A Dança das Lâminas Rubras escrita por João Emanuel Santos


Capítulo 11
Capítulo Extra - Assassina.


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao capítulo extra :D
Não é necessário ler ele para entender o que vai acontecer com a história principal. Essa história em especifico tem um começo, meio e fim, em um só capítulo. É uma forma de agradecimento para todos que tiveram paciência de esperar um mês por um novo capítulo e também uma forma de agradecer todas as visualizações do ultimo dia.
AH! Não sei se é o caso, mas talvez você (leitor) não tenha visto, lancei o capítulo que continua a história principal (o capitulo 10) hoje, junto deste extra.

Isso é tudo, espero que gostem dessa história curta assim como eu gostei de escrevê-la.



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As ruas de Fort Tonnerre dificilmente ficavam vazias. Os caminhos, que ligavam as construções dentro das grandes muralhas, sempre estavam lotados por pessoas dos mais variados tipos. Durante o dia, a capital recebia visita de estrangeiros e comerciantes, além de contar com o exército real, os moradores e os camponeses que vinham vender seus grãos. A noite por sua vez, trazia até as ruas a ilustre presença de bêbados, bandidos, saqueadores, e claro, cidadãos incautos.

E era escondida entre essa multidão de pessoas pouco afortunadas, que a assassina andava.

Ela acabara de retornar de uma missão de extrema importância para a realeza, ou ao menos era isso que seu mestre havia lhe dito. Fora um trabalho simples, não por ter uma dificuldade baixa, mas pela perícia que a assassina possuía em sua arte. A arte das espadas gêmeas.

Após esbarrar inúmeras vezes em homens sujos e embriagados, a mulher finalmente atingira o ponto de encontro. Um beco escuro, numa rua que estava atrás de um grande templo dedicado a alguma divindade qualquer. Ela se aprofundou na penumbra, sem medo de ser surpreendida, pois seus olhos haviam sido treinados para a escuridão.

– Você foi a ultima a chegar, Sabrina – uma mulher coberta por um grande manto negro se destacou, se aproximando da assassina – Estávamos começando a pensar que você falharia em chegar a tempo.

– E você adoraria isso, não? Eloise – respondeu Sabrina.

– Não leve a sério Sabby, Eloise te admira muito, ela só não gosta de admitir isso – disse uma terceira mulher, que sentava no topo de um dos muros que fechava o beco.

– Felícia. Senti sua presença e a de Eloise, mas onde está Isabeau?

Felícia saltou, atingindo o chão com leveza e naturalidade, apesar da altura intimidadora da queda. Ela removeu seu capuz, revelando um rosto juvenil e rosado. Seus cabelos eram curtos, assim como os de Sabrina, a diferença estava na cor, enquanto os de Sabrina eram negros, os de Felícia eram ruivos. Acompanhando seu rosto jovem, que mal havia visto seu décimo quinto verão, a garota possuía um corpo pequeno e aparentemente frágil. Mas a aparência muitas vezes engana os pouco precavidos, e isso era o que tornava a pequena Felícia tão mortal.

Isa-Isa disse que iria primeiro pra verificar a área – respondeu Felícia.

– Pode parar de usar esses apelidos? Isso me irrita – disse Eloise.

– Você é tão chata – Felícia mostrou a língua para Eloise – Por que vive de mau humor?

– Por saber que um dia ou outro terei que encontrar você.

– Parem! Nós temos um trabalho a fazer, se lembram? – exclamou Sabrina.

As duas se calaram.

– Vou lhes mostrar o caminho – disse Eloise, saindo das sombras.

O corpo de Eloise era alto e forte, seus ombros eram largos e seu físico era visivelmente maior do que o de uma mulher convencional, tão notável que mesmo estando por baixo de um manto era possível enxergá-lo. Seu cabelo era castanho, também curto, e seu rosto era quadrado, com mandíbula forte. Quem a visse de relance, a tomaria por um homem. Mas a assassina precisava desse corpo para poder utilizar sua arma, um arco longo que tinha o tamanho de um adulto. O arco estava preso em suas costas, já a corda e as flechas estavam guardadas numa espécie de bolsa especial costurada em seu cinto.

