A Dança das Lâminas Rubras escrita por João Emanuel Santos


Capítulo 12
A Fonte da Magia Antiga - Parte Um.


Notas iniciais do capítulo

Por favor, leiam essa mensagem (até o resumo, pelo menos).

Desculpem pela demora (como sempre x_x).

Eu prometi pra Ruchan que lançaria um capítulo extra junto deste, mas ao invés disso decidi dar uma adiantada na história principal e lançar dois capítulos “normais” de uma vez. Espero que goste mesmo assim :D

Tenho um aviso extra/hiper/mega/ultra importante a fazer aqui. Ganhei uma história de presente da Jodie Holmes (um salve Daisy Gal). É uma one que ela postou aqui no Nyah, se passa no mesmo mundo de Lâminas Rubras, e aborda temas que eu nunca pensaria em abordar. Eu digo que vale MUITO a pena ler, o resultado do trabalho dela ficou muito bom.

http://fanfiction.com.br/historia/558447/Ascencao_e_queda_de_Adriene_dMaquiavoux

E também, chequem as outras obras dela, são incríveis e muito bem escritas, principalmente “Damage”.

Agradecimentos atrasados pra Luna que compôs uma música incrível sobre Lâminas Rubras, também ficou ótima, e pegou bem o espírito do conto :D

Um resumo do que aconteceu nos últimos capítulos:

Drystan e os mercenários finalmente chegaram até a Península Impérvia. Lá, colocaram-se a serviço de Senhora Shannon e sua filha, buscando uma passagem segura pela península até chegarem a seu destino. Mas logo descobriram que a nobre era uma rainha de um país que acabara de passar por uma revolução.
Agora, após salvar a vida de Shannon, Drystan e os mercenários viajam até o Reino de Sieg, onde finalmente buscarão informações sobre o real objetivo de Gregório, A Fonte da Magia Antiga.

Espero que gostem o/



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Fazia uma semana desde que um grupo de soldados tentara matar Senhora Shannon. Eu já me recuperara do ferimento em meu ombro, e me sentava dentro da carruagem da nobre, junto da mesma, de sua pequena filha chamada Nolwenna, e do servo Conall. Gregório e Sabrina conduziam os dois cavalos que puxavam o transporte, pois os guardas responsáveis por esse serviço estavam mortos, em algum lugar do Vale do Soberano.

Nós por outro lado, estávamos longe daquele lugar. Pois já há algum tempo havíamos atravessado a fronteira e entrado no Reino de Sieg.

Foram dias surpreendentemente tranquilos. Atravessamos prados cada vez mais férteis e majestosos, sempre evitando passar por povoados ou cidades, para que Senhora Shannon não fosse alvo de novos ataques. Hoje, ao me lembrar de nossas viagens pela Península Impérvia, eu finalmente compreendo o porquê daquelas terras serem tão cobiçadas por reis estrangeiros. Todo aquele ambiente parecia trabalhar a favor das plantações, cultivar ali era simples, prático, e proveitoso. A maior parte da população não sofria com problemas de fome ou falta de trabalho, cada um parecia fazer sua função para que os reinos crescessem cada vez mais. E esse provavelmente fora o fator principal para que os reis de Impérvia se tornassem tão ricos, e também o motivo dos nativos de cabelos negros serem tão arrogantes. Mas durante o tempo que passamos juntos, Conall me disse que nem tudo era agradável na península.

O servo me contou sobre o Reino de Erydônia, que vivia travando guerras internas pelo trono, resultando em cada vez mais mortes. E também sobre sua terra natal, o finado Reino das Cordilheiras, que acabara de passar por um período terrível de escassez de comida, além de uma revolução que destruíra toda a estrutura do país.

Mas por sorte, nosso destino estava no mais calmo dos reinos.

À medida que avançávamos para o norte, encontrávamos vários mercadores, que levavam seus produtos de uma cidade a outra. Também víamos bandos de soldados, guarnecendo as estradas de terra e deixando o reino mais seguro. Por conta disso, fomos abordados três ou quatro vezes, mas Senhora Shannon conseguira justificar nossa presença sem muita dificuldade. Ela alegava que eu, Sabrina, e Gregório, éramos servos de sua família.

Naquele dia, finalmente havíamos alcançado nosso objetivo.

A capital do Reino de Sieg, a grande cidade de Lennart.

Apenas percebi que estávamos próximos da capital quando Senhora Nolwenna prostrou seu pequeno corpo de criança sobre uma das janelas da carruagem. Não demorou muito para que todos nós fôssemos preenchidos pela curiosidade e copiássemos o gesto da garota.

