República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 51
Presente de Aniversário


Notas iniciais do capítulo

Aiii menininhas, perdão! Esse capítulo me consumiu o domingo, espero que tenha valido apena. rs
Bom, sem mais enrolar, aqui está s2
Boa leitura!! :)



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Na noite passada, a luz havia voltado um pouco depois da última conversa entre o engenheiro e a ruiva.
No entanto, como ela havia dito, permaneceu o tempo todo em seu quarto, não saindo nem ao menos para jantar a pizza que Juliana e Zelão trouxeram ao chegar.
Ferdinando preferiu também não jantar. Nem quis incomodar a ruiva. Ela já o havia avisado que conversariam no dia seguinte, e era para isto que ele se preparava. Para fazer daquele um dia decisivo desde seu início.
Ele apresentaria sua proposta de paz, e ainda entregaria a ruiva um presente que há alguns dias havia mandado fazer.
Algo realmente especial.

[...]

O sobrado estava extremamente silencioso na manhã seguinte. A calmaria era cortada apenas pelo canto dos pássaros, que pareciam agradecer pela primeira manha de céu azul em dias.
Ferdinando acordou minutos antes de o celular despertar no horário programado. Seu corpo transparecia, com este ato, sua ansiedade.
Ele havia comprado discretamente tudo o que precisaria para primeiro acontecimento do dia especial. Bem como guardado de maneira ‘secreta’ nos armários menos utilizados da cozinha.
A ruiva não poderia suspeitar. Ele gostaria de surpreendê-la por completo.
Agora, sóbrio, Ferdinando percebia o quanto toda a discussão da tarde passada havia sido desnecessária. Agradecia o dia ser propício para esquecerem e finalmente passar por cima de assuntos não resolvidos.
Maia era um deles.
Em seus planos, ele deixava clara a vontade de definir de uma vez por todas que só sentia amizade pela morena.
O rapaz desceu até a cozinha, logo após tomar um breve banho morno.
Encontrou a delicada bandeja branca, que havia comprado, no mesmo local que tinha deixado escondida.
Colocou-a sobre a mesa, e iniciou o preparo dos alimentos que ali serviria. Para ele não era simples, mas Nando havia se dedicado a ponto de ver até mesmo em videoaulas da internet maneiras de se fazer a omelete que a ruiva tanto amava.
Quando terminou, percebeu que poderia ter exagerado na variedade de alimentos dispostos.
Ou não.
O apetite da ruiva nunca fora dos menores.
Havia um imponente copo de suco de abacaxi com hortelã, o favorito dela, ele há muita já havia percebido. A bela omelete que ele agradecia ter (ao menos aparentemente) ter acertado ao fazer. Uma delicada xícara completa com café preto, ao lado de um prato que fazia conjunto, no qual Nando havia depositado quatro torradas repletas de geleia de damasco. E, por último, um delicado potinho com inúmeros morangos dentro, os quais deveriam ser provados com o acompanhamento do creme de avelã e chocolate ao lado (assim ele havia planejado).
A rosa vermelha no solitário de cristal, disposta no canto superior direito da bandeja era o detalhe que mais demonstrava o tamanho empenho e carinho do engenheiro na bela (primeira) surpresa que pretendia fazer.
– Perfeito. – Nando sorriu constatando o sucesso. Ainda mais em perceber que já eram oito horas passadas e a ruiva, felizmente, ainda não despertara.
Ele pegou delicadamente a bandeja, segurando em suas alças prateadas. Equilibrou-se o máximo possível, com uma destreza que admitia desconhecer até então. Surpreendeu-se ao coseguir subir as escadas, sem derrubar ao menos uma gota de suco.
Quando chegou ao corredor dos quartos, depositou-a na pequena superfície de madeira do guarda corpo da escada. Abriu delicadamente a porta, para não acordar Gina antes do momento planejado.
Voltou a segurar a bandeja, e sentou-se ao lado da bela mulher que dormia serenamente. Ele se apaixonava ainda mais cada manhã que a via.
Teve ainda mais certeza de que aquele dia não poderia ser diferente do que planejava.
– Menininha? – Ele chamou suavemente, enquanto acariciava a face dela, com o a surpresa apoiada em seu colo.
Gina abriu delicadamente os olhos. Vê-lo ali, tão ternamente a acordando a fez sentir uma paz incrível no peito.
Infelizmente, por pouco tempo.
Ao sorrir para ele e receber reciprocamente um sorriso, ela se lembrou de que a um bom tempo não o via. Desde a tarde passada.
Ela lembrou-se da tarde passada.
Lembrou-se do acontecimento daquela tarde passada. Sentiu que precisava contá-lo sobre o que havia feito com Jone.
“Céus.” Foi a única coisa que ela pensou ao verificar que o sorriso dele apontava junto a seu olhar para uma doce surpresa em seu colo.
Como ela poderia contar em um momento doce como aquele, algo tão amargo?
– Bom dia... – Nando depositou-lhe um casto, porém longo, beijo na testa. Afastou-se colocando a bandeja sobre ela, que já se sentava na cama. – Feliz aniversário, menininha...
Ela não conseguiu evitar o sorriso que escapou, apesar de tentar ao menos denunciar que precisava conversar seriamente com o engenheiro.
– Nando... – Ela tentou iniciar.
– Nem ouse agradecer Gina, eu te garanto que é só o começo... Deixe pra tirar suas conclusões na praia. – Nando sugeria claramente animado com o futuro passeio.
A ruiva suspirou.
– Nando eu não ia agradecer... – A face dele tornou-se confusa pela fala séria dela. – Eu realmente achei lindo tudo isso... Me surpreendeu, mas... – Não saia.
Precisaria sair.
– Mas...? – Ele nem se quer suspeitava. Achava que ela poderia dizer algo sobre a tarde passada, sobre o breve desentendimento, mas se via pronto para convencê-la de que o dia atual apagaria qualquer memória desagradável.
O coração de Gina doía.
Ela apenas conseguia observar a bandeja em seu colo e imaginar o trabalho que o engenheiro havia se dado para surpreendê-la desde os primeiros segundos de seu aniversário.
Entretanto, tal pensamento apenas a fazia ter a certeza de que ele merecia sua sinceridade, como sempre tivera.
