Love or not Love? escrita por EuSemideus


Capítulo 23
XXll


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa pela demora, mas eu tava muito enrolada esse fim de semana. N deu msm.
Espero q gostem do cap!



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XXII

Annabeth

Annabeth revirou os olhos ao ouvir a buzina atrás de si. De pouco adiantava tal ato, ela não estava parada em plena tarde de terça-feira por opção própria. O engarrafamento abrigava-a a isso. Olhou as horas, já um tanto irritada com o possível atraso forçado. 2:40 pm. Ainda tinha vinte minutos.

Saíra de seu trabalho poucos minutos antes. Ainda vestia o terninho cinza, junto de um blusa social. Porém seus cabelos, antes presos em um coque bem arrumado, naquele momento caiam em ondas por seus ombros, deixando a loira mais a vontade.

Annabeth fez um busca rápida no carro, procurando uma garrada de água perdida por entre os bancos. Estava realmente com sede. De fato, encontrou uma, mas, junto dela, um cachorro de pelúcia. Sorriu ao vê-lo, lembrando-se a que pertencia e de como aquela cena, tão inusitada para ela, tornara-se comum.

Fazia pouco mais de um mês que Melany passara a morar com ela e Percy em seu apartamento. A pequena se adaptara com facilidade a nova vida. Visitava, quase que semanalmente, suas "avós" e tia Mary, além de que criara uma amizade impressionantemente grande com Connor, que, apesar de cinco anos mais velho, compartilhava de tal sentimento para com a loirinha.

Annabeth e Percy revezavam-se para pega-la na escola e cuidar da menina. Normalmente os três só estavam juntos durante a noite e pela manhã, antes que um deles saísse para seus compromissos.

Outro que havia acolhido Melany con todo carinho, fora Blackjack. O filhote, que tinha crescido consideravelmente desde que chegara a casa, tornara-se uma espécie de cão de guarda e companheiro para todas as horas de Mel, o que era um tanto bonito de se ver.

Annabeth foi tirada de seus pensamentos pelo barulho de seu telefone, que ecoava pelas caixas de som do carro. Deixou a garrafa de água, já vazia, de lado, e apertou um botão no volante, atendendo a ligação. O celular estava conectado via Bluetooth ao carro, de modo que a foto da pessoa que ligava aparecia no pequena televisão do painel. Annabeth sorriu e tocou seu colar ao ver quem era, antes mesmo de ouvir a voz.

– Annie?

– Olá, Perseu - ela respondeu.

Como que por mágica, o trânsito começou a andar. Fazendo a garota comemorar internamente.

– Querida, consegui sair mais cedo do hospital, já estou no carro - contou ele - Quer que eu pegue Melany na escola?

A loira sentiu um peso em seu coração ao notar o cansaço explícito na voz do namorado. Percy acabara por pegar um plantão de 24hs seguido de consultório. Em resumo: estava há mais de um dia trabalhando sem descanso.

– Vá para casa - ela pediu - Eu vou pega-la.

Annabeth pode ouvir Percy suspirar do outro lado da linha.

– Eu estou bem, Annie - afirmou o rapaz - Se você estiver enrolada, posso ir até a escola.

Annabeth não pode deixar de sorrir com a atitude do namorado. Ele estava muito mais cansado que ela, mas mesmo assim não deixava de coloca-la em primeiro lugar. Porém, a loira também o punha lá.

– Estou a duas ruas da escola, Percy - ela disse, já apelando ao chama-lo pelo apelido, coisa que ela nunca fazia por telefone - Vá para casa e durma, prometo te acordar antes que anoiteça.

– Bem, se é assim, tudo bem - ele cedeu por fim - Não me deixe dormir mais do que duas horas, tudo bem? Quero dormir à noite.

– Certo - ela afirmou, mais aliviada - Até.

– Até, querida - ele disse antes de desligar.

Annabeth suspirou, vendo o trânsito cada vez mais ágil. Logo girou o volante, entrando na rua que procurava.

A escola de Melany era... Diferenciada. Fora o próprio chefe de Annabeth que a indicara, dizendo que suas filhas haviam estudado lá desde pequenas. A disciplina era essencial para a permanência no estabelecimento, e a política era "tradicionalismo".

Mel ficara um tanto nervosa. A pequena nunca tinha pertencido, realmente, a uma escola. No orfanato, uma professora costumava ir até lá cinco dias por semana pela manhã, para ensinar as crianças pequenas. Por conta disso, Melany estava um tanto apreensiva com suas notas, tais das provas que fizera na semana anterior.