Ao olhar pela abertura, tive uma visão que tomou meu fôlego.

Passávamos por um caminho cercado por campos e mais campos cobertos por flores amarelas. No fim da estrada, um bosque de carvalhos decorava o horizonte, as árvores tinham suas folhas avermelhadas devido à chegada do outono. Todas aquelas cores contrastavam com as grandes muralhas de pedra que protegiam a cidade, muros altos que eram ligados por várias torres de flanqueio. Mais além, era possível perceber que os paredões cinzentos circulavam uma grande elevação de terra, onde estava localizado o imenso e imponente castelo de Rei Siegfried. O lugar era monumental, constituído por uma estrutura retangular gigantesca que se intercalava com suntuosas torres, com seus telhados rubros em forma de cone.

– Faz você se sentir uma formiga, não faz? – disse Conall.

Eu não respondi a pergunta do servo, pois minha atenção continuava presa em todo aquele esplendor. Aquele era, de fato, um dos grandes palácios das lendas que minha mãe me contara quando eu era mais novo.

Quando chegamos à entrada da cidade, percebi que os portões de Lennart em muito se assemelhavam aos portões do Ancoradouro do Lobo. Eram exageradas barras de metal que ficavam abertas durante todo o dia, para a entrada e saída de comerciantes, camponeses, e soldados. Apesar disso, havia um controle forte sobre a transição de pessoas. Senhora Shannon foi forçada a contar sua história ensaiada outra vez, além de pagar o imposto de entrada, três moedas de prata por pessoa.

As ruas de Lennart eram estreitas, sendo delimitadas por várias casas de madeira e pedra, com os mesmos telhados vermelhos em formato de cone que as torres do castelo possuíam. Muitas daquelas construções tinham dois ou três andares, algo que dificilmente seria encontrado no resto do continente.

Após certo tempo, percebi olhares de todos os tipos atingindo nossa carruagem. Algumas crianças curiosas nos seguiam, tendo dificuldade em fazê-lo, devido à multidão de indivíduos que tentavam passar por aqueles caminhos apertados. Mas a maioria das pessoas nos lançava um olhar gelado, denunciando o escárnio que possuíam por estrangeiros.

Não paramos em estalagens ou em qualquer outro lugar, ao invés disso, seguimos incessantemente até atingirmos um largo e espaçoso pátio que separava a cidade e as muralhas externas do castelo, obedecendo às instruções que Senhora Shannon nos dera antes de entrarmos em Lennart.

– Minha Senhora, o que faremos agora? – disse Conall, após algum tempo, pois sua Senhora ordenara que parássemos o transporte perto do arco de entrada dos paredões.

– Esperaremos que algum conhecido apareça – Shannon revirou os olhos ao ver a dúvida no rosto de seu servo – Sir Derek, vamos esperar Sir Derek.

– Quem é Sir Derek? – perguntei.

O primeiro impulso da nobre foi me olhar com indignação, talvez por estar usando um tom tão informal com alguém que já ocupara a posição de Rainha. Mas após um breve instante, a mulher se lembrou de que estava se esforçando para nos tratar como iguais.

– É o segundo filho de Rei Siegfried. Sir Derek também é o cavaleiro responsável por comandar os guardas da cidade e do forte. Quando eu e meu – ela hesitou – Quando eu e meu esposo visitávamos essa corte, Sir Derek sempre passava horas conversando conosco.

A porta da carruagem foi aberta pelo lado de fora.

– Desculpe interromper a conversa, mas temos problemas – Sabrina gesticulou para que saíssemos do transporte – Souverain está sendo incomodado por alguns guardas.

Fui o ultimo a descer, e quando o fiz, senti uma brisa gelada percorrer todo o meu corpo, me fazendo ter arrepios. O ar no pátio era incrivelmente limpo, causando em mim uma sensação incrível de bem estar. Segui com os olhos algumas folhas de carvalho que atravessavam o chão de pedra, até que enxerguei Gregório, sendo abordado por uma dupla de soldados.

Os homens vestiam coletes vermelhos com placas de couro, seus cabelos negros eram cobertos por elmos de metal, e seus pulsos por braceletes largos. Em seus escudos, uma águia branca abria suas asas enquanto capturava um peixe. Julguei que aquele era o símbolo da família de Rei Siegfried, ou da cidade.

