Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 31
O Primeiro Título de Nobreza | Ingrid


Notas iniciais do capítulo

Hoje não é quinta, hoje não é dia de RDC! Realmente, vacilei na quinta!!! Tentei de tudo para conseguir postar, mas foi difícil. Essas entrevistas lindas e maravilhosas me mataram. Continuo nas notas finais (me cortaram)



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A virtude é o primeiro título de nobreza; eu não presto tanta atenção ao nome desta ou daquela pessoa, mas antes aos seus atos.

—Jean Molière



Oito horas em ponto, as cortinas ainda estavam fechadas, impedindo a luz suave da manhã entrasse no Salão Nobre e esquentasse os nove presentes. Por alguns instantes, Ingrid apenas apreciou a calmaria e o silêncio de sua família — e de Arthur, que, em parte, já poderia ser considerado parte dela — e encarou a animação da irmã mais nova, que ria sozinha no colo da babá. Até que, então, lentamente, as Selecionadas, ainda com a expressão preguiçosa de sono em suas faces, entrarem pela porta.

A princesa conseguia perceber o tamanho do nervosismo de suas futuras cunhadas, mesmo que esse fosse muito bem acobertado. A maioria delas tinha os olhares fixos no chão e quando, eventualmente, olhavam em volta, apenas encaravam Alexander. O menino, porém, parecia igualmente apreensivo, com as sobrancelhas franzidas e o maxilar tenso. Era incrível a evolução da preocupação dele com as garotas em tão pouco tempo...

— Garotas, atenção — orientou a Senhora Gillies, tirando Ingrid de seus devaneios. — Na presença de todas vocês, da Família Real Dinamarquesa, da Princesa Aline do Reino Unido e do Príncipe Arthur do Reino Unido, farei agora o sorteio da ordem das entrevistadas.

Os cabelos extremamente escuros da mulher ultrapassaram o limite dos ombros e taparam as feições dela. Sendo assim, nenhuma expressão era vista enquanto ela conduzia os dedos finos e delicados para dentro da caixa de vidro. Aos poucos, uma fila de papaizinhos era formada na pequena mesa, indicando a sequência dos pequenos grupos e das perguntas. Aquela cena, que passou em segundos para Ingrid, provavelmente se arrastara par as Selecionadas. Afinal, aquilo poderia mudar tudo.

— O primeiro conjunto é composto pelas Senhoritas Marzia, Annabelly, Rachel e Solaria. — anunciou a coordenadora, com os quatros bilhetes na mão. — Por favor, meninas, levantem-se e aproximem-se da comissão avaliativa.

Como se estivessem em transe, as sorteadas levantaram-se. Para ser sincera, Gridy não conhecia muito bem nenhuma das quatro, mas conseguia evidenciar perfeitamente inquietação em suas ações. Os olhos levemente arregalados de Annabelly. As mãos suadas de Solaria. Os passos apressados de Marzia. E até o discreto tremor de Rachel. Pequenas coisas que poderiam facilmente eliminá-las da disputa,

— Vamos a suas três perguntas. Lembrando que vocês têm dois minutos para formular as respostas. Boa sorte — comunicou a coordenadora, fitando as quatro meninas em sua frente, tirando mais três papeis meticulosamente dobrados em forma de estrela da mesa. — “Você é uma líder ou uma seguidora?”, “Em um dia comum, o seu foco está em tarefas e resultados ou em pessoas e emoções?” e “Quem a inspira? Por quê?”.

Os instantes seguintes pareceram se arrastar por horas. Apenas o vento se manifestava, arrepiando os pelos nos braços da princesa. Ela que sempre estava aos risos com a irmã gêmea, naquele momento deveria permanecer calada, sem nem olhar para a outra garota. E o silêncio e desconforto que aquilo causava era intimidador.

Dois minutos. Cento e vinte segundos. Menos de um décimo de hora. Momentos insignificantes em um dia tão extremamente longo. Ingrid, porém, já não aguentava mais.

— Tempo esgotado. — anunciou Gillies, sorrindo. — Marzia, você pode dar início, respondendo a primeira pergunta. Annabelly, Rachel e Solaria, nessa ordem, vêm depois. E assim sucessivamente em todas as perguntas.

