A Dança das Lâminas Rubras escrita por João Emanuel Santos


Capítulo 14
A Fonte da Magia Antiga - Parte Três.


Notas iniciais do capítulo

Por incrível que pareça, esse não demorou duas semanas pra sair :D

Um pequeno recado. Hoje comecei a publicar um terceiro conto, chamado "A Espada e O Falcão", se passa no mesmo mundo de Lâminas Rubras, e ficaria muito feliz caso resolvessem dar uma olhada. Para aqueles que leram Impérvia, esse conto em específico pode ser muito interessante, pois continuará a contar a história de Áengus.
Mas não é necessário ler Impérvia para ler esse novo conto, são histórias separadas.

http://fanfiction.com.br/historia/561165/A_Espada_e_O_Falcao/

Lembrando que a Jodie Holmes escreveu uma história fechada nesse mesmo mundo, que ficou muito boa. Eu recomendo.

http://fanfiction.com.br/historia/558447/Ascencao_e_queda_de_Adriene_dMaquiavoux

O desenho que está no final do conto foi feito pela Luna, é um fanart da Sabrina em "A Fonte da Magia Antiga - Parte Um", ficou lindo, muito obrigado outra vez :D

É isso, espero que gostem :)



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Eu me recusei a acreditar.

Gregório estava caído na minha frente, agachado, com uma flecha atravessando suas costelas direitas. Sabrina estava um pouco mais distante, com outra seta em sua perna esquerda.

— Vocês se intrometeram nos meus negócios, mesmo depois de receberem a hospitalidade de meu pai. — Sir Derek se aproximou de Sabrina, com a espada em guarda. — Vou lhes mostrar o que acontece com estrangeiros que se metem nos assuntos de Impérvia.

Gregório se moveu com rapidez, recarregando a besta e atirando um virote certeiro que atingiu o peito de Sir Derek. O cavaleiro berrou de dor, desabando involuntariamente.

Outra flecha cortou o ar, atravessando o ombro direito do mercenário.

— Gregório! — gritei.

— Te peguei sua filha de uma puta. — com muito esforço, ele empurrou a alavanca de sua arma, depois a puxou para trás. E eu arregalei os olhos, pois até então eu nunca vira Gregório xingar alguém. — Hora de descer.

A besta disparou um projétil para cima.

Por um breve instante, tudo o que houve foi o silêncio.

Mas logo, um vulto caiu dos carvalhos, desabando com força no chão, perto de onde estávamos.

Gregório acertara Sofie.

Enquanto isso, Sabrina reuniu suas forças, se levantando e tomando distancia de Sir Derek.

Sofie reganhou os sentidos. A escudeira caíra em cima do próprio arco, partindo a arma em dois. Mas ela ainda possuía sua espada de bainha branca, e foi essa mesma espada que ela desembainhou enquanto se erguia e caminhava lentamente em nossa direção. O virote do mercenário estava preso no estômago dela.

— Esse seu arco estranho é muito incomum, e você usa ele muito bem. — era possível notar a cólera na voz da mulher. — Eu vou ter que cortar fora essas suas mãos habilidosas.

Olhei para o lado, Gregório estava deitado, com uma expressão terrível, agonizante.

— Ei, Gregório! — exclamei.

Sofie dava passos cada vez mais demorados, saboreando meu pavor.

— Mas que... — me prostrei ao chão, levando minhas mãos até a arma do mercenário. — Merda! — coloquei toda a força que consegui reunir em um empurrão que recarregou a arma. Fui surpreendido pela dificuldade que tive em fazê-lo, pois sempre que eu via Gregório usando a besta, parecia ser fácil. — Não se mova! — terminei, ameaçando Sofie.

Ela gargalhou.

— Você é tão bonitinho, apontando esse negócio para mim. — Sofie estava próxima. — Suas mãos tremem tanto. Está nervoso?

— Eu disse para parar! Se não fizer isso eu atiro!

— Você não é capaz de matar, garoto.

— Mas eu sou! — Sabrina pulou, acertando um soco forte e brutal no rosto da mulher. Ao atingir o solo, a mercenária cambaleou, ainda com dor em sua perna. Sofie, por sua vez, rolou pelas folhas de carvalho, se afastando de nós.

— Por que vocês adoram interromper meus momentos de diversão? — disse a escudeira de Sir Derek, limpando o sangue que escorria de seu nariz e boca.

— Sabrina! Ainda bem que... — parei minha frase pela metade, pois ao olhar para a mercenária, fui preenchido por um medo incompreensível.