– Senhores, eu lhes garanto que não estamos mal intencionados, estamos apenas admirando a beleza do castelo – disse Gregório, em tom calmo.

– Estrangeiros não possuem assuntos em Impérvia, muito menos no Reino de Sieg. Vocês devem sair daqui antes que algum acidente aconteça – disse um dos guardas, com uma voz grave.

– Isso foi uma ameaça? – perguntou Sabrina, se aproximando da cena.

– Não, eu apenas disse que não posso garantir a segurança de estrangeiros. E tenha certeza, acidentes sempre acontecem.

Senhora Shannon parecia relutante em se juntar a discussão.

– Como eu disse, não vamos fazer nada de errado, somos apenas viajantes – insistiu Gregório.

– Saia da cidade enquanto ainda tem uma cabeça sobre os ombros! – gritou o outro guarda.

Shannon deu um passo para trás, tremendo.

Uma pequena multidão se formou em nossa volta.

– Então por que você não tenta nos colocar para fora? – disse Sabrina, incapaz de conter seu temperamento.

Gregório suspirou.

– Estou cansado de estrangeiros pensando que podem simplesmente entrar quando bem entendem nas nossas terras. Vocês são as pragas responsáveis pelo resto do continente ser tão inferior! – exclamou o soldado com voz forte.

– Cuidado, amigo, mesmo eu tenho pouca paciência para esse tipo de argumento que você está usando. Talvez você deva vigiar mais suas palavras, antes que acabe perdendo essa sua língua insensata – disse Gregório.

Os dois guardas levaram as mãos até os cabos de suas espadas, se aproximando do mercenário e o encarando com fúria.

– Está nos ameaçando? – disse um dos homens.

– Não foi uma ameaça, foi uma promessa. “E tenha certeza”, eu sempre cumpro minhas promessas.

Olhei para Senhora Shannon, que continuava a tremer.

– Ei, você não está ajudando – sussurrei a ela.

Conall se colocou entre os soldados e os mercenários.

– Peço que todos fiquem calmos, não há motivos para criar um incidente na frente do castelo – o servo continuou assim que percebeu uma brecha naquele ambiente tenso – Vocês são homens de Rei Siegfried, certo? Estão diante de uma grande aliada da casa real, Rainha Shannon, do Reino das Cordilheiras. Eu peço que cumpram o dever que tem com Rei Siegfried e mostrem seu apoio para Minha Senhora, assim como o próprio Rei desejaria.

Os guardas olharam para Shannon.

Dei um pequeno empurrão na mulher usando meu cotovelo direito, para que ela despertasse de seu transe.

– Ah, certo – a nobre pigarreou, retomando seu ar de realeza – Eu sou Rainha Shannon do Reino das Cordilheiras, percorri um longo caminho para pedir auxílio da casa real de Sieg. Exijo que vocês me mostrem sua cordialidade e me levem até seu Senhor.

– Ei, você exagerou – eu disse, em voz baixa.

– Rainha? Pode até ser uma nobre, mas não existe mais um Reino das Cordilheiras, e todos sabem que os membros da família real de lá foram mortos – retrucou um dos homens.

– Abram caminho! Abram caminho! – gritava uma voz feminina, não tão distante - Plebe miserável! Que trecho de “Abram caminho” vocês não entenderam?

Todos olharam para a parte direita da grande multidão, onde dois vultos atravessavam lentamente aquele grande conjunto de pessoas. Quando as figuras finalmente se destacaram, pude ver com clareza a aparência de ambos.

Um deles era uma mulher, com cabelos castanhos e finos, que caiam sobre seus dois ombros curtos. Seus olhos eram escuros e bem expressivos, fazendo par a seu rosto levemente arredondado. Sua pele era pálida, e seu torso estava coberto por um gibão revestido com placas de couro endurecido, semelhante aos dos guardas de Lennart. Ela não carregava escudo, ao invés disso, usava uma espada com bainha branca presa em um cinto rubro.

O outro era um homem alto e forte, com rosto quadrado e cabelos dourados, quase prateados, que caiam em cachos pela sua cabeça. Ele vestia uma cota de malha por baixo de um peitoral de aço que cobria todo o seu tronco e ombros. Um escudo quadrado e largo estava preso em suas costas, e em seu cinto, repousava uma espada com bainha vermelha. Mas o que mais chamava atenção eram seus olhos. Suas íris possuíam uma cor alaranjada muito forte, e um brilho espectral intenso, resultando num olhar feral. Senti-me extremamente intimidado por aquela pessoa, como se ele pudesse quebrar meu espírito a qualquer momento.

