I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 35
Capítulo 34




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Na manhã seguinte, Karina acordou com Ana Clara encolhida contra si. Seus braços rodeavam o corpo pequeno e magro da filha, enquanto um lençol fino as cobria até os ombros. E Pedro não estava na cama.

Com bastante cuidado para não acordar a criança, a lutadora a desvencilhou de seus braços, ajeitando-a e plantando um beijo em sua testa, antes de sair do quarto.

Bastou seguir os ouvidos e o nariz para encontrar o ex-namorado na cozinha, sem camisa e arrumando o café da manhã.

"Bom dia." Desejou, atraindo a atenção dele. Tentava a todo custo ignorar o fato de ele estar desnudo da cintura para cima, algo que lhe passara despercebido na noite anterior, enquanto Clara tinha febre.

"Bom dia, esquentadinha. Dormiu bem?" Ele desviou os olhos, nervoso. A voz rouca de Karina pela manhã era um estimulante absurdo para Pedro, que sempre havia se excitado com aquilo.

"Capotei." Ela sentou na banqueta, observando os alimentos. "Caprichou, hein?"

"Fui comprar coisas que ela pode comer. Bolo, pão, cereal, leite de soja..." Ela sorriu enternecida com a preocupação dele. "E aproveitei e comprei algumas coisas que você gosta. Até onde me lembro, você era apaixonada por biscoitos de chocolate."

"Está certíssimo." Ela avisou, pegando o biscoito e mordendo. "Pra alguém que não sabia nem ferver água, se saiu muito bem."

"O café é na máquina, porque não consegui ferver a água." Ele admitiu, arrancando risos dela. "O grãozinho acordou?"

"Sua filha tem sono mais pesado que o seu, moleque. Vai uns vinte minutos até ela acordar, forçada. Por conta própria, talvez umas duas horas. Aliás, eu queria te perguntar uma coisa... Por que você tá chamando ela de grãozinho, e não de manezinha? Até onde me falaram, você continuou chamando ela assim por anos."

“Quando eu penso em manezinha, eu penso na minha filha que eu jurava estar morta. Eu não consigo chamar ela assim, entende? E eu sei que não, mas eu imaginava ela como um grãozinho de arroz bem pequeno na sua barriga... Apenas criei outro apelido, para novas lembranças felizes.” Explicou ele, dando de ombros.

“Eu gosto de grãozinho de arroz.” Ela sorriu, recebendo um aceno.

"E como vão ficar as coisas, Karina?" Ele espalmou as mãos no balcão, mas não era agressivo. "Nós precisamos chegar a um acordo."

"Nós vamos entrar com o pedido de reconhecimento paterno, como você pediu." Ele assentiu. "Mas a sua agenda é muito inconstante para termos guarda partilhada."

"Nisso eu tenho que concordar com você." Ele suspirou, esfregando os olhos. "Não dá nem para ter dia fixo para ela ficar aqui, porque os finais de semana são os piores."

"Bom, ela estuda de manhã e eu vou começar a trabalhar na academia também à tarde. Você pode buscar ela na escola e ficar com ela até às 16h, quando eu saio." Karina sugeriu, vendo Pedro cogitar. "Quando você estiver fora, ela fica com a Bete, ou lá na academia mesmo. Ela adora correr entre a Ribalta e a academia, é paparicada de todos os lados."

"Acho que é uma boa solução. E ela passa as noites com você?"

"Isso. A não ser que você queira que ela durma aqui, um dia específico ou outro. Nesse caso, combinamos previamente."

"Para mim parece um bom acordo." O guitarrista sorriu. "Não é por nada, mas dar banho em menina é complicado."

"Ela já tem quase sete anos." Karina riu da careta dele.

"Mas ela disse que você sempre cuida dela na hora do banho, para ver se ela lavou a perereca certo." A lutadora gargalhou. "A propósito... Ela sabe de onde os bebês vêm."

"Você contou?" Karina praticamente gritou, irritada. "Caralho, Pedro. Você ficou nem doze horas com ela e já..."

"Hey, calma aí, esquentadinha. Quem contou foi uma amiguinha da escola." A loira arregalou os olhos. "Pois é, eu fiquei do mesmo jeito. Parece que a menina tem uma irmã mais velha, que tem um livro sobre o assunto. A criança levou escondido na escola e mostrou o que a irmã explicou. Ela me viu trocando de roupa, sem querer, e perguntou sobre o que eu tinha no meio das pernas. Disse que era diferente do desenho e ficou em dúvida."

