I wish escrita por liice, Isa Poke Shugo


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Aqui é a liice e estou com um capítulo 9vinho (hehe) para vocês! Postei mais cedo porque o capítulo 10 vai demorar um pouquinho mais que o tempo usual de postagem pois a isapokeshugo vai viajar para o acampamento NR (fica a dica pra quem vai também, pedir um autógrafo dela). Divirtam-se!



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Drew’s POV

Eu estava puto demais com o que tinha acontecido hoje cedo. Tentei contar o que havia acontecido na noite passada para May, mas ela não me ouviu! Achou que eu estava brincando, mentindo para ela! Como é que pode? Eu tentei, na maior boa vontade, avisá-la sobre um perigo iminente e é assim que ela honra o meu recado? É claro que se eu estivesse no lugar dela também não teria acreditado, mas dava raiva do mesmo jeito. Uma parte de mim gritava que a melhor coisa que eu poderia fazer agora era esquecer isso e deixar ela sofrer com as consequências e uma outra parte sussurrava que eu devia tentar fazer de tudo para ela não sofrer com aquilo. A parte que sussurrava exercia mais poder sobre mim, contraditoriamente.

Estava deitado na minha cama pensando sobre essas coisas quando a realidade finalmente chegou em mim. Eu estava perdendo tempo. Tinha que treinar para o último dia, amanhã! Levantei de súbito e calcei meus tênis. Eu poderia muito bem pensar naquilo e treinar ao mesmo tempo. Seria bem mais produtivo. Andei até a porta e quando estava prestes a colocar a chave na fechadura, ouvi batidas na mesma.

Fiquei confuso por alguns momentos. Era na minha porta mesmo que estavam batendo. Será que era Melody vindo aqui para encher o meu saco? Coloquei a chave na fechadura e destranquei a porta. Quando abri tive uma surpresa.

Era May quem estava parada do lado de fora do quarto, me olhando com uma expressão meio lacônica. O que será que ela queria? Será que conversou com Leo e ele lhe disse a verdade? Se fosse isso ela provavelmente estaria aqui para pedir desculpas por não ter acreditado em mim. Culpa dela. Agora vai ter que sofrer a humilhação de me pedir desculpas.

— Drew. Espero que não esteja atrapalhando nada.

— Não está. — respondi depois de uns segundos de silêncio. — Eu estava prestes a sair.

— Eu... — ela recomeçou a falar quase que imediatamente depois de eu ter terminado a minha frase. — Eu acabei descobrindo a verdade.

Então era isso mesmo. É como dizem; a verdade sempre vai aparecer não importa o tempo que leve. Pensei em perguntar se fora o Leo quem havia confessado tudo, mas achei melhor ficar calado, esperando ela me contar os detalhes. Começar a supor coisas só iria piorar a situação dela, que já devia estar bem ruim considerando o olhar triste em seus olhos.

— Eu acabei descobrindo de um jeito bem inusitado. — ela continuou, depois de longos segundos de silêncio. — Eu acho que te devo desculpas-

— Não. — A interrompi. Ela já parecia estar mal o bastante e eu não queria piorar as coisas — Tá tudo bem. Eu também não acreditaria.

— O Leo não sabe que eu tenho conhecimento disso. — ela pareceu ficar mais tranquila depois daquilo. — Não consigo aceitar. Por que ele faria uma coisa dessas comigo?

Seus olhos estavam começando a lacrimejar e meu coração, a amolecer. Envolvi-a em meus braços tão rápido que não pude ver o momento exato em que sua primeira lágrima caiu.

No começo ela ficou asustada com minha súbita reação e quase se afastou, mas decidiu permanecer com a cabeça enconstada em meu peito, relutantemente. Pude sentir algumas lágrimas molhando minha camisa de tempo em tempo. Ela não soluçava; chorava em silêncio. Em silêncio, ao contrário de sua pulsação que, assim como a minha, enchia aquele ambiente com o que parecia ser o mais intenso fragor em contraste àquela quietude.

Quando menos percebi, meus olhos estavam fechados e tudo que eu ouvia e sentia aumentou de intensidade. Não ousei abraçá-la com mais força. Estava confortando-a, só isso; devia me manter no nível do momento.

Abri os olhos, assustado, quando ela repentinamente se afastou de mim com a cabeça baixa e limpando algumas lágrimas que ainda escorriam de seus olhos. Exibia um olhar mais cansado que o de antes.

