Elemento escrita por Grind


Capítulo 19
Capítulo 19 - Bom dia




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Elemento / Capítulo 19 - Bom dia

– Gabi! Gabi! - Eu podia escutar Angela arfar do outro lado da linha.

– Calma Angela - Minha voz estava calma - Respira seja lá o que for você tem o direito de respirar.

– Ele acordou! Ele acordou!

Eu gelei. Como se por um minuto meu coração tivesse parado de bater. Eu olhei no relógio no alto da parede, ainda era 17:45 hrs. A floricultura estava movimentada e eu não poderia fecha-la mais cedo, com o carnaval chegando, aquilo ali virava uma loucura, então mesmo se eu quisesse, não poderia deixar dona Maria na mão.

Eu fechei o punho com força, tinha marcado de ajudar Marco a comprar umas roupas para um casamento que ele iria em outra cidade amanhã, e não chegaria a tempo no horário de visita.

– Droga! - Bati o punho fechado com força no balcão. Pude sentir Angela surpreendida do outro lado da linha.

– Está tudo bem ai querida?

– Eu não vou poder passar ai hoje - Resmunguei esfregando os olhos com força, sem me conformar que eu poderia estar chorando. - Nem amanhã, eu estou cheia de coisas pra fazer e só posso passar ai no domingo.

– Oh, não tem problema meu bem - Disse com tranquilidade - Ele não tem condições para fugir mesmo, e não tenho certeza se ele recebera alta até domingo, então não precisa se estressar.

– É claro - Concordei como se fosse a coisa mais simples do mundo, me manter calma.

– Perdão ter ligado assim, sei que está trabalhando e Juan até tentou me impedir, mas eu só queria que você soubesse.

– Obrigada por ter ligado - Respirei fundo tentando acalmar meus nervos. Ela se despediu, e eu desliguei o telefone. Apoiando as duas mãos na bancada tentando me manter estável.

– Está tudo bem? - Maria colocou a mão em meu ombro.

– Está - Minha voz saiu e um quase sussurro. - Eu só... Recebi uma noticia boa.

Ela sorriu terna, se afastou e eu voltei minha concentração as minhas mãos. Eu quase podia estar meu coração batendo de tão rápido que estava, eu cheguei a fechar os olhos, inspirando fundo algumas vezes tentando colocar meus pensamentos em ordem.

Eu sentia como se minha alma houvesse sido lavada, levando qualquer sobrecarga embora, qualquer impureza, qualquer pensamento ruim, as coisas tinham dado certo afinal de contas.

– Maria, você se importa se eu fizer uma ligação? Eu já te ajudo.

– Sem problemas! - Gritou de volta.

Procurei o número de Marco na discagem rápida, e voltei a minha impaciência costumeira quando no terceiro toque ele não atendeu. No quinto, sua voz me respondeu sem emoção alguma.

– Pode falar.

– Você não sabe o que aconteceu - Me sentei no chão colocando um dos dedos na boca de forma ansiosa como uma garotinha de 17 anos.

– O Elemento morreu? - Ele se desesperou do outro lado da linha e eu não pude conter um sorriso.

– Não, ele acordou!

– Não faça isso comigo garota, eu já estrava treinando o meu discurso de consolo caso o pior acontecesse.

– Que coisa horrível.

– Eu não sou bom em agir em situações tristes, sou uma pessoa prevenida. Mas enfim, se ele acordou você certamente a essa hora está a caminho de lá suponho?

– Eu não posso. Sabe que a floricultura só fecha as 20:00 hrs, e no momento aqui está tudo muito movimentado.

– Eu devo dizer sinto muito?

– Não - Eu ri - Estou feliz demais para dar atenção as suas ironias.

– Feliz? Para quem odiava ele com todas as forças até algumas meses atrás estou surpreendido.

– Por que diz isso?

– Porque é algo que eu tenho guardado pra dizer a um tempo, esperando que a situação se estabilizasse para jogar na sua cara.

Franzi o cenho voltando a ficar de pé.

– Como assim?

– Não é óbvio, Você gosta dele.

– O quê? - Eu me exaltei - Como você me diz uma baboseira dessas! Eu não posso estar feliz por ele não ter morrido? O fato de eu não querê-lo morto não significa que eu goste dele.

