I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 25
Capítulo 24




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"Oi Karina... Posso entrar?" Ele pediu, a voz baixa. Ela demorou alguns segundos para processar a informação, mas logo deu um passo para o lado. "Obrigado."

O interior do apartamento estava diferente do que Pedro lembrava. Era possível perceber a presença constante dos netos de Gael e Dandara ali: fosse pelos carrinhos e bonecos de Alan, fosse pelas bonecas e coisinhas cor de rosa de Julia e Ana Clara, o apartamento estava repleto com itens que denunciavam as pequenas presenças.

Karina ainda estava junto da porta, já fechada, observando o guitarrista correndo os olhos pelo local. Ele se abaixou junto a um carrinho de bonecas, acariciando o bebê de mentira que estava ali e suspirando.

"O que você quer, Pedro?"

"Conversar." Ele se levantou, virando para ela.

"Você vai gritar? Porque a Clarinha acabou de dormir, e ela ainda está um pouco assustada com a cena de hoje à tarde." Ele se sentiu mal ao ouvir aquilo, imaginando que a própria filha teria medo dele.

"Eu não vou mais assustar ela, eu prometo." Karina assentiu, indicando que ele sentasse no sofá. Tirou alguns bonecos do pufe, assumindo o lugar. Ficou esperando que ele dissesse algo, mas o silêncio imperou. "Não sei por onde começar."

"Diz o que tá na sua cabeça, sei lá." Era estranho dois adultos de 26 anos agindo como dois jovens de 16 que acabam de se conhecer. Talvez fosse assim que se sentissem: aqueles dois jovens que se trombaram e começaram a brigar logo de cara.

"Eu to magoado, Karina, muito magoado. Eu sei todos os erros que eu cometi, mas não acho que nenhum deles justifica o que vocês fizeram, nem mesmo o acidente. Você podia se afastar, mas me deixar carregar a culpa de ter matado a nossa filha por todos esses anos, não foi certo." Ele começou, mexendo nas mãos nervosamente. "E eu quero pedir desculpas."

"Pelo que, Pedro?"

"Por tudo." Ele se levantou, caminhando até ela e ajoelhando à sua frente. "Por ter sido um babaca, por ter colocado a vida de vocês em perigo, por não ter estado do seu lado nessa hora... Por ter te deixado com uma impressão tão ruim sobre mim, que só de ver a notícia do acidente da van da banda, você já achou que fosse eu, e ficou em risco de novo, você e a nossa filha."

"Quem te contou isso?" Ela parecia mortificada, e ele quase sorriu.

"O João foi lá em casa, a gente conversou bastante." O guitarrista explicou, vendo-a assentir. "Karina, eu te juro que eu nunca quis nada disso. E você pode não acreditar, nunca ter acreditado, mas eu queria muito a nossa filha."

"Eu sei, eu sempre soube." Ela deu de ombros, tentando disfarçar a vontade de chorar. "Quando eu te acusei, eu fui injusta, mas eu tinha que te fazer acreditar."

"Me deixa ser o pai dela, por favor." O pedido pegou a lutadora surpresa, não esperando que ele fosse tão direto. "Eu já perdi quase sete anos da vida dela, não quero perder mais nada."

"Pedro, isso é complicado." Ela levantou, se afastando dele. "Eu não posso simplesmente chegar e falar esse é o seu pai. Ela não é mais um bebê, ela já entende as coisas, e isso vai deixar ela confusa."

"Eu não vou permitir que você me mantenha afastado dela."

"Não afastado, mas não vamos contar logo de cara, entende?" Ele ficou confuso. "Ela te idolatra, Pedro, como músico. Você é o herói dela, ela ama te ver tocando. Nós podemos te apresentar para ela, você vai se aproximando aos poucos, e quando for a hora, nós contamos a verdade."

"Se você acha que é o melhor para ela..." Ele suspirou. "Eu posso... Eu posso ver ela?"

"Agora?"

"Eu sei que ela está dormindo, eu só quero ver ela."

A porta do quarto se abriu lentamente, com o cuidado e a delicadeza que só uma mãe tem para não acordar seu filho. Karina deu passagem para Pedro, que entrou com cuidado, já desacostumado com a organização daquele lugar, agora repleto de brinquedos.

Na cama de casal, Ana Clara dormia no centro, de bruços, as costas aparecendo pelo pijama cavado. A mãe a arrumou, cobrindo suas costas e vendo-a se ajeitar melhor na cama. Virou-se para Pedro, que observava tudo maravilhado.

"Ela parece tão pequena..." Ele suspirou, se aproximando devagar. Ajoelhou ao lado da cama, seu rosto ficando na altura do da filha.

"Ela não cresceu tanto na minha barriga, e nasceu um pouco prematura. Mas não é nada preocupante, ela só vai ser um pouco baixinha." A lutadora explicou o que já havia perguntado ao médico dezenas de vezes, vendo ele assentir.

"O rosto dela é igual o meu... Ela parece comigo." Pedro constatou finalmente, sorrindo largamente.

