República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 15
Cinema - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Amoras, não me matem. rs

Boa leitura! s2



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O rapaz desceu do carro, e entregou as chaves a Ferdinando, que lhe agradeceu. Ele abriu a porta do passageiro, e guiou Gina, pegando em sua mão, até o banco. Fechou a porta dela e em seguida entrou também.

Gina estava se sentindo deslocada. No carro de Ferdinando, que ela nem imaginava existir, ficava sem jeito, sem saber o que fazer com as mãos, como se sentar, ou se iniciava ou não uma conversa. O automóvel tinha o perfume dele tentadoramente impregnado. Parecia bobo, mas ela poderia jurar se sentir mais confortável no quarto dele, lugar que já conhecia bem, do que ali, onde estava.

Em geral, o novo não lhe agradava muito.

Nando remexia no aparelho de DVD do carro desde que haviam entrado. Estava concentrado, provavelmente, em encontrar alguma melodia em especial.

De repente, seus dedos cessaram, e ele apenas ajustou o volume. Gina observava receosa, sem saber muito bem o que esperar. Ferdinando parou em um semáforo. Sua mão passou para os cabelos da moça, ele a acariciou, e lhe sorriu ternamente, pois havia percebido seu desconforto. Gina retribuiu o sorriso. Sentiu seu coração diminuir as batidas por um instante...

Isto até ouvir o início da melodia, que já denunciava a música. “Meu Deus” ela pensou assim que ouviu.

A referida música que começou a soar calmamente no carro era “You're Beautiful” , de James Blunt. Apesar de não ser muito romântica, Gina amava aquela música, aquele ritmo. Ela ficava sempre entre suas favoritas da playlist de seu smartphone. Como ele poderia saber?!

Ela o olhava, admirada. Ferdinando sorriu ao ver sua reação com a música, era como se eles conversassem abertamente, apenas com o olhar...

O semáforo abriu e ele voltou a prestar atenção no trânsito, mas fazia o possível para olhar Gina por milésimos algumas vezes, durante o trajeto. Ele admirava os lábios dela, discretamente acompanhavam a música, cantado em silêncio. Ela acompanhava o ritmo, dando leves batidinhas nas próprias pernas.

Gina não reparava os olhares de Ferdinando, pois ficava observando a bela cidade pela janela do carro. Era ricamente iluminada, lugares novos e diferentes deliciavam seus olhos.

O Cinema era bem próximo da república, já que a mesma era localizada no centro da cidade. O percurso terminou praticamente junto com a música, e Gina nem sequer conseguiu distinguir pelas notas iniciais qual era a próxima a tocar, pois Nando desligou o carro, o DVD e desceu para lhe abrir a porta.

Ou tentar.

Ela já havia descido sem auxílio quando ele chegou ao seu lado do carro. Era Gina. Ele riu da falta de paciência e espontaneidade da moça.

– E então menininha, disse pegando em sua mão para começarem a caminhar. Eu dirijo bem?! – Ele perguntou iniciando uma conversa.

Gina se sentia sem jeito... nunca havia pego na mão de Nando daquela maneira, para andarem de mão dadas em um local público. Ela se sentia estranha, com um frio na barriga incessante. Tentou fingir que estava bem, normal.

– Olha, pra ser sincera Nando, eu nem sabia que você tinha um carro. – Ela riu, mas seu riso e suas mãos delicadamente frias demonstrava a Nando seu nervosismo.

Ele lhe sorriu de volta, pensando que continuar a conversa a faria se acalmar.

– Ora, eu vou para faculdade com ele todos os dias que tenho aula... É que o deixo no estacionamento na quadra da frente da república, como lá não temos garagem...

– Hum, entendi... – Quanto mais próximos ficavam da entrada do cinema, mais Gina demonstrava inconscientemente seu nervosismo.

Ferdinando resolveu tomar uma atitude. Já imaginava o que a deixava nervosa.

– Gina... – Ele se posicionou a sua frente, parando a caminhada que faziam, mas mantendo as mãos unidas. – Se você estiver se sentindo incomodada, nós podemos andar sem dar as mãos... Eu prometo não me chatear. – Ele lhe falava com um tom compreensivo.

Mas Gina não gostava de sentir medo. Gostava menos ainda de ser vencida pelo medo. E então em um gesto firme, ela apertou a mão do engenheiro ainda mais á sua.

Ele sorriu observando as mãos por ela ainda mais unidas.

– Pare de bobagem e vamos, antes que fiquemos sem nenhuma sessão... – Ela disse lhe sorrindo, e tomando a frente dele ao caminhar, o puxando pelas mãos.

“Como ela é incrível” Ferdinando se derretia a cada atitude da ruiva.

[...]

