O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa
Ângela arregalou os olhos ao ver a violência dos golpes dos dois homens. O rosto de Neil já estava sangrando e o de David também não estava em melhor estado. O corpo deles estava cheios de escoriações.
A jovem deteve o olhar no corpo de David. Ele era tão musculoso quanto Neil. Mas seus músculos eram mais definidos, ele era mais esguio, mas nem por isso franzino. Ele movia-se com leveza, como um gato. Mas seus golpes eram poderosos.
Ela foi até Thomas que assistia a luta atento.
– Senhor Michaelis, o senhor tem que pará-los. Eles vão se matar! – pediu ela assustada.
Thomas olhou para ela.
– Ângela! O que faz aqui? Isso é um desafio. Não posso pará-los. – ele voltou a sua atenção para a luta.
Marion chegou até ela.
– Vamos Ângela. Se quiserem se matar, isso é com eles.
Ângela não ouviu a amiga. Imagens difusas começaram a se formar em sua mente. Uma luta de espadas. Ela quase podia ouvir o ruído metálico das lâminas se chocando. Mas quando seus olhos voltaram a focar a luta na sua frente, ela viu David atingir Neil com uma sequencia de golpes que levou o delegado ao chão.
David ainda cambaleou um pouco, devido ao esforço excessivo da luta, sendo amparado por Nigel e Bryan. Como o grupo de homens estava se dispersando, ele viu Ângela parada com outra moça. A jovem olhava para ele fixamente, e seu pé batia impaciente no chão como se ela estivesse fazendo um imenso esforço para se controlar.
Bryan e Nigel começaram a levá-lo para o hotel.
Ângela pegou no braço de Thomas que passava por elas.
– Vou pegar alguns unguentos para esses dois.
– Faça isso. Mas entregue para mim. Não é bom que Neil bote os olhos em você agora.
– Por que o senhor me diz isso?
– Por que a briga foi por sua causa.
Ângela não ficou surpresa. Todos ali na cidade sabiam da obsessão de Neil por ela. Ela ficou cabisbaixa.
– Ângela, não fique assim. Não é sua culpa que Neil O’ Hanlon é um cabeça dura, apesar de ser um bom rapaz. Ele simplesmente consegue ver um rival em cada homem. E essa história de pesquisa para um livro estava deixando David muito próximo a você.
– Eu devia ter sido mais incisiva com o Neil, senhor Michaelis. Eu só pensei em não magoá-lo.
– Não se preocupe com isso, mocinha. – o grandalhão pôs a mão no ombro dela para confortá-la. – Homens são assim mesmo. Vá buscar o remédio para eles.
– Está bem.
Ângela juntou-se a sua amiga e elas foram em direção ao carro.
– Vou precisar de uma carona de volta. Você espera? – perguntou Ângela antes de sair do carro.
– É claro. Vá. – garantiu Marion.
Ela subiu a escadinha e abriu a porta. Margaret já vinha do herbário com alguns potes na mão.
– Arnica, artemísia, dente de leão e outras coisas. Ah peguei mel também.
– Obrigada, vovó. Vou levar para o senhor Michaelis.
– David se machucou muito? – perguntou Margaret.
– Não mais que Neil. A vontade que eu tenho é de terminar o serviço nos dois! – Ângela comentou brava. Ela se encaminhava para a porta, quando parou.
– Vovó, a senhora acha mesmo que eu e David temos uma ligação anterior.
– Acho não, tenho certeza. – Maggie chegou perto da neta. – Por que querida?
– Quando eu vi os dois brigando, eu tive uma Visão.
– Oh querida, que bom! Você começa a aceitar quem você é.
Ângela não se manifestou em relação à alegria da avó. Limitou-se a sorrir.
– É parece que não podemos fugir do nosso destino, não é? Está no sangue. Bem tenho que levar isso. Obrigada, vovó. – ela deu um beijo na face da senhora.
– Até logo querida. E diga ao David que fique bom logo. – desejou Maggie, enquanto Ângela descia os degrauzinhos em direção à rua.