– Vocês conhecem o contrato? – perguntou Felícia.

– Sim, a Cigana de Sudelor, ela é famosa entre os plebeus – disse Sabrina.

– É uma pena que tenhamos que matar ela hoje, não acha Sabby?

– Por quê?

– Ora! Você nunca teve vontade de conhecer seu futuro? Os plebeus dizem que ela consegue prever tudo o que vai acontecer na sua vida! Imagine só como seria ter esse conhecimento! – exclamou Felícia.

– Nosso passado, presente, e futuro, são os mesmos. Servimos o Basilisco, isso é tudo que importa, o resto é dispensável – disse Eloise.

– Isso não é verdade! Não é Sabby?

– Eu concordo com Eloise. Perder tempo com esse tipo de coisa não vai nos trazer nenhum benefício – disse Sabrina.

– Nossa! Vocês são inimigas da diversão mesmo, é nessas horas que sinto falta de Isa-Isa – resmungou Felícia.

As mulheres seguiram os caminhos noturnos de Fort Tonnerre, abandonado as ruas das tavernas e indo em direção à área nobre. Em certo ponto, as únicas pessoas que as assassinas avistavam nas ruas eram guardas, vestidos em suas cotas de malha que brilhavam ao refletir a luz das várias tochas espalhadas por toda a cidade.

Elas continuaram andando com tranquilidade até que chegaram ao grande arco de pedra que separava a área nobre do resto de Fort Tonnerre.

Apesar de ser chamada de arco, aquela construção mais se assemelhava a uma muralha interna, erguida em rocha cinzenta e lisa. Elas sabiam que o paredão não poderia ser escalado, por ter seis metros de altura, e por não estar próximo de outras casas ou templos que pudessem servir de degrau. Então a única alternativa era passar por uma das entradas guarnecidas pelo exército real.

Eloise guiou o grupo até uma dessas entradas.

– Está muito quieto – disse Sabrina, ao se aproximar do grande portão de ferro que fechava o caminho. Em frente a todos os portões do arco, existiam pátios largos que sempre estavam sendo vigiados por dezenas de soldados. Aquela entrada, no entanto, estava sem nenhum guardião, sem nenhum sinal de vida – Muito quieto, e vazio.

– Isso deve ser trabalho da Isa-Isa – disse Felícia.

– Isabeau não seria capaz de cuidar de tantos guardas – disse Eloise.

As três pararam em frente ao portão de ferro.

– Talvez seja uma armadilha. Mesmo que a chance seja ridícula, a informação do contrato pode ter vazado – disse Sabrina, em tom baixo.

– Devo preparar meu arco? – perguntou Eloise.

Sabrina sorriu.

– Está perguntando a mim o que fazer? Não faz seu tipo.

Eloise revirou os olhos.

– Vocês subestimam demais suas amigas – Felícia tomou a frente das duas mulheres. Depois caminhou até o portão, empurrando as duas barras de metal que selavam a passagem – Aprendam a ter um pouco de fé em Isa-Isa.

– Espere! – protestou Sabrina.

Eloise tomou seu arco longo em mãos e quase puxou sua corda para equipa-la na arma. Mas ao ver o que a aguardava do outro lado, baixou sua guarda.

Uma mulher sentava em cima do corpo de um soldado desmaiado. Ela era loira, de cabelos longos e ondulados. Usava um vestido verde incomum, com os braços e ombros descobertos, além de um decote consideravelmente provocador, era o tipo de roupa que as mulheres da nobreza usariam quando assumissem o papel de amante.

Isa-Isa! – exclamou Felícia.

– Quem diria, ela realmente abriu o caminho – disse Eloise.

– Felícia! Sabrina! – Isabeau se levantou, portando um belo sorriso em seu rosto alvo – E quem é esse homem junto de vocês?

– Engraçada como sempre – retrucou Eloise.

– Você não pode culpa-la, nesse ponto vocês duas são iguais – disse Sabrina.

Isa-Isa, como você fez pra tirar os guardas daqui?