— Obrigada por isso. — sua voz estava fraca e um pouco falhada. — Acho melhor eu ir pro meu quarto chorar sozinha. Assim não sujo sua camisa e terei tempo de esperar meus olhos voltarem ao normal... — ela exibiu um sorriso penoso ao terminar de falar.

— Por favor, não pense que está sendo incoveniente porque não está de forma alguma. — me apressei em dizer aquilo com toda minha convicção. Eu não queria piorar as coisas fazendo ela ter a falsa impressão de que estava me incomodando.

— Me sinto melhor em saber isso, Drew. Mas eu realmente preciso ficar um tempo sozinha. Obrigada. Mesmo.

— Se precisar de alguma coisa, pode contar comigo. — pensei em sorrir nessa hora mas tudo que conseguir fazer foi torcer a boca de uma forma que deve ter parecido com um sorriso em algum instante.

— Tenho que ir. Eu vou sair com o Leo depois e... não quero que ele me veja assim.

— Vai sair com ele? — a minha pergunta soou como se eu estivesse me intrometendo na vida dela. Por sorte, percebi isso assim que a terminei de formular. — Quero dizer, eu sei que não tenho nada a ver com isso mas...

— Eu entendo. Tenho que contar para ele que eu sei, de alguma forma. Só não sei como.

— May, eu te contei isso tudo porque... — “porque não quero que você sofra”? Era a verdade, mas eu jamais confessaria isso para ela. Tentei ser mais sutil. — porque se eu sei de alguma coisa que tem uma consequência ruim para alguém, é claro que eu contaria tudo para essa pessoa. Não me custa nada e-

— Sim, eu sei. — ela sorriu. — Obrigada de novo. Agora tenho que ir. — ela nem esperou resposta. Apenas se virou e foi andando em direção ao elevador.

Fiquei parado no corredor por algum tempo, pensando no que tinha acabado de acontecer. Estava feliz por aquilo, por ela ter descoberto tudo, de uma forma ou de outra, mas estava triste ao mesmo tempo, por vê-la chorar e por fim, com raiva do Leo. Já havia feito uns 5 minutos que May tinha saído quando eu andei até o elevador, entrei e apertei o botão que levava ao andar do saguão do hotel.

Não estava tão vazio como normalmente e não demorou muito para eu encontrar uma certa garota ruiva sentada no sofá de braços cruzados que levantou na hora quando me viu chegando e começou a vir em minha direção.

— Drew, nós vamos em um restaurante que fica no centro da cidade. Quer ir com a gente?

— Vocês quem? — perguntei, à parte.

— Eu, a Stella, o Robert, o Harley e o Enrico. Ah, já te disse que eles estão namorando?

— Quem? O Robert e a Stella?

— Claro que não, né. Eles não vão assumir isso tão cedo, se é que vão assumir... O Harley e o Enrico que estão.

— Melody, eu não vou lá pra ficar segurando vela. Me desculpe, mas eu não topo. Diga que eu mandei felicidades para eles.

— Ah, e você vai fazer o que?

— Treinar.

— Não acredito nisso, Drew. Vamos sair um pouquinho. Você só fica treinando. Deve ser por isso que é tão mau humorado o tempo todo!

— Amanhã é o útimo dia!

— Eu sei, é por isso que você tem que relaxar. Por que não chama a Lindsay, para não ficar sozinho?

— Por que eu chamaria ela, Mel? Nós ficamos uma vez só ontem. Não tenho nada com ela.

— Ah, mas vocês são tão fofos juntos, e além do mais, acho que a Stella ia gostar de ver você com ela. E o seu tio também!

— Algo me diz que você está tramando alguma coisa! — me lembrei do que May tinha dito quando estava conversando comigo lá em cima. — Por acaso não tem outro casal que vai nesse restaurante não?

— Que? — ela disse, olhando de um lado para o outro, nervosa. Isso já provava tudo. Ela realmente estava tramando alguma coisa.

— Eu sabia!

— Drew, a May descobriu tudo! — ela quase sussurrava.

— Eu sei. Ela acabou de me dizer isso. Foi me agradecer.

— Ela vai tentar contar para o Leo hoje que sabe de tudo. Vai tentar “terminar” com ele.

— E você quer que eu vá lá assistir a isso?