As amizades, graças a Deus, não haviam sido um problema, já que Marcia e Eduarda, as gêmeas que costumavam visitar o orfanato, por coincidência estudavam na mesma escola, e na mesma turma, que a loirinha.

Annabeth, em um golpe de sorte, conseguiu estacionar o carro em uma vaga de frente para os grandes portões de ferro. Deixou o veículo somente com sua bolsa e sorriu para o porteiro, que jazia em sua cabine e via-a por um vidro.

– Boa tarde, Sra. Jackson - ele cumprimentou pelo microfone, abrindo o portão automático.

Annabeth sorriu encabulada, mas nada disse. Não adiantaria, de qualquer maneira. Desde que ela e Percy haviam ido até lá fazer a matrícula de Melany, o porteiro, John, se referia a eles como a "Família Jackson". Tanto o moreno quando a loira já haviam explicado diversas vezes que eles não eram casados e que Mel não levava o sobrenome do rapaz, mas o senhor simplesmente dizia "Moram juntos e tem uma filha, para mim isso é casamento".

– Boa tarde, John - cumprimentou ela, adentrando.

Caminhou pelo pátio, cercado por uma espécie de jardim. O chão era de blocos de concreto octogonais e, espalhados pelo espaço, haviam alguns brinquedos, como escorregas, gangorras e balanços. Assim que chegou a frente da escada principal, onde algumas mães já esperavam, o sinal soou.

Segundos depois uma multidão de crianças atravessava as portas. Assim que a viu, Melany sorriu e fez que ia correr, porém Annabeth lhe lançou um olhar reprovador, fazendo a menina sorrir e descer as escadas calmamente.

O uniforme de Mel se resumia a uma blusa branca com o símbolo da escola sobre o peito e detalhes em marrom, além uma saia de prega, quadriculada em tons de marrom e bege (N/a: acabei de notar que estou quase descrevendo minha escola...).

A pequena, além da mochila nas costas, carrega alguns papéis na mão.

– Mamãe! - ela gritou abraçando Annabeth - Eu tirei dez! Eu tirei dez, mamãe!

A loira sentiu seu coração parar por alguns segundos. Sabia que Melany referia-se a ela como sua mãe, mas nunca tinha chamado-a, propriamente, daquela maneira, assim como nunca chamara Percy de pai. Os dois não realmente se importavam, cada coisa no seu tempo, pensavam. Mas ali, ouvindo-a chama-la de "mamãe", precisou segurar as lágrimas.

– Parabéns, minha linda! - disse Annabeth se recuperando da surpresa e acariciando os cachos da pequena - Do que você me chamou?

Melany se afastou um pouco e a olhou em dúvida.

– Mamãe? - disse em dúvida.

Annabeth sorriu ainda mais e abaixou-se na altura da menina, a abraçando.

– Isso, /minha filha/ - ela disse dando ênfase - Mamãe.

A pequena sorriu, claramente satisfeita.

– Agora, deixe-me ver isso - pediu Annabeth, pegando as provas e se levantando.

Sorriu ao notar que as notas de sua pequena haviam sido todas a cima de 9,0 e a gabaritada, matemática. Porém uma coisa chamou sua atenção. O nome de Melany. Este, escrito com um letra insegura e estremecida, porém completamente legível e até bonita, estava acompanhado não só de Chase, mas de Jackson também.

– Mel, você sabe que não tem o sobrenome de seu pai, não é? - perguntou Annabeth preocupada.

Melany abaixou a cabeça, fitando seus pés.

– Sei... - ela murmurou.

– Então por que ele está aqui? - indagou a loira mais velha, sem saber o que esperar da resposta.

– Desculpa, mamãe. Mas é que eu disse que o meu sobrenome era o seu, daí uns meninos começaram a implicar comigo, dizendo que eu não tinha pai - a pequena levantou os olhos e a fitou - Eu disse que tinha, e a Marcia e a Eduarda me ajudaram, mas eles não acreditavam. Aí eu disse que também tinha o sobrenome dele...

Annabeth suspirou, entendo a situação e pensando rapidamente no que falar.

– Eu sei porque não tenho o sobrenome do papai, mas eu queria ter, sabe? - explicou Melany - Um dia eu vou ter, não vou?

Annabeth levou a filha até um dos bancos e a duas se sentaram. Fitou bem os olhos da menina, que, por um momento, pareceram ser os de Percy. A garota logo tirou aquele pensamento da cabeça e respirou fundo.

