Usuário Final escrita por Ishida Kun


Capítulo 4
Acorde, Adam 1:3


Notas iniciais do capítulo

Aos que reclamaram pelo tamanho dos capítulos, aí está! Espero que não tenha ficado grande demais! Boa leitura!



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O céu daquela manhã estava completamente encoberto e uma chuva fina caía naquele instante, para a sorte de Adam ele havia esquecido o guarda-chuva e o horário não lhe permitia voltar para pegá-lo. A escola em que estudava o último ano, ficava a menos de trinta minutos de caminhada de seu apartamento e apesar de poder ir de ônibus, Adam preferia andar, mesmo debaixo daquela chuva. Sua irmã estudara no mesmo lugar e aparentemente, mais uma dezena de amigos da família ou possivelmente seus pais, todos com ótimas recomendações e referências sobre como a escola era formidável. Para Adam, não passava de um “desgaste social involuntário”. Ele não se lembrava desde quando exatamente as coisas começaram a ir tão mal, ou quando as pessoas começaram a ficar tão distantes dele. Adam tentava não se importar, mas todos aqueles olhares, como se ele fosse um ser digno de pena o enojavam, o fazendo se afastar ainda mais daquelas pessoas. Isso só fazia com que caísse no argumento que o psicólogo escolar, um sujeito corpulento que vestia calças de provavelmente três números menores do que de fato deveria, costumava usar “Não são as pessoas que andam do outro lado da rua, é você”. Ele achava que Adam evitava as pessoas, que as afastava, mas quem ele era para falar aquilo? Apenas um homem gordo com um papel colado na parede que dizia que ele era apto a decifrar a mente dos outros. Ninguém sabia nada a seu respeito, essa era a única certeza que Adam tinha sobre aquela escola.

Quando chegou, os olhares desconfiados foram lançados para ele, como sempre. Para tornar a situação ainda mais desconfortável, a chuva fina havia se tornado mais forte do que Adam previra o deixando encharcado, quando todos ao redor estavam secos. Enquanto deixava um rastro d’água pelo corredor abarrotado de alunos, Adam fazia o possível para não olhar para ninguém. Sentou-se sozinho num banco e começou a fazer o relatório de danos. Estava molhado da camiseta às roupas de baixo. O celular, por sorte ainda estava parcialmente seco. Adam amargou uma careta quando viu que a mochila estava entreaberta e parte de seus cadernos havia se molhado. Resolveu retirar tudo e secar o que conseguisse com um papel toalha que havia pego perto das torneiras. Só esperava que o trabalho de história que levara duas semanas escrevendo ainda estivesse inteiro.

Do outro lado do corredor, um grupo de alunos de sua classe conversava avidamente. Uma garota de cabelos loiros estava os prantos, amparada por outra colega, que parecia igualmente triste. Adam não identificou exatamente do que falavam, mas a palavra “Aurora” foi o bastante para que ele deduzisse que mais uma vítima havia sucumbido na noite anterior. Com essa já eram sete. Não conhecia nenhum dos outros e imaginava não conhecer este também, o que o levava a não se importar, algo que causava um certo desconforto. Adam queria se importar mais com aquelas pessoas desconhecidas, se compadecer do sofrimento de seus familiares e amigos, mas não sentia absolutamente nada. Já fazia algum tempo que se sentia daquela forma, como se todas as suas emoções tivessem vazado por algum lugar de sua alma, como se estivesse vazio por dentro. Ele parou de observar a cena e voltou sua atenção para os materiais danificados pela chuva. Adam percebeu a presença de alguém, que parecia parado à sua frente, mas em momento algum levantou os olhos, apenas o ignorou completamente e continuou secando delicadamente as folhas mais afetadas.

— Adam? – uma voz masculina e esganiçada o chamou.

— O que foi? – disse levantando o rosto e atirando um caderno na mochila. Em sua frente, um garoto de óculos do qual ele definitivamente não lembrava o nome o olhava, acompanhado de uma garota ruiva, pequena e com o olhar assustado.

— Você ficou sabendo do Mariano? – perguntou novamente o garoto, que parecia ter metade da sua idade. Adam se esforçou para lembrar seu nome, mas foi inútil.