— Ela precisa de alguém para consolá-la. E a Lindsay precisa estar lá para ver tudo e rir da cara dele depois.

— Então faça o seguinte: chame só a Lindsay, porque eu não vou. E quanto a alguém consolar a May depois disso tudo, eu já disse a ela que pode contar comigo para isso.

Nessa hora, Leo entrou no saguão. O ódio tomou conta de mim em poucos segundos. Fechei as mãos, em punho e me controlei o máximo possível para não socá-lo ali mesmo, na frente de todo mundo. Não tirava os olhos dele e a raiva em meu olhar transparecia mais que tudo. Ele percebeu isso e ficou me olhando por algum tempo de uma forma questionadora. Passou por mim e por Melody quase correndo e entrou no elevador. Fiquei parado por algum tempo, em silêncio, depois finalmente lembrei que tinha coisas para fazer.

— Vou treinar. — disse simplesmente, para a tristeza de Melody. — Talvez eu saia um pouquinho para outro lugar depois. — Não esperei ela responder e simplesmente saí do hotel.

POV Normal

Leo andou por uma pequena parte da cidade procurando May, pois Solidad havia dito a ele que ela fora fazer uma ligação. Como não conseguiu encontrá-la, achou melhor voltar para o hotel. Ela devia ter voltado para lá.

Quando chegou no saguão, deu de cara com o garoto metidinho que vivia atrás dela por algum motivo. Leo não gostava nada disso. Ele o olhava de uma forma pouco amigável e o garoto ficou meio incomodado com aquilo. Passou rápido por ele e sua amiguinha intrometida e entrou no elevador, apertando o botão do quarto andar.

Não demorou muito para chegar lá e saiu do elevador, andando em direção ao quarto de May. Era provável que ela estivesse lá. Chegou perto e bateu na porta.

Não demorou muito para a garota abrir. Ela pareceu ficar bem assustada ao vê-lo. Seu olhar, que estava baixo, se levantou no exato momento que abriu a porta e percebeu que era Leo quem a esperava do outro lado. O garoto percebeu, também, que seus olhos estavam meio marejados.

— May... você está chorando? — ele chegou um pouco mais perto dela.

— Se importaria em entrar um pouco pra gente conversar? — ela voltou a abaixar o olhar e Leo ficou preocupado com sua voz fraca.

O garoto não respondeu, apenas entrou no quarto, confirmando a pergunta dela. Depois que a porta foi fechada, ele a abraçou. Ficou um pouco triste por não ter sido correspondido e logo a soltou, envergonhado.

— Pode me dizer o que está acontecendo? Por que está chorando?

— Vou direto ao ponto. — ela quase não fazia contato visual com ele. — Por que nunca me disse que tinha uma noiva?

Leo arregalou os olhos e sentiu seu coração dar um salto, quase saindo pela boca. Muitas perguntas se formaram em sua cabeça: “Como?” “Por que?” “Quem?”. Demorou um bom tempo para responder. Esperou sua palpitação desacelerar, pois sabia que iria gaguejar se falasse alguma coisa na mesma hora.

— Leo... — ela chamou a atenção dele, percebendo que ele não iria responder se não fosse pressionado para fazer isso.

— E- eu... — não adiantou. Mesmo esperando um pouco ele não pode evitar gaguejar um pouco. — Como você...

— Isso não importa agora. Só quero que você me explique. Por que não me disse que tinha uma noiva? Por que mentiu para mim?

— Eu não menti pra você! — ele conseguiu dizer a frase inteira sem hesitar.

— Eu considero isso como mentira, Leo. Se não havia maneira de ficarmos juntos você poderia ter me dito isso. Assim eu até poderia estar aproveitando esse pouco momento que teremos enquanto eu estiver aqui se eu soubesse que seria passageiro.

— Mas não vai ser.

— É claro que vai! É um noivado arranjado! Você não chegou para ela e a pediu em casamento! Vocês não tem escolha.

— Eu vou resistir a isso, eu juro! Estou tentando o máximo que posso. Pode ter certeza de que vou convencer meus pais!

— Leo, o maior problema não é esse... É que você mentiu para mim. Devia ter me contado.

— Eu sei... eu sei. Me desculpe, por favor. Devia mesmo ter te contado. Você tem todo o direito de saber.

— Ótimo. Era só isso que eu queria conversar. Gostaria de ficar sozinha um pouco...

