Hermione se deitou na cama e olhou instintivamente para o criado mudo, encarando o porta-retrato cinza com a foto rasgada dos dois. Tinha esquecido de tacar aquilo da janela, certamente. Mas, para sua surpresa, não foi o sentimento de raiva que a preencheu -como ela tinha feito todas as outras vezes nos últimos dois dias em que qualquer coisa a lembrava Draco Malfoy-, muito pelo contrario, um sorriso leve surgiu em seu rosto.

– Mas que droga, Hermione! – praguejou para ela mesma, irritada. – Eu não deveria sorrir, não deveria repetir os erros de antes!

Mas ela estava sem saída. Mesmo depois de toda a mágoa, o que sobrava quando ela encarava a foto, onde Draco sorria infantilmente ao lado da garota, eram somente as memórias felizes, e não a briga que terminara tudo na semana anterior.

– Cala a boca, eu te odeio!

– Eu sei. – ele disse somente, abaixando a cabeça com um olhar perdido.

– Você quer que eu te odeie? – perguntou Hermione, pasma.

– Não. Mas eu mereço ser odiado. Eu não mereço você, Hermione. – em qualquer situação, a garota admiraria a verdade nas palavras dele, mas não ali, não depois da cena que ela tinha visto.

– Merece mesmo. – gritou de volta, atirando o primeiro objeto que viu em direção a ele, que desviou e a encarou intensamente antes de sair do cômodo.

Ela não podia simplesmente esquecer que Draco Malfoy um dia existiu, que roubou seu coração e depois o fez em simples pedaços, cinzas de um amor? Não poderia ao menos ter ódio ou raiva, ou simplesmente indiferença? Por que, sempre que aquela foto batia em seu olhar, era dos beijos que ela se lembrava, dos abraços, dos carinhos, e não das decepções, das brigas e do término?

Com raiva, não dele, mas dela mesma, Hermione nem percebeu quando tacou o porta-retrato na parede, quebrando o vidro. Mas que droga, agora teria de arrumar aquilo. Como se um reparo fosse complicado de fazer, pensou ela, executando o feitiço e deixando o objeto intocado de novo. Ela se levantou para pegá-lo, se obrigando a encarar novamente aquele retrato e a ter em sua mente o que parecia ser uma memória seletiva dos momentos bons.

Lágrimas já ameaçavam cair quando ela o colocou novamente no criado mudo, se jogando na cama e fitando o teto. Ela não sentia raiva. Estava frustrada, mas não com raiva. Triste talvez, magoada com certeza. Mas a raiva em seu peito crescia não por ele, mas por ela própria. Porque ela sabia o que deveria sentir, mas pelo visto a razão a havia abandonado a mais tempo do que ela imaginava. Sabia que deveria o odiar, deveria xingá-lo.

Mas sabia também que tudo aquilo era rejeitado por seu coração, que se tivesse uma chance se apegaria de novo, se apaixonaria de novo e só queria estar com ele, em seus braços.

Frustrada com a própria mente, ela se levantou, pegou um papel e uma pena, deixando um recado em seu criado-mudo, para ela mesma seguir.

Lembrete: me lembrar de esquecer Draco Malfoy.