O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 10
Visitas Inesperadas




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A tarde já encaminhava para o seu final quando Elinor finalmente conseguiu sair da Dougherty Ambiental. Depois da reunião, vários diretores solicitaram sua presença para discutir os assuntos mais urgentes da empresa. Algumas coisas necessitavam de sua aprovação, embora, como quase sempre as decisões fossem tomadas por Ângela, algo que ela não gostava.

Ela escutou uma batida quando se preparava para sair.

– Entre. – pediu.

Anton Cartwright abriu a porta e entrou.

– Senhora Dougherty, se estiver pronta, podemos ir.

– Ah sim. O senhor quer fazer uma visita á minha filha.

– A senhora acha que ela, não sei, vai gostar de saber que tem um novo chefe?

– Olha desde que você dê a ela toda a liberdade para continuar os projetos dela.

– Eu estive dando uma olhada na sala do senhor Reston. Sua filha é muito engajada com o meio ambiente.

– Quando ela estava na Universidade, eu sempre a via nas noticias sobre aquecimento global e movimentos ambientais. O projeto dela é manter nossa região intocada. Principalmente as formações rochosas e os rios.

– A poluição mundial é algo muito antigo, senhora Dougherty. – Anton abriu a porta para ela sair. Os dois começaram a caminhar em direção ao estacionamento. – Acredite em mim. Eu já vi muitas coisas, posso lhe garantir: apesar da luta de alguns, existirá sempre alguém para fazer o mal. Nem que seja só para o meio ambiente. – completou com um sorriso cínico.

Elinor percebeu que ele a acompanhava em direção ao seu carro.

– Onde está o carro do senhor, senhor Cartwright?

– Eu não venho de carro, senhora Dougherty. É tão próximo da cidade.

– Eu queria poder caminhar assim também. Nos dias claros, Ângela vem caminhando. Ela só usa o carro em última necessidade. É aquele ali – apontou para um Citröen azul metálico.

– É um belo carro.- Anton disse simplesmente.

– Mas vamos. Vamos juntos até a minha casa e depois o senhor pode ir para o hotel.

– Obrigada, senhora Dougherty. – ele sorriu abertamente.

Elinor Dougherty já o havia convidado para entrar duas vezes.

***

Margaret, David e Ângela estavam sentados na biblioteca, tomando chá quando o relógio bateu dezoito horas. O gato Marlon dormia numa cadeira

– Meu Deus! – David pousou a xícara sobre a bandeja. – Eu praticamente fiquei o dia todo aqui. Mas foi uma tarde muito agradável, e o material que você me ajudou a pesquisar foi ótimo.

– Que bom! Então você fez progressos no seu livro.

– Ah, sim. Vou passar a noite separando material e escrevendo.

– Só não se canse, David. Amanhã começa o fim de semana do feriado, e haverá uma grande festa no último dia. – contou Margaret.

– Feriado? Ah, é claro. – ele bateu a mão na testa. – Dia de São Patrício.

– Bem, toda a cidade festeja, mas no domingo nós damos um baile para praticamente toda a cidade. Não aqui em casa, por que não caberia. Mas financiamos a festa no Centro de Convenções. – explicou Ângela. – Espero que você tenha algo verde para vestir.

Ele sorriu para ela.

– Se eu não tiver, eu compro. Mas não perco esse baile por nada. Mas, - ele levantou-se – tenho certeza que já está na minha hora. – ele pegou a bolsa com o laptop e passou a alça pelo ombro.

– Por favor, David. Não quer esperar por Elinor. Tenho certeza que ela ficará triste por ter perdido nossa conversa.

– Como eu disse a senhora Elinor, não faltarão oportunidades, Maggie. – apertou a mão de Margaret. Voltando-se para Ângela, ele acenou com a cabeça. Não queria correr o risco de tocá-la novamente. Ele não podia prever as consequências.

– Eu lhe acompanharei até a porta. – Margaret caminhou ao lado de dele. Marlon, como se não quisesse ser deixado para trás, miou. Ângela o pegou no colo ficando para trás.

No momento em que Maggie e David chegavam na sala, a porta da frente abriu-se dando passagem para Elinor e Anton. Elinor avistou David.

– Oh, David. Então eu consegui pegá-lo. – ela segurou na mão dele - Este é o senhor Cartwright, o novo diretor de produção. Ele ficou muito preocupado com o mal estar de Ângela ontem e veio fazer-lhe uma visita. Por favor, Anton, entre.

David olhou alarmado para Maggie, mas ele não podia fazer nada. A dona da casa, inocentemente, havia convidado um vampiro para sua casa.