— Não vai sair comigo?

— Não estou com muita disposição para isso.

— Vai me tratar desse jeito agora!? — ele levantou um pouco o tom de voz, o que fez a garota ficar assustada.

— Não grite comigo! Quero ficar sozinha. Por favor, me deixe!

— Não pode fazer isso comigo, May. Eu errei mas te pedi desculpas. E foi só uma vez desde quando nos encontramos.

— Eu sei, Leo. E aceito suas desculpas, mas você tem que entender que eu preciso ficar um pouco sozinha agora.

— Tudo bem, se é assim que você quer então fique sozinha aí. — Leo exibia uma expressão furiosa no rosto. Deu uma última olhada para ela e saiu do quarto, fechando a porta com força.

May se desatou a chorar novamente depois que Leo saiu. Nunca achou que ele poderia se mostrar tão agressivo de uma hora para outra quando ela simplesmente estava passando por um mal momento e queria ficar sozinha. Trancou a porta e deitou em sua cama, molhando ainda mais o travesseiro com suas lágrimas.

Drew’s POV

15 minutos de treino e eu estava indo bem. Meus pokémons pareciam estar se esforçando bastante e todas as combinações de movimentos que eu havia pensado durante o dia mostraram-se divinas na prática. Se eu usasse qualquer uma delas no treino amanhã, garantiria muitos pontos dos jurados.

Minha felicidade e confiança desapareceram assim que comecei a ouvir passos fortes se aproximando por trás de mim. A última coisa que vi quando me virei foi o punho de Leo, o garotinho desleixado, acertando em cheio meu nariz, o que me fez cair e sentir sangue escorrer pelo meu rosto.

— Foi você, não foi? — ele estava vermelho de raiva. — Foi você quem contou a ela! Tenho certeza!

— Do que está falando? — tapava o nariz com a mão e pude sentir o sangue a sujando.

— Sabe muito bem do que estou falando!

Não sabia porque eu começara a fingir ignorância. Não adiantaria de nada. Era óbvio sobre o que ele estava se referindo. Ele devia ter ido para o quarto dela, com certeza. E ela contou tudo para ele. Depois de ter me visto olhar feio para ele quando entrou no saguão do hotel, é óbvio que deve ter pensado que a culpa era minha.

— Me socar não vai resolver nada. — comecei a me levantar, devagar. — Ela já sabe de tudo. Isso não vai mudar.

— Por que se mete em coisas que não são da sua conta? Como descobriu isso?

— Conversei com sua noiva ontem à noite e acabei descobrindo essa história toda. É claro que eu contaria para a May. Ela é minha amiga e não quero vê-la sofrendo por alguém como você!

— Sua amiga? — ele debochou. — Conta outra! Ela nunca falou uma palavra boa sobre você!

Aquilo me atingiu como uma faca perfurando meu peito. Eu não esperava por aquela resposta e também não esperava que fosse me causar tamanho abatimento. Ignorei com dificuldade e continuei a discussão.

— Isso não importa... Eu contei para ela sim, porque era a melhor coisa que eu poderia fazer.

— Pois é! Agora ela está com raiva de mim! Não quer sair comigo e provavelmente nunca mais vai e isso é tudo culpa sua por não conseguir manter essa sua boca fechada! Você é um babaca!

— Não, Leo! O babaca aqui é você! Achou que ela iria ficar bem de uma hora para outra? Seja realista!

— Isso é tudo culpa sua!

— Tudo que você consegue gritar é que é tudo culpa minha? Acalme-se e coloque-se no lugar dela! Não seja tão ignorante!

— Já chega! — ele simplesmente virou e foi embora, furioso.

Fiquei aliviado por não ter que lidar com aquele tipo de gente. Tentei voltar ao meu treino mas a frase que ele havia me dito não saía da minha cabeça. “Ela nunca falou uma palavra boa sobre você!”. Quis tentar afastar aquele pensamento. Era totalmente desimportante e não havia um porquê para eu estar tão preocupado com aquilo.

Treinei mais um pouco antes de finalmente ficar satisfeito. Já eram 19:30. Decidi voltar para o hotel, tomar um banho e sair por aí, sozinho.

Quando cheguei no hotel, que estava bem vazio, me deparei com May parada perto da recepção. Ela parecia estar bem melhor do que antes, apesar de ainda aparentar uma expressão triste. Seus olhos não estavam mais marejados. Ela me viu e exibiu um leve sorriso. Decidi me aproximar.

