República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 25
O Beijo nada doce.


Notas iniciais do capítulo

Minhas lindas... Aqui está outro capítulo da discórdia.
Esta fase está prestes a acabar! Calma...rs :(
Boa leitura!!



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Os dias se arrastavam para Gina e Ferdinando na república. Eles agradeciam a cada aula que os mantinha distantes, a cada horário que não batia e a cada possibilidade que tinham de sofrer sem ver o rosto causador.

Para Juliana e Zelão, apesar de estarem tristes pela situação dos amigos, a semana estava sendo próspera. Eles faziam cada vez mais coisas juntos e ele até a acompanhava até a aula, antes de seguir para a sua.

Para Cadu, a semana era uma dádiva. Ele tinha já há três dias a atenção, ainda que breve, da ruiva apenas para si, não só durante a aula, mas também na casa que eles momentaneamente compartilhavam.
Gina não tinha raiva de nada nem ninguém, mas estava se comportando diferente com todos. Com Ferdinando ela não trocava palavras nem olhares, nos raros momentos que se cruzavam. Com Juliana e Zelão ela conversava, mas apenas o necessário. Assim como tentava fazer com Cadu, quando ele insistentemente vinha lhe falar com algum novo assunto.

[...]

Aquele era o terceiro dia em que só se escutavam os talheres batendo nos pratos durante o jantar. Vez ou outra, o silencio das vozes era cortado por um elogio de Zelão à comida de Juliana, o qual todos faziam questão de em seguida, reforçar. Quando o jantar era preparado por ele, era ela quem iniciava o ritual de elogios. Apenas.

Aquela era a única refeição do dia que todos faziam juntos, por conta dos atribulados e defendentes horários de cada um. Durante ela, Gina e Ferdinando tentavam manter ao máximo, os olhos no prato, com o receio de levantarem o olhar e encontrarem o que não desejavam: o do outro. Quando terminavam de comer, saiam em disparada a pia para lavarem seus pratos, com receio do outro também se levantar. Quando Gina levantava, primeiro, Ferdinando a esperava terminar ainda na mesa, para se dirigir até lá depois. E vice-versa.

Eles realmente não queriam se cruzar.

Entretanto, como o destino às vezes colabora, naquela noite, os dois levantaram juntos da mesa. Em um movimento perfeitamente sincronizado. Não tinha como voltar. Qualquer um que se sentasse, admitiria ao outro estar frágil demais para a proximidade. E apesar desta ser a verdade, o orgulho não os deixava admitir.

Juliana olhou para Zelão, e este logo inventou uma desculpa qualquer para pedir a ajuda de Cadu (que observava os dois se encaminharem até a pia, enciumado) para um afazer doméstico qualquer no jardim. Juliana os seguiu.

Gina estava lavando seu prato, com Ferdinando a aguardando terminar (olhando para qualquer coisa, que não fosse o saudoso corpo da ruiva) quando percebeu, pelo silêncio do local, que eles estavam lá sozinhos.
Torceu silenciosamente para que Ferdinando não dissesse nada, não proferisse nenhum som.

Foi em vão.

Ferdinando precisava ouvir a voz dela ser dirigida a ele diretamente, nem que fosse por um pequeno instante. Seu coração pedia isto. Foi então que percebeu, que assim como em todos os dias anteriores, a ruiva trazia ainda em seu colo, o carinhoso presente que ele havia lhe dado. Respirou fundo silenciosamente, tomando coragem, e pontuou:

– Vejo que ainda usa o colar que eu te dei, Gina... - Ele disse suavemente, feliz em expor a constatação.

Gina gelou ao ouvir a voz dele tão próxima. Sentiu uma sensação pior ainda, de frio na barriga, ao ouvi-lo depois de dias, proferir seu nome.
Ela respirou. Precisava continuar sendo fria. Fazê-lo acreditar.

– Urrum. – Ela apenas sussurrou, nem se quer olhando para ele. Foi extremamente fria.

Ferdinando sentiu novamente seu coração apertar. Ele não coseguia entender como os sentimentos dela poderiam ter mudado tão rapidamente. Como ela podia ser tão fria e indiferente, depois de tudo que ele havia lhe confessado, do que haviam passado juntos. Ele havia lhe confessado amor, oras! E isso nunca tinha acontecido. “Será que vai arrancar um pedaço ela ao menos dizer uma palavra pra mim?!” Ele já não estava muito bem com todos esses pensamentos em sua mente.