– Se você está dizendo - Fez pouco caso e eu voltei a fechar o punho com força, - Vamos ver quanto tempo você consegue manter essa sua tese.

– O que está insinuando? - Cerrei os dentes.

– Sou seu amigo Gabrielle, só quero que pense com clareza e não entregue tudo de bandeja. Mesmo que seus sentimentos por ele tenham mudado, você negando ou não, ele permanece sendo o Elemento de sempre. Ele não estava em sã consciência para ver os altos e baixos que você passou, então não tenha tanta certeza de que está sendo correspondida, porque eu acho que ele ainda não gosta de você. - Eu me calei - Mesmo eu nunca tendo sido amigo dele, estou contente por ele ter acordado, contente porque você está contente, mas não exija muito de mim me fazendo ver como ele está só porque você está ocupado.

– Eu não ia pedir nada a você, eu só queria te contar.

– Eu sei, mas de qualquer forma, me desculpe, eu não queria ser rude.

– Não... - Minha voz falhou - Não foi, eu entendi o que você quis dizer.

– Eu estou indo me encontrar com Stella agora, a gente se fala mais tarde.

– Tá.

E desligou. Eu coloquei o celular no bolso, e me encostei na parede, sentindo minhas pernas fraquejarem. De repente, um vazio, como se algo faltasse. Fechei os olhos e parei por um segundo. Eu não havia parado pra pensar o que eu realmente estava sentindo, o que eu realmente queria. Eu dizia pra mim, tantas vezes que o odiava, que foi a única coisa em que me foquei.

Mas eu estava feliz não estava? Feliz por ele estar de volta. Por ser quem ele era, mesmo sendo orgulhoso, arrogante e prepotente, eu estava contente.

Não. Eu não tenho, não tinha tempo para esses tipos de pensamentos, divagar sobre paixão e ódio era algo que eu só fazia quando ainda estava na escola. Eu tinha coisas mais importantes com que me preocupar. Respirei fundo, mais calma, voltei a loja, e compensei a hora perdida, ajudando de todas as maneiras possíveis Dona Maria.

(...)

O meu coração voltou a acelerar. Parada em frente ao hospital eu estava com medo, medo de entrar, medo de ir embora. Medo do olhar de repugnância que eu receberia dele, medo do olhar de ternura de Angela seguida pelo olhar de dó depois que ele me maltratasse. De certo ponto, Marco estava certo e eu não poderia negar. Por mais que eu quisesse, Elemento não estaria nem um pouco feliz em me ver. Aquele pensamento me fez sorrir, a sensação de vê-lo irritado me satisfazia.

Eu caminhei, entrei no hospital, e não cumprimentei a enfermeira mesmo sentindo o olhar dela queimar sobre o meu rosto enquanto eu caminhava no caminho já decorado. Juan estava sentado do lado de fora, com uma revista no colo, sorriu a me ver, pacifica, sem pressa.

– Que bom que veio, Angela está ansiosa pra te ver.

Sorri como resposta, e hesitei em frente a porta fechada, sentindo as batidas em meu peito ficarem mais fortes e mais frequentes.

– Pode entrar. - Juan indicou como se não houvesse problema algum - Estão os dois lá, ele só está meio estressado porque quer ir pra casa.

– Eu imagino - Minha voz saiu em um quase sussurro, eu tinha medo que ele me ouvisse, mas ainda assim eu não a abri.

Ainda dava tempo de ir embora, eu poderia dizer que havia esquecido de um compromisso importante e se corresse eu conseguiria sair de lá a tempo do interrogatório de Angela sobre o porquê da pressa.

Eu estava pensando demais, e foi quando minha mão estendeu para tocar a maçaneta que ela se abriu. Eu arregalei os olhos, assustada, meus nervos estavam a flor da pele. Angela sorriu a me ver, e meio sem jeito me deu um abraço apertado. Ela disse algumas coisas que eu não consegui prestar atenção.

Elemento estava resmungando de alguma coisa, com a bandeja de comida a sua frente, ele remexia com o garfo com nojo, como se estivesse cheia de insetos. Ele ergueu a cabeça, provavelmente para verificar porque sua mãe parara na porta.