— O que dizer? Dizer a minha verdade ou dizer a verdade perante o mundo? Bom, acho que deveria dizer o que vocês querem ouvir, o que uma princesa deveria dizer. — disse Marzia, com uma calma profunda, destoando totalmente de seu estado anterior. — Há situações em que sou seguidora e tenho, também, a chance de ser líder. Depende dos envolvidos, depende do momento. Posso afirmar apenas que sou sempre eu mesma. Nunca deixo para trás minha essência, meus princípios e minha alma de filósofa.

Algumas palmas isoladas foram ouvidas do fundo do Salão. E o sorriso no rosto da entrevistada era radiante.

Realmente, suas palavras forma sábias e bem pensadas, dignas de uma princesa. Se todas fossem assim, a Rainha teria sérias dificuldades na escolha das eliminadas. Todavia, apenas aquele discurso conseguiu alcançar os níveis exigidos. As outras foram aleatórias, sem noção e até confusas. Ingrid até achara que ganharia mais apenas cravando o olhar na pintura cristã centenária situada no teto.

— Muito obrigada, garotas. — Gillies disse, sem a mínima intenção de esconder a decepção, sem sequer olhar para as competidoras em sua frente, visto que já sacava os papéis seguintes. — As próximas serão, em ordem, serão as Sehoritas Emery, Mayrelles, Cassiopeia e Allice. E as perguntas são: “Qual foi sua primeira impressão do Palácio”, “Quais eram seus objetivos quando preencheu a folha de inscrição?” e “Que qualidades você acredita que uma Princesa deve ter?”. Os dois minutos começam a ser contados agora. Boa sorte.

Durante o tempo que se seguiu, Ingrid decidiu apenas fingir que estava prestando atenção. Afinal, não valia a pena gastar seus pensamentos ouvindo bobagens e respostas clichês. Não querendo menosprezar as Selecionadas, mas ela poderia muito bem estar calculando a distância da Terra a uma estrela qualquer ou descobrindo uma nova galáxia. Ou até, se as ideias lhe faltassem, os ângulos das figuras douradas presentes nos pilares. Assuntos, de fato, muito mais importantes do que a Seleção.

— Em suma, acredito ser a pérola da sociedade, um exemplo a ser seguido. — concluiu Allice, fazendo com que a jovem princesa desse gritos internos de aleluia. — E sei que muitas meninas aqui nessa sala têm essas qualidades.

Breves palmas foram ouvidas. As meninas, em passos acelerados, voltaram para seus lugares nas confortáveis cadeiras de acolchoamento de veludo azul. Tão rápido quanto elas saíram, outras quatro vieram, igualmente agitadas. De tão desatenta, Ingrid nem sequer ouviu os nomes e as perguntas. Quando se deu por si, o novo grupo já estava em sua frente, pisando sobre os azulejos dourados, fazendo as mesmas bobagens que suas antecessoras.

— A resposta seria, certamente, a reavaliação dos conceitos que temos sobre tudo. Sobre povo, sobre realeza, sobre educação. — disse Rosaly, uma das meninas no meio do grupo, tomando a atenção da jovem princesa. — Não podemos reclamar muito sobre a política de nosso país, na verdade, pois sei que há muitos que estão piores que nós. Mas sempre temos que nos comparar com o topo e tentar atingir o ideal, mesmo que pareça impossível.

Após as palavras parcialmente polêmicas das competidoras, Ingrid voltou ao ócio. Desta vez, encarou os olhos azuis brilhantes da irmã gêmea, que se encontrava em sua diagonal. Sem dúvidas, ela tomara a mesma atitude que a outra garota, visto que não trazia nenhuma expressão no rosto e ignorava completamente as cortinas que batiam em suas costas. Era estranho, até na paciência elas eram parecidas.

— Sehoritas Mabelle, Kristal, Wanessa e Ulrika. — anunciou a Senhora Gillies, já aparentando cansaço. — “Fora do Palácio, quais eram seus objetivos?”,“Como foi a semana na Academia Real Militar?”e “O que a motiva a continuar na competição?”.