– Minha pequena, eu não sei - contou Annabeth, sincera - Eu realmente espero que sim, mas não posso te dar certeza. Eu não vou te proibir de dizer que esse é o seu nome - afirmou a mais velha, apontando para o exame - Pois ele é, pelo menos no coração. Mas até ele ser oficialmente, você não pode escreve-lo em documentos, e essa prova é um documento. Você entende?

– Tudo bem - disse a menina, de cabeça a baixa.

Annabeth sentiu seu coração apertar ao notar que ela ainda estava triste, mas então teve uma ideia.

– Mas nós podemos fazer uma coisa para esses meninos pararem de te perturbar - contou ela, com um sorriso divertido - E tenho certeza que seu pai vai ajudar. Afinal, mesmo que ele não fale nada, esses meninos aí vão morrer de medo.

Melany riu, ou melhor, gargalhou, provavelmente imaginando a cena. Annabeth acabou sendo contagiada e acompanhou a menina, só sendo interrompida minutos depois, por uma supervisora da escola.

– Com licença, senhora Chase - pediu a mulher - Mas a diretora pergunta se a senhora pode ir até a sala dela para conversarem.

Annabeth fitou Melany, que lhe lançou um olhar que claramente dizia "Eu juro que não fiz nada!". Por fim, suspirou e assentiu.

– Claro, sem problemas - afirmou - Melany precisa ir comigo?

A mulher sorriu.

– Acredito que não - disse ela.

Annabeth assentiu e fitou a pequena.

– Pode ficar aqui fora brincando com seus amigos - falou Annabeth - Se eles forem embora antes de eu voltar ou acontecer alguma coisa, vá até a sala da diretora e bata na porta, tudo bem?

Mel afirmou com cabeça.

– Ta bem, mamãe.

Annabeth sorriu novamente com o "mamãe". Achava, sinceramente, que nunca se acostumaria com aquilo.

Logo já estava no interior da escola e atravessava um dos muitos batentes de madeira. A sala era estilo rústica, com móveis antigos de madeira maciça. A única coisa que destoava, era a própria diretora. Ao contrario do que se especiaria, ela era uma mulher de no máximo 30 anos e um tanto bela. A pele branca e os cabelos ruivos contrastavam lindamente, além de serem complementados por lindos olhos verde-amendoados e um corpo esbelto.

– Olá, Annabeth - disse ela formal - Como está?

– Olá, Ártemis - cumprimentou a loira - Bem, e você?

As duas já haviam sido apresentadas pouco mais de um mês antes, quando Annabeth e Percy haviam matriculado Mel. Na ocasião, todos os três haviam deixado bem claro que preferiam ser chamados pelo primeiro nome, o que era um tanto mais confortável. O moreno, naquele dia, e sempre que via a ruiva, afirmava conhece-la de algum lugar, mas nunca propriamente se lembrava de onde.

– Muito bem, obrigada - agradeceu Ártemis - Mas acho melhor irmos direto ao assunto.

Annabeth sorriu e sentou-se. Ela preferia assim, sem muitos rodeios.

– A professora de Melany comunicou-me que ela insistiu em escrever na prova seu próprio nome acompanhado do sobrenome de Percy. Porém, em nenhum dos documentos o nome "Jackson" consta como pertencente a ela.

Annabeth assentiu, já um tanto aliviada por saber que não fora nenhum problema de comportamento ao má educação, mesmo que tais não fossem do feitio de Melany. A loira explicou a situação a Ártemis e o acordo que tinha feito com a pequena. A diretora concordou, sem grandes argumentações, provavelmente entendendo a situação.

Minutos depois o assunto já havia mudado e as duas mulheres conversavam animadamente. Ártemis, apesar de normalmente manter o ar sério, era muito simpática e falante. O diálogo entre as duas foi mantido de tal maneira que Annabeth mal viu o relógio correr. Quando se deu conta, Melany já estava sentada a seu há um bom tempo e puxava sua blusa, pedindo atenção. A loira mais velha a fitou, como se esperando algo mais.

– Licença - disse a menina, corada por ter esquecido, mas, mesmo assim, fazendo Ártemis sorrir - Eu achei o papai e o tio Nico nessa foto.

A loirinha apontava para um fotografia em um porta retrato, tal que Annabeth nunca tinha notado. Provavelmente, era recente. Do contrário a garota, que era um tanto observadora, já a teria visto. A foto tratava-se de um grupo de médicos à frente de um hospital, esse que Annabeth logo identificou como o Alfa, onde Percy trabalhava. Correu os olhos rapidamente pela foto e logo encontrou o inconfundível sorriso de Perseu, ao lado de um Nico parecendo entediado.