— Oi. — falei.

— Oi. Estava treinando?

— Sim.

— Seu nariz está sangrando... parece estar machucado. — ela percebeu e não hesitou em apontar isso.

— Não é nada... Eu tropecei.

— Tropeçou? — ela deu uma risadinha. — Não consigo imaginar você tropeçando, Drew. Parece a coisa mais improvável do mundo.

Não pude deixar de sorrir com aquilo.

— Eu levei um susto também. — respondi. Depois lembrei de perguntar como ela estava. — Já está melhor?

— Um pouco. O Leo já sabe de tudo... ele veio conversar comigo e eu contei que sabia... ele não foi muito amigável em sua resposta. Isso me fez ficar um pouco mais triste. Mas estou bem agora. Acho que já chorei tudo que tinha pra chorar.

— Fico feliz em saber que está melhor.

Ela sorriu e abaixou o olhar, encabulada. Pensei em chamá-la para dar uma volta comigo mas logo desisti. Seria quase um abuso propor algo desses para ela, que estava naquela situação. Seria como se eu estivesse esperado o momento em que ela estivesse sem compromisso com ninguém para perguntar isso. Aquela briguinha entre ela e o Leo logo iria acabar e eles voltariam a ficar juntos... Além disso, eu estava com medo de receber outro “não” como resposta. “Ela nunca falou uma palavra boa sobre você!”. Não sei porque eu ainda tentava.

— Eu tenho que ir. — ela falou. — Combinei de sair com a Solidad hoje, pra esquecer de tudo isso, e ainda tenho que me arrumar.

— Eu também vou subir. Se não se importa de me ter como companhia no elevador...

— Vamos. — ela sorriu e começou a andar até lá, seguida por mim.

Ao chegar lá, apertei o 4 e o 5. Ela me deu um rápido agradecimento e o elevador começou a subir. Foi uma viagem muito longa do térreo até o quarto andar. Eu estava nervoso demais pelo simples fato de estarmos juntos no mesmo elevador. Depois de longos segundos que pareceram horas, finalmente chegamos.

— Tchau. — ela me disse, enquanto as portas do elevador se abriam.

— Divirta-se. — respondi.

Não sei o que me levou a fazer o que fiz a seguir, só sei que agi mais por impuslo e emoção do que por qualquer outra coisa. Me inclinei para perto dela e dei um beijo em sua bochecha. Me afastei com o olhar baixo, acanhado demais para encará-la nos olhos. Percebi que ela ficou olhando para mim por alguns segundos e demorou um pouco para sair dali, devagar. Me encostei na parede do elevador e respirei fundo quando as portas se fecharam.

***

Como demoro em me arrumar, só saí mesmo do quarto às 20:30. O corredor do quinto andar estava escuro, como sempre a essa hora da noite e logo quando cheguei no saguão, no andar térreo do hotel, percebi que estava bem calmo e totalmente vazio. Galera devia ter pocado fora.

Saí pela rua e andei um pouco antes de chegar em um lugar movimentado, com vários restaurantes com mesas ao ar livre. Tinha um bom movimento por lá mas nunca gostei de ir a restaurantes sozinho. Achei melhor procurar alguma casa norturna ou algo assim.

Estava andando a um bom tempo por entre aqueles restaurantes quando ouvi uma voz feminina me chamando. Vinha de trás de mim. Me virei e vi Solidad acenando para mim de uma das mesas de um restaurante, com May ao seu lado. Ela fez um gesto para que eu fosse até lá, e assim fiz.

— Onde vai, Drew? — Solidad se prontificou a perguntar assim que cheguei perto da mesa.

— Eu estava procurando algum lugar para ir. Não sei ao certo.

— Por que não fica aqui com a gente?

— Ah, não sei, Solidad. Não acha que eu estaria atrapalhando vocês duas? Tenho certeza que já devem estar de saco cheio de garotos.

Ela riu um pouco e insistiu para que eu ficasse por lá com elas. “Solteiros unidos!”, ela disse. No final decidi que o melhor seria ficar mesmo. Mesmo que eu achasse um lugar para curtir a noite, não seria tão divertido quando ficar aqui e conversar com minhas amigas. Na mesma hora que pensei nisso, lembrei do que o Leo me tinha dito hoje cedo. Afastei os pensamentos e me sentei do lado de May.