Anton entrou na sala com um sorriso que gelou o sangue de David nas veias. Ele não pôde deixar de pensar por que aquela sensação lhe era familiar.

– Boa noite, - cumprimentou ele com uma voz profunda.

– Esta é minha mãe Margaret Dougherty. E este é o professor David Marshall. Ele está escrevendo um livro sobre nossa região.

– Interessante. – ele olhou para David mais atentamente. – Curioso. Você me parece familiar. Será que eu o conheço de algum lugar?

– Não sei. Por acaso o senhor conhece Nova Orleans? O Instituto que eu represento fica lá. Já ouviu falar do Instituto Rice? – perguntou com uma ponta de ironia.

– Não. – Anton respondeu. – Não conheço esse Instituto. Mas eu já estive em Atlanta. Quem sabe poderia ser de lá?

Elinor e Maggie acompanhavam a conversa percebendo a ironia em cada palavra. Para Maggie ficou claro que, por David, Anton Cartwright deveria ser mantido a distancia daquela casa.

Ângela se juntou ao grupo, vindo da biblioteca com Marlon no colo e então duas coisas aconteceram. No momento em que Anton pôs o pé dentro da casa. Marlon rosnou e pulou do colo dela plantando-se na frente da porta dando miados assustadores. Anton recuou dois passos, voltando para a soleira da porta. Ângela olhou para o gato e depois para quem acompanhava sua mãe. No momento em que ela cruzou seu olhar com o de Anton, uma fraqueza a invadiu e ela desmaiou.

Rápido, David a amparou evitando que ela caísse ao chão. As duas Dougherty correram para eles e Anton permaneceu parado na soleira da porta hipnotizado pelos olhos do gato.

– Me desculpem, mas eu sou alérgico a gatos. Senhora Dougherty, transmita meus desejos de melhora à sua filha. – falou ele recuando e indo embora.

– É claro. Senhor Cartwright. É claro. – respondeu Elinor ainda ajoelhada. David a sustentava a cabeça dela nos joelhos reparando em sua palidez.

– Para onde eu posso levá-la? – David a suspendeu nos braços.

– Vamos deixá-la no meu quarto. Venha. – Margaret foi à frente indicando o caminho.

Eles entraram no quarto e David a depositou na cama. Maggie olhou para a neta e disse a ele.

– Fique com ela que eu já volto. Elinor venha e me ajude. Precisamos de uma poção.

Enquanto Maggie e Elinor iam recolher ervas para o remédio, David avistou uma pequena geladeira do quarto e de lá pegou uma garrafinha de água. Ele foi até o banheiro e pegou uma toalhinha para encharcá-la. Suas mãos estavam trêmulas ao encostar a toalha na testa da moça. Uma imensa vontade de chorar o invadiu, deixando-o surpreso, pois David não era uma pessoa emotiva.

Reagindo ao frescor da toalhinha, Ângela gemeu como se sentisse dor. Depois começou a murmurar em voz baixa. Quando se aproximou para ouvir o que ela murmurava, David tomou um susto quando ela abriu os olhos.

– Oi, Srta. Dougherty... Ângela... Você está bem?

Mas seu olhar parecia vago, como se ela não visse o rapaz a sua frente.

– Ele esta vindo...

– Senhorita, você me vendo? Quem está vindo?

Ela olhou diretamente para ele, mas seu olhar ainda estava fora de foco.

– Shane, meu amor... Por favor, não vá. – lágrimas correram dos olhos dela e a garganta dele repentinamente se apertou. – Por favor, por favor. Morte... Morte e destruição. Patrick. Donal. Eles estão mortos... – sua voz estava baixa, como se lamentasse. - Papai! Não, não, minha mãe não! Moira! Ele está chegando, está perto...

A jovem começou a se agitar, e a experiência de David lhe dizia que ela estava tendo uma regressão. O que ele faria? Acordá-la? Mas não era prudente acordar uma pessoa que estivesse numa regressão. Assim dizia a literatura médica. Ao diabo a literatura, ele pensou, a moça estava aterrorizada.

– Senhorita Dougherty, acorde. Tudo não passa de recordações. Não vai feri-la. Você está em segurança.

A voz profunda de David foi penetrando lentamente no consciente de Ângela, fazendo que aos poucos a moça recobrasse a consciência.

Ela abriu os olhos, arregalando-os quando percebeu onde estava.

– Quem é você e onde eu estou?

– Eu sou David Marshall, lembra-se? Estamos na sua casa e eu estava aqui para pedir autorização para a sua avó Maggie para entrar na Torre Dougherty. Sou historiador e estou escrevendo um livro.