– São os colegas de trabalho de meu marido - contou Ártemis, pegando a foto e apontando uma pessoa em específico - Aqui está ele.

A ruiva indicava um homem loiro de olhos claros e pele quase que dourada. Ele usava jaleco, como todos os outros, era jovem, provavelmente com a mesma idade que a própria Ártemis, e muito bonito.

– Perseu e nosso amigo, Nico, estão bem aqui - revelou a loira apontando - Não sabia que seu marido trabalhava no Alfa.

– Apolo se formou muito cedo, era quase um menino prodígio - disse Ártemis com um sorriso que Annabeth nunca tinha visto - O Alfa foi seu primeiro e único hospital. Hoje ele é chefe do CTI.

Annabeth arregalou os olhos, impressionada. O rapaz deveria ser realmente alguém excepcional. Chegar a chefe de um setor era difícil, com tão pouco idade então.

A garota sentiu seu telefone vibrar e o olhou rapidamente. Não era nada mais que uma mensagem da operadora, mas o que chamou sua atenção foi o horário. Passara mais de uma hora conversando com a diretora.

– Ártemis, preciso ir - disse Annabeth - Muito obrigada por tudo.

A ruiva sorriu e se levantou para cumprimenta-la.

– Não foi nada, Annabeth - garantiu ela - Até.

Annabeth sorriu e pegou a mão de Mel, que também se levantou.

– Tchau, tia Ártemis - disse a pequena.

– Tchau, Melany - acenou a ruiva.

O caminho para casa fora rápido e tranquilo. Annabeth conseguira evitar a avenida principal, fugindo, assim, do tradicional engarrafamento. Logo estava em casa. Encontrou-a silenciosa, como o esperado, e pediu para que Melany trocasse de roupa em silêncio. A loira mais velha nem mesmo chegou a entrar no quarto para mudar a sua própria. Pegou uma muda qualquer que estava limpa na lavanderia e trocou-se ali mesmo.

Estranhou não encontrar Blackjack pelos cômodos principais, mas acabou deixando para lá. Olhou pela janela e notou que sol já baixava. Estava na hora de acordar Percy.

Encontrou Mel na sala e nem precisou dizer nada. A menina sorriu e se levantou, seguindo-a. Annabeth abriu a porta do quarto silenciosamente, encontrando-o escuro por conta das cortinas cerradas e luzes apagadas. Percy dormia tranquilamente na cama. Vestia somente um short verde musgo e estava descoberto, com um dos braços sobre o rosto.

Melany subiu na cama, ficando de joelhos ai lado do rapaz. Annabeth sentou na beirada, do outro lado. Tirou a mão de Percy que jazia em cima de deu rosto e viu sua expressão tranquila. Sorriu e, com carinho, tirou alguns fios de cabelo que caiam sobre a testa do moreno. Ele parecia tão calmo e sereno. A loira chegou a cogitar não acorda-lo.

Annabeth foi tirada de seus pensamentos ao sentir algo peludo em seus pés. Olhou para o chão e viu Blackjack a fitando, deitado ao pé da cama. A garota sorriu e passou o pé sobre a cabeça do filhote, que não parecia mais um filhote tanto assim. O cachorro fechou os olhos e abanou o rabo, feliz com o carinho.

Annabeth sorriu e voltou a atenção para o namorado. Passou os dedos pelos cabelos do rapaz e sussurrou:

– Perseu.

O moreno sem mesmo se mexeu.

– Perseu - ela chamou novamente - Vamos, já está na hora de acordar.

Percy trocou a posição das pernas, mas não pareceu inclinado a abrir os olhos.

– Vamos, acorda - disse Mel.

Annabeth olhou para a menina e viu que ela passava os dedos pelos cabelos do rapaz, assim como a loira mais velha fazia. A garota ficou impressionada com cena. Não tinha ideia da influência que exercia sobre aquela menina. Precisava tomar conta do que falava, ou fazia. Quais eram as possibilidades de ela aprender algo de errado porquê viu a mais velha fazendo?

Annabeth espantou os pensamentos e abaixou-se, colocando o rosto ao lado do de Perseu. O perfume natural do rapaz a inebriou, relaxando casa músculo de seu corpo e fazendo-a sentir-se, finalmente, em casa. A loira posicionou a boca rente ao ouvido do namorado, com uma das mãos sobre o peito desnudo dele, exatamente sobre o coração.

– Percy - disse num tom que só ele ouviria - Acorde.

Annabeth sentiu o peito de Perseu subir e descer vagarosamente uma última vez. A respiração do rapaz se tornou mais curta e os batimentos aceleraram. A garota ergueu o corpo e fitou-o a tempo de vê-lo abrir os olhos.