– Nando, eu preciso te contar sobre o que aconteceu ontem. – Ela iniciou.
– Menininha, eu te garanto que depois de nossa decisão hoje, você assim como eu vai ver que o melhor que podemos fazer é parar com brigas tolas como as de ontem. Eu te amo menininha, e quero que hoje consigamos resolver ficar juntos de uma vez...
– Nando, eu beijei o Jone. – Ela confessou. Olhando dolorosamente no fundo dos olhos do engenheiro.
– Como?! – Ferdinando teve seu cérebro invadido por uma informação que não conseguia processar. Ele continuava a observá-la como se uma correção pudesse surgir.
– Eu beijei o Jone ontem, Nando. – A ruiva passou a mãos espalmadas pela própria nuca. - Eu precisava te contar... – Ela fechou os olhos. Senti-a se de certo modo até mesmo envergonhada.
Culpada.
Confessa.
– Gina... – A respiração de Nando tornava-se claramente alterada, falha. Ele levantou-se da cama. – Eu não posso acreditar... – Um misto de ódio, dor e perda se colocavam no coração extremamente ferido que ele agora possuía. Ele virou-se de costas, não conseguia olhar para ela.
– Nando, eu não sei bem o por que... A provocação da Maia, a bebida, o jeito que você tinha falado comigo... – Gina não havia descoberto até agora o maior motivo por ter se permitido cometer o ato.
– Sua vontade... – Ele voltou a fitá-la, com os olhos mais incriminadores possíveis. – A vontade dele... Não é Gina?! – Na última colocação, o engenheiro já estava em pura ira. A voz estava claramente alterada.
– Não é nada disso, Ferdinando! Eu não sei o motivo! – Gina retirou rapidamente a bandeja que estava em seu colo, colocando-se de pé, queria encará-lo diretamente ao confessar. – Eu não gosto do Jone, Nando... É só disso que você precisa saber...
– Não Gina, você já me deixou claro o que eu precisava saber. Confessou, “EU beijei o Jone”... Você quis Gina! – As lágrimas que escorriam dos olhos azuis de Nando eram tão intensas quanto seu tom de voz.
Ele nunca, nem em seu pior pesadelo imaginaria protagonizar tal situação.
Estava tudo tão certo em sua mente, seu coração já estava até mesmo colocando-se em paz, extremamente convicto de que o dia seria decisivo em sua vida e na vida da ruiva. Na vida que ambos concordariam partilhar, de uma vez por todas.
Mas ele estava errado.
Melancolicamente enganado.
– Não Nando, me deixa explicar... – A ruiva tentou pegar em sua mão. Nando se afastou. A vontade de Gina em esclarecer era tão grande que ela nem ao menos se permitia chorar, queria continuar com a voz clara. Coisa que um possível choro não permitiria.
– Não Gina. Você já explicou bastante! – O engenheiro se retirou apressadamente do quarto.
Desceu em disparada as escadas, saindo do sobrado em uma pressa e desespero claros.
Gina não teve sequer coragem de segui-lo.
Sabia bem do que ele precisava. Tempo.
E pela primeira vez, ela tentaria ter a paciência que julgava necessária, para não piorar as coisas.
A porta do quarto ao lado logo se abriu.
– Gina?! – Juliana perguntou com clara preocupação na voz, entrando no quarto da ruiva. – O que foi que houve aqui?!
Gina respirou fundo.
Odiava isso de estar segurando o choro e alguém lhe perguntar ‘o que foi’. Era pior.
Uma lágrima caiu.
– Eu beijei o Jone, Juliana. – Ela nem fez cerimônias em dizer, já indo sentar-se na cama.
– O que?! – A professora não acreditava no que ouvia.
– É Juliana, ontem à tarde, eu te avisei por mensagem que ele e a Mai estavam aqui.
– Avisou sim Gina, mas pensei que os quatro estivessem juntos!
– E agente tava Juliana, mas aí acabou a luz e o Nando subiu... A Maia foi para o lavabo... – A ruiva se quer lembrava-se bem de como o beijo havia se iniciado.
– E vocês se beijaram?! E isso lá é explicação, Gina?! – Juliana estava realmente confusa.
– Não, Juliana, eu não sei... Eu não gosto do Jone, eu amo o Nando e depois daquele beijo tive ainda mais certeza disso... Mas... Sei lá, a bebida, e eu tive uma vontade... Não era bem vontade...
– Uma curiosidade. – Juliana pontuou clara.
Gina a encarou.
– Exatamente... Porque será?! – A ruiva perguntava como se a amiga pudesse fazê-la entender.
– Ah Gina, porque isso é normal, ainda mais o Jone sendo como é, e você e o Nando com esse tempo tolo, interminável no namoro...
– Como assim o Jone sendo como é?!
– Gina, o Jone é a cara do Nando. – Juliana não pôde evitar um riso. – Até o Zelão percebeu!
– Ara, imagina Juliana! – Gina achava absurda a comparação.
– Gina, acredite em mim, ele é. E você não percebe porque aos seus olhos o Nando é incomparável. Mas seu subconsciente percebe essas coisas sem você sequer notar... Por isso se deu tão bem com o Jone, encontrou nele o que tava fazendo falta... O Nando.
A ruiva ainda não se convencera totalmente, mas se via obrigada a concordar.
Afinal, nunca havia se tornado próxima de alguém com tanta facilidade.
– Mas me diga... O que você vai fazer agora?! Por que não foi atrás do Nando?! – A professora questionou sem entender a relativa ‘calma’ de Gina com a situação.
– Porque eu quero o deixar pensar... Sei que ele precisa de tempo. A gente marcou de ir à praia hoje, decidir de uma vez por todas o assunto do namoro, e eu vou falar lá, na hora certa... – Um sorriso bobo surgiu na face alva da ruiva. – Eu quero mesmo resolver Juliana... Quero mesmo parar de uma vez com tudo isso.
Juliana admirou o pensamento sensato da ruiva.
Ela de fato, havia evoluído muito. Estava sendo madura.
– Pois eu acho que você foi muito feliz nessa sua decisão, minha amiga... – Do nada, Juliana olhou para Gina com a cara mais assustada do mundo. – Gina, meu Deus! Parabéns!! – Ela colocou-se a abraçar a ruiva.
Gina ria com reação de Juliana com a lembrança.
– Tudo de mais perfeito à sua vida, minha amiga... – A moça de cabelos róseos acariciou a face que lhe sorria agradecida. – Olha Gina, eu bem sei o que te dar de presente! – Um riso que unia malícia e animação surgia nos lábios da professora.

