Órfãos escrita por Lady Vérity


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Muita coisa acontecendo de uma vez só neste capítulo... Espero que gostem.



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As crianças estavam curiosas sobre as habilidades de Lara, mas não era algo que ela fosse mostrar sem necessidades, seu poder era doloroso e perigoso, não era algo com o que pudesse brincar.

Apesar de não estar bem, Lara não aceitaria a ideia de ficar trancada ali, de ter seu filho roubado e de possivelmente ser vendida para se tornar estudo de cientistas doentios, rezava para que Joshua não demorasse muito para ir buscá-la.

– Queria saber onde está meu bebê... Preciso tomá-lo de volta, eu nunca nem sequer o vi... – Lara disse quase num sussurro, com os olhos fechados, uma das crianças, um dos meninos, estava com a cabeça deitada em suas pernas, por algum motivo ele gostara dela, tinha seis anos e não falava muito, era pequeno e esquelético, com olhos grandes e expressivos, azuis, cabelos negros que caíam pesados sobre os olhos e pele pálida.

Ao ouvi- la dizer aquilo, o garoto sentou- se de imediato e fechou os olhos, passando os dedos pela parede ao lado da cama como se a estivesse acariciando.

Lara ficou apenas observando- o, estranhando o ato.
A menina mais velha sentou-se próxima a eles com um sorriso e disse:

– Apenas espere...

Repentinamente o menino abriu os olhos e fixou-os nos de Lara sem piscar, mas parecia estar olhando não para ela, mas dentro de alguma coisa, ou lugar.

– Eles estão com o bebê... – Disse o menino, num sussurro – Estão três andares abaixo de nós. Os homens de terno e os homens armados, os homens de branco estão examinando o bebê... Os maus também estão lá... O homem grande e a mulher de asas.
O menino fechou os olhos e depois abriu-os lentamente, piscando várias vezes.

– Ele tem algum tipo de comunicação com o que é feito de terra, pelo que ele pôde explicar, é como se apenas de tocar, pudesse ver através do que é construído dessa terra, algo assim. – Disse a menina que estava sentada perto de Lara, acariciando os cabelos do menininho – É incrível.

– Todos vocês tem habilidades incríveis... – Disse Lara com um sorriso cheio de ideias surgindo em seu rosto pálido.


***

Joshua odiava carros. A verdade era que Joshua odiava quase tudo o que os humanos fizeram no mundo, a forma como o destruíram em prol da suposta evolução, ciência, tecnologia, comodidade e futuro, a natureza fora quase que completamente destruída, ar e água foram poluídos, Joshua não sentia qualquer tipo de afeição pela humanidade, ele era muito ligado à natureza, quase um índio antigo, sua cor e seus cabelos ao menos eram semelhantes, mas suas feições não indicavam em nada que era descendente de indígenas.

Aylla e Oliver, por outro lado, aproveitavam o que a tecnologia daquele mundo podia oferecer-lhes de melhor. Telefones celulares, comunicadores, carros potentes, motos de alta velocidade.
Enquanto Oliver dirigia rápido demais, levando-os ao local onde Aylla tinha certeza que Lara fora aprisionada, Joshua, no banco de trás do carro, puxava o capuz de seu moletom preto para cobrir sua cabeça e se impedir de ver a paisagem passando rápido demais pelas janelas. Ele odiava aquilo, não gostava de estar dentro de qualquer coisa que parecia aprisioná-lo, mas entendia que não poderia chegar até Lara apenas andando. Aylla olhou para ele pelo espelho retrovisor e riu, ela estava sem seu capuz e o vento que entrava pela janela jogava seus cabelos negros e lisos para todos os lados e ás vezes em seu rosto, fazendo os fios grudarem em seu batom vermelho sangue. Não importava a situação, Aylla era sempre assim, batom vermelho, alguma roupa com um capuz branco bem grande que pudesse encobrir seus olhos escuros e deixar apenas seu sorriso maliciosos à mostra. Já Oliver era um viciado em adrenalina, era calmo e se sentia responsável por manter Joshua com a cabeça no lugar, era mais baixo que Joshua, magro, com olhos azuis e frios como o céu pálido das manhãs de inverno e um sorriso inabalável no rosto. Esses eram os melhores amigos de Joshua, os únicos que restaram, os únicos com quem ele ainda se importava naquele mundo, além de sua amada Lara.

– Calma, Joshua, já estamos chegando. – Disse Aylla, Olhando para ele, que estava de olhos fechados e cabeça recostada.