"Todo mundo fala isso... Só servi para carregar." Karina não conseguia evitar sorrir e se sentir leve, mesmo ainda temendo o que poderia vir a acontecer. "Quando ela sorri, o olhinho dela fecha, que nem o seu."

"É do jeito que eu imaginava." Ele suspirou, fungando levemente. Se inclinou com cuidado, depositando os lábios nos cabelos castanhos iguais aos seus, num beijo longo e delicado. "Meu grãozinho de arroz."

A lutadora secou os olhos discretamente, se levantando e afastando da cama. Deixou Pedro ter um momento a sós com Clarinha, enquanto ela mesma pensava no que iria falar para ele. Precisava falar algo, mas não sabia o que.

"Acho que eu já vou..." Ela assentiu, rumando para a porta do quarto com ele. "Boa noite, filha."

Seguiram em silêncio pelo caminho até a sala, cada um imerso em seus próprios pensamentos.

"Quando eu posso ver ela?" Perguntou Pedro, virando de repente. "Eu concordo em não contar por enquanto, mas eu quero ver ela, quero conhecer ela."

"Amanhã à tarde eu vou com ela na casa do João, aparece por lá. Ela é sua fã, lembra? Até lá já esqueceu da cena de hoje e vai estar louca para te conhecer." Ele assentiu, um pouco chateado ainda. "Pedro, eu... Desculpa."

"Pelo o que, Karina?"

"Por ter feito isso. Eu não me arrependo, eu fiz o que eu achei ser melhor para a Clarinha, mas eu sei o quanto isso te trouxe sofrimento. E eu nunca quis te fazer sofrer." Ela estava com a garganta apertada, tremendo. "Eu não espero e nem quero que você simplesmente me perdoe, porque você tem razão e direito em ficar chateado. A Clarinha tem te esperado por todos esses anos, e eu quero poder entregar o pai que ela sempre quis. Mas eu vou ter que abusar da sua boa vontade e pedir que, realmente, respeite o tempo que eu achar que ela precisa."

"Você tem decidido o que é melhor para ela há sete anos, sem me dar chance de opinar. Por que agora seria diferente?" Ele deixou o comentário ácido vir à tona, enquanto Karina baixava os olhos. "Eu vou ter paciência, Karina, por ela. Porque eu não quero mais confusões na cabeça da minha filha. E quando chegar a hora, nós vamos resolver essa situação."

"Isso é uma ameaça?" Ela sentiu o tom implícito na voz dele. "Você não ousaria tentar tirar minha filha de mim, não é?"

"Eu nunca te manteria afastada dela, por mais errada que você tenha sido. Não farei o mesmo que você fez comigo. Mas eu sou o pai da Ana Clara e vou exigir meus direitos como tal." A lutadora assentiu, novamente consternada. "Te encontro no João amanhã, às 15h."

E dizendo isso, rumou para a porta da frente e saiu, deixando a loira sozinha no meio da sala, com o misto completo de emoções. Pedro chegou manso; foi gentil e educado; pediu desculpas... Mas que ela mereceu a rudeza e grosseria dele ao final da conversa, isso Karina tinha que reconhecer.

Pedro na verdade não havia pretendido ser rude ou grosso com a ex-namorada. Após a conversa com João e de um bom tempo ainda para se acalmar, havia decidido ir conversar com Karina de maneira tranquila, pensando no que seria melhor para todos.

Já fora um moleque babaca e estúpido uma vez, e estava colhendo os frutos da situação.

Porém, ao ver a filha ali, adormecida; ao analisar seus traços e semelhanças, constatar a pequena perfeição que ela era; sentir seu coraçãozinho batendo ao colocar a mão em suas costas; Pedro percebeu abruptamente o quanto daquela vida havia perdido.

Não a havia segurado nos braços ao nascer. Não a virá sorrir, andar, falar. Não acalentara seu choro nas madrugadas longas e complicadas, nem pôde segurar sua mão rumo ao primeiro dia de aula. Não sabia seus desenhos, comidas, cores favoritas.

Sua filha era a pessoa que mais amava no mundo, e não sabia absolutamente nada sobre ela. Isso seria aceitável se ela houvesse acabado de nascer, mas não com ela prestes a completar seu sétimo ano de vida.

Deixou todo o ressentimento vir à tona e o resultado foram os ataques à Karina, a atitude de animal pronto para o bote. Jamais faria algo que magoasse a ex-namorada ou a filha, mas vê-la sentir medo o dava uma sensação gostosa.

"Você está se vingando da Karina, Pedro. Isso é uma atitude babaca e que pode te afastar da sua filha." Lembrou à si mesmo, quando já entrava no carro. "Esquece a raiva e pensa nela, só nela."

Sua miniatura, sua pequena cópia, mas com os olhos que ele mais amava no mundo. Sua filha era tão linda e perfeita quanto ele havia imaginado em todos aqueles anos. E queria conhecê-la logo, só para ter certeza de que tão incrível e maravilhosa também.


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Notas finais do capítulo

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