Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 12
Ele




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Zeke eu caminhamos apressadamente até a Repartição e apesar de August ter tentado amenizar a situação dizendo que Josh, Matthew e ele estão estudando o vírus e trabalhando em uma vacina para prevenção, não consigo afastar a sensação de algo de muito ruim está por vir. Achei melhor que Evelyn fosse pra casa, afinal ainda não sabemos qual é o potencial de contaminação do vírus e ela é a única família que tenho. Farei tudo o que puder para protegê-la.

Hoje é domingo, não temos expediente, por isso a Repartição está vazia, apenas a luz da sala de Johanna está acesa. Nos dirigimos para lá, a porta está aberta e Johana está ao computador digitando furiosamente. Quando percebe nossa presença ela pára seja lá o que esteja fazendo e olha para nós, com um meio sorriso nos lábios, gesticula, indicando as as cadeiras em frente a sua mesa para nos sentarmos.

_ Então? - Quebro o silêncio sem saber ao certo o que dizer.

_ Tobias, Zeke, estamos prestes a enfrentar uma situação muito difícil, estou aqui digitando um comunicado que deverá ser divulgado em todos os nossos meios de comunicação amanhã. As pessoas precisam saber o que está acontecendo. - Diz Johanna.

_ Isso vai causar uma confusão tremenda. - Diz Zeke.

_ As pessoas tem o direito de saber. - Insiste Johanna.

_ Eu sei que você está nervosa, todos estamos, a situação é preocupante, mas espalhar o medo na cidade não seria de grande valia. As pessoas vão entrar em pânico. Isso só vai piorar a situação.- Pondero.

_ Vivemos numa democracia, somos representantes dessas pessoas, mas o poder de decisão não é nosso é deles, Tobias.

_ Somos responsáveis por eles, nosso dever é protegê-los. Causar pânico tornaria essa tarefa ainda mais difícil do que já é. - Digo e percebo que ela parece ter se convencido.

_ Qual é o seu plano Tobias. - Ela pergunta.

_ Na verdade, não tenho um plano, pretendo sair dos limites da cidade e investigar a origem daquelas pessoas, saber de onde exatamente o governo está agindo, porque sabemos que o Departamento não está sobre os seus domínios. Mas se soubermos de onde vem a ameça, fica mais fácil nos defender.

_ Você não está pensando em fazer isso sozinho?! - Zeke diz de forma dura, mais como uma sentença do que como uma pergunta.

_ Tobias, precisaríamos montar uma equipe com os melhores soldados e pelo menos um cientista para fazer análise do que vocês vão encontrar e infelizmente não podemos nos dar ao luxo de ficarmos desprotegidos e principalmente de dispender um dos nossos cientistas que nesse momento trabalham para encontrar uma forma de erradicar esse vírus.

Eu sei que ela está certa, mas ficar aqui parado esperando o próximo ataque não me parece uma boa estratégia.

_ Johanna, não preciso de uma grande equipe, pretendo levar comigo pessoas que eu conheço, com quem que já trabalhei e não se preocupe com os cientistas, não acho que precisarei de um nessa expedição. E o tudo o mais que encontrarmos e requerer análise daremos um jeito de enviar a vocês.

_ Eu vou com você! - Zeke se prontifica e eu assinto com a cabeça.

_ Quem mais você pretende levar? Johanna quis saber.

_ Eu convidarei Amah, Geooge e Cara. Mas a decisão de ir será deles.

_ Sinto muito Tobias, mas Amah e George estão na quarentena, junto com os outros policiais que tiveram contato com o grupo de infectados.

Amah e George podem estar infectados? Meus sentimentos são um misto de raiva, preocupação e tristeza, quantos mais de nós o governo vai levar. Já não foi o bastante o sacrifício dela?

_ Vamos conseguir a vacina a tempo Tobias, não se preocupe, eles sobreviverão, e de qualquer forma estão de quarentena só por precaução, não houve manifestação do vírus em nenhum deles. - Johanna tenta me tranquilizar.

_ Não consigo entender qual o motivação do governo. Matar a todos nós? - Zeke pergunta, confuso assim como eu.

_ As guerras anteriores acabaram com quase toda a população do planeta, não acredito que sua intenção seja diminuir ainda mais o seu efetivo. - Johanna pondera.

E eu não sei em que acreditar. Mas que outra motivação teriam para criarem um vírus de laboratório que atinge o cérebro e paralisa suas funções pouco a pouco, se não fosse com o intuito de assassinato em massa de forma lenta, cruel e agonizante.

Johanna percebe a minha descrença e então continua.

_ Experimentos dão errado a todo momento, somos prova disso. Matthew me disse que o vírus age primeiramente no córtex cerebral, e ele acredita que inicialmente o seu objetivo era cortar a ligação dos lobos frontais e o resto do cérebro. Em outras palavras, o vírus queria inibir as emoções, tornar as pessoas suscetíveis a ordens.

_ Como no soro da simulação que foi usado no ataque contra abnegação. - Zeke conclui.