— O idiota que destruiu meu projeto de física semana passada? – O trabalho de história estava destruído. Adam olhou com desgosto, pensando no quanto o incidente parecia estúpido e que contar a verdade para seu professor seria como dizer que o cachorro havia comido seu dever de casa, depois completou com uma voz cansada – Sim, ouvi algo.

— Adam... ele é da nossa classe e está no hospital, você devia mostrar mais... - começou a garota. Essa ele se lembrava o nome, Manu, uma garota detestável que havia sido elegida como líder do conselho estudantil naquele ano.

— Respeito? Da mesma forma que ele mostrou por mim durante três anos seguidos? – vociferou Adam, chamando a atenção do grupo de alunos à sua frente, que o olharam com reprovação. Depois ele continuou, com a voz razoavelmente mais baixa – Olha só, como vocês podem ver não estou numa manhã muito boa. O que vocês querem?

— Vamos fazer uma visita hoje, toda a sala vai. Me disseram que a mãe dele está péssima... Imagino que você não vá, certo? – perguntou o garoto, com hesitação.

— Você sabe que não. Eu tenho que trabalhar depois da aula.

— Você pretende ao menos contribuir com as flores? – perguntou o garoto sem nome.

— Não, não pretendo. - respondeu sem nem olhá-los.

— Mas são só flores... e o cara está no hospital! Onde está o seu bom senso? – contestou Manu, mais alto do que Adam gostaria.

— Eu não me importo. Simplesmente isso. - e virou as costas para os dois, se dirigindo para o pátio principal onde seguiria para a primeira aula. Por que deveria se importar com uma pessoa que nunca sequer se importou em perguntar se ele estava bem? Ou se ele precisava de ajuda para carregar os equipamentos de esportes? Preferia se importar com um completo desconhecido do que com aquele idiota. E os dois hipócritas que passaram o inferno nas mãos dele, agora agiam como se ele fosse apenas mais uma vítima de algum sistema inexistente. Ouviu um soluçar ainda mais alto da garota no corredor e pensou que aquelas pessoas não estão chorando ou lamentando pelo fato de Mariano estar no hospital, estão chorando porque estão apavorados com a ideia de ser a próxima vítima. Não levarão flores para ele porque realmente se importam, mesmo porque mais da metade já foi agredida ou perturbada por ele, farão pelas aparências, é a tal ideia do “morreu virou santo”. Todos levarão flores porque acham que mostrando alguma piedade por um idiota como ele, Deus irá salvá-los, como se não estivesse vendo a hipocrisia em fingir que são bons.

Porém, de fato agora Mariano era uma vítima. E Adam não sentiu nenhum remorso em sorrir ao pensar nisso.

Não havia andado nem dois metros quando sentiu uma mão pesada em seu ombro:

— Olha só... finalmente resolveu tomar banho! Parece um cachorrinho molhado! – zombou Olavo, o típico “cara grande e idiota” que se vê nos filmes. Ele era o tipo de pessoa que se imagina não existir de verdade até se encontrar uma. Olavo era um dos melhores amigos de Mariano, juntos eles aterrorizavam os alunos mais novos e alguns mais velhos também, quesito no qual Adam se encaixava. Sua expressão estava contraída como se tivesse comido uma grande fatia de limão, mas os olhos avermelhados denunciavam que talvez, a enfermidade do amigo realmente o tenha acertado. Naquele instante, Adam desejou ter ficado calado e dito aos dois apenas “não estou interessado em participar, sinto muito.”, mas já estava feito.

— Vai se ferrar e me deixa... – mais uma vez, as palavras erradas saíram primeiro.

Olavo o agarrou pela gola da blusa e quase o tirou do chão, o encostando com violência na parede mais próxima. Adam sentiu algo pontudo dentro da mochila pressionar suas costas dolorosamente.

— Você fala do Mariano como se fosse muito melhor que ele, não é seu merdinha? – Olavo estava tão perto que Adam pode sentir o cheiro da loção pós-barba que ele usava.

— Não era a intenção... - mentiu, não querendo que a situação ficasse ainda pior. Não se importava em ser um covarde, preferia engolir seu orgulho do que seus dentes. – Tenho certeza que ele pensaria o mesmo de mim... acho que você entendeu errad...