— Eu estou com raiva. — Sabrina tinha o cenho franzido e os olhos furiosos, sua expressão estava tomada pelo ódio e pela vontade de matar. — Eu estou com tanta raiva, que sequer consigo pensar em palavras para expressá-la.

Era como se o próprio ar em volta dela pudesse me sufocar.

Sofie sorriu.

Percebi que Sir Derek agonizava no chão, esperneando e gerando um barulho desconfortável com sua armadura. Ele não estava morrendo, apenas tinha sido tomado por desespero após ser ferido.

— Então por que não usa suas espadas para falar? — disse a oponente de Sabrina.

— Drystan. — a mercenária me olhou, e por um breve momento, pensei que eu morreria ali mesmo. — Desamarre Senhora Shannon e o servo dela. E diga-os que se eles não ajudarem Souverain, eu vou matá-los.

Acenei com a cabeça, puxei a adaga que Gregório guardava em sua bota, depois me ergui e corri sem olhar para trás.

No caminho, chutei com força a cabeça de Sir Derek, fazendo com que ele perdesse a consciência.

Senhora Shannon havia se arrastado até a pequena Nolwenna, as duas choravam, assustadas com toda aquela situação repentina. Decidi que o melhor a fazer era soltar Conall.

— Obrigado. — ele disse, após eu cortar sua mordaça e amarras. — Por favor, liberte Senhora Shannon e Senhora Nolwenna.

— Ajude Gregório antes. — eu o olhava, sem piscar.

Ele compreendeu a urgência em meu tom, então se desatou a correr até onde os mercenários estavam.

Enquanto eu soltava as duas nobres, voltei a olhar para Sabrina.

Sofie avançou para cima dela, segurando sua espada e arriscando um golpe horizontal que cortaria o pescoço de sua oponente.

Mas Sabrina foi mais rápida, abaixando a cabeça e socando com a mão esquerda o dardo que estava na barriga da escudeira, fazendo com que o projétil entrasse ainda mais. E aproveitando-se da pausa que a mulher fez ao sentir dor, a mercenária ergueu seu braço direito, executando um soco de baixo a cima que acertou o queixo de Sofie.

A escudeira caiu de costas no chão, tentando usar as pernas para se afastar. Mas Sabrina rapidamente se jogou, montando em cima dela enquanto a encarava com ódio.

Sofie tremeu.

Sabrina esmurrou o rosto da mulher com violência. Quatro, cinco, seis vezes, e continuou a socá-la, enquanto seus punhos se tornavam mais rubros a cada golpe.

No entanto a agressão não durou por muito tempo.

Em um dos golpes, Sofie desviou sua cabeça, enquanto acertava uma cotovelada no rosto de Sabrina. Aquilo não foi o suficiente para que a mercenária saísse de cima da escudeira, mas deu tempo para que nossa inimiga apertasse a perna ferida de Sabrina. E tirando vantagem da brecha, Sofie empurrou sua oponente e se libertou.

As duas se levantaram.

— Por que não usa as espadas? — perguntou Sofie. Seu rosto estava encharcado com o próprio sangue. — Isso me ofende, sabe?

— Eu já te disse. — Sabrina portava um olhar aterrorizante. — Eu estou com raiva. E vou te matar com minhas mãos nuas.

Conall nos alcançou, ele carregava Gregório nos ombros.

— O fim do bosque, na parte esquerda... — o mercenário arfava. — Príncipe Ulrich está nos esperando lá, com transporte e mantimentos.

— Príncipe Ulrich sabia dessa traição? Então por que não disse ao Rei? — disse Senhora Shannon, aos prantos.

— Foi o que eu disse a ele... — Gregório sorriu. — Mas agora não importa, temos que ir. Chamem Sabrina.

Gregório desmaiou.

— Vou colocá-lo na carruagem. — Conall se virou para as nobres. — Minha Senhora, por favor, espere aqui fora, estarão mais seguras com Sabrina por perto.

Aquilo não era verdade, mas acredito que ele tenha falado aquilo por saber que eu temia que eles nos abandonassem.

— Eu não entendo. — Senhora Shannon soluçava. — Sir Derek é nosso amigo há anos, por que ele faria algo assim?

Voltei a olhar para a mercenária.

Sofie tentou estocar sua lâmina no peito de sua oponente, mas Sabrina se esquivou para a esquerda, dando uma joelhada no estômago da inimiga. Em seguida, a mercenária levou suas mãos para a gola do gibão de Sofie, e girando o próprio corpo, arremessou a mulher no chão outra vez.

