Usuário Final escrita por Ishida Kun


Capítulo 17
Capítulo opcional: especial de sexta-feira 13 - Despertar num pesadelo 1-2


Notas iniciais do capítulo

Capítulo especial de sexta feira 13!!! Uhuuu!!! Imaginem acordar num pesadelo terrível? Agora, imaginem que esse pesadelo é mais real do que parece? É nessa situação que se encontra Lyna, perdida em uma realidade hostil e perigosa, tendo que lutar por sua vida a cada instante numa noite que parece não ter fim... A Rede guarda muitos mistérios, gostariam de conhecer um deles?



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— Respire Lyna, respire fundo — ela disse para si mesma, tentando permanecer imóvel por alguma razão da qual ela mesma desconhecia.

Seus olhos percorreram o ambiente rapidamente, procurando detalhes familiares que a situassem em algum lugar conhecido, algum que se assemelhasse à realidade a qual ela já estava tão bem acostumada.
Mas eles não existiam ali. Não da maneira como ela conhecia.

Desceu do pedestal lentamente, o longo vestido de seda esvoaçava com a leveza de seus passos, os pés descalços tocavam o chão cuidadosamente, temendo o momento de acertarem algo pontiagudo. O escuro era um inimigo e a lâmpada piscando na sala adiante, talvez provasse apenas que o escuro não fosse tão mal assim.

— É apenas um sonho Lyna, um sonho muito, muito ruim. Deve ser tudo culpa da sexta-feira treze — afirmou para si mesma, tentando em vão enganar-se. Era mais do que óbvio que aquilo não era um sonho e muito menos culpa do suposto dia azarado.

O local onde estava, assemelhava-se a uma loja de departamentos antiga, pilhas e mais pilhas de caixas de papel jaziam por toda a parte, criando um labirinto acinzentado, um tortuoso desfiladeiro de papel, que ela instintivamente navegava rumo à saída. Nas paredes, prateleiras estavam abarrotadas de produtos velhos, perfumes, brinquedos, todo tipo de quinquilharia dispensável que se encontraria no porão de alguma avó. Intercalando os corredores, haviam dezenas de manequins, cobertos por um plástico sujo e poeirento, como todo o resto do lugar.

Lyna avançava lenta e silenciosamente, seus pais lhe ensinaram a agir com calma e cautela em momentos dos quais a situação fugia do controle. Obviamente jamais a prepararam para algo daquele nível. A última coisa que Lyna se lembrava, era que passara parte da noite estudando para as provas semestrais e a outra parte, conversando com as amigas sobre a programação do fim de semana, o clube de livros e claro, garotos. Havia adormecido confortavelmente em sua cama macia, repleta de edredons e almofadas. Então acordara ali, em pé num pedestal, segurando livros como se fosse uma estátua de algum país megalomaníaco. Os livros, que ela jogara no chão assim que acordara, estavam todos em branco, o vestido que usava não era dela, o perfume também não. Como havia ido parar naquele lugar? E o mais importante, que lugar era aquele?

Lyna se apoiou na porta entreaberta, espiando o cômodo iluminado. A lâmpada amarelada piscava convulsivamente, alternando o brilho alaranjado com o escuro mórbido daquele lugar assustador onde acordara. A sala parecia ser uma espécie de vitrine, com dezenas de manequins muito reais em posições do cotidiano. Um homem fazendo a barba, uma mulher carregando sacolas e falando ao celular, crianças brincando. Lyna aproximou-se lentamente de um deles.

Real demais. Tão real que ela pode sentir a fraca respiração da mulher em seu rosto.

Soltou um gritinho que imediatamente abafou com a mão, apertando a boca com toda a força que possuía. Afastou-se lentamente, encarando com o horror as pessoas-manequins da vitrine, até bater as costas no vidro. Virou-se devagar e o que ela viu a deixou tão apavorada quanto a visão daquelas coisas que respiravam como pessoas.

Aparentemente estava num prédio, numa altura considerável e na distância, era possível ver uma cidade gigantesca se estendendo até onde seus olhos conseguiam captar. Prédios escurecidos e gastos disputavam espaço com construções inacabadas, a arquitetura moderna das grandes cidades dividindo terreno com o gótico da idade média e o contemporâneo dos bairros residenciais. Fios de eletricidade riscavam os céus de um lado a outro, enquanto as nuvens acima eram turbulentas e tempestuosas. Até onde Lyna sabia, não existia um lugar daqueles no mundo, era o tipo de coisa que você sabia assim que batia os olhos. Aquela não era a realidade que ela conhecia, aquele não era o mundo em que vivia, definitivamente não.

