Elemento escrita por Grind


Capítulo 6
Capítulo 6 - Carona Forçada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/544242/chapter/6

Elemento / Capítulo 6 – Carona forçada

– Onde foi ontem? – Marco ergueu uma sobrancelha – Que eu fui procurar você para irmos embora e eu não te achei.

Franzi o cenho sentindo minha cabeça doer, eu simplesmente não conseguia lidar com ressacas.

– Eu não me lembro de tudo. Stella foi me apresentar a uma amiga que por acaso era Camila e por coincidência trouxe o Elemento como companhia.

– Você está me tirando... – Um sorriso escapou por entre seus lábios.

– Não. - Fechei os olhos, tentando ver o que acontecera na noite anterior - Ai elas resolveram nos deixar a sós para conversar, discutimos ele saiu e eu fui beber.

– Depois?

– Uma vaga lembrança de uma escada, outra discussão, outro cara dando em cima de mim e eu levei o Elemento para dançar. - Franzi o cenho.

Ele cruzou os braços mostrando-se cada vez mais interessado.

– Qual é o nome do outro cara?

– Acho que eras Willian ou Ricardo... Eu não me lembro – Fechei os olhos forçando a memória – Algumas partes são só um clarão.

– Você levou o D para dançar? - Ele ergueu uma sobrancelha, seu tom era de total descrença.

– Foi. - Não era algo que eu gostava de me lembrar - Só não me lembro o porquê justamente ele e não o outro cara.

– Você é muito fraca pra bebida Gabrielle, me admira que ainda não tenha percebido.

– E onde você estava? - Eu cruzei os braços.

– Eu passei a maior parte do tempo conversando com uma garota chamada Isabelle. Como foi que voltou para casa?

– Acho que o Elemento me deu carona – Bufei – E a julgar meu estado, eu devo ter aceitado.

– Isso é ruim?

–É claro! – Joguei os braços pro alto - Ele sabe onde eu moro agora, pode tentar vir me matar a qualquer hora do dia.

Marco revirou os olhos.

–É impressionante como você defende essa tese de que ele é um louco psicótico que veio te matar.

Aquilo me fez rir.

–Ele não me fez nada que me comprovasse o contrário. - Resmunguei, a tentativa dele de ser agradável antes de eu começar a encher a cara ainda me dava arrepios.

Devia fazer uns quarenta e cinco minutos que estávamos debatendo sobre a noite passada, era domingo e estávamos no apartamento de Marco fazendo trabalhos da faculdade. O apartamento de Marco era grande, com direito a hall de entrada que logo dava na sala de estar, tinha dois sofás e uma televisão na parede e logo a frente uma sacada. Virando a direita havia a sala de jantar, atrás dela a porta da cozinha, então havia um corredor levando aos quartos e os banheiros.

Eu forcei a memória novamente tentando me lembrar o que eu fizera na noite passada. Me lembrava de sua altura, e de como seus olhos brilharam de forma suspeita quando me virei para pedir desculpas. Lembrava de seu perfume, e como de alguma forma ele pareceu crescer quando ficou nervoso e se afastou. Sorrindo de forma brilhante no pé da escada por algo que eu dissera, tudo muito agradável como se fossemos amigos.

–Gabrielle?

–Hum?

–O que aconteceu? Eu to aqui chamando seu nome pela terceira vez pra saber se vai querer carona pra casa.

–Claro, claro.

–No que estava... Ou melhor – Sorriu de forma maliciosa – Em quem estava pensando?

–Ah, ninguém, só uma questão do trabalho.

–Me engana que eu gosto, eu estou quase convencido que você está começando a cair de amores pelo D.

–Vira essa boca pra lá – Respondi horrorizada – Bate na madeira! De onde tirou essa ideia?

– Você já se viu? - Ele ergueu uma sobrancelha - Vocês estão quase fazendo as pazes.

(...)

Marco e eu terminamos algumas horas depois, após dez minutos de carro ele estacionou em frente a minha casa e ficamos observando a figura desleixada, sentada na porta da minha casa.

–Eu disse que ele queria e matar – Falei sem conseguir tirar os olhos do Elemento.

