Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 13
Ela




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Em meio a minha confusão mental, vejo Wes me encarando, esperando uma reação.

_ Por que você fez isso? Por que você me salvou?

_ É complicado. - Ele diz desviando o olhar.

_ Complicado? É tudo que você tem a dizer? Eu exijo uma explicação.

_ O que você quer que eu diga Beatrice? - Ele continua se esquivando da minha pergunta.

_ A verdade.

_ Bem, eu não concordo com a forma que o governo manipula as pessoas. - Ele diz, mas não me convenço.

_ Qual é Wes?! Você acha que não sou capaz de perceber quando mentem para mim?

_ É verdade, você é muito perceptiva. Eu havia esquecido. - Eu ele fala pensativo, ele está aqui, mas sua mente viaja para algum lugar desconhecido por mim.

_ Tudo que eu posso lhe dizer por ora, é que tenho uma ligação com você. Não espero que você entenda. Quando eu estiver pronto, quando eu achar que devo, lhe darei mais detalhes. Mas por favor não insista. - Ele diz, seus olhos estão suplicantes e eu pondero, se ele pretende me contar, eu posso conceder-lhe algum tempo.

_ Tudo bem. Mas você pretende me contar?

_ Sim. - Ele responde.

_ Então me parece justo esperar. - Digo.

Ele assente com a cabeça, visivelmente agradecido.

_ Mas de qualquer forma, quero saber, como conseguiu convencer a todos que eu estava morta? - Eu pergunto, e ao pensar nisso sinto um nó se formando no meu estômago.

_ Bem, isso foi simples, você lembra do dia fatídico da sua execução? Do soro que foi injetado em você ao invés do soro da morte? Pois bem, foi o que utilizamos, ele deixa seus músculos rijos e suas funções vitais diminuídas, você fica em estado cataléptico.

_ Mas o efeito do soro passou rapidamente daquela vez. - Pergunto, imaginado que Tobias deva ter ficado mais do quinze minutos junto ao meu corpo sem vida. Esse pensamento é demasiado doloroso para mim, mas a sede por saber mais é ainda persistente a ponto de me fazer ignorar a dor.

_ Sim, mas o tempo de efeito do soro está diretamente ligado a concentração do sedativo que é utilizada no seu composto. Injetamos em você a quantidade suficiente para mantê-la em estado cataléptico por 2 dias.

_ Quando você fala em estado cataléptico quer dizer... Como morta? - Tento confirmar a minha suspeita.

_ Sim. Catalepsia é uma doença patológica e a partir do seu estudo, desenvolvemos um soro capaz de deixar a pessoa em estado cataléptico o que só pode ser detectado através de encefalograma. De modo que facilmente a pessoa que está cataléptica é diagnosticada como morta.

_ Permaneci assim por dois dias? Fizeram um funeral? - A dor em imaginar todos se despedindo é pulsante no meu meu peito, mas estou tão perplexa que não ligo.

_ Na verdade eles se despediram. Como vou explicar?! - A última frase ele fala para si mesmo, olhando para cima, como se buscasse enxergar alguma explicação dentro da sua própria cabeça. E então ele continua.

_ Como você já deve imaginar, Tobias ficou inconsolável e todos estavam temerosos que ele pudesse fazer uma besteira, o que de fato quase aconteceu. - Ele fala como se aquilo não me atingisse, como se o buraco no meu peito não existe. Mas ele não sabe, como poderia saber.

_ Que tipo de besteira?! - Minha voz sai alta demais, urgente.

_ Não se preocupe, ele está bem. Christina o impediu. Ele ia tomar o soro da memória. - Ele diz e me dou conta de que ele estava disposto a me esquecer de vez para não sofrer Ele estava disposto a esquecer de si mesmo, para não sofrer mais. Eu não o julgo, mas tenho certeza que não o faria. A dor de alguma forma me lembraria de que tudo aquilo que vivemos foi real.

_ Prosseguindo. Então como estavam todos preocupados em manter o Tobias a salvo, você ficou sozinha por algumas horas, a retiramos do Complexo. Foi uma tarefa complicada, já que haviam ainda muitas pessoas que não estavam desorientadas pelo soro da memória. Mas conseguimos. Você chegou aqui de avião, a distância é mais de mil quilômetros, de carro seria inviável, já que você havia ficado tempo demais sem cuidados médicos para assegurar o sucesso do nosso plano. Quando Christina voltou procurando saber como deveriam tratar do funeral, nossa equipe a informou a que seu corpo fora cremado, ela escolheu uma urna e depositamos nela, suas supostas cinza. - Ele conclui.

Tão prático, eu invejo a capacidade dos eruditas, quer dizer dos cientistas em se ater aos fatos, por mais sofrimento que eles causem eles não exitam nem por um momento em despejá-los em cima de nós.

_ Desculpe Beatrice, acho que foi cedo demais para tratarmos de um assunto tão delicado.

_ Não me subestime, sou muito mais forte do que você imagina. - Digo na defensiva e sem muita convicção que de fato isso é verdade.

_ Eu sei, só acho que deveríamos ter ido mais de vagar com tudo isso. - Ele diz.

_ E aonde você quer chegar com tudo isso? - Eu digo, intrigada e de forma rude.

Ele me olha, sem compreender minha pergunta então eu acrescento.

_ Você me salvou, salvou a cidade, salvou aqueles que amo, me contou sobre isso. O que você ganha com isso? Tenho certeza de que você não é tão ingênuo ao ponto de acreditar que desde que acordei, não tenho imaginado um minhão de maneiras de sair daqui e voltar para Chicago.

_ Você tem razão, eu sei disso. Mas se você for, o governo reinicializará todos eles. Você não tem escolha Beatrice, terá que ficar conosco para garantir a segurança daqueles que você ama.

Ele sentencia, e me dou conta de que ele está certo. Não tenho escolha. Uma pessoa sem suas memórias não é nada, não tem história, não tem identidade, não sabe quem é. Como poderia condená-los a isso? Como poderei condenar-me ao esquecimento? Como poderei condenar-me a esquecê-los?


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