"Ela falou o nome da amiguinha?" Pedro negou. "Deve ser alguma lá do Rio, porque ela está na escola nova há menos de um mês."

"Acho bom nós perguntarmos e, se for daqui, conversar com a coordenadora." Pedro pegava o bule na máquina enquanto falava. Ele encontrou o olhar surpreso de Karina. "Ou não, né... Sei lá, você quem sabe. Eu só falei o que eu achava e..."

"Eu concordo, acho que devemos fazer isso." Ela sorriu. "Só estou surpresa em te ver agindo assim, como pai."

"É uma surpresa boa ou ruim?"

"Definitivamente muito boa." Pedro sorriu ao ouvir aquilo, sendo retribuído. O momento teria prosseguido, se alguém não tivesse aparecido no corredor.

"Bom dia, mamãe, bom dia, papai." Saudou Ana Clara, coçando os olhinhos. "Acordei e vocês não estavam na cama."

"Viemos preparar a comida para a madame, que acorda cheia de fome." Karina beijou a cabeça da filha, que deu a volta no balcão correndo, se jogando no colo do pai, que a encheu de beijos. "Seu pai comprou um monte de coisas para você, viu Clarinha."

"Tudo pra mim?"

"Pra nós três, grãozinho. Mas tudo que você pode comer." Pedro a sentou no banco, ocupando o do lado, deixando a filha entre ele e Karina. "Você sabe se servir?"

"Relaxa, Pedro, eu cuido disso." A loira assumiu o controle, preparando a comida da filha, instruindo o rapaz a fazer uma ou outra coisa.

Clarinha parecia mais do que satisfeita em estar com ambos os pais, os dois estarem se dando bem e cuidando dela juntos.

"Ana Clara, seu pai me contou que você anda sabendo de umas coisas inapropriadas para a sua idade." Estava bom demais para ser verdade. Agora eles também dariam bronca juntos. "Quem foi a amiguinha que levou o livro?"

"A Letícia, mamãe." Contou, encarando o café da manhã. "A irmã dela tem um livro e leu pra ela. Aí ela leu pra gente."

"E a Letícia é da escolinha nova?" A pequena assentiu. "Você sabe que eu e a mamãe vamos falar com a sua professora, não é?"

"Sei, papai."

"E você está uma semana sem o iPad. Você sabia que era errado esconder isso da gente, porque a Letícia estava errada, e mesmo assim não me contou." Clarinha assentiu, a contragosto.

"Desculpa, mamãe, desculpa, papai."

"Tudo bem, grãozinho. Só não faça mais isso." Pediu Pedro, bebericando seu café. "Nós também queremos conversar com você sobre como vai ficar seu tempo com a gente."

"Como assim?" Ela os encarou com os olhos azuis curiosos.

"Você sabe que, quando os pais moram separados, as crianças passam um tempo com o pai, e outro com a mãe, certo?" Perguntou Karina, recebendo um aceno afirmativo.

"Mas isso é legal... Você pode dormir às vezes na casa do papai, e às vezes ele dorme em casa." Propôs Ana Clara.

"Não é tão simples, grãozinho. Como sua mãe já te explicou, eu tenho minha casa, a mamãe tem a de vocês. E é desse jeito que dá certo." Pedro bagunçou os cabelos da filha. "Então a gente teve uma ideia legal, vamos ver se você gosta."

"O papai te pega na escola, na hora do almoço, e fica com você durante toda a tarde. A noite eu venho te buscar, e nós vamos para casa. E nos finais de semana que seu pai não tiver show, você pode dormir aqui no sábado, que nem hoje."

"E você vem também?" Perguntou a menina, esperançosa.

"Não, filha. Só você e o papai." Karina explicou, acariciando o rostinho delicado.

"Então eu só posso ficar com um de cada vez? Mas eu gosto de ficar com os dois juntos." Clarinha fez bico, enquanto os pais suspiravam.

"De vez em quando nós podemos fazer alguma coisa juntos, filhota. Ir no cinema, comer lá no Perfeitão... Mas você tem que entender que eu e sua mãe não somos casados."

"Nós dois te amamos muito, meu amor, e estamos juntos quando se trata de cuidar de você. Mas isso não quer dizer que a gente vá morar junto, entendeu?"

"Tá bom..." Ela suspirou resignada. De repente, um estalo repentino. “Ai, caramba.”

“O que foi?” Perguntou Karina, enquanto a menina descia e saia correndo em direção ao quarto.