– Bom, antes de sair de casa, eu acidentalmente passei Licor do Sono em meu pescoço ao invés de perfume. Uma mulher pode cometer esses erros bobos às vezes.

– Espere, você deixou que todos os guardas desse portão te cheirassem? Isso é nojento – disse Eloise.

O Licor do Sono era um líquido fabricado por alquimistas, seus efeitos eram imediatos, e faziam todos os que entrassem em contato muito próximo adormecerem. Por ser incolor e inodoro, podia facilmente ser disfarçado ou misturado a outros líquidos, tornando-o uma arma em potencial. Décadas atrás, fora muito utilizado por sequestradores, que se aproveitavam dos efeitos do Licor do Sono para raptar mulheres jovens e as venderem no mercado de escravos. Isso resultou na proibição quase imediata do produto, e no banimento dos alquimistas que viviam no país.

– Você devia tentar algum dia Eloise, quem sabe isso não melhora o seu mau humor – Isabeau riu – Você também Sabrina, diferente desse javali arqueiro, você é uma mulher linda, deveria deixar seu cabelo crescer.

– Eu dispenso. Cabelo grande só serviria para atrapalhar no trabalho – disse Sabrina.

Isabeau apoiou um de seus braços em Felícia.

– Trabalho, trabalho, trabalho. É só nisso que elas pensam. Diversão é o que falta na vida de vocês duas. Certo, Felícia?

– Isso mesmo! Isa-Isa sabe das coisas!

– Ei, ei, não aprenda esses tipos de “coisas”, Felícia – disse Eloise.

– Vocês terminaram? Temos que continuar o trabalho – disse Sabrina.

Isabeau suspirou. As demais acenaram com a cabeça.

Após passarem por uma pilha de corpos desacordados que Isabeau fizera antes da chegada de suas companheiras, as assassinas tomaram uma rota que as levaria até a propriedade de um comerciante abastado de Fort Tonnerre. O contrato, a Cigana de Sudelor, era a esposa do comerciante, e deveria ser morta para que o trabalho fosse finalizado. Quanto menos testemunhas, melhor. Na verdade, o contrato especificava que nenhuma testemunha deveria existir, e caso existisse, também deveria ser eliminada.

– Esperem, estamos andando faz muito tempo, e não vejo guardas em lugar nenhum. O que está acontecendo? – perguntou Eloise.

– Eu já te disse o que aconteceu – respondeu Isabeau.

– Você não pode ter seduzido metade do exército real só para abrir passagem até a casa da Cigana! É depravação demais para uma mulher só!

– Não posso? Mas eu já o fiz - Isabeau riu – Não se preocupe com isso, o Licor do Sono vai impedir que eles lembrem-se do que aconteceu. É a arma perfeita para o trabalho, então não é como se eu fizesse isso por prazer. Nós do Basilisco devemos dar nosso melhor para cumprir as missões, certo?

– Tem razão, mesmo que seja de uma forma desagradável – Eloise fez uma pausa – Chegamos.

As quatro pararam em frente a uma grande casa de dois andares, o lugar era isolado apenas por um pequeno muro e por uma grade feita com barras de metal. Seria simples saltar por cima daquele obstáculo, mas por ser um trabalho tão fácil, as assassinas decidiram não se precipitar.

– Com certeza eles têm alguns guardas e servos dentro da propriedade – disse Isabeau.

– Quantos guardas você encontrou no seu caminho até aqui? – perguntou Sabrina.

– No portão eram quinze, mas no caminho tinham poucos, três ou quatro.

– Eles sabem – Sabrina adotou um semblante frio – Eloise, seu arco, prepare-o.

– Como assim “eles sabem”? Se soubessem, sequer teriam deixado eu me aproximar do portão – exclamou Isabeau.

Isa-Isa tem razão.

– Não foram os guardas que descobriram. Foi o contrato – disse Sabrina.

– Ah! Verdade! No fim das contas o contrato é uma vidente – exclamou Felícia.

– Não acredito que ela tenha simplesmente previsto que estávamos a caminho, alguém deve ter vazado a informação - Sabrina removeu seu manto - Eloise, seu arco está pronto?