— E quem aqui não pensa isso de você, seu covarde de merda? É só você olhar ao redor! – e de fato, a expressão de reprovação de todos havia mudado. Agora, em seus rostos Adam via aquele olhar que ele tanto detestava, um olhar de pena. A situação estaria tão ruim ao ponto de se tornar pena?

Havia um silêncio doloroso pairando no ar e Adam tentou parecer indiferente, mas não conseguiu, abaixou a cabeça lentamente, olhando para a mão gorda apertando a gola da sua blusa e pensou no quanto se sentia deslocado de tudo aquilo e daquelas pessoas, que olhavam a cena como se assistissem a um espetáculo de circo.

— Só me deixa em paz cara... - sua voz saiu como um sussurro, não havia nenhuma emoção nela, nada além de suas palavras frias.

— Eu deveria arrebentar a sua cara bem aqui, na frente de todo mundo! – gritou Olavo, o empurrando ainda com mais força contra a parede.

— Vá em frente, então. - e disse levantando o rosto. Olavo hesitou, por um momento ele parou perplexo observando um rosto vazio, indecifrável – Eu não me importo.

Uma das mãos fora solta da gola do casaco molhado e levantada, o punho cerrado e os nós dos dedos esbranquiçados. Foi como se aquilo estivesse acontecendo em câmera lenta e Adam percebia cada segundo do movimento, ele via tudo ao redor, os olhares, alguém prendendo a respiração, mais um olhar de desprezo, ou de pena. Mas nada aconteceu, por alguma razão Olavo hesitou, num instante que parecia durar a eternidade, mas o bastante apenas para que aquela gota d'água que escorria dos cabelos molhados de Adam, chegasse até o chão. Por que ele hesitara?

— Vá em frente, bem aqui na frente de todo mundo. Eu falei mal do seu amigo doente, que assim como você, fez o possível para tornar a minha vida um inferno e agora você ainda quer me punir, agora você julga que eu mereço isso. Será que vai aliviar sua dor? Vai trazê-lo de volta?

— Você não entende nada sobre isso seu bosta! – vociferou Olavo, ainda com o punho levantado. Adam quase podia sentir o momento em que aquela mão enorme seria impelida contra o seu rosto, mas naquele momento a covardia havia desaparecido, a coragem nunca existira e o que havia sobrado não era nada. Algo havia mudado dentro dele, mas não era algo bom.

— Deixa ele em paz cara... você sabe que ele... - disse Lucas, um dos “capangas” que havia chego sorrateiro à cena. O garoto tinha no rosto a mesma expressão de todos, mas com um misto de cansaço, de desespero.

— De que merda você tá falando? Bem que podia ter sido ele ao invés do Mariano! Cara você sabe que deveria! —Disse Olavo olhando de relance para o amigo, que agora depositava uma mão em seu ombro.

— Não vale a pena, não aqui nem agora. - disse o garoto, lentamente – Deixa ele em paz cara, lembra-se?

— Já vi que todos vocês estão do lado desse... - começou Olavo porém sem terminar, baixando a mão que estava levantada e soltando Adam num empurrão. A bota molhada, deslizou numa poça que havia se formado embaixo dela e Adam se apoiou na parede, não conseguindo evitar de cair e bater a testa numa mesa, espalhando para todos os lados, folhetos sobre o consumo inconsequente do álcool, que estavam empilhados. Uma dor insistente e aguda se iniciou acima da sobrancelha esquerda, fazendo sua testa inteira queimar e latejar.

— Esse babaca caiu sozinho! Eu nem precisei fazer nada! – comemorou Olavo. Ninguém riu, ninguém falou nada, apenas observaram em silêncio. Os olhos de Olavo estavam avermelhados e era difícil identificar se sua expressão era de felicidade, tristeza ou desespero. Ele saiu rapidamente, acompanhado do amigo, que lançou a Adam um último olhar antes de sumir de vista.