[...]

– Juliana, pra que isso tudo?! – Gina não entendia a quantidade de sacolas com a qual a amiga voltava do passeio que fizera para lhe comprar o presente.
– Ai, calma, vamos ao seu quarto que eu já mostro! – Juliana deu um leve beijo em Zelão, afinal o namorado a havia acompanhado por horas no shopping, em busca dos presentes ideais, e subiu com a amiga para o quarto, deixando-o na sala.
Assim que entraram, Juliana fechou a porta, e despejou as sacolas na cama.
Gina observava sem entender.
– Gina... Eu comprei uma roupa, que espero do fundo do coração que você goste... Comprei pra você usar hoje, quando for à praia com o Nando... – O sorriso de Juliana era encantador.
– Ara Julia, mas não precisava... – Gina estava extremamente sem jeito e grata.
– Precisava sim! – A moça começou a mostrar os itens escolhidos.
Gina esboçava reações extremamente aprovadoras a cada item que via.
Exceto no último.
Quando Juliana retirou o último embrulho, viu Gina enrubescer.
– Juliana... Eu não preciso disso pra sair com o Nando hoje, ara... – O brilho no olhar dela denunciavam a aprovação que as palavras se negavam a dar, por falta de jeito.
– Ora essa Gina, eu sei que vocês não vão fazer nada demais... Mas também sei que estão avançando no relacionamento, e entre um carinho e outro o Nando pode ver sua lingerie, você bem sabe! – Juliana sorriu.
Gina acompanhou.
Bem sabia ser verdade.
– Bom, eu sempre achei branco uma linda cor para esse tipo de peça... Espero que tenha gostado!
– Ai Juliana, eu achei lindo demais... Na verdade, eu achei tudo lindo! Obrigada mesmo, sua teimosa! Eu falei que não precisava!! – Gina sorria enquanto abraçava a amiga.
Quando se afastou, seu sorriso se enfraqueceu.
– O que foi, Gina?!
– Ai, Juliana o Nando não voltou nem deu notícias, Já faz horas que ele saiu... Será que nós vamos mesmo?
– Ora essa Gina, mas claro que sim! Ele deve estar só respirando, como você mesma bem disse, fique tranquila! – A professora a confortava. – Na verdade, eu bem acho que já é hora da senhorita tomar um belo banho e me deixar te produzir!
Gina se animou, não via a hora de ver-se vestida de maneira tão nova.
– Tá certo! – A ruiva disse se levantando, retirando uma toalha do guarda-roupa.

[...]