–Talvez ele só queria conversar.

–Tipo o quê? - Eu virei o rosto para encara-lo ainda meio perplexa pela pessoa mais detestável da terra estar sentada na porta da minha casa.

–Não faço ideia, talvez contar algo que você não se lembre, discutir, te chamar pra sair...

–Ele não me chamaria pra sair. - Eu balancei a cabeça como se fosse obvio.

–Enfim, vai querer que eu fique pra evitar seu homicídio, ou eu devo me despedir e a gente se vê no funeral?

–A gente se vê no meu funeral. - Suspirei derrotada.

–Falou então – Eu desci do carro e Marco sumiu em questão de segundos. Estava um calor dos infernos, coloquei as mãos na cintura ao parar na sua frente.

–O que está fazendo aqui? - Ergui uma sobrancelha, e foi só então que ele pareceu notar que eu entrei em sua frente.

Ele ergueu o rosto com o cenho franzido e eu impedi a mim de suspirar. Ele encontrou meu rosto com dificuldade por causa do sol, os olhos estreitos pela luminosidade. Vestia uma camisa pólo verde claro, que apesar de largas nas mangas se ajustava perfeitamente ao resto do corpo, uma bermuda marrom e tênis de corrida.

Ele estava suado, pude perceber pelos cabelos levemente molhados e bagunçados, quase como se acabasse de sair do banho há poucos minutos. O maldito arrogante estava brilhando.

–Tá muito quente hoje você não acha? - Disse de forma descontraída. O ódio tomou minhas veias.

É, muito quente. Quente demais.

–Não – Menti – Agora responda a minha pergunta. - Cruzei os braços, o pé batendo nervosamente.

–Eu... – Ele se colocou de pé como se jogasse na minha cara “Eu sou maior que você em tudo” – Precisava devolver a sua bolsa.

Ele estendeu a mão que só até então notei estar ocupada, com minha bolsa prata da noite passada.

–Hum – Peguei um tanto quanto sem graça, a situação era péssima e o sol estalando em minha nuca não me favorecia muito – Obrigada?

Ele sorriu.

–É a primeira amostra que eu tenho até agora que você tem educação.

–Vai se ferrar

Ele riu.

–Eu posso entrar? – Ergueu uma sobrancelha indicando a porta com a cabeça – Tem um tempo que eu estou aqui fora, e eu ia aceitar de bom grado um copo de água gelada.

–Você sempre se convida para a casa das pessoas? - O meu desgosto por ele se fez presente.

–Quase sempre. - Respondeu, enquanto me analisava.

Eu ponderei por um minuto antes de empurra-lo.

–Não – Dei um passo a frente destrancando a porta e entrando a logo em seguida, ele parou na porta antes que eu a fechasse, ainda meio surpreso.

Franzi o cenho.

–Já devolveu a bolsa, já pode ir embora.

Ele sorriu.

–Ah só mais uma coisa – Bufei revirando os olhos– A noite ontem foi perfeita.

Meus olhos se escancaram, e a porta se escancarou ao eu sair às pressas enquanto ele se dirigia passos rápidos até o carro.

–Como assim? – Perguntei aos berros – Não aconteceu nada!

Eu voltei fechando a porta e correndo atrás dele outra vez.

–Nada de que você se lembre – Me advertiu com um sorriso maldoso.

A minha vontade era de tirar aquele sorriso maldito do rosto dele a base de socos. Ele entrou no carro e abaixou o vidro da janela.

Ele ainda sorria.

–Faz um favor pra mim? –Ergueu uma sobrancelha

–Porra de favor nenhum, eu quero saber o que aconteceu ontem! - Bati o pé no chão, como uma garotinha fazendo pirraça.

–Se eu contar – Ele olhou para os pés e depois para mim com cautela – Você não acreditaria, e se acreditasse, não seria tão emocionante.

–Elemento! – Esbravejei.

Ele riu satisfeito.

–Deixa pra descobrir outra hora, você não está no seu juízo perfeito agora – Ele piscou dando indícios de que ligaria o carro, e eu não poderia o deixar sair daquele jeito. Antes que pisasse no acelerador, dei a volta no carro, e o surpreendi sentando no banco do carona.