Adam se recompôs e lentamente, começou a recolher os papéis que haviam caído. Ninguém lhe disse nada, ninguém lhe ofereceu ajuda, mas ele sabia que todos o observavam. Antes de terminar de pegar todos os folhetos, o silêncio já havia acabado e provavelmente todos já haviam voltado a cuidar de seus próprios assuntos. O garoto solitário seria novamente deixado onde sempre esteve.

— Aqui, faltou um – disse uma garota lhe estendendo um folheto. Adam o apanhou, mas não olhou para ela, agradeceu com um sussurro e sorriu de leve, algo que possivelmente ela nem percebeu – Esse cara é um completo idiota. Não liga para essas coisas, ok?

— Eu nunca ligo, sei como todos estão nervosos com tudo o que está acontecendo. – mentiu Adam – Obrigado por se importar.

— Nem esquenta! – disse, possivelmente sorrindo, enquanto se afastava dele – Mas se a coisa ficar ruim, acerta entre os olhos! Não tem erro!

Ao ouvir isso, Adam levantou o rosto para ver quem era a tal garota, mas ela já estava desaparecendo entre a multidão. Tudo o que conseguiu ver foi uma figura com capuz, usando um casaco branco e que não carregava nenhum material escolar. Ela não deveria ser dali, por isso mesmo ele nunca a tinha visto. Pensou em ir atrás dela, mas assim como mais cedo naquele mesmo dia, hesitou e o momento passou tão rápido quanto veio.

O professor falava e falava e os olhos de Adam pareciam mais pesados do que o de costume. A sala de aula estava com as portas e janelas abertas, deixando o ar frio e úmido daquela manhã chuvosa entrar e percorrer todos os corredores. Seu professor, um homem que possuía o orgulho maior que sua altura, se recusava a dar aulas com a porta da sala fechada, em dias quentes isso era agradável, mas em dias como aquele a reclamação dos alunos era unânime. Cada vez que ele abria a boca para falar alguma coisa, Adam pensava no quanto queria que o desgraçado se engasgasse com as próprias palavras, o que é claro, não aconteceu. Obviamente o fato dele ter gargalhado quando Adam jogou o restante de seu trabalho de história em sua mesa, não influenciava naquele pensamento e ele adorava ser sarcástico quando estava irritado. Tentou em vão esfregar os braços, algo que arrependeu-se, já que suas roupas encharcadas, agora estavam ainda mais frias do que quando pingavam pelo chão.

E o professor falava mais, enquanto os olhos de Adam pareciam ainda mais pesados.

Como ele odiava história mais do que qualquer outra coisa no mundo. Aprender coisas do passado não lhe interessavam nem um pouco, Adam acreditava no futuro e preferia se concentrar no presente, o passado como o próprio nome já diz, é passado. Seus olhos piscaram por um instante.

O céu estava cheio de nuvens escuras, era noite e ele estava ajoelhado.

O professor disse algo sobre um livro que deveriam comprar. Havia tido um lapso de sonho? Olhou mecanicamente para si mesmo, sentado na carteira do fundo da sala, ao lado de uma janela aberta, com a cabeça apoiada nas mãos. Suas pálpebras pesavam cada vez mais, como se alguém tivesse amarrado pequenos pesos nelas.

Lembrou-se do incidente no corredor e de como todos o olharam com pena. De como ele mesmo se comportou feito um covarde e como se sentiu tão vazio por dentro. Os alunos ao redor ouviam o professor da mesma forma como ouviam os pais ao lhe darem um sermão. Adam não pertencia àquele lugar, naquele mundo com aquelas pessoas. Ele sentia como se quisesse ir para longe, para onde pudesse descansar daquela vida. Sentia-se tão cansado.

Mais uma piscadela e quando seus olhos abriram, ele viu uma rua. Piscou novamente e estava no mesmo lugar perto daquela janela. Estava sonhando, era confortável e quente. Mas algo dentro dele chorava e se debatia, como se alguém tivesse arrancado uma parte de sua alma e colocado outra coisa no lugar, mas não era uma coisa boa. Não mesmo.

E o professor continuava falando e falando.

Algo o dizia para não fechar os olhos, para não dormir, mas a sensação era doce e calorosa e ele se recordou do abraço da garota misteriosa. Se deixou envolver e lançou-se rumo aquela sensação, mergulhando no vazio de seu próprio inconsciente. As palavras do professor de história seguiam para longe, o abandonando nas sombras...

