De longe, no meio da multidão de garotas, Arthur observava a prima conversando com a Rainha da Dinamarca em cima do tablado. Ele simplesmente não conseguia tirar os olhos de lá, pois qualquer coisa poderia acontecer. Afinal, comparecer a um evento sem ser convidado não era bom. O diálogo, porém, parecia amigável, pois as duas sorriam. Aline já dissera que tudo ficaria bem, que ele não precisava se preocupar. Mas ele não acreditava nela.

Sem que percebesse, se aproximava aos poucos das duas nobres. Como a dança ainda não fora liberada, os cantos do Salão estavam lotados. Por isso, o tecido dos vestidos de baile passava com leveza pelas pernas dele. Algumas mãos encostavam-se às suas, porém ninguém parecia se importar. E Arthur, por sua vez, não prestava atenção, apenas direcionando seu olhar verde-acinzentado para frente.

— Então é este seu pretendente? – sussurrou uma voz feminina suave, que vinha de trás do príncipe, tirando a concentração. – O primo da Aline e sobrinho da tia Alice...

— Parece que sim. – respondeu outra voz um pouco mais grossa. – Ele me pareceu um tanto duro.

Discretamente, o garoto virou seu corpo em direção às vozes. Deparou-se, então, com duas meninas. Duas princesas. Coroas delicadas brilhavam em suas cabeças, iluminando seus rostos belos. Encarou primeiro a da direita, a da voz mais grave, que trajava um vestido vermelho. Deveria ser sua prometida, Ingrid. Ela era formosa e tinha um sorriso reconfortante, porém quando Arthur pôs os olhos na da esquerda, nada mais parecia belo o suficiente.

Suas feições eram tão delicadas que pareciam infantis; nariz fino, maças do rosto altas e queixo fino, tudo acompanhado por um sorriso aberto e alegre. Para completar, ela vestia rosa. Já ouvira falar que muitos desconsideravam as propostas de casamento para uma das gêmeas, provavelmente esta que olhava, por pensarem que ela era imatura demais. Seria uma esposa despreparada. Apesar de tudo, ela encantou o jovem príncipe britânico.

— Arthur. – disse ele após alguns minutos de encarada. – É um prazer conhecê-las, Altezas.

Lentamente, ele inclinou a cabeça, desviando o olhar dos rostos sorridentes das garotas. Com suavidade, beijou a mão de cada uma. Primeiro a de vermelho, depois a de rosa. Ambas pareciam borboletas ao toque, eram leves e pequenas. As unhas longas roçavam em seus dedos. Ainda que fossem muito parecidas, uma delas ainda chamava mais sua atenção.

O que estava acontecendo?

— Atenção a todos os presentes. – a voz imponente, porém doce, do rei soou nos auto-falantes – Declaro aberto neste momento o Baile de Recepção. Peço que todos tomem seus pares.

Com a fala, o alvoroço, que já era intenso, aumentou. Selecionadas andavam de um lado para o outro em passos rápidos. Uma mulher loura, que era muito parecida com a Rainha Juliane, organizava, gritando, todas as plebéias em filas. Oficiais das Forças Armadas da Dinamarca, que haviam sido convidados apenas para dançar com as visitantes, se posicionavam no local da dança, esperando por suas parceiras. Até a música parecia estar mais agitada. Entretanto, no canto onde Arthur se encontrava, o silêncio ainda reinava. Ele ainda encarava as belas meninas em sua frente.

Por um momento, o garoto desejou poder tomar mais uma vez a mão à esquerda, a que estava envolta por seda rosada, porém seria uma falta extrema de princípios. Afinal, sua pretendente não era ela, e sim sua gêmea. Por isso, lamentavelmente, o tecido cor de sangue estaria em seus braços no Salão.

— Concede-me essa dança? – perguntou, curvando-se em uma reverência cortês.

Após o balanço lento da cabeça da menina, os dois seguiram lado a lado até o centro do espaço. Apesar do aglomerado de pessoas que ali estava, Arthur só conseguia olhar para uma, mesmo que de canto. Para a dos olhos azuis cintilantes que foram deixados para trás.

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Alexander tinha de se abaixar para ver o sorriso simpático da garota com quem dançava. Os braços dela nem alcançavam os dele, de tão baixa que era. Deveria ter, no máximo, um metro e meio. Era Rachel, uma das Selecionadas que mal tiveram a atenção do príncipe na primeira semana. Talvez porque as outras, altas e esbeltas, a tapassem sempre.

Os dois estavam no centro do Salão. Junto a outros casias, formavam um círculo. Os movimentos eram sincronizados, como sempre eram em uma valsa da realeza. Os homens giravam suas parceiras ao mesmo tempo. As damas eram erguidas ao mesmo tempo. Tudo ao ritmo da música. E o príncipe adorava isso: a uniformidade.

Logo os cabelos extremamente vermelhos da garota miúda saíram de sua frente. As exóticas madeixas platinadas de Solaria agora tomavam sua vista. Assim como a anterior, ela sorria. A animação era evidente em toda sua expressão. Alexander não pôde deixar de se alegrar com isso com isso, pois adorava ver suas futuras esposas radiantes.

Infelizmente, ela saiu de seus braços na mesma velocidade que entrou. Dando, assim, lugar para a terceira companheira. Ele nem se deu o trabalho de olhar em seu rosto, pois sabia que seria mais uma de muitas Selecionadas. Porém ela, diferente das outras, tinha passos elegantes, que davam a impressão que ela flutuava. Notando isso, ele a encarou e, para sua surpresa, os braços levemente bronzeados de Ingrid encostavam-se aos seus.

— O que faz aqui? – questionou em sussuros, desconfiado. – Não imaginava que um guarda convidaria uma tão gloriosa princesa para dançar.

— Você não é o único que tem pretendentes. – respondeu ela, com a boca colada no ouvido do irmão.

Ela deu uma risada divertida, como se escondesse algo. Porém, antes que Alexander pudesse retrucar, ela já rodopiava, trocando de parceiro como a coreografia pedia. Consequentemente, outra figura já se punha em sua frente.

Era impossível não encarar os grandes olhos azuis da menina. Eles praticamente pediam para serem encarados, hipnotizando o príncipe. Ele não conseguia desviar o olhar.Isso, porém, pareceu constranger a competidora, virou a cabeça rápido para o lado. Os cabelos ruivos dela, então, bateram delicadamente no rosto dele. O cheiro de maça tomava suas narinas enquanto respirava fundo, o que o magnetizou ainda mais, se era possível.

Os minutos se passaram. A música cessou. Todos os casais se separaram. Entretanto, a mão de Alexei ainda pousava na cintura da garota. Ele não queria soltá-la. Poderia ficar o evento inteiro encarando aqueles pequenos detalhes que o fascinaram. Mas não podia. Tinha deveres a cumprir.

— Foi um prazer dançar com a senhorita Laryssa, lamento por ter sido tão breve. – admitiu ele, com um sorriso bobo no rosto, finalmente desvinculando-se dela. – Se quiser, podemos repetir.

Tímida, ela balançou a cabeça, concordando. Devagar, com receio de que ela se afastasse, ele se inclinou. Beijou sua mão aveludada com cuidado, logo ergendo-se novamente. E assim ela se foi, andando em passos largos para a ala das Selecionadas.