O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 21
Preparação




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O dia amanheceu lindo em Raphoe. Logo alguns moradores começaram a se preparar para a procissão de São Patrício. A frente da igreja logo se apinhou de gente.

Na casa das Dougherty já havia certa movimentação, mas Margaret e Ângela nunca seguiam a procissão, limitando-se a esperar pela celebração que era feita depois. Elinor era a mais religiosa das três.

Elinor, Margaret e Ângela entraram no carro e se dirigiram ao centro da cidade. Enquanto isso, Cathy ficou preparando as cestas que elas iriam levar ao piquenique na campina. Dessa vez com mais guloseimas e refrigerantes por causa dos meninos Collins.

O carro das Dougherty parou na entrada do estacionamento da Dougherty Ambiental. O segurança Robert Simmons saiu da cabine.

— Bom dia, senhoras. Vocês não vão trabalhar num dia como esse não é?

— Bom dia, Robert. – cumprimentou Elinor. – Não. Viemos apenas pegar o carro de Ângela.

— Ele está ali, senhora Dougherty. Tomamos a liberdade de cobri-lo por causa do mal tempo. – esclareceu Robert

— Foi muito amável da parte de vocês – respondeu Ângela. – Obrigada.

O segurança tocou no quepe como forma de cumprimento e foi acionar a cancela.

Elinor estacionou o carro ao lado do da filha, um Land Rover vermelho. As três tiraram a capa protetora e Ângela com Margaret entrou no Land Rover.

— Então nos encontramos na igreja após a procissão. – disse Elinor.

— Vou voltar para casa para ver se as cestas estão prontas e se os meninos já acordaram. – disse Ângela.

— Me deixe no salão da prefeitura, Ângela. Vou verificar a decoração e a banda.

— Vovó, não se usa mais bandas. Agora um único homem faz tudo, o DJ.

— Ah! Essas modernidades... – bufou Margaret. – No meu tempo uma banda maravilhosa tocava a noite toda... E com maestro!

— Ah sim. Vamos fazer um trato. Quando eu me casar, se eu me casar, a senhora contrata uma orquestra, tá bem? – brincou Ângela, ligando o carro – Até logo, mamãe.

Os olhos de Maggie saíram de foco por um instante. Quando voltaram ao normal, a idosa tinha um sorriso de orelha a orelha.

***

David abriu os olhos e rolou para o lado da cama. Ele abraçou o travesseiro enterrando o rosto nele. Parecia que nele estava impresso o perfume de Ângela. Ele rolou de costas trazendo o travesseiro consigo. A noite fora muito longa, ele recordou.

Depois que ele e Nigel voltaram da agencia de taxis, David ainda ficou um bom tempo acordado. Reviu os antigos relatórios sobre Ormonde. Seus hábitos, esconderijos e seus métodos de assassinato. Alguma coisa não estava certa. Os padrões não se encaixavam. Ele costumava descartar suas vítimas. Ele viu as noticias dos jornais da região. Não havia corpos aparecendo. Então onde eles estavam? Ou pior, e se não existissem corpos? Ormonde estaria montando um novo exercito? David não queria nem pensar na possibilidade.

Já passava das quatro, quando ele foi finalmente vencido pelo cansaço. Mas quem conseguiria dormir assaltado por tantas lembranças? A presença dela estava na cama fora do lugar, em sua toalha, até em seu laptop. A sua mente fervilhava, ele levantava da cama, andando pelo quarto. Frustração, temor, raiva, amor, desejo. Tudo isso ele sentia enquanto os ponteiros do relógio arrastavam-se devagar.

Mas o dia amanhecera, e ele tinha coisas a fazer, pensou levantando-se da cama. Começou a separar a roupa que usaria, quando bateram na porta. Ele abriu a porta e um Nigel muito agitado entrou no quarto.

— David, o delegado está lá embaixo. Quer falar com você.

Respirando fundo, David voltou a separar a roupa.

— Diga a ele que já estou descendo para falar com ele.

Nigel notou o desgaste do amigo. Se o delegado estava pensando numa revanche, dessa vez David iria a nocaute.

— Você está bem?

O americano olhou para o amigo com um ar cansado.

— Não. Não estou. – admitiu. – Vamos terminar o que viemos fazer e vamos embora daqui.

Nigel sabia o por que da pressa.

— Vai desistir dela sem lutar? – perguntou o rapaz.

— Às vezes as coisas não acontecem como você imagina, Nigel. Tenha isso em mente. Especialmente em relação às mulheres. – ele sentou-se na cama – Eu pensei que ela sentisse que era especial para mim. Pelo visto, estava enganado.

— E na primeira crise, você vai cair fora? Não pensei que você fosse covarde, David. – Nigel disse sem pensar.