_ Não, na realidade a intenção era que fosse irreversível. E Matthew disse que não vê muito benefício nisso, pois essa ruptura da ligação dos lobos frontais com o resto do cérebro torna as pessoas um vegetal ambulante, portanto sua utilidade para o governo não pôde ser explicada. Johanna diz.

_ Não acredito que tenha sido acidental. Digo.

_ Bom, de qualquer forma essa foi a primeira hipótese, acredito que logo, logo nossos cientistas encontrarão uma solução. Johanna tenta soar confiante, mas posso reconhecer a apreensão em sua voz.

_ Vamos torcer para que esteja certa. Mas agora preciso preparar minha equipe para podermos partir o mais breve possível. Eu digo enquanto me levanto e me dirijo até a porta e Zeke me segue; Johanna se levanta pára na minha frente, segura as minhas minhas mãos e fala:

_ Boa sorte Tobias! Cuide-se por favor! Você é muito importante para todos nós! - E quando diz isso ela olha para Zeke buscando a confirmação nos olhos de Zeke. Ele acena com a cabeça, e sorri.

_ Não posso viver sem você docinho! - Zeke brinca e eu o repreendo lançando um olhar enfurecido em sua direção. Johanna ri. Ele tem o dom de suavizar as coisas.

Estamos saindo da repartição e Zeke pergunta.

_ O que vou dizer a Shauna? Ela não vai engolir qualquer lorota. Você a conhece.

Sim, eu a conheço, é uma das pessoas mais persistentes e corajosas que conheci, não tinha por hábito desistir ou buscar a saída mais fácil. Ela já sofreu muito, a perda de Lynn, a sua incapacidade de andar sem ajuda de aparelhos.

_ Zeke, sinceramente, eu acho que você não devia ir. Shauna precisa de você e não sei o que encontraremos lá fora.

_ Ah fala sério Quatro! A gente já cruzou a cerca outras vezes,eu sei me defender! E já estou entediado, nada de interessante acontece e quando tenho a oportunidade de fazer alguma coisa realmente emocionante você quer me cortar da equipe por causa da minha garota?!

_ Você quem sabe! Mas não queria estar na sua pele quando você resolver contar ela o que pretende fazer! - Eu digo rindo, porque sei a fera que Shauna vai ficar.

Zeke me empurra e eu o empurro de volta como nos velhos tempos quando eramos apenas iniciados da audácia e apesar de eu ser um dos transferido acabamos nos tornando amigos.

******

Hoje é segunda feira, o dia passou como se nada estivesse acontecendo, Johanna por fim não divulgou as informações conforme pretendia. August me ligou na repartição dizendo que eles desenvolveram um soro e está em fase de testes. Meus planos não mudaram. Convoquei uma reunião aqui no meu apartamento para expor a situação a Cara e decidir quando vamos e se chamaremos mais alguém.

Estamos reunidos em volta da mesa cozinha, Zeke, Evelyn e eu.

_ Você avisou a Cara? - Pergunto.

_ Sim, avisei. Ela já deve estar chegando. Zeke responde.

_ Vocês estão pensando em levar mais alguém? - Evelyn pergunta.

_ Eu pensei em Amah e George, mas eles estão na quarentena. - Respondo.

_ Mas é muito arriscado, vocês não podem ir apenas os três, precisarão de um grupo de no mínimo umas 6 pessoas, de preferência com experiência em combate e que saibam usar uma arma. Evelyn diz.

Eu sei que ela tem razão, não posso convocar os policiais e deixar a cidade desprotegida, preferia ir com as pessoas as quais conheço as habilidades, facilita muito se você não ter que ficar o tempo todo tentando proteger alguém.

Batidas na porta interrompem meu raciocínio. Evelyn se levanta e a abre a porta.

Cara entra e em seguida vejo Christina e por último e não menos indesejado Caleb. Evelyn fecha a porta e todos estão pé me olhando.

_ Vamos meninos, sentem-se. - Evelyn diz indicando as cadeiras.

Eu estou com muita raiva de Cara, ela não tinha o direito.

_ Não me olhe assim Tobias! Zeke me ligou e Caleb estava ao meu lado e você sabe, trabalhamos juntos e ele meio que ouviu a conversa e não teve jeito de convencê-lo a não vir. - Diz Cara, se esquivando do meu olhar de reprovação.

_ Eu sei que você me odeia Tobias, mas não pode me impedir de fazer alguma coisa pela cidade. Eu devo isso a ela. - Caleb se defende.

_ Tanto faz, mas não conte que farei algum esforço para proteger a sua vida.- Eu digo apesar de detestar a ideia de tê-lo por perto, ele tem razão ele deve isso a ela, isso e muito mais.

_ E você Christina, o que faz aqui? Sei que você não trabalha com Cara, como é que soube? - Eu pergunto.

_ Eu procurei Johanna e ela me contou dos seus planos e achei que eu poderia ajudar. - Christina fala dando de ombros.