– Sim. Nunca esteve tão pronto.

– Felícia, Isabeau, entrem na propriedade e procurem o contrato, existe a chance da Cigana não estar mais aqui – disse Sabrina.

– Pode deixar Sabby!

– Que merda, eu não vou conseguir lutar de vestido – reclamou Isabeau, enquanto pulava o pequeno muro junto de Felícia.

Eloise deixou seu manto cair.

Todas as roupas que Sabrina usava eram negras. Seu torso estava coberto por uma camisa justa que deixava seus ombros visíveis. Sua calça era cortada na altura das coxas, revelando um trecho de suas pernas que terminava em botas longas, acima do joelho. Em sua cintura, estava preso um cinto de couro que carregava duas espadas no lado direito. As bainhas e os cabos das armas eram revestidos com couro negro, já as coronhas e guardas eram banhadas em prata. Diferente de Isabeau, Sabrina não usava aquelas roupas curtas a fim de seduzir seus alvos, ela as usava para que pudesse se movimentar melhor durante o combate.

Eloise vestia roupas quase idênticas, mas que se tornavam diferentes por conta de seu físico forte e marcado por músculos.

– Por que você sempre tem de estar certa sobre tudo, Sabrina?

A assassina o dissera, pois das esquinas daquela rua surgiram aos poucos vários homens equipados com espadas e machados. Eram sujeitos imundos que vestiam trapos e cheiravam a bebida. Sabrina calculou que havia ao menos cinco deles em cada uma das duas saídas.

– Mercenários? – perguntou Eloise.

– Não, bandidos.

– Quer apostar quem consegue matar mais?

– Não me interesso por esse tipo de brincadeira. E mesmo que eu me interessasse, tem poucos deles, qualquer novata conseguiria acabar com eles em um minuto. Não dá pra transformar isso em competição – disse Sabrina.

– Tem razão, como sempre. Então que tal apostarmos quem consegue matá-los mais rápido?

– Me parece mais interessante. Quanto?

– Todas as moedas que estamos carregando.

– Fechado, eu fico com a saída da direita – disse Sabrina.

Os homens gritaram enquanto avançavam numa fúria mortal, motivada pelo dinheiro que receberiam caso matassem as assassinas. Eloise segurou seu arco com a mão esquerda e o abaixou, encaixando uma flecha na arma com a mão direita.

Sabrina correu em direção aos alvos.

Eloise puxou a corda de seu arco, fazendo um esforço descomunal que apenas um braço bem treinado poderia suportar. Ela esticou sua mão esquerda para frente, deixando a arma o mais imóvel possível, enquanto sua mão direita já estava próxima de seu rosto, pronta para soltar uma flecha. Seus braços estavam repletos de pequenas cicatrizes, recebidas como punição por suas falhas nos treinamentos que teve durante a infância. Era uma pratica comum entre todas as assassinas dos Basiliscos de Sudelor, uma pratica que nunca fora aplicada em Sabrina.

Uma flecha voou, acertando um bandido em seu peito e o forçando a se prostrar em agonia. Mas Eloise não hesitou, e rapidamente levou sua mão até uma segunda flecha.

Sabrina estava prestes a colidir com seus cinco inimigos.

A segunda flecha acertou o olho esquerdo de um bandido, fazendo o homem largar sua arma e cair para trás.

Sabrina desembainhou suas espadas.

Eloise rapidamente prontificou sua terceira flecha e a atirou na garganta de outro alvo. Mas agora, os dois bandidos que restavam haviam tomado uma distancia pequena, e logo a alcançariam. Ela decidiu que o melhor a fazer seria trocar de arma, então puxou de seu cinto uma adaga e saltou em cima do homem mais próximo. Ele brandia um machado para o alto com a mão direita, Eloise se aproveitou de sua velocidade para segurar o braço do homem, enquanto ela mesma esfaqueava o coração do inimigo com sua adaga.

Mas ao tentar retirar a lâmina do corpo, a assassina percebeu que a arma ficara presa. E por conta de sua distração, havia criado uma brecha para que o último bandido tentasse a atacar.