– Oi - disse Melany, ainda inclinada sobre ele.

Percy sorriu e abraçou-a, fazendo-a cair sobre seu peito e causando uma gargalhada na menina.

– Olá, minha princesa - ele disse com a voz ainda rouca de sono. Então virou-se para Annabeth e sorriu, segurando sua mão com a mão livre - Olá, minha rainha.

Annabeth corou violentamente e desviou os olhos. Quando se deu conta, Percy a havia puxado, fazendo-a deitar na cama ao seu lado, e a abraçava. A loira acabou por descansar a cabeça sobre o peito do namorado, vendo que sua filha fazia o mesmo enquanto conversava animadamente com o moreno. Ela respirou fundo e sorriu. Quem diria que um dia ela teria uma família?

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Percy

Haviam sido dois meses. Somente um mísero bimestre, mas para Percy parecia muito mais. Mal se lembrava de como era viver sozinho e não conseguia imaginar uma maneira de voltar àquela realidade. Parecia um passado tão remoto e distante...

Sua vida virara do avesso de vez com a chegada de Mel, nos tais dois meses antes. Estava sempre querendo chegar em casa rápido para ficar mais tempo com suas garotas. Já se acostumara a traçar, quase todas as manhãs, o trajeto para a escola da pequena, e algumas vezes à tarde também. Quando dera por si, já havia uma foto de Annabeth, Melany e Blackjack juntos no sofá, na mesa de seu consultório. Algumas senhoras que eram suas pacientes desde o início, brigaram com o rapaz por nunca ter dito que era um homem chefe de família. Outros se impressionavam ao ver a fotografia. Mas uma coisa era unanime. Ninguém deixava Percy explicar a verdadeira situação. A única que nada perguntara fora Margareth, que só sorrira e pedira para dizer-lhe quando fazer a torta de maçã.

Mel, apesar de adotada, tinha a aparência muito semelhante ao casal. Não havia quem negasse que ela era filha dos dois. Os cabelos loiros e nariz fino lembravam Annabeth com facilidade, enquanto os olhos verdes, mesmo que em diferentes tons, e as covinhas nas bochechas, reportava-se diretamente a Percy.

Seus pais haviam amado-a a primeira vista, assim como os pais de Annie e toda a família. Melany conquistara o coração de todos andes mesmo de dizer uma única palavra. Além disso a pequena acolhera todos como parte de sua família, ignorando o fato de não terem nenhuma ligação sanguínea com ela. Até mesmo os chamava pelos graus de parentesco que teria sendo filha de Percy e Annabeth.

Bem, quase todos. Fazia duas semanas que Mel passara a chamar Annabeth de mamãe. Percy sabia que a loirinha se referia a ele como "pai", mas nunca ouvira aquela palavra saída da boca da menina. Não a pressionava, ou coisa do tipo, mas esperava ansiosamente que ela o chamasse de tal maneira. Desde que Annabeth passara a ser a "mamãe", ele havia se tornado o "você" e as vezes "senhor". Melany abolira qualquer vocativo que antes usava com o rapaz.

Percy estacionou o carro e logo viu o manobrista se aproximando. Aquela figura era nova no prédio. Ele trabalhava quase todos os dias, das 7 da manhã às 10 da noite. Claro que não era sempre mesmo, mas, sem dúvidas, tornara-se um grande facilitador.

O rapaz saiu do carro e entregou a chave para o manobrista, com um aceno em agradecimento. Então deu a volta e abriu a porta traseira. Melany, que já havia se livrado do cinto de segurança que prendia a cadeirinha, esperava-o para conseguir deixar o veículo.

Eles haviam comprado a cadeirinha logo depois de Mel passar a morar junto deles. Era lei, afinal. Porém ela fazia com que a menina ficasse muito longe do chão. Assim Melany era obrigada a pular para a calçada ou esperar que alguém a ajudasse a descer. Apesar de a pequena preferir a primeira opção, Percy e Annabeth sempre optavam pela segunda. Mesmo que mais trabalhosa, era a mais segura.

Logo a menina já estava no chão e o moreno carregava sua pasta em um ombro e no outro a mochila dela. Melany fazia duas aulas extras na escola, que foram de sua própria escolha, ballet e Francês. Nesses dias ela saia pouco mais tarde que o normal, e era exatamente quando Percy estava encarregado de pega-la.