– Gina, eu falei com você, custa me responder de maneira digna?! – Ele foi ríspido.

Ela parecia não ouvir. Não demonstrou qualquer reação. Nada.
Quando termino de lavar o prato enxugou as mãos e se preparou para ‘fugir’ daquela dolorosa situação.

Não foi tão fácil assim.

Quando Gina se virou, Ferdinando a puxou pelo pulso, fazendo os olhares se encontrarem.

SAUDADE.

Era essa a palavra que definia a sensação que ambos tinham de novamente olhar nos olhos do outro. De sentir a pele, ainda que castamente, ser novamente tocada pelo outro.

O sentimento de falta que os transpassava era avassalador.

– Ferdinando me solta! – Gina disse com a voz séria, se desvencilhando do rapaz. Que ainda assim, lhe impossibilitava sair, fechando a passagem com seu corpo.

– Ora essa Gina, se não gosta mesmo de mim, porque ainda usa esse colar que foi feito pra lembranças?! – Ele já estava com o tom alterado. – É porque você QUER se lembrar, não é Gina?!

Ela o encarou. Não havia pensado no adereço desta maneira. Ele era realmente, feito pra isso. E era isso que ela menos queria. Se lembrar. Apesar de a cada dia ter mais certeza que de nunca se esqueceria daquele breve período, que foi tão deles.

Ainda com o olhar fixo no olhos azuis de Ferdinando, Gina lentamente retirou o colar do pescoço, o fazendo passar pela cabeça. Ela pegou delicadamente a mão de Ferdinando, e depositou a pequena lembrança ali. Sem poder deixar de olhar que, naquela mesma altura, no peito do engenheiro, estava o pingente que ela havia lhe dado.

Ele não podia acreditar no que ela estava fazendo.

Gina engoliu seco. Fechou a mão de Ferdinando, que agora guardava a pequena concha, e o encarou uma última vez, sem qualquer traço de carinho em sua face, antes de empurrá-lo e ir em direção à sala.

Quando ela saiu, Ferdinando apertou os olhos e a referida mão com uma força estrondosa. Era um reflexo do que sentia em seu peito. Uma solitária lágrima lhe escorreu, enquanto ele começava a lavar seu prato.

[...]

A noite foi difícil de passar, para os dois.

Gina estava quase pegando no sono, depois de muito pensar e chorar, já era rotina. Bem como as palavras, que lhe saíam inconscientemente dos lábios, todos os dias em um doce sussurro.

– Boa noite frangotinho...
– Boa noite menininha... – Era a mesma rotina triste e solitária dos lábios sonolentos dele.

[...]

Ferdinando não queria passar outra noite acordado, após outro jantar calado, outro dia sofrido. Decidiu que precisava conversar com alguém, queria um conselho, uma ideia, mas não queria cansar novamente Zelão ou Juliana em seus monólogos.

Ligou para uma velha amiga e confidente, que aceitou prontamente o convite de em jantar.

Resolveu avisar à amiga, que mais parecia uma irmã mais velha de todos ali, que não ficaria em casa aquela noite.

– Juliana, eu vou jantar fora hoje, não precisa colocar meu prato na mesa minha cara... – Ele disse quando passou pela porta da cozinha, vendo que Gina já estava aprontando a mesa.

– Tá certo Nando, mas cuidado aí pela rua... – Ela riu, tentando descontrair. – Vão em muitos rapazes bagunçar em pleno meio da semana?! – Ela tentou puxar uma conversa.

Ferdinando, de certo modo, apesar de não ser a intenção, ficou ‘feliz’ em poder informar Gina indiretamente de sua companhia.

– Na verdade não, eu vou com a Maia em um barzinho... – Ele disse se retirando.

Juliana de imediato olhou para Gina, e viu a amiga se sentar, desolada em uma das cadeiras.

Resolveu não falar nada, apenas, respeitar sua decisão.

[...]

Todos já haviam terminado o jantar. Juliana e Zelão acabavam de organizar a cozinha enquanto Gina estava com Cadu na sala, conversando e fuçando um pouco no violão que o rapaz remexia no colo.
Apesar de estar distraída, Gina não conseguia para de sentir um frio na barriga ao se lembrar de que Ferdinando logo mais estaria passeando pela cidade, com aquela antiga ‘amizade-colorida’, seu coração apertava com cada pensamento impuro que ela tinha envolvendo os dois.