– Ah, Nando pare de teimosia! – Maia já estava irritada com o amigo sentado em seu sofá.
– Maia eu não vou. Chega! Essa história começou errada e era só assim que podia terminar.
– Ferdinando, por favor, você sabe que a culpa foi minha! Foi nossa!
– Ah sim, então se a Gina finge que gosta de mim e sai beijando seu ex-namoradinho a culpa é minha e sua Maia?! – Ele sorriu cínico. – Você está maluca, só pode!
– Não Ferdinando, você me contou isso hoje de manhã e eu tive grande parte do dia pra pensar! – Maia sentou-se ao lado dele. – Nando, eu já errei com você da mesma forma que os dois... E a Gina te perdoou não foi?!
– É diferente Maia, nós sempre fomos íntimos e você bem sabe!
– Ah, e isso justifica?!
– Não justifica Maia, mas eu sei que a Gina jamais beijaria alguém sem gostar... Ela gosta do Jone. E acredite te dizer isso me dói tanto quanto dói em você...
De fato, doía.
– Nando, eu e você fomos egoístas com os dois... Não é de hoje... Na realidade, só agora eu percebi isso e já é tarde demais pra mim. Não deixe tornar-se pra você também, meu amigo... – Maia acariciou castamente os dreads daquele por qual sentia tanto carinho.
– Eu sei que to fazendo a coisa certa Maia. – O engenheiro não se convencia.
Maia bufou, e jogou-se deitada no sofá.
– Teimoso!
– Licença. – Ele disse se levantando.
O engenheiro pegou o celular para fazer uma ligação.
[...]
– Perfeita, Gina! Você está perfeita! – Juliana tinha seus olhos mais brilhosos que nunca ao observar a amiga tão radiante.
– Jura Juliana?! Ele não vai achar exagerado, nem nada?! – A ruiva estava com borboletas no estômago. Finalmente a hora estimada para o encontro se aproximava.
– Você está linda Gina, eu te garanto! O Nando vai ficar maravilhado!
– Ai, tomara. Eu to parecendo uma tonta de tão nervosa! – A ruiva sorria em admitir. – Mas ele ainda não voltou Juliana... Será que esqueceu?!
– Ai, Gina, claro que não! O Nando jamais esqueceria uma coisa dessas! Eu te garanto que ele vai chegar, se trocar e ir com você, a tempo de assistirem um belo por do sol à beira mar.
As lembranças que Gina tinha de Nando e o mar juntos à ela em uma mesma cena fizeram-na segurar o pingente que, como sempre, estava em seu pescoço.
Ela secretamente pedia para que a tarde e noite fossem tão especiais quanto aquela outra havia sido.
Foi então que o celular de Juliana tocou.
A moça observou a tela, dando um claro sorriso à ruiva, já denunciando quem era.
Conforme a ligação seguia, Gina verificou o sorriso da boca muda de Juliana desaparecer.
Ela desligou com um semblante que não demonstrava nada além de tristeza.
– Era o Nando? – Gina perguntou temerosa pela clara resposta.
– Era sim Gina... Na verdade nem parecia ele, mas era...
– Como assim Juliana?
– Ora Gina, ele nem me deixou falar, apenas disse com uma frieza, que eu nunca notei nele, que não voltaria hoje pra república... – A professora pensou em esconder o restante da informação, mas não achava justo. Teve que confessar. – Ele vai dormir na Maia.
A expressão de Gina tornou-se um nada.
Aparentemente, ela sequer respirava.
Um frio, um temor, uma sensação agonizante lhe cortou o corpo da cabeça aos pés.
– Ele disse isso, Juliana?! – A voz dela já estava claramente embargada pelo choro que começava a borrar a leve maquiagem.
– Eu sinto muito Gina, mas ele ainda tá claramente magoado...
O colo de Gina, exposto pela veste, subia e descia em fortes respirações, descompassadas.
A mente dela girava atordoada.
Para ela, ele estava sendo imperdoavelmente cruel e injusto. Não mais.
Nada justificava tamanha falta de consideração.
Gina rumou enfurecida até a penteadeira, pegando o celular de maneira a derrubar tudo que estivesse no caminho de sua mão, seu antigo caderno, inclusive.
– Eu não volto hoje Juliana. Desculpa. – Foi a última coisa que a ruiva disse antes de sair do quarto, descendo escada a baixo, com o celular na mão.