– Eu direi. – acenou ela do carro
***
David sentou-se com dificuldade sobre a cama, cobrindo-se com o lençol. Ele havia tomado uma ducha para tentar aliviar as dores das contusões. Nigel pegou as roupas ensanguentadas e disse:
–David, eu vou levar isso para lavar. Deve ter alguma lavanderia por aqui.
– Obrigada Nigel. E antes que você pergunte... Sim, valeu a pena.
– Pela senhorita Dougherty? – perguntou Nigel.
– Sim. Foi por ela. – Ele se sentou na cama. – Ela é por quem eu esperei toda a minha vida Nigel. Estamos aqui há três dias, mas é como se eu a conhecesse a muitas vidas.
– Desde quando você passou a acreditar em reencarnação? - perguntou Nigel.
– É algo que não tem explicação lógica. É sentimento puro. É um fogo que queima suas veias. Seu coração acelera e você não vê mais nada. Você sangra por essa pessoa. Você se descobre capaz de enfrentar dez homens por ela. Eu não sabia que o amor era assim. Mas quem sou eu para procurar a lógica em alguma coisa. Nós somos caçadores de vampiros. – David sorriu
– Jesus, homem! Você se apaixonou por ela! Por uma bruxa.
– Sim, Nigel. Estou perdidamente apaixonado por ela. Aliás, com sempre estive, se as teorias de reencarnação forem corretas.
– E quando capturarmos Ormonde, como vai ser?
– Eu não sei Nigel. Eu acho que não voltarei aos Estados Unidos.
– Vai deixar o Instituto? – Nigel perguntou triste.
– Sim. Amar também é isso, Nigel. Você buscar a felicidade do outro. Ângela não seria feliz longe daqui.
Nigel levantou-se da cama.
– Vou deixar você descansar. Mais tarde trago seu jantar, está bem.
– Obrigado, Nigel. Você é um bom amigo.
– Obrigado, David. Tornamos-nos grandes amigos. – ele saiu e fechou a porta cuidadosamente.
***
Ângela chegou à recepção do hotel sem saber direito o que fazer. Lá estava Sophie, a filha de Thomas e Elspeth. Ela foi falar com ela.
– Olá Sophie.
– Oi Ângela. Tudo bem?
– Oh, sim. Está tudo bem.
– Soube que você teve um mal súbito. Espero que esteja melhor. Amanha tem o baile, não é?
– Ah sim, o baile. Estamos ansiosas para ver a decoração deste ano. Minha mãe contratou um serviço de Dublin dessa vez. Espero que valha a pena.
– Ah vai valer. Vai ficar lindo. Eu dei uma espiada, um pouco mais cedo. Mas eu acredito que você vindo ver o professor Marshall, não?
Ângela sentiu as faces ficarem vermelha.
– Então... Minha avó soube do que aconteceu com ele e pediu que eu trouxesse essas pomadas.
– Lá em cima. Quarto cinco. Pode subir. Minha mãe vai ficar até tarde lá no centro de convenções. – contou Sophie com um bater de cílios.
– Por que você está me dizendo isso, Sophie?
– Ah, - respondeu a outra pegando um livro sobre o balcão. – pode ser que a aplicação dos remédios demore um pouco. Nunca se sabe.
Será que o sentimento que ela tinha por David era tão explicito assim? pensou Ângela subindo as escadas.
No corredor ela cruzou com Nigel que saia do quarto.
– Ah, senhorita Dougherty. – ele deu um sorrisinho maroto. – David está acordado. Pode entrar.
– Oi. É Nigel, não? – ela estendeu a mão a ele. – Nós ainda não nos conhecemos.
– Assim que terminarmos a pesquisa nós teremos mais tempo livres.
– Nigel, eu sei sobre Ormonde. – ela contou.
– Ah, é claro. Eu devia saber que David contaria a você.
– É ele contou. Bem, eu trouxe algumas pomadas para contusões.
– Eu vou levar essas roupas para lavar. Espero que encontre alguma lavanderia 24 horas.
