady não deve pensar assim! Essas coisas não são verdadeiras.

— Então por que não veio fazer seu pedido a mim? Sabe que eu teria feito o pedido diretamente a Thorin.

Ela se curvou, constrita:

— Milady, sei perfeitamente que levaria meu pedido ao rei, pois é uma pessoa boa e generosa, reconhecidamente boa. Só achei que seria abusar de sua bondade. Seria injustiça com meus compatriotas anões que não conhecem sua gentileza, minha senhora.

— E você nasceu em Erebor...! Sinto muito por tudo que passou.

Hila disse, de cabeça baixa:

— Não costumo falar sobre meu passado, senhora, pois sobre ele nada posso fazer. Só o meu futuro posso mudar, e sobre ele vim falar. Ainda está disposta a usar meus serviços?

— Só se me garantir que virá até mim se tiver algum problema e precisar de alguém que a ouça. É o que amigos fazem, e eu ficarei honrada se me considerar sua amiga.

— A honra é inteiramente minha, milady.

— Nesse caso, pode me dar uma ajuda sobre o que o bebê ainda precisa? Eu fiz uma lista, mas pode ser que tenha esquecido alguma coisa.

Nas semanas seguintes, Hila terminou sendo uma companhia constante de Anna, também para outras ocasiões. Dori estava ocupado com os campos de cultivo, e embora fosse algumas vezes ao campo, Anna acompanhava a reforma da ala real e os demais preparativos para a chegada de Dís e o bebê. A barriga de Anna crescia, e ela começava a se sentir mais pesada. Aproximava-se o momento de seu confinamento.

Até que esse momento chegasse, porém, Anna estava disposta a aproveitar tudo ao máximo. Ela fez questão de ficar ao lado de Thorin e dar as boas-vindas aos primeiros agricultores que se instalaram nos campos de cultivo. Ela sabia o quanto isso era importante para Erebor.

Também era grande a agitação porque as obras da ala real estavam quase prontas. Os aposentos de Dís eram os mesmos que ela tinha quando menina. Os quartos de Thráin, Freya e Frerin sofreram adaptações para instalar os demais membros da família, o bebê e os criados. O antigo quarto da rainha, por exemplo, amplo e com acesso ao terraço com o jardim de ervas, virara uma espécie de sala íntima da família. Era lá que Anna e Hila faziam planos sobre o enxoval, e também onde Thorin e Anna costumavam fazer refeições com Kíli, Fíli e Balin — desde que assuntos do reino ficassem de fora. Foi numa dessas refeições que Thorin comentou, à mesa:

— Os corvos nos deram notícias das caravanas. Devem chegar em duas semanas.

Os irmãos imediatamente se alvoroçaram, indagando de maneira atabalhoada:

— Já? Nossa mãe está vindo?

— E o que mais disseram?

Anna sorriu diante da animação deles, e Thorin respondeu:

— Esse é o que estimam, mas se pegarem outra tempestade de neve, podem se atrasar.

Balin sugeriu:

— Podemos adiantar os preparativos da cerimônia para pouco depois que as caravanas chegarem.

Thorin encarou Anna e respondeu:

— Acho bem prudente. Não ia querer minha ghivashel confinada durante a cerimônia.

Anna indagou:

— Do que estão falando?

— Da coroação de Thorin — respondeu Balin. — E a sua, é claro.

Anna indagou:

— É isso que está fazendo Balin ter conversas com Madame Hila quando acha que não estou prestando atenção? E quando pretendiam me dizer?

O anão de barbas brancas ficou com o nariz rosado, e Thorin apressou-se em dizer:

— É claro que íamos contar, mas estávamos adiando a decisão, porque... — A partir desse ponto, o rei se atrapalhou todo. — Bem, Óin disse que você não deve se aborrecer prematuramente... e... er, ele acha melhor que bem, hum...

Anna viu que os demais também estavam receosos. Ela achou aquilo um mau sinal:

— O que está acontecendo, marido? Está tentando me esconder alguma coisa?

— Não, claro que não... Mas esperávamos poupá-la da preocupação...

Kíli cochichou:

— Por Mahal, ela vai descobrir...!

Fíli concordou, trêmulo. Balin se precipitou em dizer:

— Você não terá que se preocupar com nada: Dís cuidará dos detalhes da coroação e Madame Hila já começou a tratar dos trajes cerimoniais. Sabia que ela já trabalhou junto à nobreza de Ered Mithrin? Sabe tudo sobre cerimonial e protocolo, o que pode ser útil-

Anna interrompeu:

— Não tentem mudar de assunto e não tentem me enrolar. Estão começando a me deixar nervosa. Na verdade, posso ficar tão irritada que vou recorrer a Kíli.

O jovem arqueiro quase deu um pulo:

— Eu?!

— Meu sobrinho não teria coragem de mentir para sua tia, teria? E você, Fíli?

Os dois pareciam apavorados. Fíli recorreu ao tio:

— Thorin, por favor, ajude!

Na verdade, Thorin estava se divertindo, e explicou:

— Anna, na verdade, eu fiz os dois prometerem que não lhe diriam nada. Eles têm medo de sua reação porque Óin decidiu confiná-la logo depois da coroação.

Aquilo caiu como um balde de água fria em Anna.

— Oh — foi só o que disse. — Já? Mas o bebê deve demorar meses para nascer.

Balin observou:

— Se dependesse de Óin, você já estaria confinada há tempo, pequena.

— Mas ainda assim eu deveria ter sido avisada há tempo! — reclamou Anna. — Há muito o que fazer: o quarto do bebê, a coroação-

Thorin a interrompeu suavemente:

— Balin acabou de dizer que você não precisará se incomodar com nada. Vai dar tudo certo, ghivashel.