Solidad me olhou de uma maneira intrigada e eu logo percebi o porquê. Eu normalmente teria sentado do lado dela, nunca do lado da May. Foi naquele momento que eu percebi que tinha algo muito estranho comigo. Fingi que não percebi o olhar de Solidad e apenas continuei sentado.

— Já pediram alguma coisa? — perguntei.

— Ainda não. Só ficamos conversando um pouco. — ela fez sinal para o garçom vir até a mesa. — Drew, foi muito legal o que você fez pela May. Ela estava me contando... Sabe, ter contado para ela e a ajudado a se recuperar.

Percebi que May ficara vermelha com a simples menção do que acontecera hoje. Fiquei um pouco constrangido também. Estranho ela ter trazido esse assunto à tona do nada. Aí tem! Solidad era esperta também, e nessa hora ela estava começando a me lembrar a Melody.

— Foi o mínimo que eu pude fazer. — percebi que o garçom havia acabado de deixar os cardápios em cima da mesa. Peguei um deles rapidamente e comecei a ler, para trocar de assunto. — Então, que tal a gente escolher alguma coisa, ein?

— Boa ideia. — me assustei ao ouvir a voz de May, que pareceu ter ficado bem animada com a minha sugestão. — Que tal a gente pedir uma porção de batata frita primeiro? — seus olhos brilhavam.

— Eu acho uma ótima ideia. — falei, o que pareceu fazer ela ficar mais animada ainda.

— Tudo bem. — Solidad concordou e chamou o garçom, fazendo o pedido assim que ele chegou na mesa. — Bom crianças, vocês fiquem aí. Eu vou no banheiro rapidinho. Não demoro. — me deu uma piscadela assim que se levantou da cadeira.

Valeu, Solidad. Muito obrigado mesmo.

— Vai para a área de Unova amanhã, né? — decidi que seria melhor puxar assunto a ficar igual um idiota em um silêncio constrangedor.

— Vou sim. Foi a única área que sobrou. Acredito que você vá também, certo?

— Sim. Espero ir bem nesse último dia. Treinei bastante.

— Eu não treinei muito. Vou confiar nas minhas habilidades até agora.

Silêncio. Acho que fiquei uns 2 minutos inteiros pensando no que falar mas tudo que pude fazer foi ficar sentado, com a cabeça baixa, esperando ela dizer alguma coisa, o que não aconteceria nunca.

Quase tive um infarto quando quatro pessoas conhecidas e totalmente indesejadas aparecerem a apenas algumas dezenas de metros de distância da mesa onde eu estava. Robert, Stella, Leo e Melody. Que legal! Pensei em levantar e me esconder, para que eles não me vissem sozinho com a May mas depois pensei no que estava pretendendo fazer. Por acaso eu tinha vergonha dela? Talvez... Me abominei por isso.

Meu coração acelerava. Eu mantinha o olhar abaixado, quase escondido para que nenhum deles me visse. Estavam quase chegando. Ainda não tinham nos visto pois estavam conversando alegremente entre si. Leo nem tanto, mas os outros estavam. Comecei a me perguntar por que Leo simpatizou com eles.

May também havia percebido a aproximação deles. Estava incrivelmente corada e olhava para o lado oposto. Vi que nós dois estávamos envergonhados com aquela situação.

Levantei a cabeça, poucos segundos antes de eles passarem por nós. Cheguei minha cadeira para mais perto de May e abri um sorriso em meu rosto, começando a conversar com ela e tendo a certeza de manter meu olhar fora da direção deles, para fingir que não os tinha visto.

— Não treinou muito ou simplesmente não treinou? — peguei ela de surpresa com essa pergunta. Nós tínhamos ficado vários minutos sem dirigir uma palavra um ao outro. É claro que iria parecer estranho eu ter voltado a falar depois desse tempo.

— Treinei, sim. Mesmo que tenha sido pouco. — ela me respondeu, um pouco nervosa. Não tirava os olhos de mim. Talvez para fingir que não tinha visto eles também.

— Então não precisa se preocupar muito com o que vai acontecer amanhã. Tenho certeza de que está preparada. — sorri ainda mais intensamente.