— Escuta aqui, garoto! – David levantou-se enraivecido. – Você não sabe nada sobre covardia. Você pensa que sabe por que viu alguns lobisomens, enfrentou alguns cultos demoníacos. Isso não é nada. Nada, entendeu? Nada comparado ao ver a dor nos olhos da mulher, a quem você entregaria seu coração ainda batendo, por sua causa. Ver a decepção no rosto dela. E saber que você causou isso por que não soube lidar com as consequências de seus atos. É preciso ter muita coragem para levantar no outro dia tendo passado por isso. Eu nunca deveria ter escondido isso dela. – lamentou-se.

Nigel ficou estupefato ao sentir a dor nas palavras de seu professor. Nunca imaginou a profundidade e a complexidade dos sentimentos que ligavam David a Ângela. Jovem ainda, para Nigel aquilo era apenas uma paixãozinha.

— David, desculpe-me, eu não sabia que o sentimento de vocês fosse tão forte. – o jovem tocou o ombro do outro homem.

David respirou fundo. Mas retribuiu o gesto de apoio do rapaz.

— Apenas diga a ele que eu já vou. – pediu simplesmente dando o assunto por encerrado.

Nigel saiu do quarto extremamente preocupado com seu amigo.

***

David entrou na sala comunitária e Neil estava em frente ao quadro do castelo Dougherty.

— Bom dia, delegado.

Neil voltou-se para ele.

— Ah, bom dia professor. É um belo quadro não acha?

— É sim. – David se aproximou dele. Meio sem graça, ele apontou o rosto de Neil. – Você não ficou... Muito...

Neil passou a mão pelo queixo.

— É. Joguei rugby no colégio e na universidade. Couro duro, você entende? – ele apontou para o rosto de David. – Você também não ficou tão mal.

— A genética deve ter ajudado. - David pigarreou – Nigel disse que você queria falar comigo.

— Ah sim. Cora Halders, da agencia de taxis, disse-me que foi você quem disse a ela para ligar para a polícia por que o Henry não iria voltar. Por que você falou isso a ela?

— Por que ele dirigia um taxi que levava o serial killer que você está procurando.

— E como você sabe disso?

— Ora, delegado. Eu vejo as notícias. Os casos de desaparecimento na região e por que... – David se sentou – Eu também estou atrás dele..

Neil se sentou de frente a David.

— Você é um policial?

— Não. – David cruzou as pernas. – Bem, não um policial como você. – ele entregou um cartão a Neil. – Eu faço parte de uma organização que procura criaturas assim. As que fazem vítimas entre os humanos, nós exterminamos.

Neil olhou o cartão. Era um pequeno retângulo negro com duas palavras escritas “A Vigilância”.

— Esse serial killer deve ser entregue à justiça, professor.

— Esse serial killer, delegado, não está sujeito às leis humanas. Simplesmente por que ele não é humano. Ele é um vampiro.

Neil continuou olhando para ele como se David tivesse descrito a Teoria da Relatividade de Einstein... Em norte coreano.

— Vampiro?! Você está de gozação comigo, professor?

— É claro que não.

— Você está querendo me dizer que o conde Drácula resolveu sair da Transilvânia e viver os tempos modernos.

— Agora você está de gozação comigo. – David levantou-se da poltrona. – Pensei que você quisesse resolver o caso dos desaparecimentos. Mas acho que estou enganado.

Ele já estava saindo da sala quando Neil o chamou.

— Marshall, espere.

“Opa. Trocou a profissão pelo sobrenome. Já é uma mudança”, pensou Nigel que estava grudado na parede.

David voltou-se.

— O que foi O’ Hanlon?

Neil levantou-se e foi até ele.

— Os pertences das vítimas continuam no mesmo lugar. Carteiras, bolsas, veículos. Não há corpos. Nenhuma pista. Estou na mesma situação dos delegados das outras cidades. – ele passou a mão pelos cabelos num gesto de desanimo.

— Não O’ Hanlon. Você não está na mesma situação dos outros delegados. E sabe por quê?

— Não.

— Por que nós vamos capturar Ormonde. Nigel, pode vir agora. Eu e O’ Hanlon não vamos brigar. – os olhos adquiriram um brilho vívido. Parecia outro homem.

Nigel andou até a porta parecendo envergonhado.

— Nigel, pegue a pasta de Ormonde. E venha para o meu quarto. Vamos trabalhar... Delegado, hoje resolvemos este caso. – disse David fazendo um sinal para eles o seguirem

***

Ângela estacionou o carro em frente ao Centro de Convenções. Ela virou-se para a avó.

