I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 26
Capítulo 25




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No dia seguinte, Pedro chegou antes do combinado à casa do amigo. Trombou com Fabi e Julinha, já que a mãe levaria a criança para ficar na Fábrica com os avós, dando privacidade ao que aconteceria ali. O guitarrista beijou e abraçou a sobrinha, mas estava emburrado com a mais velha.

"Pedro, na boa, eu to entupido de remédio... Quanto mais você fica andando de um lado para o outro, mais enjoado eu fico. E se eu vomitar, você não vai gostar mesmo." João estava acomodado no sofá, bastante pálido e apático, ainda mais depois do mal estar do dia anterior.

"Eu to ansioso, Johnny. Eu vou conhecer a minha filha em poucos minutos."

"Tenta não discutir com a Karina na frente dela, beleza? Você pode ser o ídolo dela, mas a K ainda é a mãe, e ela sempre vai tomar esse partido." O guitarrista assentiu pela centésima vez, já tendo recebido essa bronca do amigo. "E seus pais?"

"Eu não to com cabeça para conversar com ninguém sobre isso, você sabe. Conversei contigo porque baixou lá em casa, morrendo na minha porta." Os dois riram, enquanto João fazia uma leve reverência. "E falei com a Karina porque esse é o único jeito de me aproximar da Ana Clara."

"Olha, o meu caso eu até acredito, mas da esquentadinha..." O doente fez uma cara safada. "Você está esperando a esquentadinha há anos, não adianta negar."

"Agora é tudo bem diferente, João." Suspirou Pedro, levando a mão ao pescoço e puxando o cordão, começando a brincar com os anéis. "É como se esses anéis não fizessem mais sentido."

"Se esses anéis simbolizam o amor e a união de vocês, então eles fazem mais sentido do que nunca. Porque graças à filha de vocês, vocês estão mais unidos do que jamais estiveram."

"Quando você se tornou sábio e profundo?" Resmungou Pedro, contrariado.

"No dia que a enfermeira colocou a Julia no meu colo. Piorou mais ainda quando eu fiquei doente." O homem fez um tom dramático, arrancando mais risos do amigo.

"Você tá muito chapado de morfina, isso sim."

Antes que João retrucasse, a campainha tocou. Pedro engoliu em seco, caminhando até a porta e encarando o melhor amigo. Ele fez um sinal de joinha, encorajando o guitarrista a abrir.

"Pedro." Karina se surpreendeu ao ver o ex-namorado abrir a porta, e Clarinha se agarrou na perna da mãe, assustada. "Calma, filha, tá tudo bem."

"O João tá preso ali no sofá, pediu para eu abrir." Ele explicou, chateado com a reação da filha. A lutadora assentiu, dando um passo à frente e puxando a menina junto com ela, ainda agarrada à sua perna.

"Aí está a minha afilhada favorita." João tentou quebrar o clima, abrindo os braços. Clarinha correu até ele, o abraçando apertado.

"Tio João. A mamãe falou que você passou mal e foi para o hospital. É verdade?"

"É sim, mas já estou bem melhor." Ele beijou a face delicada, arrancando um pequeno sorriso. "E você? Não está animada? Você viu quem está aqui?"

"Eu vi. Mas eu acho que ele é malvado, porque ele gritou com a mamãe ontem." Ela sussurrou no ouvido do padrinho, mas Pedro e Karina ouviram. Os ombros do guitarrista caíram, enquanto a loira o encarava, penalizada.

"Ele estava preocupado comigo, baixinha. O Pedro é bonzinho, pode ter certeza. Ele é meu melhor amigo, não é? Você confia no padrinho? Então pode ir falar com ele..."

Ainda temerosa, a criança saiu do colo do tio, se dirigindo até o local onde o guitarrista a esperava, ansioso. Clarinha parou em frente a Pedro, os bracinhos atrás do corpo, os olhinhos azuis mesclando ansiedade e temor. Sua boquinha tremia, querendo se curvar em um pequeno sorriso, enquanto ele se ajoelhava à sua frente.

"Oi grãozinho de arroz."

"Do que você me chamou?" A voz doce inquiriu, fazendo o pai sorrir apaixonado.

"Grãozinho de arroz. Era o tamanho que você tinha quando eu fui embora. Você era um grão de arroz na barriga da sua mãe." Karina gelou, imaginando no que aquela conversa iria dar.

"Você conheceu a mamãe quando ela estava grávida de eu?" Pedro riu do errinho.

"Conheci. A gente se viu um dia, quando eu vim visitar o João, e ela me disse que estava esperando você." Os irmãos suspiraram mais aliviados, enquanto Clarinha ficava mais animada.

"Então você conheceu meu papai?" Um belo tapa na cara e um balde de água fria. Pedro sorriu amarelo, enquanto Karina sentia os olhos arderem e desviava o rosto. O guitarrista segurou a pequena mão entre a sua, suspirando.

"Conheci. Ele estava saindo viajar quando isso aconteceu." Ela assentiu, tristonha. A mãe fungou baixinho e ela não conseguiu ouvir. "Grãozinho, posso te pedir uma coisa?"

"Pode..."

"Me dá um abraço?" A voz embargou ao pedir aquilo, mas Clarinha não percebeu. Ela sorriu animada, abrindo os bracinhos e passando ao redor do pescoço de Pedro. Ele envolveu o tronco fino, a apertando com carinho e sentindo os olhos ficarem molhados.