Naquele dia, em questão, ela saíra do ballet. Seus cabelos loiros estavam presos em uma coque coberto por um rede rosa bem clara, com somente alguns fios rebeldes soltos. Tal que tinha sido feito por Annabeth naquela manhã. A pequena vestia um colan da rosa bebê e meias calças na mesma tonalidade. Além, é claro, das sapatilhas quase brancas.

– Vamos, minha bailarina - chamou Percy.

A pequena sorriu e subiu os degraus que levavam até a portaria do prédio saltitando, com o rapaz atrás, sorrindo para a cena.

Foi quando tudo deu errado.

Percy viu tudo em câmera lenta.

Melany pisou muito na beirada do terceiro, e último, degrau, desequilibrando-se. O moreno, notando tal coisa, apressou-se para segura-la. Ele só olhava para a loirinha a sua frente, que tentava a todo custo não cair. Não percebeu que o degrau era alguns centímetros mais a frente. Quando se deu conta, somente a ponta de seu pé estava na próximo degrau, fazendo com que este escorregasse e batesse no anterior com muita força. Percy imediatamente não conseguiu se firmar naquela perna e caiu, rolando até a calçada.

Melany, que por fim havia conseguido se equilibrar sozinha, virou para trás com o barulho da queda. Ela o fitava apavorada, sem entender muito bem o que tinha acontecido.

Percy tentou se levantar, mas logo notou que não conseguiria. Uma dor excruciante atingia sua perna esquerda. Ele havia quebrado, tinha certeza.

– Princesa - chamou, tentando esconder a dor - Peça para o porteiro chamar sua mãe, certo?

A pequena assentiu, já com os olhos cobertos por lágrimas, e correu para dentro.

No fim das contas, Percy havia caído por nada. Melany conseguira se virar sozinha. Porém não se arrependia do que tinha feito. Se ela não tivesse conseguido, teria batido a cabeça na quina do degrau. Talvez até acarretado um pequeno traumatismo craniano. Não valia à pena o risco.

Percy sentou-se, com alguma dificuldade, e viu Melany chegar. Ela estava preste a correr até ele, mas então parou e olhou para escada. Pelo jeito a pequena já havia entendido o que acontecera. A loirinha desceu vagarosamente e se jogou sobre o rapaz, abraçando-o. Percy a trouxe para seu colo e sentiu lágrimas molharem sua blusa.

– Ei, está tudo bem - ele garantiu - Eu vou ficar bem.

Naquele momento, Ben, o porteiro, pareceu.

– Sr. Jackson! - exclamou se aproximando - Quer que eu ajude o Sr. a levantar?

Percy negou, ainda abraçado a Melany.

– Por enquanto não, mas quando Annabeth chegar, sim. Obrigada - disse ele - Mas, você poderia levar essas bolsas para dentro?

Percy indicou sua pasta e a mochila de Melany, caídas ao seu lado.

– Claro, Sr. Jackson - afirmou Ben, fazendo o solicitado.

Assim que o homem sumiu pela porta de entrada, um soluço alto entrou pelos ouvidos do rapaz.

– De-Desculpa-a - disse Mel, finalmente tirando a cabeça de sua blusa.

Percy preferiu que ela não o tivesse feito. Seu rosto, de branco, passara para vermelho, assim como os olhos. As lágrimas, incessantes, manchavam a pele macia da menina. E seu queixo tremia, por conta do choro.

– Desculpa, papai - ela falou, voltando a enterrar a cabeça na blusa do rapaz.

Aquela frase ecoou pelos ouvidos de Percy. Ele podia ouvi-la de novo e de novo. Seu peito se aqueceu e um sorriso involuntário tomou conta de seus lábios. Só mesmo aquela criaturinha para lhe fazer sorrir num momento como aquele.

– Oh, meu anjo - ele disse acariciando as costas da menina - Não foi sua culpa. Mas eu te perdoo se você repetir o que disse.

Mel o fitou perdida, o choro já diminuindo consideravelmente.

– Desculpa? - tentou.

Percy negou com a cabeça, o sorriso ainda nos lábios. Melany sorriu e olhou nos olhos.

– Papai - disse confiante.

– Isso mesmo, princesa - disse abraçando-a mais forte.

– Oh, Deus - ele ouviu uma voz muito conhecida dizer.

Percy levantou a cabeça e fitou Annabeth, que o olhava completamente desnorteada.

– Percy! - ela disse correndo até ele, e esquecendo-se que haviam pessoas a sua volta - Mas o q...

– Depois te explico - ele garantiu - Agora precisamos ir para o hospital. Vou ter de engessar essa perna.

Annabeth assentiu e se aproximou, dando-lhe um beijo rápido e acariciando a cabeça da filha, que simplesmente se recusava a desgrudar-se do... Bem, do pai.