– Bom, já que você escolheu o filme eu escolho os lugares! – Ferdinando dizia brincalhão para a ruiva, sem querer muito se lembrar do filme que ela escolheu. – Queremos estes dois, da ultima fileira, ao canto. – Ele disse apontando para tela, ao falar com a atendente da bilheteria.

– Mas tão em cima, Nando?! – Gina... sempre tãaao inocente.

– É que o filme fica melhor visto de lá minha cara. – Ele sorriu disfarçadamente.

Ora, era pecado querer namorá-la um pouco lá dentro?!

Ela consentiu concordando, inocentemente, com a cabeça.

Nando pegou a carteira, e Gina prontamente disse:

–Quanto fica o meu?! – Ela não andava com bolsa, mas havia levado dinheiro em seus bolsos.

– Ara, o seu o que Gina?! Pode esquecer! Quem paga aqui sou eu! – Ferdinando disse como quem se sentia ofendido com a pergunta da moça.

– Paga o seu, Ferdinando! Quem paga minhas coisas sou eu, ara!- “FERDINANDO” ele queria morrer quando ela o chamava assim, com aquele tom ríspido.

–Gina, - Ele disse tentando acalmar as coisas. – Eu lhe convidei. Quem paga sou eu. Por favor, deixe de ser tão orgulhosa, e apenas aceite, sim? – Ele disse suavemente, não queria brigar.

– Não! – Ela lhe exclamou fazendo um bico do tamanho do mundo. – Eu tenho que deixar de ser orgulhosa, e você também doutor ! - “DOUTOR” ele odiava quando ela lhe cuspia assim o título.

– Ara que você é impossível Gina! – Ele estava caindo no jogo dela, pra variar, começando a perder as estribeiras. – Teimosa, é isso que você é!

–Você! – Estavam brigando novamente

Ó céus.

Ele respirou. Uma... Duas vezes, lentamente.

“ Você não vai estragar a noite, você não vai brigar” Ele pensava consigo mesmo, tentando acalmar seus nervos.

– Tá certo Gina, - Ele a encarou, se não estivessem em uma fila ele morderia aquele bico teimoso que ela lhe fazia. – Vamos fazer assim... Eu pago os ingressos, e você as guloseimas. Está bem?!

Ela sorriu. Ele havia, de certo modo, se rendido a seus caprichos.

Orgulhosos, orgulhosos demais.

– Tá certo então. Vamos pegar pipoca?! – Ela voltou a pegar-lhe a mão que, em algum momento da discussão, havia soltado.

Ele estava com o orgulho ferido, é verdade, mas logo cicatrizou, graças ao ato e sorriso tão graciosos dela. Ele se sentia um bobo em suas mãos.

–Vamos sim menininha. – Ele disse pagando e recebendo os ingressos.

[...]

Enquanto isso em uma certa república, Zelão olhava incrédulo para Juliana.

– Mas então você tá me dizendo dona Juliana, que o doutorzinho e a Falcão estão de namoro?!

– Não me chame de Dona Zelão! – a moça ria com o excesso de respeito do rapaz. – Namorando não, ficando sim. – Ela não escondia a felicidade que tinha em dizer.

–Meu Deus! Mas o pai dele num deve nem de saber que ela mora aqui com o Nando... quanto menos disso. – Ele estava realmente incrédulo. – Isso vai dá uma confusão dos diabo por lá...

Juliana sabia da estória. Mas pelo jeito nem Gina e Nando queriam pensar nisso agora. Pelo menos não ainda.

– É Zelão, eu bem sei dos problemas que as famílias daqueles dois têm. Mas... Se eles estão bem, sem se preocuparem com isso por enquanto, creio que também não precisemos ficar preocupados, não é?!

Ele admirava o jeito simples e leve de Juliana em tratar das coisas.

– É a senhora deve de ter razão. – Ele lhe sorriu.

– SENHORA Zelão?! - Ela riu descontroladamente – Agora foi demais!

– Ocê me desculpe Juliana, é a força do hábito. Eu não to acostumado a chamar uma professora assim, pelo nome. – Ele também riu da pequena gafe.

– Está desculpado meu querido...- Ela lhe observou admirada. – Bom, vamos ver como está ficando seu arroz?! - Eles voltaram-se para as panelas do jantar que preparavam juntos.

A noite deles estava agradável, ambos gostavam de poesias, músicas e outras coisas em comum, perdiam-se no tempo, graças à deliciosa sintonia da conversa que tinham.

[...]

– Gina, por favor, não vamos discutir... Se sente no canto... - Ferdinando implorava aos sussurros para a moça teimosa que estava já sentada na poltrona a sua frente.

– Ara Nando porque?! - Ela não entendia porque não podia escolher o próprio assento.

– É que eu não gosto muito do canto... – Ele mentia. Na verdade queria ela ali, bem escondidinha, para poderem namorar sem maiores incômodos.