Ao ouvir o nome de Wanessa, Serena, que estava ao lado de Isabella, deu um pulo discreto, o que aguçou a curiosidade de Gridy. Durante os dois minutos que separavam as perguntas das respostas, a nobre encarou a ruiva, que enrolava o cabelo nos dedos, confiante. Estado de espírito que era até suspeito, levando em conta as garotas de pernas trêmulas que estavam ao seu lado. Na verdade, aquela competidora era intrigante desde que chegara ao palácio e, se era recebida com um pequeno susto pela Duquesa de Omsk, algo realmente estava errado.

— Exaustiva, no começo eu estava muito animada até porque era tudo muito novo para mim, mas quando eu cheguei lá vi que não seria nada fácil. — respondeu Mabelle, com um sorriso meigo no rosto. — Entretanto, foi uma experiência maravilhosa.

— Extremamente necessária para filtrar as Selecionadas. — falou Kristal, com a expressão encantadora que as gêmeas estavam acostumadas a ver na série de televisão que atuava. — Afinal, apenas as que realmente querem estar aqui aguentaram o sofrimento!

— Maravilhosa, pelo menos para mim. Tive a oportunidade de conhecer coisas novas, pessoas novas e um pouco mais da cultura dinamarquesa, pois aprendemos muitas novidades em todo tempo em que passamos na academia. — admitiu Wanessa, parecendo bastante sincera, recebendo um olhar desconfiado da nobre siberiana. — Fico orgulhosa com a competência militar deste país, eles nos exigem disciplina, isso me deixa satisfeita, pois é sinal de que apenas os fortes podem sobreviver na competição.

As palavras da garota foram tão normais, tão neutras. Eram tão parecidas com as das outras, que apenas tentavam agradar a Família Real. Então por que ela merecia tanta atenção? Ela era, de alguma forma, melhor que as outras? Ou apenas chamava mais atenção por ter cabelos gritantes?

— O príncipe, eu realmente queria muito conhecê-lo de verdade, entende-lo um pouco mais… — respondeu Mabelle, quando Ingrid finalmente saiu de seus devaneios e voltou a se concentrar na entrevista. — Afinal, é por ele que estamos aqui.

Resposta normal, como a das outras duas que seguiram. Porém, naquela pergunta, a ladra de atenções foi um pouco mais criativa.

— Alguma coisa dentro de mim quer elevar-se, mostrar ao mundo do que eu sou capaz. Eu senti na pele a pobreza e morte — disse a ruiva, fazendo uma pausa para enxugar uma lágrima que descia teimosamente sua bochecha direita. — eu imagino que se eu conseguir algum prestigio aqui dentro poderei ganhar oportunidades de ajudar órfãos e pessoas necessitadas.

Era notável o fato de ela tentar dar veracidade às palavras, seu tom de voz falso não pôde ser escondido de Ingrid. As frases, mesmo com o choro, pareciam sem sentido para ela. A jovem princesa passara anos demais analisando expressões faciais e corporais para não compreender isso. O tremer incansável do calcanhar esquerdo, os dedos que enrolavam o cabelo e o sorriso de lado não acobertavam nada. E talvez Serena pensasse o mesmo. Deveria ficar com os dois olhos abertos.

— Senhoritas Laryssa, Layla ,Isabelle, Victoria e Ferissa. Como nosso tempo é curto, visto que devemos enviar as eliminadas de hoje para casa até às 16 horas, vocês apenas receberão duas perguntas. Então, pensem com cuidado, — falou Gillies, após as outras respostas ordinárias, que nem mereciam reconhecimento. — “Você acredita que a Monarquia ainda é a solução para nosso país? Por quê?” e “Que mensagem você gostaria de deixar?”.

Os olhos de Isabella brilharam com os nomes das cinco últimas Selecionadas. Era a primeira vez na manhã que ela realmente se animava com algo. E Ingrid sabia o porquê. Layla, a garota que mais chamara sua atenção, com sua expressão doce, porém cheia de atitude. Elas poderiam, talvez, finalmente ter algum divertimento naquela prova.

— Sim, eu ainda acho. Mas temos que fazer dar certo. A Monarquia é um sistema com grandes aberturas á falhas, temos que aceitar e enxergar isso. Não dá pra fingir que não. O ser humano é um ser corruptível e o sistema monárquico dá muitas brecas para que ele se corrompa. –- afirmou Laryssa, direcionando seus olhos azuis hipnotizantes diretamente para a Família Real, sem medo. — Ainda assim com as pessoas certas, com os métodos certos, eu acho que sim pode continuar dando muito certo. Nós só precisamos pensar e criar soluções para o que tem dado problema hoje.