– Já volto - ela garantiu, correndo para dentro.

Percy sentiu os soluços de Melany cessarem e beijou-lhe os cabelos. Naquele momento, teve certeza. Cair da escada não era nem um quinto do que ele seria capaz de fazer por ela.

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Thalia

– Thalia, você tem certeza que esse Nicholas é um bom rapaz? - perguntou seu tio pela terceira vez.

A garota revirou os olhos, segurando o telefone contra a orelha.

– Sim, tio Júpiter. Eu tenho certeza - repetiu ela.

Tio Júpiter era gêmeo de seu pai, Zeus. Os dois seriam idênticos na aparência, se os olhos de seu tio não fossem de um azul bem mais claro que os de seu pai. Porém, em questão de personalidade, eles eram opostos.

– Tudo bem, minha filha - ele disse conformado - Eu queria tanto estar aí, com você. Mas não posso deixar a empresa agora. Por favor, me avise quando esse pequeno estiver para nascer.

Thalia sorriu. Seu tio era sempre tão carinhoso e atencioso. Mesmo antes da garota passar a morar com ele, ainda com seus 14 anos de idade, o homem já se preocupava com seu bem estar. Ligava dia sim dia não para saber do estado de saúde de sua mãe - que normalmente estava bêbada ou em crise de abstinência -, suas notas na escola, se seu pai tinha aparecido alguma vez em casa naquela semana...

– Não se preocupe, tio, ainda tenho uns bons três meses de gestação - explicou ela - Por favor, não diga nada a Zeus, não o quero se metendo em minha vida.

Thalia pode ouvir seu tio suspirar do outro lado da linha.

– Thata, ele é seu pai - disse Júpiter, usando seu apelido de criança - Querendo você ou não, é avô dessa criança. Ele tem direito de saber. Você não tem ideia do quanto ele me pede para dizer onde você está.

Thalia fechou os olhos, segurando a emoção. Seu filho se revirou dentro de seu ventre, fazendo-a acaricia-lo levemente, na intenção de acalmar o menino.

– Ele devia ter pensado nisso antes de me deixar sozinha com uma mãe fora de si - respondeu ela, com voz embargada - E depois que ela morreu, ele se casou com aquela mulher horrorosa que me odeia. Zeus nunca pensou em mim, em meus direitos, não me peça para pensar nos dele.

– Tudo bem - respondeu Júpiter derrotado - Se assim deseja, eu o farei. Se precisar de alguma coisa, me ligue. Ou ligue para seu "irmão", ela vai ficar feliz em ajudar.

– Pode deixar, tio - ela disse, voltando a sorrir - Beijos.

– Um beijo, meu amor - ele disse, desligando.

Thalia deixou o telefone cair ao seu lado no sofá e respirou fundo. As lembranças começaram a vir a sua mente como flashes. Sua mãe voltando para casa no meio da madrugada. As brigas dela com Zeus. As primeiras duas vezes que ela concordara em ir para a reabilitação. Os sumiços de seu pai. O acidente de carro. E depois, Hera.

Se não tivesse sido por seu tio Júpiter, Thalia talvez não tivesse se formado em jornalismo ou saído de Chicago. A garota agradecia todos os dias por ele te-la acolhido em sua fuga de casa e resolvido criar a sobrinha problemática ao lado de Jason, seu filho exemplar. Ela não teria sido nada sem seu tio.

As lágrimas começaram a rolar de seus olhos. Toda tristeza, dor e decepção que a assolaram naqueles tristes anos de sua vida, haviam voltado com toda força. Sentiu seu coração apertar e o pequeno em seu ventre mexer-se, notando o estado emocional da mãe.

Thalia colocou a mão sobre a barriga e sentiu seu choro se intensificar. Se fosse por seu pai, aquela criança não existiria. Quando o grande Zeus Grace aceitaria que sua filha estivesse grávida do namorado? Nunca! Ela a obrigaria a abortar. Faria ameaças contra ela e a criança. Não, ela não o queria em sua vida. Estava bem sem ele e continuaria bem. Ainda melhor com Nico e o pequeno que estava para chegar.

– Lia, eu estava pensando. Podemos pintar o quarto do bebê de... - Nico entrou na sala falando, mas logo se refreou.

Quando se deu conta, Thalia chorava sobre o ombro do rapaz e os braços dele a envolviam protetoramente, como que querendo afastar tudo que a entristecia. O cheiro dele a acalmava, o calor de seu corpo fazia com que a garota sentisse-se em casa e seu abraço, para ela, era um porto seguro.