– Gina, por favor, volte aqui! Você não pode sair de cabeça quente, não nervosa desse jeito! – Juliana a seguiu, a fazendo parar no fim da escada.
– Não Juliana... Eu cansei. Essa aqui não sou eu. Eu tava virando uma trouxa isso sim! – Gina tinha um riso de raiva em meio às lágrimas. – Eu mudei tudo que podia por causa dele Juliana, e ele não quis mudar nem essa amizade nojenta que tem com a Maia. Isso era obrigação! Eu cansei! – Gina passou desajeitadamente as mãos pela face, a fim de enxugar as lágrimas sem comprometer a maquiagem que ainda pretendia deixar apresentável. – Eu não vou passar meu aniversário aqui, chorando por esse um... E não vou atrapalhar sua noite e do Zelão.
A ruiva continuou a descer, quando Juliana a pegou novamente pelo braço.
– Onde você vai, Gina?! – O olhar da professora estava penalizado.
– Eu vou ver o Jone, quero conversar com ele e fazer o que mais me der na telha Juliana. Parece que nem o que planejo mais da certo desde que o Ferdinando voltou pra minha vida! E não vem atrás de mim, por favor... Eu não sou nenhuma menininha.
Juliana se assustou ao perceber uma Gina completamente enfurecida. Parecia que ela voltava a ser a jaguatirica de quando chegara à república. Mas de uma maneira diferente, fria.
Ela resolveu não contrariar, apesar de sentir seu coração doer em vê-la assim.
– Tudo bem Gina, eu não digo mais nada. – Juliana a olhou, completamente chateada, e subiu novamente as escadas.
Gina saiu e rumou atordoada, para algum lugar que ainda não sabia.

[...]

– Nando, por favor, liga pra Gina e resolve isso... Me escuta, eu só quero o seu bem! – Maia era mais persistente do que ela mesma imaginava.
– Maia, eu não quero mais ouvir o nome da Gina, combinado?! – Ele se levantou do sofá no qual havia passado praticamente o dia todo. – Se você preferir eu vou embora...
– Mas como você é teimoso, rapaz! Não é nada disso... Senta, por favor...
Nando voltou a sentar-se.
Ele sentia uma dor em seu peito indescritível. Na realidade, desde a hora que havia conversado com Juliana ao celular, sentia seu coração doer como se um rompimento definitivo o tivesse separando da ruiva.
Aquela que agora, tanto odiava amar.
– Maia, eu não consigo te entender... – Ele reiniciou um assunto. – Como você consegue saber que o Jone beijou a Gina e ficar assim?! Desse jeito como se fosse algo normal?!
A morena agradeceu por ele ter voltado ao assunto. Seria mais uma chance de tentar abrir-lhe os olhos.
– Nando... Eu não posso fazer nada quanto a isso. Eu simplesmente sei que errei com o Jone, e que ele me perdoou várias vezes, e que agora, eu o devo o mesmo. No mínimo.
Ferdinando sentiu algo familiar na fala de Maia lhe chamar a atenção.
– Você conseguiria? – Ele questionou.
– Perdoá-lo?!
Ferdinando confirmou com a cabeça.
– Nando, eu bem queria, na verdade, era o que eu mais queria agora... Que ele simplesmente quisesse meu perdão... – Ela suspirou. – Ainda mais agora.
– Ainda mais agora?! – Ferdinando nunca havia escutado a amiga falar daquela maneira.
– Nando... Eu amo o Jone. – Ela declarou sem pestanejar.
Ferdinando se assustou.
Aquela, justo sua amiga mais ‘alérgica’ a qualquer tipo de compromisso, agora lhe confessava ter sido abatida pelo sentimento do qual tanto sempre fugia.
– Maia... – Ele não tinha como confortá-la. Tentou.
– Pois é meu caro... Você entende agora o porque de eu estar te falando pra aproveitar a chance que tem?! Pra mim já é tarde, Nando. Não deixa ficar pra você também... – A morena deixou a face triste se acomodar no ombro do amigo.
Ferdinando sentiu-se abatido pela realidade.
Era puro orgulho. Desde o princípio, desde sempre.
– Vai falar com ela, Nando. – A voz doce da amiga, que provinha de seu ombro continuava a insistir.
Ferdinando coçou os olhos.
Realmente, era como se estivesse despertando. Despertando sua consciência, sua razão.
– Eu vou, Maia. – Ele informou com a voz tão baixa quanto à dela. – Mas você precisa me prometer que vai ao menos tentar fazer o mesmo.
A amiga o encarou com um sorriso.