“Ela herdou a nossa loucura também?” Questionou Pedro, risonho.

“Pelo visto... Mas pode ser a convivência com você também.” Ela aporrinhou, recebendo uma careta. Logo, a menina voltou correndo, com um embrulho na mão. “Ah...”

“Eu esqueci que hoje é dia dos pais.” Explicou a baixinha, pulando nos braços do pai, abertos para esperá-la. “Era para eu ter te acordado com o presente.”

“Tudo bem, grãozinho, o papai já está feliz de estar com você.” Garantiu o guitarrista, beijando a testa dela. “Posso abrir?”

“Sim.”

Ele a apoiou melhor na perna, de modo que conseguisse usar as duas mãos para abrir o presente. Penou com o fecho do saco, um daqueles nós que as vendedoras fazem e que apenas marinheiro consegue desfazer.

“Quer ajuda aí?” Zombou Karina, recebendo um olhar feio.

“Eu posso me virar, obrigado esquentadinha.” Ela deu de ombros, enquanto ele desistia de desfazer o nó e simplesmente puxava o fecho para fora do embrulho. “Bem mais fácil.”

“Fracote.”

“Mamãe, para de zoar o papai por ser fraquinho e deixa ele pegar o presente.” Pediu Clarinha, arrancando uma gargalhada da mãe e um bico do pai.

“Poxa, filhota... Magoei agora, viu?” Ele reclamou, enquanto puxava o presente para fora do embrulho. Logo, o bico se transformou em um sorriso. “Que lindo...”

“Fui eu quem fiz. Eu pedi para a mamãe revelar a foto, e aí a vovó Dandara me ajudou a fazer o porta-retratos.” A criança explicou sorridente. “Olha, eu to de bailarina.”

“Eu to vendo... Foi o dia que a tia Bianca te deu aula de balé, não é?”

“E você me ajudou a dançar. Olha, você tá me ajudando.” Ela explicou a foto, mesmo que Pedro já soubesse o que estava retratado ali. “E eu coloquei um monte de corações e estrelas na moldura, porque eu gosto de corações e estrelas são bonitas.”

“Ficou lindo, grãozinho. Papai amou.” Afirmou Pedro, a abraçando apertado. “Obrigado, filhota.”

“De nada, papai.” Ela beijou o rosto dele. “Tem que pôr em um lugar bem bonito, tá bom?”

“Que tal ali do lado da TV?” Ela concordou, descendo da perna dele e correndo na direção do móvel. Pedro ficou a observando, até ouvir uma fungada leve. Virou-se, encontrando Karina secando os olhos. “Hum, a esquentadinha tem sentimentos?”

“Cala a boca, moleque.” Rosnou ela, fungando de novo. “É só que... Você nem imagina o quanto ela esperou por isso.”

“Eu imagino, Karina... Porque eu também esperei.” Ele não era agressivo, apenas emocionado. “E é bem melhor do que eu poderia ter imaginado.”

“Pronto.” Avisou Clarinha, correndo de volta para junto dos pais. “Eu tive uma ideia.”

“Diga, tampinha.”

“A gente pode sair juntos hoje, nós três?"

"Pode, hoje pode." Pedro respondeu prontamente, surpreendendo Karina. "Digo, se sua mãe não tiver planos."

“Hoje é domingo, a mamãe não faz nada de domingo.” Dedurou a criança, encarando a mãe, animada.

“Ana Clara.” A mais velha repreendeu a criança, suspirando logo depois. “Eu só tenho que ir jantar com o meu pai e a Bianca, mais tarde. No resto do dia não tenho nada.”

“Viva.” Comemorou Clarinha, quicando no banco. “Papai, o que você gosta de fazer?”

“Eu gosto de ir em parques de diversão, mas faz muito tempo que eu não vou em um.” Lembrou o guitarrista. “Você gosta?”

“Eu nunca fui em um.” Confidenciou a baixinha, surpreendendo o pai. “A mamãe diz que é um lugar de lembranças ruins.”

“Tristes.” Corrigiu Karina, encarando sua xícara. Pedro encarou a ex, que corou levemente. Às vezes ainda se surpreendia com o quanto sua lembrança a havia afetado àqueles anos todos.

“Bom, então acho que é hora de criarmos novas lembranças felizes... O que acha?” Os olhinhos azuis brilharam e o sorriso se abriu, fazendo-os se fechar levemente.


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Notas finais do capítulo

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