A rua era escura e desolada, havia um silêncio inquebrável naquele lugar e mesmo com toda a chuva que castigava suas costas, ele ainda podia sentir aquilo. Uma paz sem igual. O lugar onde todas as almas cansadas daquele mundo caótico, descansavam.

Ainda de joelhos ele levantou o rosto, vendo uma rua gigantesca que se estendia infinitamente. Os prédios ao redor eram altos e escuros, castigados por um tempo em que os relógios, há muito haviam parado de contar. Eles se lançavam até uma altura da qual não se podia saber ou imaginar e o céu acima, era uma explosão de nuvens negras, revoltosas como o oceano, entrecortadas por raios silenciosos na imensidão daquele céu tão puro. A cidade sem vozes era uma presença esmagadora, fazendo com que Adam se sentisse minúsculo em meio àquele mundo tão grande.

Abaixou a cabeça, sentindo as gotas escorrerem pelo seu rosto e observando a água que estava empoçada entre seus dedos esbranquiçados. O vazio interior aumentou e ele quis apenas que tudo terminasse logo, como deveria ser.

— Adam, preciso que você me ouça. - a voz chegara a seus ouvidos como uma brisa.

— Eu não sei o que fazer... não me encaixo no lugar de onde vim...

— Esse não é o seu lugar.

— Mas me sinto em casa agora.

Adam levantou a cabeça e olhou, onde sombras disformes se materializavam na distância, rastejando como animais famintos. Haviam mais de seis delas, deslizando pelas paredes, se dependurando nos postes de iluminação apagados, lentamente, mais perto, cada vez mais.

Mas dessa vez, Adam não estava com medo, algo havia mudado nele. Enquanto as criaturas se aproximavam ele sentia isso se espalhar dentro dele, um frio sufocante e mesmo assim ele não estava com medo. Quando estavam próximas o suficiente, ele viu um sorriso de orelha a orelha abrir caminho por entre os tecidos escuros de seus rostos vazios. Mesmo sabendo o que viria a seguir, ele não se importava.

— Adam.

As mãos suaves e delicadas percorreram seu corpo o envolvendo num abraço, o rosto colado ao seu era quente e delicado. Ele não precisava ver para saber quem ela era.

— Você não pode dormir agora. - sussurrou tão próximo de sua orelha, que ele quase pode sentir a maciez dos lábios.

Nas mãos disformes das criaturas rastejantes, três garras pontiagudas se formavam, estalando feito uma fogueira, tilintando como facas afiadas.

— Eu preciso que você faça uma coisa por mim.

Cada vez mais perto. Sedentas.

Lentamente, o transe se quebrava e Adam começava a focalizar o que de fato acontecia ao seu redor. Ele ainda não sentia medo, mas não estava pronto para o que elas tinham a oferecer-lhe, ainda não.

A sombra mais próxima soltou um chiado rouco por entre os dentes pontiagudos e arqueou as costas, preparando-se para saltar.

Ainda havia algo que precisava fazer.

Com as garras abertas, a criatura lançou-se num feroz ataque.

— Acorde, Adam.

Adam levantou-se da carteira num salto, derrubando a cadeira estrondosamente na sala de aula, agora vazia. Num instante, tudo pareceu claro feito água e o que era impossível se tornou tão real quanto o corte que havia aparecido em seu rosto. Ele não precisava de um segundo teste para saber o que estava acontecendo. Não era um sonho, nunca havia sido.

Foi só então que ele se lembrou do pacote com os dizeres “Abra antes de dormir.” em frente a sua porta. O mesmo que ele tinha jogado no lixo. Uma gota de água escorreu fria por sua testa, ao menos havia espantado o sono e com isso estava a salvo, mas por quanto tempo?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Esse demorou um pouco mais, mas é que eu queria terminar essa capítulo de uma vez. No capítulo 2:1, Adam vai descobrir que a vida que ele conhecia não existe mais. Será a hora de encarar seus medos... porém ele não estará sozinho dessa vez. Que mistérios a Rede esconde em suas tenebrosas ruas desertas?



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