_Tudo bem, então agora somos cinco, alguém tem mais alguém para convidar? - Digo levantando uma sobrancelha. E antes que alguém possa responder ouço mais uma batida na porta. Novamente Evelyn se levanta para atendê-la. E vejo uma figura feminina e não a reconheço de imediato, então quando ela entra e a luz ilumina seu rosto eu sei que é. Nitta.

Ela não espera que Evelyn a convide para sentar, simplesmente puxa um banquinho e se senta entre Cara e Caleb se modo que fica bem na minha frente.

_ O que você está fazendo aqui? - Pergunto intrigado. Não soube mais dela desde que deixei o Departamento.

_ Estou aqui com o mesmo objetivo que vocês. Derrubar o governo! - Ela diz revoltada.

_ Estamos nos organizando para buscar respostas, não estamos planejando uma guerra, mas de qualquer forma como soube, o que você tem haver com isso?

_ Aquelas pessoas que estão no seu hospital, são da margem. Meu irmão está entre elas.- Ela diz.

Não sabia que Nitta tinha um irmão, aliás nunca soube muito a seu respeito, apenas que ela me usou no seu plano idiota que resultou na morte de Uriah. Zeke... Eu não tinha percebido mas Zeke está com as mãos fechadas em punho sobre a mesa, os nós dos seus dedos estão brancos. A raiva contorcendo seu rosto numa carranca que nunca tinha visto. Ele sabem quem ela é.

_ Você. Não. É. Bem. Vinda. Aqui! - Ele cerra os dentes enquanto cospe as palavras como se estivesse lançando ácido na direção de Nitta, a raiva acentuando cada palavra.

_ Quem é esse cara? Ela olha para mim, perguntando confusa, sem entender a hostilidade de Zeke.

_ Nitta, este é meu melhor amigo Zeke, irmão de Uriah, que morreu por causa da explosão causada pelos seus cúmplices, durante aquele ataque ao departamento. - Seus olhos se arregalam é o reconhecimento lhe atingindo em cheio, o que dura apenas um segundo. Pois ela volta a exibir aquela expressão dissimulada e cética da qual me lembro bem.

_ Mas se eu não me engano, você era um dos meus cúmplices. - Ela diz com um sorriso debochado.

Não tenho tempo de abrir a boca. Tudo acontece muito rápido, quando me dou conta Nitta está caída no chão, Zeke está sobre ela com as duas mãos agarradas ao seu pescoço. Ele se lançou sobre a mesa na direção dela, o seu peso a derrubou e agora ele está enforcando ela.

Todos se lançam em em cima dele tentando segurá-lo, mas o ódio circulando na corrente sanguínia de um homem como Zeke o transforma em algo muito próximo do invencível. Nitta está com os olhos arregalados e boca aberta, sua pele está ficando roxa. Eu fasto os outros me ajoelho ao lado de Zeke e digo:

_ Zeke, eu sei que você tem todas as razões do mundo para matá-la. Mas pense bem, você pode viver com isso? - Ele me olha incrédulo e responde:

_ Pode apostar que sim! - Ele responde enquanto mantem as mãos presas como ganchos no pescoço de Nitta e sei que estou ficando sem tempo.

_ Zeke, ela pode ter as respostas de que precisamos, ela conhecia aquelas pessoas que estão no hospital. - Agora ele está confuso e me olha.

_ Pense, bem não temos muito tempo, Temos que pensar nas pessoas dessa cidade, na sua mãe, em Shauna. Precisamos Protegê-las. - Ele afrouxa as mãos do pescoço dela. Está funcionando.

_ Vamos Zeke, você é melhor do isso. Depois que tudo isso acabar você pode deixar essa vadia comigo. - Christina, como sempre se metendo onde não é chamada.

Por fim ele solta o pescoço de Nitta que agora está ofegante respirando urgentemente, tentando compensar todo o ar que lhe faltou, ela põe as mãos no pescoço como se tentasse protegê-lo de Zeke, ele ainda está sobre ela e eu pego o seu braço, tentando ajuda-lo, mas antes de se levantar seus olhos queimam nos de Nitta e ele diz.

_ Ainda não terminei com você!

Por fim ele se levanta e eu o levo pro meu quarto. Ela caminha de um lado para o outro transtornado.

_ Quatro, eu vou matar essa desgraçada!

_ Zeke, tente se acalmar, precisamos ser racionais agora. Ela tem informações importantes. Que podem nos dar uma direção do quê exatamente estamos procurando. - Digo tentando convencê-lo. Mas ele ainda está confuso.

_ Eu a odeio tanto quanto você, assim como Christina e os outros. Mas nesse momento ela tem uma vantagem que não temos. Ela sabe de coisas que não sabemos.

Ele me olha, compreendendo que o que estou dizendo faz sentido, então ele entra no meu banheiro, abre a torneira da pia e enfia a cabeça em baixo da água fria. Ele permanece assim por um longo tempo, até que levanta a cabeça encharcada, fecha a torneira e pega a toalha que está penduras ao lado da pia, seca o o rosto e os cabelos. Seus olhos encontram os meus através do espelho e ele assente com a cabeça e diz:

_ Tá, eu posso fazer isso.


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