– Isso é bom. – Joshua respondeu.
Oliver sorriu para Aylla, os dois sempre achavam muito engraçadas as atitudes de Joshua em momentos como aquele.

– Isso não é um monstro, cara, é só um carro... Meu Deus... – Oliver disse.

– É a mesma coisa. – Joshua abriu os olhos e encarou os dois pelo espelho retrovisor, o olhar severo e preocupado. Mexia as mãos inquieto, os dedos vez ou outra tornando-se em raízes ou galhos e em seguida voltando ao normal.

– Já chegamos. – Aylla disse, mais cedo do que Joshua esperava, cobrindo a cabeça com o capuz e Oliver parou o carro um pouco mais à frente do prédio que ela descrevera ser onde Lara estava.

Os três saíram do carro, deixando o motor ligado, imaginando que seria necessário uma saída rápida. Dirigiram-se rapidamente para a porta dos fundos, exatamente como Aylla vira Joana fazer. Oliver bateu com o punho contra a porta de metal com força duas vezes, e eles esperaram. Joshua estava encostado à parede e quando a porta foi aberta apenas alguns centímetros para que quem estava do outro lado visse quem batia, ele o agarrou com suas raízes e arrastou-o para fora, escancarando a porta, quebrou-lhe o pescoço sem hesitar.

Atrás da porta havia apenas um banco alto, um celular jogado no chão e uma escadaria, Aylla e Oliver subiram correndo, e enquanto corria, Aylla tirou suas duas adagas de debaixo do casaco e desapareceu na corrente de ar, suavemente, como fumaça de incenso. Joshua estava logo atrás de Oliver, seu olhar era feroz e seus dentes estavam à mostra numa careta animalesca de predador prestes a atacar.

Aylla materializou-se como areia trazida pelo vento em um corredor, o corredor em que sentira pelo ar que Lara estava, mas não esperava por aquilo e por um instante ficou paralisada apenas observando. Crianças corriam em sua direção, uma delas segurava um bebê, Lara estava atrás e o corredor estava em chamas, o fogo chegando cada vez mais perto, uma garota loira, que estava um pouco mais atrás de Lara, parecia estar ateando fogo em tudo, e do meio do fogo surgiram os Outros.

Ao ver Aylla, Lara deu um pequeno sorriso aliviado e agradecido.

– Aylla, leve as crianças pra fora daqui. RÁPIDO! – Lara gritou e então parou e virou-se em direção ao fogo e aos Outros. Em seu braço esquerdo, ossos rasgaram a carne do pulso ao cotovelo, fazendo surgir um arco, um osso fino e pontiagudo saiu do cotovelo em direção ao dedo do meio, coberto do sangue de Lara, que por alguma razão era veneno para seus iguais. Lara Apontou seu braço arco para os Outros, mirando e deslizando os dedos da mão direita pelo osso pontiagudo rapidamente, disparou-o como uma flecha, atingindo o homem grande e negro que as crianças disseram chamar-se Benjamin.

Ela sentia imensa dor, mas não gritou, o homem atingido, por outro lado, berrou e caiu imediatamente, pelo impacto do osso atingindo-o e perfurando seu ombro próximo demais do coração, e pela dor imediata que o sangue de Lara causava.

Joana, que corria em direção a Lara com suas penas espadas em punho, parou espantada com os gritos de Benjamin e voltou até ele.

Lara estava pronta para disparar novamente, mas Julia, a criança mais velha que gostava de brincar com fogo, puxou-a.
Vamos, Lara. Virão mais deles.


***

Pelo comunicador, Aylla avisara Oliver que Lara estava no décimo quarto andar, mas Joshua e ele não tiveram tempo de subir até lá, quase foram empurrados escada abaixo pelas crianças que desciam correndo, Aylla estava atrás delas.

– O que é isso tudo? – Perguntou Joshua contra a parede, olhando para Aylla com olhos arregalados – Onde está Lara?

– Já está vindo. E os Outros também. Tem muito fogo e ela me mandou tirar as crianças daqui. – Aylla gritou em resposta, passando por ele e deixando-o para trás.

Joshua lançou suas raízes longas no corrimão das escadas para tomar impulso e subir mais rápido, Oliver continuou a segui-lo.
O som de uma porta batendo e outra porta se abrindo surgiu e então ele viu Lara, seu barço era um arco de pele, osso, carne, sangue e veias, ele pensou no quanto ela estava pálida e parecia cansada e doente, no quanto queria abraçá-la, beijá-la e fazer toda aquela confusão acabar logo.

Quando ela o viu, sorriu mais um de seus pequenos sorrisos.
Os dois apenas trocaram um olhar e nada disseram, não era preciso.