A escudeira de Sir Derek caíra de rosto para baixo e acidentalmente largara sua espada. Ao notar esse ato de descuido, Sabrina pegou a arma e rapidamente abriu um rasgo na parte de trás do gibão, deixando as costas de sua oponente descobertas.

— O que está fazendo? — Sofie se levantou, tentando esconder as costas de todos nós. — Se queria tanto me despir, poderia ter pedido depois da ceia de ontem.

— Pare de esconder o sotaque e a tatuagem. — Sabrina continuava séria. — Eu sei o que você é, Basilisco.

Sofie sorriu.

— Eu realmente perdi o meu sotaque depois de todos os anos que passei aqui em Impérvia, não estou o escondendo. Mas eu confesso que fiquei surpresa em descobrir que mais alguém além de mim tinha conseguido fugir da organização.

— Você? Fugiu? Isso é impossível.

— Se é impossível, como você o fez? Senhora Sabrina. — Sofie tirou seus braços das mangas do gibão, a fim de usá-las para amarrar a peça em suas costas, evitando que sua roupa caísse.

— Eu matei todos eles. Todos os membros dos Basiliscos de Sudelor. — disse Sabrina.

— E foi isso que eu fiz, vinte anos atrás. Envenenei todos eles — disse a escudeira.

Arregalei os olhos outra vez, pois ela aparentava ser muito mais nova.

Sabrina ficou em silêncio.

— Você mente.

— Não importa se você acredita ou não em mim, mas escute bem o que eu vou lhe falar. Enquanto existir um Rei em Sudelor, os Basiliscos sempre irão reaparecer, afinal, todo Rei tem inimigos que precisam ser eliminados por meios... Discretos.

Sabrina jogou a espada para Sofie, depois, desembainhou suas próprias lâminas.

— Mudei de ideia, temos que sair daqui o quanto antes, vou só cortar sua garganta e acabar com isso.

— E depois? Vai matar Sir Derek? Como espera fugir de Impérvia se matar o filho de Rei Siegfried? — indagou Sofie.

— Ele é importante para você, não é mesmo? — Sabrina soltou um sorriso forçado. — Não vou matar ele. Vou só fazer as mesmas feridas que você fez em Souverain.

As duas ergueram suas armas.

As duas correram.

As duas gritaram.

E Sofie largou sua espada, levando suas mãos até seu pescoço enquanto os seus joelhos tocavam o solo. Depois, revirando os olhos, ela caiu, decorando as folhas de carvalho com seu sangue fresco, e deixando visível a tatuagem de basilisco em suas costas.

Sabrina caminhou até mim.

— Onde está Souverain?

— Conall o levou para a carruagem. Mas escute, temos que sair logo daqui. E se mais soldados aparecerem? — eu disse.

— Tem razão, vamos para o ponto de encontro com o Príncipe. — a voz dela estava exausta. — Obrigado, Drystan.

Assim que acabou de falar, Sabrina desabou em cima de mim.

— Ei! O que aconteceu? Você não estava bem? — olhei para a carruagem. — Conall! Eu preciso de ajuda!

Nós nos apressamos em colocar a mercenária no transporte. Depois, Senhora Shannon e Senhora Nolwenna nos seguiram, enquanto saíamos apressados até o fim esquerdo do bosque.

O servo guiava os cavalos.

E eu continuava aflito, olhando para Gregório e Sabrina sem saber o que fazer.

— Eu não entendo o que aconteceu. —lágrimas caiam de meu rosto, sem pausa. —Ela estava bem. Eu sei que ela levou uma flechada na perna, mas ela estava bem, vocês a viram lutando, certo? E o Gregório? Ele nem se mexe! A respiração dele está fraca!

— É só uma possibilidade, mas... — ao ver meu nervosismo, Senhora Shannon ficou mais calma e se esqueceu de seu próprio desespero. — Você não pensa que as flechas poderiam estar envenenadas?

Fiquei mudo.

— Sofie disse que havia envenenado alguém no passado, não disse? Talvez ela tenha colocado veneno nas flechas.

— Cala a boca! O que é que você entende? — eu gritava. — Se eles estão assim é por culpa sua! Se não tivéssemos que ter vindo aqui atrás de você, eles não estariam... Eles não estariam...

A pequena Senhora Nolwenna pegou em uma de minhas mãos e sorriu para mim.

— Vai ficar tudo bem. — ela disse, tentando me tranquilizar.

Fechei meus olhos, incapaz de conter meu choro.

— Me desculpa. Eu só... Não quero perder mais ninguém.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e acompanhar, toda crítica será bem vinda.
Próximo Capítulo: Motivos - Parte Um.