— Vovó, você está com um sorriso desde que saímos da Dougherty. O que é que está havendo?

— Nada, querida... – respondeu ela abrindo mais o sorriso.

— Você teve uma visão, não foi?

— Sim, eu tive uma visão.

— Da qual você não vai me contar nada, não é?

— Vou lhe dar uma dica: Quarteto de cordas. – disse a senhora saindo do carro antes de sua neta quisesse saber mais coisas.

— Vovó! – Ângela a chamou.

Maggie voltou-se e debruçou na janela. – Oi.

— Vou até em casa ver os meninos estão e depois vou até a igreja para a celebração. Quer uma carona pra campina?

— Ah não querida. Vou com o grupo dos jogos. Fiquei encarregada dos jogos juvenis.

— E eu das crianças. Vou fazer pinturas nelas.

— Tenho certeza que vão ficar lindas. – Maggie se afastou do carro. – até lá então, querida.

— Tchau, vovó. – Ângela ligou o carro.

As ruas estavam vazias, todos estavam concentrados do outro lado da cidade no pátio da catedral de São Eulan, mas por todo o lado se via pessoas trajando verde, cor oficial do evento.

Nesse momento ela passou em frente ao hotel Michaelis. As lembranças da noite anterior a assaltaram, mas ela respirou fundo para refreá-las.

Da janela de seu quarto, David viu um carro vermelho passando. Nigel estava sentado na cama com um laptop nos joelhos e uma pasta AZ estava aberta sobre a mesa.

Neil chegou perto dela e virou algumas páginas. Ele olhou fascinado para as figuras que retratavam Ormonde de várias maneiras e em épocas diferentes.

— Então, vamos supor, que esse... Esse Ormonde ou, como ele se chama agora Cartwright, é um ser sobrenatural. Como vamos combatê-lo?

Nigel e David trocaram um olhar que dizia “Amador...”

— Temos armas especiais também. – David puxou uma mala debaixo da cama. Ele a abriu revelando varias armas.

Neil as avaliou.

— Como você conseguiu passar com isso pela federal?

— Com os documentos certos, meu caro.

— Suborno?! – Neil levou a mão ao distintivo.

— É claro que não. Pode relaxar. Nossa organização é antiga e muito bem estruturada, delegado. Temos agentes em todos os lugares. Então não temos problema de locomoção, se você me entende.

— E provavelmente muito dinheiro também. – apartou Nigel sem levantar os olhos da tela. – Pronto David. Já tenho o acesso ao nosso satélite.

— Satélite?! – perguntou Neil.

— Como eu disse, delegado, somos muito bem estruturados. – David se aproximou de Nigel. – E então?

— David, eu estou captando algumas emissões de calor numa região próxima.

Ele apontou três manchas amarelas com vermelho.

— Emissões de calor - perguntou Neil se aproximando para ver também.

— Sim, - David respondeu. – o corpo humano emite calor quando está vivo. Um vampiro não emite, por que fisiologicamente o corpo está morto. Deveríamos estar encontrando corpos, o que não está ocorrendo. Então existem duas possibilidades: Ou Ormonde está ocultando os cadáveres, o que seria muito estranho. Ou, e eu não quero nem pensar nisso, ele está montando um exército.

— Um exército? Um exército de vampiros?

— Isso. Mas então a emissão de calor seria muito maior, uma vez que, durante a transformação eles queimam. Mas – ele tornou a olhar para a tela – não é o que acontece. Consegue ver a localização, Nigel.

— Ao norte daqui. Parece ser um lugar bem alto.

— Sabe onde fica, O’ Hanlon?

Neil pensou um pouco.

— Ao norte daqui... Um lugar alto assim só pode ser Béal an diabhal. A caverna. Mas é difícil chegar lá.

— Quanto tempo?

— Umas três horas de caminhada. Existe uma trilha. Eu ia muito lá na adolescência.

— E de carro?

— Uma hora mais ou menos. Mas precisa ser de tração 4x4. O terreno é muito íngreme.

— Vocês têm um carro assim aqui?

— Temos sim. Mas Marshall, hoje é um dia de muito trabalho para a polícia. Preciso de todos ajudando. Sabe, muita gente abusa da cerveja hoje.

David pensou por um momento.

— Quando você vai estar livre?

— Após o evento na campina. Por volta de umas 15:00. – respondeu Neil já com a mão na maçaneta da porta.

— São 10:30 agora. Ele não irá fazer nenhuma vitima durante o dia. Se vamos resgatá-los tem que ser durante a ausência dele. Nigel, continue monitorando. Vou descer com você. Eu ainda tenho que preparar algumas armas. – David pegou as chaves e o celular - O que me faz perguntar: Você é bom de mira, delegado?


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