Ouvi uma voz feminina me chamando. Vinha de trás de mim, direção em que May olhava, estupefata. Era Stella, claro. Aquela voz era inconfundível. Me virei e dei de cara não só com ela, mas com seus amiguinhos também. Me perguntei onde estavam Harley e Enrico. Deviam ter ido para outro lugar, para ficarem sozinhos e longe desses nojentos.

Leo exibia um olhar de fúria tanto para mim quanto para May. Parecia que poderia nos atacar a qualquer momento. O olhar de Stella era, é claro, de repúdia e Robert estava meio indiferente, meio surpreso. Já Melody, parecia estar maravilhada e exibia um olhar amigável.

— Oi, Stella. Tudo bem? — respondi.

— O que significa isso? — ela franziu a testa.

— É, eu sei. Mesa vazia. — comecei. — Pedimos uma porção de batata frita mas ainda não chegou. Fazer o que né? Mas não se preocupe. Vou falar para o garçom que o serviço está meio demorado.

Ela não respondeu. Apenas olhou de mim para May incredulamente. Leo já não olhava mais para mim; tinha seus olhos odiosos concentrados em May, o que me fez querer esganá-lo ali mesmo.

— Se vocês estiverem com pressa. — continuei. — Não recomendo esse restaurante.

Ela não respondeu de novo. Apenas falou alguma coisa em voz baixa para Robert, de modo que não consegui ouvir, e foi embora seguida do resto dos babacas.

Alguns segundos de silêncio se passaram antes que eles se afastassem o bastante para eu recomeçar a conversar com May.

— Eu não acredito nisso! — exclamei. — Imagina o que o Leo deve ter pensado. Desculpa, May. Eu devia ter saído de perto de você assim que vi eles se aproximando.

— Não, tudo bem. Não me importo com o que ele pensa. Não quero mais nada com ele. Acho que isso vai até ajudar ele a se afastar de mim. Tá tudo bem.

— Me sinto aliviado em saber que não estraguei nada para você.

Vi Solidad se aproximando da nossa mesa e comecei a encará-la com um olhar frio. Ela havia nos deixado ali sozinhos de propósito, é óbvio. Quanto ao fato de Stella e sua turma terem aparecido no exato período de tempo que ela estava fora, era estranho e improvável demais para eu não desconfiar do envolvimento da Solidad com isso também.

Ela sentou na cadeira e ficou meio confusa com meu olhar. Peguei meu celular do bolso e comecei a mandar mensagem para ela. Felizmente, foi nesse exato momento que a porção de batata frita chegou, mantendo May entretida e não percebendo que eu estava mandando mensagem.

Eis a conversa:

Decidi acreditar nela. Ela parecia bem impressionada e nos olhava espantada. Também não acho que ela seria capaz de descer a tão baixo nível.

Decidi pegar uma batata frita antes que May acabasse com tudo. Mesmo assim comi poucas e a porção acabou em pouco tempo.

O resto do jantar se passou de uma maneira normal. Pedimos alguns outros petiscos e ficamos conversando a noite toda sobre coisas diversas. Acho que esse foi o dia em que eu mais conversei com a May. Ao saírmos do restaurante, depois de horas de conversa, fomos direto para o hotel. Já era quase meia noite e tínhamos que descançar um pouco para amanhã.

Conversamos durante toda nossa caminhada até lá. Entramos no hotel e depois no elevador, que parou primeiro no terceiro andar, o de Solidad.

— Boa noite, gente. E boa sorte amanhã. — ela disse acenando enquanto saia do elevador.

Demos boa noite também, antes do elevador voltar a se fechar e começar a subir até o quarto andar, onde chegou em pouco tempo.

— Então... — May começou. — Boa noite. E até amanhã.

— Durma bem. — eu disse, sorrindo. Senti meu rosto esquentar ao perceber o que tinha acabado de falar e pude ver que May também estava bastante corada.

Consegui ouvir ela falando “Você também.” bem baixinho e não pude deixar de intensificar o sorriso. Cheguei perto dela e a beijei na bochecha, como tinha feito hoje cedo, só que dessa vez demorei mais um pouco. Depois do beijo ela saiu do elevador tão desastrosamente que quase tropeçou, o que garantiu umas risadinhas de nós dois. Ela acenou para mim por uma última vez antes das portas do elevador se fecharem de novo, me deixando sozinho com minhas emoções e com as fortes batidas do meu coração.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Sua opinião é muito importante para nós!