E quando seu olhar cruzou com o meu, eu senti um arrepio percorrer o meu corpo, um da qual eu não estava acostumada sentir. Angela, abriu espaço para que eu passasse, e quando eu pisei no quarto fui atingida por uma enxurrada de perguntas.

– O que ela está fazendo aqui? - Usou o garfo descartável para apontar para mim.

Angela se mostrou horrorizada.

– Que coisa horrível! Isso lá são maneiras de se falar-

– Não tem problema - Eu ergui uma mão a impedindo de falar e ele me fuzilou com os olhos - Isso é normal.

– Normal? - Ergueu uma sobrancelha - Você acha isso normal?

Angela pediu licença e saiu, inconformada com o modo coma qual tinha acabado de ser tratada.

– Eu estou em uma maca de hospital Gabrielle. Eu estava em coma Gabrielle. Eu não sei quanto a você, mas isso pra mim não é normal. - Disse entre dentes enquanto praticamente me devorava com o olhar

– Eu me referi a sua grosseria comigo D. - Disse com calma

– Como você tem a cara de pau de aparecer aqui em? - Ele ergueu um dos braços inconformado - E essas... Tulipas? - Cuspiu para falar e eu fechei os olhos. - Foi você quem trouxe não é? Tinha que ser coisa sua, o que te faz pensar que pode sair enfeitando as coisas assim? Era só pra me provocar né? Pra quando eu acordasse tivesse que lembrar justamente da sua existência!

– Eu gosto de tulipas Elemento, e eu me cansei de trazer margaridas.

– Como se alguém tivesse te pedindo algum favor - Resmungou voltando a olhar para o prato de comida - Está vendo isso aqui? Eu sou obrigado a comer essa porcaria por sua causa. Tudo isso aqui é culpa sua!

– É claro - Eu me sentei na poltrona do seu lado suspirando, tentando me manter o mais calma possível - Você enche a cara, você pega o carro, você bate, e a culpa é minha.

– É claro que é.

Sorri.

– Você está achando isso engraçado? - Eu me acomodei melhor.

– Não. - Eu escondi o sorriso de minutos atrás.

– É bom que não esteja Gabrielle, porque quando eu sair daqui eu vou acabar com a sua vida, eu vou aparecer toda hora pra te importunar, vai ser a minha meta de vida, e quando você não aguentar mais, vai implorar pra mim ir embora, e eu só vou piorar as coisas pro seu lado.

– Tá bom - Fechei os olhos respirando fundo. A essa altura a minha ansiedade já havia passado, eu estava feliz.

Alguém entrou no quarto, mais eu não me dei ao trabalho de ver quem era.

– Você já está mais calmo? - A voz de alguém conhecido perguntou.

– Mais calmo? Eu vou ficar calmo quando eu sair daqui.

A voz riu.

– Eu vou tirar um pouco de seu sangue para fazer alguns exames, e se der tudo certo, você pode ser liberado amanhã.

– Você não está entendendo, eu quero ir embora agora!

– Você não muda não é?

Houve um silêncio. Marcelo?

– Então... - Eu escutei o barulho da seringa caindo na bandeja - A quanto tempo vocês estão juntos?

Eu senti meu coração parar. Se as coisas seguissem nesse rumo, eu ia acabar tendo um ataque, as pessoas gostavam de fazer essa pergunta quando ele estava irritado?

– Nós não estamos juntos - Eu me apressei em dizer, minhas mãos geladas e minha voz com mais determinação do que eu imaginava. Marcelo revezou olhares entre nós e ergueu a mão livre em defesa.

– Está bem, não está mais aqui quem falou. - E saiu.

– Por que ele teve essa ideia ridícula? -Ralhou na minha direção

Suspirei voltando a me encostar e fechar os olhos.

– Como eu vou saber. - Dei de ombros, pouco me importando. Ele suspirou e escutei empurrar a bandeja intocada para o lado.

–Oi.

Eu abri os olhos surpreendida.

–Oi! - Minha voz soara sonhadora e ele franziu o cenho.

– O que você tem?

Eu senti meu rosto queimar enquanto focava em algum lugar no chão.

– Nada, de onde tirou que eu teria alguma coisa?

– Você está... - Ele engoliu em seco - Estranha.

Eu não pude evitar rir.

– Obrigada


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