— Depende muito. Se for para ficar gastando e usufruindo do dinheiro que o povo ganha com suor para se sustentar: Não! Isso é abuso de poder. Mas se for para garantir que nenhum corrupto qualquer suba ao poder, e ao invés disso a criança seja treinada desde pequena para assumir tal responsabilidade: Sim. Minhas ideias sobre a monarquia são meio a meio. Vejo muitos defeitos como privilegiar apenas o filho do rico e deixar o pobre para o canto, ou seja, “quem puder, faça e quem não puder que se ferre”. Muitos usam a desculpa: O pobre é um vagabundo que não vai atrás de nada e vive a custa dos outros. Já pararam para pensar uma coisa: Quem contrataria um pobre? — falou Layla, com firmeza, cativando todos que a observavam. — Eis a questão, ninguém quer dar oportunidade a eles. E o que acontece? Viram bandidos, pois não tem como sobreviver. Às vezes nem para comprar um leite. Mas alguém ajuda? Sinto muito, Vossas Majestades, se ofendi seus princípios de algum modo, porém como uma mulher do povo que sabe se impor eu tenho o dever de fazer esses questionamentos.

Ingrid não conseguiu prestar atenção nas cinco meninas seguintes. Ela apenas conseguia encarar aqueles longos cabelos negros presos em um delicado coque e aqueles lábios vermelhos praticamente perfeitos, que tanto criticaram seu mundo. Aliás, como a garota que parecia tão inocente tinha a capacidade de fazer aquilo? De atiçar na jovem princesa todo um pensamento crítico sobre a própria família?

A única coisa que a fez voltar para a realidade foi a voz melodiosa e cativante de Laryssa, que abrilhantava o Salão assim como todas suas características, dos sapatos dourados simples à tiara delicada em seus cabelos. Mesmo que sua expressão não fosse das melhores naquele momento...

Acho que as pessoas tem que saber que isso aqui não é só uma competição. Cada garota está sendo acrescentada, eles estão nos ensinando muito. Estamos mudando, todas nós, de alguma forma e é positivo. — falou ela, com um sorriso vacilante. — Todas nós sairemos daqui princesas. Independente do final.

Após a última palavra, os ali presentes presenciaram o corpo delicado da garota desabar. A palidez tomou seu corpo, o tremor roubava o controle das pernas e o desespero apanhava sua expressão feliz. Em câmera lenta, ela se aproximou do chão, agarrando-se à cadeira mais próxima para evitar a queda. Mas nada podia ser feito. Ela já estava atirada no chão como um defunto.

Ao seu lado, Ingrid pôde sentir o irmão levantando-se. Logo, sua estatura comprida já cobria o sol que esquentava a jovem princesa. Ele parecia muito confiante, levantando-se para amparar sua pretendente. Porém quem o conhecia bem sabia que não era bem assim. De canto de olho, ela percebeu o desespero em seu rosto. Suas boas intenções, porém, logo foram interrompidas por uma mão pequena, que se erguia no outro lado da sala.

A de Ophelia.

— Não se preocupe, Alteza. — afirmou ela, tirando Saphira de seu colo. — Eu me encarrego de ajudar essa dama. A entrevista pode continuar normalmente.

E assim, sem nenhuma outra objeção, a jovem espanhola levantou a Selecionada, ajudando-a a andar até a porta.

A porta fechou-se, levando, daquela maneira, a diversão de Gridy.




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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? A Ingrid tem um pouco de Juliane, não é? Fica criticando as Selecionadas... aiai Tal mãe, tal filha. KKKKK
A Layla é uma linda, né? Toda a entrevista dela era MARAVILHOSA, queria poder colocar tudo :( Mas enfim, como diz meu amigo, não se pode tetudo na vida... Acho até que vou postar as entrevistas completas no blog. O que acham?
E a Laryssa? O que será que houve? Não é a primeira vez que ela passa mal... Vishhh
Até o próximo!
xoxo
PS: Muito obrigada a quem enviou as entrevistas!



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