– Gina?!... – Cadu chamou ao perceber a amiga distante. – Menininha?! – Ele imitou descaradamente o apelido que já tinha visto Ferdinando utilizar com ela.

– Do que você me chamou?! – Gina despertou dos devaneios em um pulo quando ouviu o apelido.

– De menininha... Acho que esse apelido combina muito com você... – Ele se aproximou dela, perigosamente, no sofá, depositando o violão no chão.

– Pois eu prefiro que não use Cadu. Por favor. – Ela foi clara. Ouvir aquele apelido, além de fazê-la se lembrar de Ferdinando, não a agradava na voz de outro.

– Tá certo... Mas Gina... – Ele se aproximou ainda mais, assustando a ruiva. – Eu quero tanto ficar mais, íntimo de você... – A voz dele já demonstrava seu desejo.

– Cadu, eu acho melhor você sentar mais longe. – Ela disse ainda séria, já incomodada com a proximidade, se afastando.

– Não Gina, eu preciso ficar perto. – Ele disse apertando-a atrevidamente junto ao seu corpo pela cintura e a roubando um beijo. Foi um movimento extremamente sagaz.

Gina se sentiu desesperada, estava estática, de olhos abertos, e empurrava Cadu para trás pelos braços. Ele não cedia a segurava cada vez mais forte e tentava a cada segundo se aprofundar no beijo.

Ela resistia. E estava prestes a brigar fisicamente com ele por absurdo atrevimento, quando algo a impediu.

– Tá certo Maia, eu já estou descendo as esc...- Ferdinando deixou a mão com o celular cair ao lado de seu corpo quando viu a cena apresentada bem ali, a sua frente, no sofá.

Gina tinha ouvido a voz dele enquanto tentava se desvencilhar do beijo indesejado, quando o próprio Cadu cessou ao também ouvir. Ambos olhavam para o engenheiro posicionado a alguns degraus do chão. Gina demonstrava desespero em seus olhos. Cadu, satisfação. Ele chegou até mesmo a abrir um sorriso vitorioso quando percebeu o quanto havia abatido Ferdinando.

A cena durou segundos, minutos, horas.

Ferdinando nunca esqueceria. Gina nunca esqueceria.

Ferdinando apenas desviou o olhar e se retirou ás pressas da casa.
Gina o olhava partir sem reação. Tinha vontade de correr atrás dele, mas mais medo ainda de não saber como explicar.

Quando Ferdinando fechou a porta, em um estrondo ensurdecedor, Juliana e Zelão chegaram assustados à sala.

Eles também não acreditavam muito na posição que os outros dois estavam no sofá.

Gina despertou. Havia entrado em um pequeno transe de trauma. Empurrou Cadu grosseiramente para longe.

– Você nunca mais chega perto de mim seu moleque! – Ela olhou desesperada para a amiga, com os olhos marejados e rumou incerta para seu quarto.

Juliana a seguiu correndo.

– Gina... – Cadu pensou em segui-la quando viu um forte homem se posicionar em sua frente.

– É melhor você ficar aqui e não obrigar ninguém a fazer nenhuma besteira, Cadu. – Zelão o avisou com um claro, porém implícito, tom de ameaça.

[...]

Ferdinando entrou no carro de Maia, que o esperava na frente de casa, claramente atordoado. Ele piscava e respirava de maneira totalmente descompassada. Em seu interior, uma dor que nem em seus maiores pesadelos ele poderia sentir. Era indescritível.

Nem tinha sequer se lembrado de cumprimentar a moça ao seu lado.

– Nando, oi... – Ela buscava o olhar atordoado e inquieto do amigo. – Agente não ia com o seu carro?! – Ela disse apreensiva com a situação dele.

– Maia, me desculpa, mesmo! Mas eu preciso sair daqui, só sair daqui! Podemos ir com o seu?! – Ele perguntou com a voz claramente alterada.

Maia era uma boa amiga. Percebeu que o momento não era o melhor para pedir explicações, e então, apenas rumou incerta para algum barzinho da Vila Madalena.


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Notas finais do capítulo

Amanhã veremos se Nando "perdeu a linha".
Ps: amorinhas, eu disse que eles não iam se beijar, e realmente, quem beijou foi ele, sozinho! rs
Beeeeijos! s2



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