Um barulho repentino chamou sua atenção. O tilintar do metal e um ruído de arrastar de passos, algo parecia se aproximar. Lyna sentiu um pavor tão grande dominar seu corpo, que suas pernas amoleceram no mesmo instante, a lançando ao chão. Rastejou às pressas procurando abrigo, olhou tudo o que podia e se enfiou dentro de um armário próximo a porta, onde uma pessoa-manequim repousava como se estivesse dormindo em pé. Se aquilo fosse um filme de terror, ela acabara de cometer o erro-cliché mais terrível.

Pela fresta do armário, Lyna espiou o lado de fora. Não havia nada lá, nenhum som de passos, nem o ruído do metal ou qualquer sinal da origem dos sons. Esperou, esperou e nada, apenas o escuro e a lâmpada defeituosa da sala com os manequins. Aproximou-se da fresta pronta para sair, quando de repente, um sorriso preencheu sua visão. Lyna se tornou tão imóvel quanto uma rocha enquanto a coisa parecia farejá-la, mesmo sem ter um nariz. A criatura era tão negra quanto uma sombra, a pele brilhante lembrava plástico molhado, ou talvez vidro. O rosto vazio não possuía traços ou formas, apenas um sorriso de dentes pontiagudos que ia de orelha a orelha – obviamente se as possuísse. Tão logo terminou de farejar, a criatura saltou do armário para os manequins numa velocidade anormal. Possuía o corpo semelhante a um humano, porém rastejava feito um lagarto, nas mãos, três garras pontiagudas saíam do lugar onde deveriam ficar os dedos, sendo a garra do meio ligeiramente maior que as demais. Eram delas que vinha o tilintar de metal.

As pernas de Lyna fraquejaram ainda mais, mas ela se manteve firme enquanto observava a coisa parada em frente as pessoas-manequins. A criatura ficou de pé – e nesse instante Lyna percebeu o quanto ela era grande – e apoiou as garras no homem com barbeador, a boca escancarada se aproximou do rosto do homem dando a impressão de que a criatura fosse engoli-lo e temendo o momento que isso acontecesse, Lyna fechou os olhos.

Nada. Apenas o silêncio.

Quando abriu os olhos novamente, a coisa sombria com garras não estava mais lá. Teria sido algum tipo de ilusão? E o mais importante, o que era aquela coisa? Ela estava horrorizada com a cena grotesca que presenciara, tanto que mal se mantinha de pé, mas não podia ficar ali, tinha que achar um jeito de sair daquele lugar, de procurar ajuda. Lyna saiu do armário, vasculhando com os olhos cada canto a procura da criatura, mas não havia sinal dela. Virou se para a enorme parede de vidro e fitou a cidade infinita, se perguntando o que era tudo aquilo. Nada fazia sentido, sentia-se tão perdida. Aproximou-se da pessoa-manequim mais próxima, o peito subia e descia com a respiração, era como se estivesse dormindo enquanto fazia a barba. Não era um boneco, definitivamente era uma pessoa, só que adormecida. Cautelosamente tocou o rosto do homem, era quente e macio, vivo. O que havia acontecido àquelas pessoas?

O barbeador caiu estrondosamente no chão, quebrando o silêncio do lugar e fazendo com que Lyna desse um pulo para trás quando o homem abriu os olhos e gargalhou. A voz era um chiado rouco e estrondoso, que causou uma terrível sensação de desespero em Lyna. Ela se afastou até encostar no vidro, indefesa e sem ter para onde fugir. O sorriso do homem esticava-se cada vez mais, rasgando a carne do rosto e deixando os nervos e ossos à mostra. Ouviu-se um ruído de algo se quebrando como gravetos, quando o corpo antes inerte, se contorceu para trás e a gargalhada tornou-se um grunhido ensurdecedor. O peito estufou como se fosse um balão, e as costelas romperam a carne e a roupa, movendo-se desordenadamente como se fossem patas de uma aranha ferida. As pernas se esticaram e enormes garras rasgaram a pele das mãos. A criatura girou a cabeça na direção de Lyna e saltou ferozmente partindo uma das pessoas-manequins na transversal como se ela fosse feita de papel, errando Lyna por pouco. O sangue jorrou feito um chafariz quando as duas metades se separaram, despejando no chão um amontoado de vísceras disformes. Lyna gritou e tentou fugir, tropeçando no que parecia uma corda borrachuda e esbranquiçada que saía do abdômen rompido, quando a criatura novamente a atacou, fazendo um corte superficial em suas costas. Mesmo assim ela correu o máximo que pode, atravessou a porta e correu pelo labirinto de caixas de papel, enquanto as suas costas, a fera rastejava velozmente, com as garras ensanguentadas prontas para cortá-la assim como fizera com o manequim. Lyna podia ouvir os grunhidos da coisa enquanto ela saltava e fatiava as pilhas de caixas à sua procura. Quando finalmente saíra do corredor de caixas, contemplou mais uma vitrine de vidro, idêntica à de onde os manequins estavam, porém havia uma passagem no vidro por onde uma corrente de ar entrava furiosamente. Lyna não pensou duas vezes e se esgueirou pela passagem, enquanto a fera ainda seguia em seu encalço. Ela olhou para baixo e percebeu que estava num lugar tão alto que mal podia ver as ruas. Olhou novamente para o vidro e a criatura a encarava a centímetros de distância, a boca rasgada na carne exibia um sorriso horrendo, grotesco. Agora ela sabia qual havia sido o destino da coisa sombria... mas como?