A presença daqueles dois já seria incomum em uma situação normal, mas em meio a toda aquela multidão de cabelos negros, eles se assemelhavam a verdadeiros Deuses.

– Sir Derek! – exclamou Senhora Shannon, ao ver o homem.

– Me desculpe pela falta de educação dessa ralé, Meu Senhor, é por isso que eu sempre digo que camponês bom é camponês – dizia a mulher de cabelos castanhos.

– Não termine a frase, Sofie – respondeu Sir Derek.

– Chegou numa ótima hora, Meu Senhor – um dos guardas se aproximou do cavaleiro – Esses estrangeiros estão causando confusão na frente do castelo.

Derek nos encarou com seus olhos assombrosos, até que enxergou Senhora Shannon.

– Rainha Shannon! – exaltou o homem, esbarrando no guarda que lhe pedira ajuda e tomando as mãos da nobre – Isso é verdade? Eu rezei aos Deuses para que poupassem sua família, rezei por vários dias e várias noites. Quando soube o que estava acontecendo, implorei a meu pai que enviasse suas tropas para proteger o Reino das Cordilheiras, mas – Derek fez uma pausa – Bem, o que importa é que a Senhora está viva. E Senhora Nolwenna também!

– Seu afeto é reconfortante, Sir Derek – Shannon não conseguiu evitar que algumas lágrimas caíssem de seu rosto – Nós. Nós passamos por tantas situações horríveis. Por favor, tudo o que peço é abrigo para mim e Nolwenna.

Notei que Sofie lançava um olhar zombeteiro e um sorriso forçado em direção a Sabrina. A mercenária, por sua vez, mantinha um cenho franzido em resposta à provocação.

– Sir Derek – Gregório adotou um semblante entusiasmado ao ver um dos membros da casa real – Sir Derek, sei que o momento é inoportuno, mas eu tenho assuntos a tratar com Rei Siegfried.

– Tem razão, o momento é inoportuno – Sir Derek fez um gesto para que alguns soldados se aproximassem – Homens, levem Rainha Shannon e sua filha para o castelo, meu pai precisa vê-las imediatamente.

– Meu nome é Gregório Villa! – exclamou o mercenário.

O cavaleiro o olhou, com uma expressão que deixava clara sua surpresa ao escutar aquele nome.

– Villa? Dos governantes do Reino de Pallas? – perguntou Derek.

– Sim.

– Deixe-me ver seus olhos – o filho de Rei Siegfried encarou o mercenário por alguns instantes – Sim, você parece dizer a verdade. Muito bem, vamos levar todos para o castelo. Hoje o dia está cheio de surpresas.

E por obra do destino, ou por pura sorte, em pouco tempo estávamos dentro do palácio de Rei Siegfried.

Após entrarmos no castelo, passamos por corredores absurdamente altos e largos, com incontáveis pilares de pedra branca. Os pilares, por sua vez, eram decorados com extensos estandartes vermelhos que carregavam a águia branca de Sieg, um símbolo tão majestoso quanto tudo naquele lugar. Por fim, chegamos a duas grandes portas que lacravam a sala principal, que era dedicada apenas para audiências. Diferente da maioria das moradas dos outros reis no continente, que escolhiam conceder audiências, fazer suas refeições e ter suas reuniões no mesmo grande salão.

Porém não entramos naquele cômodo de imediato, antes, fomos levados para os aposentos de hóspedes, onde cada um de nós foi banhado e vestido de forma adequada para a ocasião.

Deram-me uma túnica escura, que prendi usando um cinto de couro. Minhas pernas estavam cobertas por calções pretos, e meus pés por pequenos calçados muito confortáveis. Havia algo naquelas roupas que me incomodavam, não eram particularmente difíceis de serem usadas, mas ainda assim, me sentia fora de meu elemento.

Os mercenários, por outro lado, pareciam acostumados a usar aqueles tipos de vestes. Sabrina trajava um vestido escarlate com mangas semitransparentes que terminavam em dois braceletes de prata. Seus cabelos negros estavam soltos e voltados para trás. Gregório vestia uma camisa branca de mangas longas por baixo de um colete negro, que tinha a mesma cor que seus calções e botas. Um gorro de pele cinzenta cobra o topo de sua cabeça, escondendo grande parte de seus cabelos cor de madeira.