–O que está fazendo? – Perguntou devidamente assustado.

–Deixa pra descobrir outra hora. - Eu bati a porta do carro ao meu lado, sem ligar para seus protestos.

–Gabrielle – Ele deu uma pausa antes de prosseguir – Desse do meu carro.

O perfume dele parecia estar em toda parte, estava impregnado nos bancos, no painel e agora em minhas roupas. Eu havia me apegado aquele aroma. Pinho e sândalo, o glória.

Estávamos relativamente próximos, pois seu carro era um daqueles mais modernos, portanto, menores e mais apertados. Minhas pernas estavam pressionadas no painel, não estava em condições de estendê-las, caso contrário acabaria botando peso no freio de mão e nós dois iríamos descer rua a baixo.

–Sabe, pensando melhor, o dia está realmente quente hoje. - Comentei de forma sarcástica fazendo questão de deixar claro me desconforto.

Ele passou uma das mãos sobre a testa suspirando.

–Gabrielle – Ele respirou fundo – Eu não estou brincando.

–Eu também não, a gente bem que anda precisando de uma chuva. - Eu espiei o céu com dificuldade.

Ele revirou os olhos.

–Tá bom – Voltou sua atenção para a frente e ligou o carro –Você vai junto.

Procurei me acomodar melhor e ele resistiu olhar para minhas pernas enquanto dirigia.

–Para onde vamos?

–“Vamos” Uma vírgula, você não quer ir para a casa da minha mãe comigo né?! - Eu podia sentir o desespero em sua voz.

–Nossa seria um prazer – Bati palmas animada – Preciso falar pra ela como o filho gosta de invadir a casa dos outros!

Ele revirou os olhos

–Você parece uma mocinha quando faz isso!

–Não diga! – Inclinei a cabeça irônica – Se você não falasse, eu nunca ia saber. Afinal, o que eu sou mesmo?

–Vai se ferrar Gabrielle. Eu tenho que criar um apelido pra você também – Entramos em um bairro que eu desconhecia.

–Que tal perfeita? - Eu soei sonhadora.

–Que tal insuportável?! - Ele trincou os dentes.

–Esse combina mais com você! – Retruquei.

Nós ficamos em silêncio até ele estacionar em frente a uma casa metida. Segunda vez que ele me fez sentir inferior. Diante daquele muro imenso parecia que uma muralha estava na minha frente. Eu podia ver logo à frente, depois de um jardim com a grama bem cortada, a casa. Consegui ver pouca parte do quintal, pois uma freta do portão estava aberta.

O Elemento desceu primeiro e eu saí em seguida, no entanto, ele me barrou no portão.

–Você não vai entrar! – Disse aos berros

–Mas... Eu vim até aqui com você... E...

–Não interessa, vai embora logo! – Num tom grosseiro, as palavras explodiam de sua boca.

–Tá! – Esbravejei – Não é como se eu quisesse entrar mesmo! – Empinei o nariz e cruzei os braços.

–Juan! Ele chegou! – Uma voz feminina gritou não muito distante dele. Elemento fechou os olhos murmurando um “eu não acredito”. A mulher surgiu atrás dele, meio surpreendida pela minha presença. Era um pouco mais alta que eu, cabelos loiros e os mesmo olhos do Elemento, era possível ver claramente a semelhança entre os dois, devia ter um pouco mais de quarenta anos.

–Oh... Didi não disse que traria companhia, eu sou Angela.

Segurei o riso quanto ao apelido e a cumprimentei.

–Prazer, Gabrielle.

Ela sorriu mais e trocou olhares divertidos com Elemento antes de voltar a falar.

–Eu interrompi alguma coisa? Eu tenho a impressão de ter escutado vozes altas...

Eu disse não e Elemento disse sim ao mesmo tempo, ele olhou pra mim, suspirou e disse que não. Angela voltou a sorrir.

–Que bom, venha Gabrielle vou te apresentar a Juan.

Que enrascada era aquela que eu tinha me envolvido, eu estava pra ser apresentada aos pais do Elemento, tudo porquê ele era teimoso demais pra simplesmente abrir a boca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Elemento" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.