A morena não saberia dizer por quanto tempo chorou junto ao namorado, mas quando o choro finalmente cessou, ouviu-o dizer.

– Você quer conversar? - ela balançou a cabeça em negação - Ah, mas eu quero conversar.

Thalia sentiu Nico se afastar e, por pouco, não o puxou novamente para junto de si. Sentiu-se desprotegida longe dos braços do rapaz, o que fez com que o choro quase recomeçasse. Malditos hormônios, pensou ela.

A grávida abriu os olhos e viu seu namorado ajoelhado a sua frente, afastando seus joelhos cuidadosamente e se colocando entre eles. O rosto de Nico ficou na altura de sua barriga e o rapaz pousou as duas mãos sobre ela.

– Oi, meu amor, é o papai - disse ele. Naquele exato momento, o bebê parou de se mexer - Sua mãe está triste e não quer me dizer o porquê. Mas, sabe, levanto em conta que ela estava falando com seu tio-avô Júpiter, acho que ela está com saudades de seu vovô Zeus.

"Ela sente falta de quando ele cuidava dela. Das vezes que brincaram juntos. De como eles demonstravam se amar... Mas ela não vai falar isso pra gente, sabia filho? Sua mãe é muito orgulhosa para dizer isso. Porém, isso não impede que nós saibamos, não é?

Thalia sentiu o queixo cair. Como ele poderia saber? Ela nunca tinha dito aquilo para ninguém, nem mesmo Annabeth, e negava com todas as forças para si mesmo. Como Nico poderia descobrir, com tal facilidade, sua tristeza mais profunda e obscura?

Assim que o moreno se calou, o pequeno em sua barriga voltou a se mexer.

– Você concorda comigo? - indagou Nico. Novamente o bebê parou.

Thalia arregalou os olhos, já novamente marejados, e viu Nico levantar as sobrancelhas e sorrir.

– Você está me ouvindo, meu filho? - perguntou ele, recebendo um chute sob sua mão em resposta.

O sorriso do rapaz aumentou.

– Ele reconhece a sua voz... - disse Thalia, ainda em estado de choque.

– É normal nessa idade - comentou o rapaz, mas sem tirar o sorriso bobo do rosto - Já deve reconhecer a sua também.

Thalia assentiu, ainda sem acreditar no que ocorrera. Passou a mãos pela barriga, acariciando-a e, quando se deu conta, já tinha uma delas perdida em meio aos cabelos de Nico. O rapaz fechou os olhos, aproveitando o carinho, e o bebê pareceu ter embarcado naquela calmaria.

– Nico - chamou Thalia alguns minutos depois, quebrando o silêncio e fazendo-o abrir os olhos - Prometa.

O rapaz franziu as sobrancelhas, sem entender. Thalia fechou os olhos e respirou fundo, soltando o ar e voltado a abri-los.

– Prometa-me que não fará com ele o que meu pai fez comigo - explicou ela, indicando o pequeno em seu ventre - Prometa que não deixará de ama-lo e não o abandonará.

Nico suspirou e e ergueu-se, voltando a sentar-se ao seu lado no sofá. Ele olhou no fundo de seus olhos, parecendo ver até a alma, e tirou uma mecha que caia sobre eles, mantendo a mão em seu rosto.

– Por mais que eu não creia que seu pai tenha deixado de te amar, eu prometo - disse ele - Não só com relação a ele, mas a você também. Nunca deixarei de ama-los e nunca os abandonarei. Mesmo que a morte me leve antes, eu sempre estarei aqui.

Thalia o abraçou novamente, sentindo as lágrimas voltarem a rolar. Nunca, em toda a sua vida, recebera uma declaração como aquela, e tinha certeza que não receberia outra. Era simples, mas infinitamente bela e significativa.

Nico a apertou contra seu corpo e trouxe-a para seu colo. Quando finalmente notou o que estava acontecendo, o moreno já a tinha erguido em seus braços e carregava-a para o quarto.

Thalia, já completamente segura e tranquila, apoiou a cabeça sobre seu ombro e dormiu antes mesmo de ser deitada sobre a cama.


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Notas finais do capítulo

Bem, eh isso. Um pouco do dia a dia da "família Jackson" (heheheh) e da história da Thalia, q eh mais complicada do q parecia de início... Anda tem mais, minha gente!
Quero agradecer pelas DUAS recomendações q recebi! Muito obrigada Carol Jackson e Sugar
Cube! Eu amei *-*
Bjs, até! N esqueçam de dizer o q acharam!
EuSemideus