Assim que terminei de ser arrumado, eu fui levado até o quarto onde os dois estavam. Pensei em comentar sobre a estranheza que eu tivera ao ver Sabrina usando outro vestido, mas decidi me manter quieto, pois a mercenária estava com um semblante sério e pouco convidativo.

– Onde estão Senhora Shannon e os outros? – perguntei.

– Tendo uma audiência com o Rei. O caso delas era mais urgente – disse Gregório.

Souverain, eu estou me sentindo incomodada com algo – Sabrina esperou que a olhássemos antes de continuar – Aquele cavaleiro, Sir Derek, não me parece ser confiável. E aquela mulher, Sofie, eu não gostei do jeito que ela me olhou, como se eu fosse uma presa e ela a caçadora. É bom termos cuidado com eles.

– Sim, vamos manter a guarda alta enquanto estivermos nessa cidade. Sempre tenha suas espadas a uma distância curta.

– Sir Derek me parece ser uma boa pessoa – eu disse, fazendo com que os dois me encarassem em silêncio.

– Drystan, se esqueceu do que eu lhe disse sobre a última vez que busquei ajuda de uma das famílias que procuro? – disse Gregório.

– Eles tentaram te assassinar.

– Exatamente. Daquela vez tive sorte de conhecer Sabrina, mas agora é diferente, estamos cercados por vários soldados e dentro dos domínios do Rei. E não terei como descobrir o que Rei Siegfried pensa sobre a Fonte da Magia Antiga ou sobre minha própria família até que eu tenha uma audiência. Então, antes que isso aconteça, não podemos tomar nenhuma pessoa como amiga ou como inimiga.

Ouvimos uma batida na porta do aposento.

– Rei Siegfried está pronto para recebê-los! – anunciou um dos soldados que guarneciam o castelo.

Sabrina se prontificou a colocar seu cinto onde guardava as duas espadas.

– Vamos – disse Gregório, sinalizando para que nós dois o seguíssemos.

Chegamos rapidamente na sala principal, um lugar que era tão esplendoroso quanto os demais cômodos. Além das inúmeras velas postas em candelabros suspensos, várias aberturas esféricas nas paredes permitiam que a luz da lua entrasse e ajudasse a iluminar o ambiente. Um grande tapete de pele marcava um caminho entre as portas e os degraus de pedra que levavam ao trono branco. E era em cima dessa pequena escadaria, que estava Rei Siegfried, sentado em seu acento.

O Rei era um homem velho, seus cabelos grisalhos eram partidos ao meio e cobriam os lados de sua cabeça até se esconderem em sua nuca. Ele usava uma coroa dourada e grande, ornada com várias pedras de rubi. Um roupão negro cobria praticamente todo o seu corpo, com exceção da face e das mãos. Em seus ombros, repousava uma espécie de capa feita com pele de raposa. E em seus dedos, vários anéis de prata e ouro deixavam claro para todos que ele era um homem rico. Rei Siegfried também possuía os mesmos olhos espectrais e brilhantes de seu filho, e foram esses olhos que o homem usou para nos lançar seu olhar de desafio.

A sala estava vazia, com exceção de Sir Derek e Sofie, que estavam ao lado do Rei.

– Faz muitos anos que não vejo um membro da casa Villa – o monarca possuía uma voz cansada e rouca – E não, Senhor Gregório, não pedirei para olhar em seus olhos. Você e seus companheiros podem se erguer.

– Obrigado pela honra que está nos concedendo, Meu Rei – disse o mercenário.

Apesar de ter dito que não o faria, o ancião se dobrou em sua cadeira, erguendo a cabeça e tentando enxergar melhor Gregório.

– Pelos Deuses, você é igual a seu avô.

Gregório arregalou os olhos.

– Meu avô? Mas, meu avô nunca saiu de Pallas, como poderia conhecê-lo?

Rei Siegfried riu.

– Com todo o respeito a sua família, Senhor Gregório, aquele Enzo sempre foi um bastardo sorrateiro que adorava fazer suas tolices em segredo. Bem, presumo que esteja aqui pelos mesmos motivos que ele. Mas antes de entrarmos nesse assunto, seria melhor que todos os outros saíssem da sala.

– Me perdoe Meu Rei, mas depois de ter sido traído pela família real em Sudelor, eu não me sentiria seguro sem meus companheiros a meu lado.

– Você visitou Sudelor? Grande erro. Mas o maior erro, tanto seu quanto da família real de Sudelor, é colocar tanta importância nessa história fútil de magia. Francamente, por mais que algo do gênero tenha existido séculos atrás, nós não sabemos para o que esse “poder” servia. Estou certo? É por isso que colocou sua vida em risco ao atravessar o Mar Parco e vir até o meu reino?