[...]

– Gina, o que aconteceu? – Jone questionou a amiga ao chegar ao barzinho no qual havia sido convocado às pressas em uma ligação confusa.
– Nada Jone... Eu só queria alguém pra passar comigo meu aniversario... Me desculpa se você tinha algum compromisso.
– Ora essa Gina, verdade! – Ele se levantou da cadeira em que havia acabado de sentar à sua frente, e dirigiu-se ao lado dela, dando-lhe um carinhoso abraço. – Parabéns! Eu te desejei por mensagem e ia me esquecendo de dar pessoalmente... – Ele ria da própria confusão. – Mas Gina... Como assim, cadê o Ferdinando?! Vocês não tinha um assunto a resolver hoje?!
A ruiva encarou o amigo.
Em sua mente, ela possuía a ideia de fugir do assunto beijando-lhe da mesma maneira do dia passado.
– Jone, você fica comigo hoje?! – Ela foi direta.
A raiva do último ato de Ferdinando a fazia ter um sentimento de vontade, de desejo de liberdade.
Intimamente? Vingança seria a triste verdade.
– Claro Gina, ainda mais no seu aniversário... Eu lhe tenho uma amizade muito grande, saiba disso! – Ele resolveu permanecer sentado ali, ao lado dela.
– Não Jone, você não entendeu. – Ela suspirou ainda mais decidida. – Eu quero saber se você fica comigo hoje! – Ela o deu um selinho gélido.
Jone se assustou.
– Ora essa Gina, o que foi isso?! – Os olhos verdes dele se esbugalharam.
– Por favor, Jone, nós fizemos pior ontem! – Ela havia ficado no mínimo irritada com o retorno que recebeu.
– Ué... Fizemos sim Gina, mas eu bem me lembro do que sentimos, nós dois... Eu não estou te entendendo.
– Tá certo, eu vou te explicar. – A ruiva estava decidida em fazê-lo entender que pretendia ‘virar uma página’.

[...]

– Gina?! – Ferdinando havia entrado às pressas em casa, desesperado em receber o perdão pela demora e reerguer o compromisso.
Juliana saiu da cozinha incrédula sobre a voz que escutava.
Sobre a chegada do dono dela, na verdade.
– Nando! – Ela o gritou com um tom nada feliz. – Você pode me dizer que loucura foi aquela de fazer uma coisa assim com Gina, justo hoje?!
– Ara Juliana, calma! Eu me arrependi... Me arrependi e preciso conversar com a Gina, cadê ela?!
– A Gina saiu meu caro. Saiu logo após o telefonema que você me deu grosseiramente, dizendo que ia dormir na casa da Maia, no dia do aniversário dela, em que tinham um compromisso tão importante. – Ela o recriminava sem pena.
– Ora essa Juliana me desculpa, mas ela também não foi a mais certa da história... Mas independente disso, eu preciso conversar com ela Juliana, ver o que ela sente de verdade por mim... Onde ela pode ter ido?!
– Eu não sei Nando, eu nunca a vi tão magoada... – Juliana suspirou. – Mas sobre você querer saber o que ela sente por você, vem comigo, por favor.
A professora subiu as escadas, e caminhou até o quarto da amiga. Chegando lá, pegou o caderno que tinha colocado de volta sobre a penteadeira após a ruiva derrubar no momento de raiva. Ela não havia conseguido deixar de se magoar ainda mais pela amiga com a acidental página que ficou exposta pela queda.
– Leia isto Ferdinando... Este é o caderno da Gina. Ela anota aqui, tudo o que mais deseja realizar na vida...
O engenheiro pegou carinhosamente o item das mãos de Juliana.
A professora se retirou do quarto, deixando-o ali, completamente afogado ‘nela’.