– Ah, tem uma na Strand Avenue. É a Simpson’s. Eles usam produtos de boa qualidade lá. Pode ir tranquilo.
– Obrigado, senhorita.
– Pode me chamar de Ângela.
– Está bem, Ângela. – Nigel acenou.
Ele desceu as escadas e encontrou Sophie na recepção.
– Então, vou à lavanderia. Quer tomar um sorvete? Tenho a impressão que aquele atendimento médico ali vai demorar. – ele apontou para cima.
Sophie deu um sorriso e pegando as chaves, trancou a porta e saiu.
***
David estava digitando algo no laptop quando ouviu as batidas na porta.
– Entre, - ele falou. Nigel esqueceu alguma coisa, pensou ele
Ângela entrou timidamente no quarto.
– Olá.
Ele levantou-se da cadeira e tirou os óculos e os colocou junto ao laptop
– Ângela. Eu não esperava que você viesse.
Ela tentou ignorar o fato que estava em um quarto de hotel com David vestindo apenas com uma calça e sem camisa. As escoriações eram pontos vermelhos em seu peito e braços. Uma mancha arroxeada aparecia na lateral do abdome.
– É. – disse ela meio sem jeito. – Eu fui buscar essas pomadas de ervas. Achei que podia ajudar a melhorar seus machucados. – Ela puxou uma cadeira tentando não olhar para o dorso dele nu. – Eu não vou perguntar o porquê, porque eu já sei a resposta. Mas você não precisava fazer isso.
– Precisava sim, Ângela. Só assim ele deixaria você em paz. Mesmo nos vendo...
– Como assim nos vendo? – ela o interrompeu.
– Hoje mais cedo. Na sua casa. Ele estava do outro lado da rua.
– David... Por que você não me disse? – Ângela levantou da cadeira.
– Teria feito alguma diferença?
– Claro que sim. Eu teria conversado com ele, contado a ele que já estávamos destinados um ao outro.
– Ângela... Ângela. Não. Neil não ouviria você. Ele estava obcecado por você. Ele tinha que entender que eu estou ao seu lado agora.
– Ah então eu tenho um campeão e não sabia. Não precisa se dar ao trabalho. Eu sei muito bem me defender sozinha. Não sou uma donzela indefesa. – Ângela fez um gesto de irritação com a mão. Mas as emoções que fluíam dela eram fortes demais e o gesto acabou empurrando a cadeira contra a parede violentamente.
Ela ficou olhando a cadeira junto à parede de olhos arregalados. Nunca achara que pudesse fazer aquilo. Olhou para sua mão como se esperasse que ela estivesse brilhando.
– Nossa! Isso foi impressionante. – disse David. – Mas será que você consegue parar uma bala? Ou impedir Nigel de lhe agredir? Por que se você fosse dizer a ele que estava com outra pessoa possivelmente era o que lhe aconteceria. – perguntou ele irritado
– Eu conheço Neil a minha vida inteira. Ele nunca me machucaria. – ela retrucou também irritada.
– É mesmo? – ironizou ele, andando pelo quarto. – Ele é um obsessivo, e a eles só interessa uma coisa: o objeto de sua obsessão. Ele preferiria ver você morta do que pertencendo à outra pessoa. – David argumentou.
Ângela pensou no que ele disse e lembrou-se das últimas atitudes de Neil.
– É. – ela capitulou – Ultimamente ele estava mais insistente para que nós nos casássemos.
– Então. Ele estava se tornando perigoso. Agora ele vai pensar duas vezes em se aproximar de você. – Ele a suspendeu no colo e a depositou sobre a cama começando a beijá-la – Eu vou cuidar e proteger você, Ângela Dougherty.
– David, - ela disse entre os beijos que ele dava nos seus lábios, rosto, olhos. – você precisa cuidar de seus ferimentos.
Ele ergueu o rosto para ela com um sorriso que dizia claramente suas intenções.
– No momento, eu preciso de outra coisa... – ele baixou os lábios em direção aos dela.
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