Lara e Julia continuaram correndo escada abaixo e Oliver e Joshua ficaram um pouco para trás, para enfrentar os Outros, caso fosse necessário.

Quando finalmente conseguiram sair do prédio, Aylla encaminhou as crianças para o carro e amontoou-as no banco de trás, umas por cima das outras.

– Oliver, leve-os embora. Os outros estão chegando. – Aylla gritou, assim que Oliver e Joshua saíram, ela podia sentir seus inimigos se aproximando.

E nesse exato segundo, uma das janelas do segundo andar foi estilhaçada e uma mulher caiu na calçada, agachada e pela porta saiu um lobo grande e feroz de pêlo acastanhado.

Oliver correu até o carro, quando o lobo pulou para atacá-lo, Joshua o segurou com suas raízes e atirou-o contra o prédio.
Oliver e Lara segurando seu bebê entraram no carro.

A mulher que pulou pela janela expôs uma grande causa metálica, articulada que saía de sua coluna vertebral, era como um rabo de dragão de dois metros, com uma ponta semelhante a ponta de flecha, triangular e achatada. A cauda enrolou-se em seu braço direito, e ela usava-o como um chicote, girando-o, tentando acertar o carro, mas Joshua segurou-a e o lobo foi para cima dele.

Oliver acelerou e dirigiu o mais rápido que o carro era capaz.

Aylla correu, desapareceu no vento e viajou com ele até Joshua, o lobo abocanhara seu braço e ele não conseguia afastá-lo, suas raízes estavam todas segurando a mulher com rabo de dragão.

Quando Aylla surgiu, cortou o lobo com uma de suas adagas, não conseguiu matá-lo, pois a mulher soltara sua cauda e a ponta, afiada como uma lâmina, atingiu-a na perna, num corte profundo.

Joshua soltou a mulher e envolveu o lobo com suas raízes, então fez com ele o mesmo que fizera com Joana, lançou-o para o alto e depois contra o chão, mais uma vez lançou-o para o alto e então jogou-o contra a parede do prédio.

Aylla desaparecia no vento e reaparecia novamente, tentando não ser atingida, mas não conseguia atingir a mulher, ela girava a cauda sem parar.

– VAI, JOSHUA. – Aylla gritou.

Por um momento ele hesitou, mas sabia que não precisava se preocupar com ela, pois onde houvesse ar, ela poderia se esconder no invisível e viajar com o vento, materializando-se onde quisesse, e então deixou sua amiga para trás, correndo o mais depressa que podia, ferido, preocupado e ansioso para estar com sua Lara, seu bebê e ter certeza que seus amigos, seus irmãos estavam a salvo, mas ele sabia que não terminaria assim, sabia que udo aquilo estava apenas começando.

Já longe, arriscando uma última olhada para trás, Joshua não viu mais Aylla, ela provavelmente chegaria em casa antes mesmo que ele estivesse longe o suficiente daquele lugar, mas ele viu o lobo, que ainda corria em sua direção, mesmo que não fosse alcançá-lo e a mulher segurando sua cauda, parada, sangrando e apenas observando a corrida do lobo, ela não podia mais vê-lo, os Outros não eram tão rápidos quanto ele, não podiam ouvir nem enxergar tão longe.

Mas para a surpresa de Joshua, o lobo estava se aproximando rapidamente, ele parou no meio da rua e naquele momento teve certeza, aquele lobo não era um Outro, ele era um de seus semelhantes, não fora feito em laboratório, mas por algum motivo juntara-se aos Outros para matar todos que eram como ele.

Alguém buzinou, assustando-o, quando olhou, lá estava Aylla, em uma moto roubada, com a perna ensanguentada e pequenos cortes onde sua pele estava exposta.

– Não achou que eu te deixaria pra trás, não é? Sei o quanto você é lento, quase tão lento quanto uma árvore. – Ela disse com um sorriso.

– Árvores não são lentas, elas nem saem do lugar, Aylla. – Ele disse ao subir na moto e segurá-la pela cintura.

– É assim que você parece pra mim. – Aylla acelerou, fazendo subir poeira do chão, deixando o lobo para trás, por hora, deixando tudo aquilo para trás – Segure-se bem em mim homem árvore, não quero que caia e perca pedaços de suas cascas, galhos e raízes.

– Creio que Oliver ficaria com ciúmes dessa situação...

– Não sei do que você está falando... – Aylla disse, deixando transparecer, sem querer, a timidez em sua voz.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim de mais um capítulo, espero que tenha-os divertido ao menos um pouco. Thanks pela visita. :*



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