– David Marshall? – Ângela sacudiu a cabeça lentamente para clarear as ideias. – Sim, eu me lembro. Vindo dos Estados Unidos. Eu não sei o que aconteceu.

– É comum as pessoas ficarem confusas depois de um desmaio. Você começou a falar algumas coisas, com certeza o resquício de um sonho. De um pesadelo, na verdade.

– Eu me lembro de algo. Mas gostaria de não ter lembrado. – declarou infeliz.

– Não se preocupe Ângela – ele pegou na sua mão – Não vou deixar nada de ruim acontecer com você. – Ele fez um carinho no rosto dela.

A entrada de Maggie e Elinor com uma bandeja contendo um bule e uma xícara fez o rapaz perceber que sua presença não era mais necessária.

Ele a deixou aos cuidados das mulheres Dougherty e saiu do quarto.

***

Anton Cartwright só voltou ao hotel exatamente no mesmo horário. Às vinte e três horas. Como toda a noite no último mês relançou um olhar para o funcionário noturno que cochilava atrás do balcão. Mas uma vez, Anton se perguntou por que não fazia uma pequena brincadeira com o homem. Um sorriso cruel brincou em seus lábios finos ao imaginar a cena. Ele subiu as escadas tão rapidamente quanto seu disfarce o permitia.

Ao chegar ao seu quarto Anton viu que a porta estava entreaberta. De supetão ele entrou no quarto pronto a dilacerar quem ousara entrar.

A luz acendeu, surpreendendo-o. Mas, ao mesmo tempo, ele não ficou surpreso ao ver David Marshall confortavelmente sentado numa poltrona perto da janela. Ele sabia que o outro o procuraria mais cedo ou mais tarde. Ele tivera bastante tempo para se lembrar de onde conhecia Marshall. A porta se fechou atrás dele e Anton se virou. Encostado à porta estava um rapaz de cabelos loiros. O rapaz segurava uma espécie de pistola com uma flecha apontada para ele. Na ponta da flecha havia uma pequenina cruz. Sim, David Marshall sabia quem ele era.

– Boa noite, Anton.

– Senhor Marshall? Se eu soubesse que teria tão agradável companhia teria vindo mais cedo. – Anton ironizou o outro, tirando o paletó e o pendurando em um cabide.

– Deixe de ironias. Não é assim que você age. O que você quer com essas pessoas? – David levantou da poltrona.

– Com essas pessoas? Ora, senhor Marshall eu não entendo sua pergunta. Todas as pessoas não têm o direito de trabalhar, viver suas vidas, amar...

– Todas as pessoas humanas têm esse direito, não é Ormonde? Mas nós dois sabemos que você já deixou de ser humano há muito tempo. Na verdade, eu me pergunto se algum dia você foi humano, levando em consideração a sua folha de serviços.

– Sim, - Anton rosnou – eu tenho uma folha de serviços como você à chama, Marshall. E quer saber da última? – ele sorriu aproximando-se de David – acabei de lembrar-me de onde eu conheço você. Um casal em Nova Orleans, saindo do cinema acompanhando de um menino lindo de olhos azuis. Não pude resistir. Contudo, os pais eram Vigilantes, mas quem pode adivinhar uma coisa assim? Deu um pouco de trabalho, mas o pai morreu defendendo sua família. – Anton sentou-se na poltrona saboreando a palidez que tornava os olhos de David mais azuis. – Eu perdi a mãe. Uma pena, por que ela parecia deliciosa. Não é irônico que a mesma criança perdesse quem ele considerasse um segundo pai, anos depois?

Enlouquecido pelo ódio, David avançou contra Ormonde, mas Nigel foi mais rápido e o segurou.

– Fique calmo David. Segura as pontas, cara. – o jovem pediu. O americano recobrou parcialmente a calma.

– Além do meu mentor, você matou o meu pai? Isso não vai ficar assim, Ormonde. Sua existência maldita vai terminar. E eu terei o prazer de enfiar uma estaca bem funda em seu coração negro.

Ormonde levantou o vidro da janela.

– Será? – ele riu – Bem, já que não tenho o sossego do meu quarto de hotel, vou procurar a companhia das criaturas noturnas. Agora, Marshall, algo para você pensar na cama: Tudo na vida é como um círculo. Eu sei quem eu sou. Será que você sabe quem é? Durma bem, Vigilante. – ele saltou a janela

David e Nigel correram para a janela, mas só puderam vislumbrar o vulto negro que se afastava.


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