Antes mesmo que pudesse pensar em qualquer coisa, o monstro se atirou sobre o vidro, estilhaçando-o e acertando Lyna em cheio. Os dois caíram do parapeito, ficando presos pelos inúmeros fios que cruzavam de um lado a outro dos edifícios. O vento rugia e Lyna se agarrava firmemente aos fios, lutando para não cair, enquanto a coisa se debatia, esticando-se na tentativa de alcança-la com as garras afiadas, movimento que apenas fazia com que os fios começassem a arrebentar, um por um. Uma nova investida e parte dos fios romperam-se jogando Lyna e a criatura em queda livre. Ela sentiu o corpo se chocar contra uma vidraça e mais uma vez a sorte ficara a favor dela.

Estava de cabeça para baixo, presa pelos pés num emaranhado de fios, enquanto à sua direita, o monstro ainda se remexia na intenção de alcança-la. Quanto mais ele cortava dos fios que o prendiam, mais perto ele chegava.

A janela. Precisava abri-la de algum jeito. Começou a socar o vidro desesperadamente enquanto o monstro se aproximava, cada vez mais perto, mais perto. A mão ardeu quando uma derradeira pancada fez uma rachadura na vidraça, mas não a quebrou.

Lyna deu outra pancada ainda mais forte, cortando a mão no estilhaço que se formava. A criatura se debatia nos fios, a boca dilacerada estava ameaçadoramente aberta, ela urrava e grunhia ferozmente enquanto as garras se agitavam, ainda enroladas nos fios.

Uma luz veio de dentro do prédio. Uma lanterna, uma voz e no instante seguinte tudo aconteceu mais rápido do que Lyna pode acompanhar. Alguém arrebentou o vidro e a agarrou enquanto outra pessoa atirava na criatura lá fora. Os sons dos tiros foram altos o bastante para causar um irritante zumbido em seus ouvidos. Estava salva.

— Quem diabos é você? — perguntou, a voz era de um homem e parecia sair de alguma espécie de alto falante, mas Lyna não conseguia focalizar o rosto, a luz forte da lanterna ardia em seus olhos.

— Merda! Ele escapou para o andar de baixo! — resmungou uma mulher — Equipes A e B, fechem o perímetro no quadrante 235, ele não pode escapar daqui!

— O que está acontecendo? – questionou Lyna, desesperada. Estava confusa e perdida, o chão aos seus pés não parecia chão, parecia gelatina, ela não conseguia mais ficar de pé, nada daquilo parecia real. Quando não amis aguentou, desabou em lágrimas, chorando alto e incontrolavelmente.

— Ela é um Usuário Ativo? — perguntou outro homem.

As luzes diminuíram, e Lyna tentou se recompor das lágrimas, focalizando as pessoas que a ajudaram. Possuíam roupas escuras, encouraçadas como uma armadura, os capacetes que usavam tinham uma viseira espelhada e alaranjada, que escondia seus rostos completamente. Detalhes luminosos seguiam das mãos até os ombros da roupa. O homem que estava mais próximo, estendeu a mão na direção dela e uma tela translucida se formou em sua frente. Diversas informações rolavam rapidamente pela tela flutuante, era como presenciar a cena de algum filme de ficção científica.

— Ela ainda é um dormente — afirmou o homem.

— Impossível. Cheque de novo! — ordenou o outro.

— Já chequei, ela é um dormente — afirmou novamente, desfazendo a tela numa explosão de centelhas azuladas.

— Merda! — xingou a mulher, baixando a arma e indo na direção dos três – Não podemos garantir a segurança dela aqui. Temos que mandá-la de volta.

— Como? — questionou o homem mais próximo de Lyna.

— Tem um jeito. — O outro homem estendeu a mão e uma pistola preta se materializou nela, num emaranhado de fios luminosos. A arma foi apontada para a testa de Lyna e ela por um momento, se perguntou se de fato estava realmente salva.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Segunda e última parte será postada amanhã! Até breve!!!

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