[...]

– Gina, eu entendi muito bem, mas não acredito que você realmente acha que seja isto o correto que temos a fazer... Eu sei que você não é assim, minha cara, nós não somos. – O olhar de ternura de Jone desarmava toda a raiva que o coração da ruiva tentava utilizar como argumento.
Ela bufou fortemente, revirando os olhos.
– Nós somos dois bobos Jone, isso sim! – Ela assumiu, sorrindo se graça.
– Dois bobos apaixonados minha cara... E pelo jeito, sem sermos correspondidos...
Ele transpassou docemente o braço pelas costas dela. Abraçando-a.
Ela se apoiou no ombro dele.
O celular de Jone vibrou na mesa.
O jovem pegou e surpreendeu-se com o nome que via na tela.
– É mensagem da Maia... – Ele começou a ler, sem entender o contato nada comum. Seus olhos começavam a brilhar de uma maneira fácil de perceber, bem como o sorriso inconsciente que começava a surgir em seus lábios. – Gina... A Maia disse que precisa me ver... Que está sentindo minha falta...
Jone não conseguia deixar de se emocionar ao dizer. Por incrível que pareça, aquela estava sendo a maior prova de sentimento que ele já havia recebido dela.
Gina suspirou. Sabia o certo a dizer.
– Vai ver ela, Jone... – Ela sorriu docemente. Ficou feliz em ver a completa alegria em que seu amigo ficara.
Ele a observou.
Desejava ajudá-la a se sentir como estava. Sabia como.
– Gina, liga pra ele. Resolve tudo isso também...
A ruiva sorriu sem graça.
– Ele não quis me ver Jone, aí já seria humilhação... É diferente! – Ela brincou para tentar tirar a tristeza que a fala transmitia a si mesma com a própria fala.
– Mas eu tenho certeza que ele mudou de ideia... Pense bem. Se a Maia me mandou essa mensagem, ele no mínimo não está mais com ela, deve ter se arrependido. Talvez tenha até voltado lá na república pra te encontrar!
– Olha Jone, eu admiro muito sua positividade! Mas ele já teria me ligado se quisesse me ver... – Gina não gostava de se enganar.
Jone iria argumentar novamente, quando o celular da ruiva tocou.
Ele sorriu ao ver no aparelho, na mesa, o nome que apareceu.
– Um toque do destino... – Ele cochichou sorrindo. – Atende!
O coração de Gina disparou ao verificar quem era.
Ela observou o amigo que a encorajava com o olhar.
Respirou fundo, e atendeu.
– Alô... – Ela quis parecer um tanto indiferente. Demonstrar sua mágoa.
– Gina, sou eu... – A voz de Ferdinando era doce, suave. – Por favor, me perdoa menininha... Eu sei que não dá mais pra gente conversar da maneira que eu lhe prometi, mas se você ainda quiser nos dar uma chance de resolver, eu vou estar aqui na república, te esperando, no meu quarto...
Ferdinando havia dito a fala planejada, sem pestanejar. De maneira clara, e limpidamente sincera.
Gina umedeceu os lábios.
Sabia que precisava vencer o orgulho, e fazer aquilo que seu coração lhe indicava ser o correto.
– Eu estou a algumas quadras daí Nando... Já to indo. – Ela foi suave.
– Obrigada menininha. – Ele desligou. Precisava terminar de se organizar.
Gina observou o amigo.
O sorriso que eles trocaram irradiava felicidade.
– Bom... Boa sorte minha cara. – Jone a beijou docemente na bochecha.
– Boa sorte meu amigo. – Ela retribuiu. Antes de se afastar, aproximou-se do ouvido dele. – Obrigada, Jone. – Ela cochichou.
Gina nunca se esqueceria da maneira como ele havia lhe provado sua amizade completamente pura naquela noite.
Ambos se levantaram e seguiram, em direção á seus destinos.

[...]