Quantos anos havia sonhado com aquele abraço? Quantas vezes havia abraçado suas fãs mirins, imaginando como seria abraçar a própria filha? Quanto tempo sofrera angustiado sem aquele carinho gostoso, sem aquele amor tão puro?

Mas aquele não era o abraço que sonhava, ainda. Ana Clara estava abraçando seu ídolo, ele queria que ela soubesse que estava abraçando seu pai. Mas não podia fazer isso, bagunçar ainda mais a cabecinha da criança.

Encarou Karina por sobre o ombro magro da filha, e viu que as lágrimas escorriam discretamente por seus olhos, sendo secadas rapidamente pela moça. Pedro beijou os cabelos de Ana Clara, quebrando o abraço com sofrimento.

"O João me disse que você é muito fã da banda, é verdade?" Ela assentiu, o sorriso sempre em seu rosto. "Bom, eu trouxe minha guitarra. Tem alguma música que você queira ouvir?"

~P&K~

Quando Ana Clara se lembrasse daquele encontro, já uma moça crescida, a única coisa que lembraria era do pai sentado no sofá, dedilhando o violão e cantarolando a letra de Perdas, uma de suas duas músicas favoritas da Believe. Só no futuro descobriria que a letra daquela música havia sido escrita para ela, mas isso não faria com que a amasse menos.

Ao se esforçar muito, conseguiria lembrar do rosto de sua mãe, enquanto a segurava no colo durante a música. Seu rosto era uma máscara de emoção e tristeza, os olhos azuis mergulhados em lágrimas.

Mas aquela era a expressão de sua mãe em todas as vezes que ouvia aquela música, então poderia estar se equivocando.

A primeira imagem de seu pai, mesmo sem saber que ele era seu pai. Seu herói de infância, mesmo sem capa. E posteriormente, mesmo quando não estava no palco, arrasando com sua banda.

Pedro Ramos estava destinado a ser o herói da vida de Ana Clara Duarte Ramos, no palco ou fora dele.

~P&K~

"Eu gostei muito de você, sabia Pedro?" Clarinha estava sentada no joelho do guitarrista, alisando o instrumento musical que lhe pertencia.

"Também gostei muito de você, grãozinho. O João nunca me disse que tinha uma afilhada tão incrível." Os irmãos sentiram a alfinetada, mas tentaram ignorar.

"A gente pode sair outro dia? Minha vovó tem um restaurante bem legal, perto da academia do vovô. Se você quiser, você pode me ver treinar com a mamãe e depois a gente come na vovó." A criança contava animadamente, alheia ao mal estar que percorria o ambiente.

"Eu adoraria." Pedro beijou a cabeça dela. "Que tal semana que vem?"

"Vixe, eu não sei se a gente vai estar aqui." Ela colocou a mãozinha na cabeça, encarando Karina. "A gente vai voltar pra São Paulo no domingo, mamãe?"

"Ainda não sei, filha... Talvez a mamãe volte e você fique aqui mais uma semana, ajudando o vovô e a vovó a cuidarem do tio João." A lutadora sorriu amarelo para a filha.

"É, porque o tio João tá sempre sendo deixado de escanteio." O homem dramatizou, arrancando um sorriso da afilhada. Ela desceu do colo de Pedro, correndo até o lado do padrinho e o abraçando.

"Não precisa ficar triste, tio. Te dou quanto carinho você quiser, prometo." Ela sorriu, fechando os olhinhos e arrancando um suspiro do pai, cada vez mais maravilhado com suas semelhanças físicas.

"Dá bastante beijo babado nele, grãozinho. Enquanto isso, eu preciso conversar com a sua mãe..." Pedro se levantou, encarando Karina. A loira suspirou, levantando também, e Ana Clara se endireitou no sofá.

"Você não vai gritar com a minha mãe de novo, né?" O homem se surpreendeu com o instinto protetor da garotinha, que parecia uma ferinha.

"Não, princesa. Eu e o Pedro vamos apenas conversar." Prometeu Karina, enquanto puxava o ex-namorado pela mão, rumando para a lavanderia. "Aproveita e conta para o tio João como você caiu de skate e ralou seu joelho."

"Ela anda de skate?"

"Depois nós conversamos sobre isso, ok? Diga logo, antes que ela venha atrás e fique com má impressão de você." Pediu Karina, sussurrando.

"Você não vai levar ela de volta para São Paulo, não é?" O guitarrista questionou, irritado.

"Pedro, não é tão simples quanto você pensa, sabe? Eu trabalho, ela tem escola, tem uma vida lá... Eu não posso simplesmente vir para o Rio e deixar tudo para lá." Ela tentou ser compreensiva, mas aquela cara de birrento a tirou do sério.

"Eu já avisei que não vou ficar longe da minha filha."

"E eu já disse que não vou manter você longe dela, mas procure entender a situação. Tenho muitas coisas para resolver, como encontrar um apartamento, uma escola para ela..." Rebateu a esquentadinha. "Pedro, eu te pedi para ser compreensivo e paciente. Isso aqui é a vida real, não uma vida de rockstar, de cidade em cidade. Existem responsabilidades de verdade."

"Ela só tem seis anos, pra que a neura com a escola?"

"Ela está no primeiro ano do Ensino Fundamental, já sabe ler relativamente bem e está aprendendo a escrever." Ele se surpreendeu. "Pedro, você quer fazer parte da vida da nossa filha, e eu vou deixar... Mas você vai ter que criar responsabilidade, ou isso não vai funcionar."


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Notas finais do capítulo

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