–Ara tá bem Nando! – Ela se levantou e trocou de lugar, ainda que contrariada. Sabia que Nando havia se rendido a um capricho seu a pouco, e não achava justo fazer ele se render novamente. Não tão agora.

– Obrigada menininha. – Ele disse se sentando ao lado dela, no lugar que queria. Feliz não apenas por isso, mas também pela atitude da moça.

[...]

O filme já estava na metade, e Gina nem parecia se lembrar de Ferdinando ao seu lado. Os poucos comentários que fazia com ele nem eram acompanhados de contato visual.

“Ara que eu to gostando menos ainda desse filme!” Nando pensava com ciúmes de ter que dividir, na verdade perder, a atenção da ruiva.

Ele detestava filmes de terror, e nem olhava muito para a tela. Disfarçava a maior parte do tempo, olhando para a pipoca ou para a própria Gina.

Foi então que resolveu estabelecer contato.

Abraçou Gina com um dos braços e a trouxe para perto. Ela percebeu e gostou da carícia, mas continuava paralisada assistindo.

Ele persistiu.

Levou a outra mão até uma das pernas da ruiva, e começou a acaricia-la. Ela lhe olhou, sorriu, e voltou os olhos para a tela.

“Ara que eu não vou conseguir nada aqui!” Ele começava a desistir de ganhar mais atenção. Olhou sem perceber para a tela, com os pensamentos perdidos, em suas mãos lhe tocando. Ele queria poder beijá-la agora também, mas ela seria bem capaz se lhe jogar longe se ele ousasse tentar tampar sua visão.

Ferdinando não esperava o que veio a seguir. Estava tão distraído que simplesmente deu um pulinho da cadeira ao ouvir um som estrondoso do filme e a sala toda a gritar. Seu coração disparou vergonhosamente com o susto.

Gina soltou uma gargalhada baixa, mas incessante com o susto que ele havia tomado. Ferdinando estava vermelho de vergonha. Também estava ofegante.

– Mas é um frangotinho mesmo! – Ela dizia sem conseguir parar de rir. – Tome um pouco de refrigerante doutor! – Ela era puro tom de deboche.

– Ora essa Gina! Frangotinho nada! Eu não posso me assustar?! – Ele fazia um biquinho extremamente encantador – Eu estava distraído, oras!

– Urrum – Gina fingiu concordar com ele, ironicamente. – Tá certo frangotinho, agora se acalme. – Ela continuou rindo ao confortar-se novamente no peito do rapaz.

Ferdinando achou a atitude dela tão carinhosa, que nem se importou com o apelido novamente utilizado. Voltou a desviar a atenção para ela enquanto esperava ansiosamente o filme acabar para ter de volta a atenção de sua menininha.

[...]

– Ara que aquele filme é muito longo! – Nando disse reclamando para Gina, enquanto saiam do cinema.

– Pois eu adorei! – Ela dizia radiante por ter assistido.

– Ao menos um de nós ficou feliz. – Ele disse com a voz manhosa.

Gina não entendeu. Ele não havia gostado de sua companhia?!

– Ara, e por que isso?! Você não gostou de ir ao cinema comigo, Nando?! – Ela dizia com o olhar entristecido.

– Menininha... – Ele disse abraçando-a – Você foi o único motivo de eu ter ficado lá. Eu não gostei foi de ficar sem sua atenção o filme todo!

Gina ficou envergonhada com a declaração.

Ele a soltou do abraço e admirou suas rubras bochechas. Adorava deixá-la assim. Via isto como uma aprovação.

– Bom, agora, vamos que eu quero lhe levar a um lugar especial.

Gina tornou-se pura expectativa.

Ao entrar no carro, a música que havia parado no início voltou a tocar. Era “Você é linda” de Caetano Veloso. Gina sorriu. Ferdinando percebeu disfarçadamente sua aprovação.

Pararam no drive de um pizzaria. Ferdinando perguntou qual era o sabor favorito da ruiva.

– Ara, calabresa Gina?! – Ele disse sem pensar, não gostou muito da resposta dela – Quer dizer... Tudo bem. – Ele riu com a própria reclamação.

– Ué pede meio a meio! – Ela foi prática em responder.

– Olha só que esperta! – Foi o que ele fez.

Retiraram a pizza, e saíram. Gina não cabia em si de tanta curiosidade.

– Ara Nando, onde é que nós estamos indo?! – Ela questionava roubando uma calabresa da pizza que estava em seu colo.

– Calma Gina, é uma surpresa... Eu só acho melhor lhe avisar, que a pizza vai esfriar um pouco.

Ela detestava surpresas. Roubou outra calabresa enquanto esperava encontrar alguma dica pelo caminho.


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Notas finais do capítulo

Amorinhas, acho que a Parte 3 sai ainda hoje! O eu dividia, ou não postava, achei melhor dividir! rs
Bigbeijo! Espero que tenham gostado!



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