Ferdinando não era bobo, após planejar o que faria, informou Juliana, e fez com que a mesma logo providenciasse um programa com Zelão. Um que os mantivessem longe a noite toda, de preferência.
Ele já estava trocado, perfumado e com o ambiente pronto quando escutou a amada abrir o portão.
Colocou-se afastado, mas em frente à porta, de modo que a ruiva o visse assim que a abrisse.
As velas que ele havia comprado para iluminar um possível jantar na praia, agora lhe eram mais úteis do que imaginado.
Quando Gina entrou em casa, se assustou com a escuridão que tomava o local. Apenas uma decadente iluminação provinda do corredor de cima se destacava.

Ela sentia-se nervosa. Durante todo o percurso até a república havia voltado a pensar sobre qual decisão Ferdinando poderia ter tomado. Ele ainda a devia uma resposta.
Quando a ruiva subiu as escadas, percebeu que a única luz provinha de seu quarto, que estava com a porta aberta, e um pequeno bilhete colado ao batente.
“Era só pra você conseguir chegar, menininha. Apague a luz aqui e abra a porta do meu quarto, por favor. Estou lhe esperando lá, como havia dito.”
Gina sentiu-se arrepiar.
Ele havia planejado algo.
Quando a ruiva começou a virar a maçaneta do quarto do engenheiro, um breve arrepio correu a espinha de ambos.
Ferdinando manteve-se firme. Já havia planejado ao menos os próximos atos.
Gina terminou de girar a maçaneta e ao abrir lentamente a porta, observou uma fraca iluminação provir do quarto.
Quando abriu por completa, não conseguiu segurar um doce suspiro.
Ferdinando estava magnificamente belo.
Parado à sua frente, com as mãos para trás.
A roupa simples, mas docemente alinhada dele, a deixou sem fôlego. Ele provavelmente havia escolhido a calça e camiseta de linho em tons claros para irem ao passeio na praia, mas era inegável o quanto havia combinado com o clima por ele estabelecido no quarto.
Ela sentiu um breve frio em seu estômago, ao verificar a maneira como os olhos azuis dele a consumiam.
Ferdinando não esperava vê-la tão estonteantemente bela.
O vestido leve, de estampas diminutas azuis e marrons e ombros caídos, que Gina utilizava, junto a uma delicada bota de discreto salto, havia deixado-a com um ar leve, que fazia Nando se lembrar dela em sua essência. Era uma coisa simples, que remetia ao espírito livre e natural que tanto o encantavam nela. Ao campo deles. Os cachos soltos e estrategicamente revoltos caiam ritmadamente sobre os ombros nus. O colar de concha que ela trazia destacava-se, como sempre, no alvo colo.
O perfume dela invadia o ambiente de maneira tentadora.
Ele não via a hora de tê-la em seus braços.
– Oi menininha... – A voz suave de Ferdinando, na iluminação tão envolvente, provinda das inúmeras velas dispostas na escrivaninha próxima a ele, fazia Gina se esquecer de respirar.
– Oi Nando... – Ela respondeu tão suave quanto.
Ferdinando levou as mãos que estavam outrora escondidas atrás do corpo para frente de si.
Gina não pôde deixar de enrubescer ao perceber que se tratava de seu caderno, segurado por elas, com seus desejos mais íntimos expressos.
Ferdinando estava com ele aberto em páginas específicas. O virou lentamente para que ela tivesse ciência de que ele agora sabia dos registros que ali constavam como suas principais vontades.
“Me sentir por completa do Ferdinando (primeira vez).” Em uma.
“Casamento.” Na outra.
Gina releu lentamente, envergonhada e completamente envolvida pelo sorriso que ele lhe lançava.
Ainda com o caderno virado, ele posicionou o dedo, por baixo da página, indicando o primeiro dizer.
– Aqui está antes do casamento, menininha... – Ferdinando a encarava com um carinho indescritível.
– Eu sempre quis que fosse antes. – Ela não tardou em responder. Foi completamente clara.
Sincera.
Ferdinando voltou a sorrir, ainda doce, mas com uma pequena quantidade de malícia.
Permaneceu em silêncio, enquanto esticou um dos braços e pegou devagar uma caneta estrategicamente posicionada na escrivaninha ao lado dele.
Encarou-a mais uma vez.
Gina respirou fundo. O olhar dele nunca fora tão intenso sobre ela.
Ainda mais lentamente, com a página ainda virada para ela, Ferdinando riscou o item sobre o qual eles haviam acabado de falar. Igual á ruiva fazia, quando um de seus planos era realizado.

Ela entendeu o significado do gesto.
Ele entendeu a aprovação no olhar dela.
Eles perceberam o que agora era inegável. Estavam prontos.


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Notas finais do capítulo

Não me matem! hahahahaha Amanhã é o Grande dia! *-*
Espero que tenham gostado amorinhas! Beeeeijos! s2



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