Anna não ficou feliz, mas ela sabia que esse dia chegaria. Ela respondeu:

— Sim, vai dar tudo certo. Mas Óin vai precisar me explicar direitinho tudo sobre esse confinamento. Isso quer dizer que eu terei que ficar de cama o tempo todo?

— Provavelmente não, já que a gravidez se desenvolveu tão bem.

Ela assentiu, e Fíli comentou:

— Está reagindo muito bem, Anna. Pensamos que fosse resistir bem mais. Na verdade, tínhamos quase certeza que você começaria uma batalha.

Ela explicou:

— Fíli, eu vou ser uma mamãe. Preciso fazer o que é melhor para meu filho. Por que eu lutaria contra algo que vai beneficiar meu bebê? Não que isso signifique que eu goste dessa ideia toda de confinamento, devo deixar claro.

Kíli olhou para Fíli, um olhar apreensivo de "é agora que vem a bronca". Nenhum dos dois, porém, ousou dizer coisa alguma. Thorin decidiu levar a discussão para outro ângulo:

— A partir do confinamento, minha amada, você precisará escolher sua criada pessoal. Dís poderá ajudar.

Anna lembrou:

— Thorin, não tenho costume de ter atendentes pessoais. Já lhe disse que escolho minhas próprias roupas e também- Oh! — Ela pôs a mão na barriga, com uma careta.

Imediatamente Fíli chegou perto dela.

— Anna, tudo bem? O que foi?

Ela pegou a mão de Fíli e colocou na barriga. O jovem ficou intrigado, mas de repente gritou:

— Minha barba! Ele se mexeu!

Kíli logo se adiantou:

— Ele? Era o bebê? Deixa eu ver!

Anna deixou que também ele pusesse a mão em sua barriga, explicando:

— O bebê me chutou – com força.

Thorin disse de maneira sarcástica:

— Ele provavelmente ouviu vocês dois perturbando sua tia e não gostou nada disso.

Balin sorriu, embevecido:

— Aye, o pequeno já é vigoroso e ativo! Um autêntico Durin! Você conseguiu senti-lo, Kíli?

O arqueiro sorriu, animadíssimo:

— Sim! A barriga se mexeu!

Fíli também sorria, comentando:

— Ele vai dar trabalho a essa sua criada.

Anna comentou, reticente:

— Ainda não gostei dessa história de criados.

— Fique em paz, tesouro meu. Você não dizia que ia precisar de alguém que a ajudasse com o bebê? — lembrou Thorin. — É disso que estou falando.

— Certo — concordou Anna, relaxada. — Isso seria bom, mesmo.

Thorin arrematou, sério:

— Essa pessoa precisa ser de plena confiança, pois vai ser uma das poucas a conhecer a existência da rota de fuga.

Anna repetiu:

— Uma o quê?

— Rota de fuga — repetiu Thorin. — É um túnel secreto que liga a ala real diretamente ao exterior da montanha, para segurança do rei e sua família em caso de invasão da montanha por forças inimigas.

Balin arrematou:

— Mas essa passagem só foi usada uma única vez em toda história de Erebor. Nunca nenhuma tropa inimiga conseguiu penetrar nossas defesas.

Anna ficou curiosa:

— Mas então quando ela foi usada?

Balin encarou Thorin, que baixou os olhos e respondeu, pesadamente:

— Minha mãe abriu esta passagem para tentar salvar mulheres e crianças durante o ataque de Smaug. Ela se preocupou em organizar a fuga do maior número possível de pessoas.

Anna pegou a mão dele, comovida:

— Oh, meu amor...

Fíli quis saber:

— Como nossa mãe nunca nos contou isso?

Thorin respondeu:

— Dís não conhecia a existência da passagem secreta. Ela era uma criança. Não tinha idade para saber. Foi seu tio Frerín que me disse, depois.

A dor no rosto de Thorin quando ele lembrou o irmão cortou o coração de Anna. Kíli, que nada notara, quis saber:

— Então esta passagem está no quarto do rei?

— Ou na Sala do Trono?

Balin respondeu:

— Não, esses locais seriam óbvios demais. Na verdade, decidimos construir nesta sala mesmo.

Thorin ergueu-se da mesa e foi até a lareira. Lá contou três pedras na altura da borda e empurrou a terceira para dentro da construção. Para espanto de Anna, um mecanismo se acionou e uma passagem semelhante a uma porta se abriu atrás de uma tapeçaria pendurada. Thorin indicou:

— Há material para acender uma tocha num nicho à esquerda. No fim do túnel, há um escrito em Khuzdul e o símbolo dos Durin. Basta empurrar o símbolo e um mecanismo abrirá a porta diretamente na floresta, perto de uma trilha que vai ao antigo ancoradouro rio Corrente.

Anna indagou:

— Aquele por onde viemos? Durante a viagem, com Bard?

Balin respondeu:

— Exato. Com a volta do comércio com Valle, o ancoradouro verá movimento mais uma vez.

Anna se virou para Thorin:

— Mas nós vamos manter paz com nossos vizinhos, não? Chega de guerras e inimigos querendo invadir a montanha, certo?

Thorin riu-se e beijou o alto da cabeça de Anna, dizendo:

— Sossegue, ghivashel. Não pretendo entrar em batalha se for possível evitar.

— E veja que isso continue assim, Thorin Oakenshield. Não tenho a mínima intenção de agarrar meu filho no meio da noite e fugir com ele por algum túnel secreto no interior da montanha!

Todos riram, mas Anna tentou esconder sua apreensão. Ela sabia que eram muitos os perigos na montanha, mas a mera sugestão de fazer seu bebê passar por algo assim causava calafrios em Anna.

Palavras em Khuzdul

ghivashel = tesouro de todos os tesouros


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