– Sim, Meu Rei.

– Assumo que também esteja seguindo as instruções daquele livro imbecil que o Enzo usava.

Gregório acenou com a cabeça, confirmando.

– Bem, então me deixe dizer algo. Eu admito que exista algo de errado com nosso sangue, por causa desses malditos olhos que assustam as criancinhas. Mas não acredito que exista uma Fonte da Magia Antiga. E se existir, eu garanto que não passa de uma invenção de algum louco para atrair atenção.

O mercenário fechou os olhos, respirou fundo, e então ergueu novamente seu olhar.

– Depois de tudo o que eu disse você vai continuar com essa estupidez? – perguntou o Rei.

– Sem dúvidas, Meu Rei.

Siegfried sorriu.

– Então vou lhe dizer tudo o que sei, mas não aumente suas expectativas, eu não tenho a solução para o seu mistério – Rei Siegfried se levantou de seu trono alvo, erguendo uma mão para que Sir Derek o ajudasse a descer os degraus – Esse livro inútil do Enzo, se não me engano, ele informa que existem apenas três famílias com essa tal de “magia”. Certo?

– Sim, no Reino de Sudelor, no Reino de Pallas, e no Reino de Sieg – respondeu Gregório.

– Bem, esqueça isso, essa porcaria de papel e estrume está errada.

– O que quer dizer, Meu Rei?

– Esses olhos de monstro que nossas famílias carregam, existem outras duas linhagens que também os possuem. Descobri isso após a visita do velho Enzo.

– Mais duas famílias? Como isso não pode estar nos registros?

– É simples, Senhor Gregório, até pouco tempo atrás nenhuma delas chamava atenção. Bom, na verdade, uma delas chamou tanta atenção que foi exterminada em Terlos – o Rei soltou uma gargalhada – Então, se eles tinham a informação que você quer, lhe ofereço meus pêsames.

– E a outra família? – perguntou o mercenário.

– Está na República Titânia. Normalmente seria difícil encontrá-los, mas, se o que meus informantes do outro lado das cordilheiras falam é verdade, essa família está crescendo muito em poder. Você seria sábio em não tentar cruzar o caminho deles. Vou pedir ao meu filho mais novo que te passe as informações – Rei Siegfried se virou para Sir Derek – Chame Ulrich, e diga a ele o que eu acabei de pedir.

– Muito obrigado, Meu Rei – Gregório se ajoelhou outra vez, ele exibia um sorriso largo.

– Podem ficar no meu castelo até o fim do inverno, mas não abusem da minha hospitalidade, só os Deuses sabem a bagunça que aquele maldito Enzo causou quando veio até aqui, tirou a virtude de quase todas as damas da corte – o Rei deu outra risada, dessa vez misturando-a com tosses fortes – Mas me diga, por que vocês da casa Villa querem tanto encontrar essa Fonte da Magia Antiga?

– Não conheço os motivos de meu avô. Mas eu pretendo – dizia Gregório.

– Bem, não importa, tenham bons sonhos – Rei Siegfried nos deixou sozinhos, caminhando com o auxilio de Sofie em direção à saída.

– Pensei que já havia visto de tudo, mas isso foi aleatório demais, até para mim – disse Gregório.

Souverain, o que vamos fazer agora? – perguntou Sabrina.

– Bem, vamos aproveitar esse tempo para descansar um pouco. Depois, vamos para a República Titânia. Sinto-me revigorado! – exclamou o mercenário.

Escutamos alguns passos apressados pelo salão. Ao olharmos para ver do que se tratava, percebemos que uma figura se escondera durante todo aquele tempo em um canto com pouca iluminação do cômodo.

Sabrina desembainhou suas espadas.

– Quem é? – demandou Gregório.

– Príncipe Ulrich – respondeu o vulto.

Ele saiu das sombras, se revelando como um homem jovem, sem barba e com cabelos raspados. Seus olhos eram iguais aos de Rei Siegfried, denunciando seu sangue real. E seu corpo estava coberto por um manto negro.

– Por favor, me ouçam com atenção, antes que mais alguém entre aqui – ele suava, apesar do frio – Por favor, tirem Senhora Shannon daqui, a vida dela corre perigo.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e acompanhar, toda crítica será bem vinda :D
Próximo Capítulo: A Fonte da Magia Antiga – Parte Dois.