Ele ergueu sua espada com as duas mãos, e iniciou um golpe arqueado, visando partir a cabeça de Eloise ao meio.

A assassina não possuía tempo ou reflexos para se esquivar.

Eloise fechou os olhos.

Quando os abriu, o homem que estava prestes a matá-la caíra ao seu lado. Sua cabeça estava separada do resto do corpo, a uma boa distância. Eloise olhou para frente e enxergou Sabrina de costas, com as duas lâminas desembainhadas e sujas de sangue.

– Você é um monstro – disse Eloise.

– Acredito que você me deve algumas moedas.

Eloise atirou uma pequena bolsa de pano para as mãos de sua companheira.

– Só duas? – exclamou Sabrina.

– Eu não faria a aposta se tivesse muito dinheiro – disse Eloise.

Sabrina sorriu.

Ao olhar para trás, Eloise viu todos os inimigos da companheira caídos em cima de poças de sangue.

– Como você consegue? É mais nova que eu.

– Podemos conversar depois, temos que nos juntar as outras.

As duas arrombaram a grade de metal do muro e atravessaram o pequeno jardim da propriedade. A entrada era uma porta simples, porém espaçosa, de madeira. Eloise a abriu, levando a mão direita a cobrir o próprio nariz, por conta do cheiro insuportável de morte.

Vários corpos estavam espalhados pelo primeiro cômodo, todos tinham membros decepados. Manchas e mais manchas vermelhas pintavam as paredes do lugar, que com apenas algumas velas acesas, possuía uma atmosfera naturalmente macabra.

– Que falta de controle. Foi Isabeau? – perguntou Sabrina.

– Não, foi a Felícia. Ela tem treinado com o gladio, está tentando copiar o seu estilo de luta. Mas acho que ela acabou exagerando dessa vez.

– Isso vai causar problemas a todas nós. Já é ruim o suficiente que tenhamos deixado corpos na rua da frente, e agora isso. Por que ela faria uma coisa dessas?

– Provavelmente para te impressionar. Ela gosta demais de você – Eloise fez uma pausa – E ela deve estar com saudades, você só a vê uma ou duas vezes por mês.

– Nós não somos uma família, somos apenas armas, não há espaço para esse tipo de pensamento em nossas vidas. Vou conversar com Felícia sobre essas atitudes uma vez que essa missão termine.

– Ela é só uma criança.

– É uma assassina, e deve começar a agir como tal – disse Sabrina.

Eloise olhou para trás.

– Acho que já começou a agir. Tenho certeza que aqueles cadáveres concordam comigo.

Sabrina e Eloise encontraram Isabeau numa porta que levava ao suposto quarto da Cigana de Sudelor e de seu esposo.

– Onde está Felícia? – perguntou Sabrina.

– Ela disse que queria uma consulta com a Cigana, então está lá dentro.

Sabrina perdeu a paciência e passou por Isabeau com pressa, quase partindo a porta ao meio.

– O que deu nela? – disse Isabeau.

Ao entrar sozinha no aposento, a assassina viu Felícia sentada no chão, conversando com o contrato. A Cigana de Sudelor era apenas uma mulher velha de cabelos grisalhos e corpo encolhido, coberta por um extravagante roupão azul. As duas estavam tranquilas, como se aquela fosse apenas mais uma situação cotidiana.

– Ah! Sabby! Senta aqui do meu lado, tem umas coisas que a Cigana quer te falar – exclamou Felícia.

Sabrina desembainhou uma de suas espadas, e sem hesitar, estocou o peito da anciã.

– Mas. Ela queria. Falar contigo – murmurou Felícia.

– Nós não conversamos com nossos contratos – disse Sabrina, em tom seco.

Felícia abaixou a cabeça e se calou.

Sabrina olhou para a mulher que acabara de matar, e estremeceu ao ver que a Cigana sorria mesmo a beira da morte. A assassina sentiu-se preenchida por uma onda de arrependimento e confusão, algo até então inédito em sua mente.

Aquela foi a primeira vez que Sabrina sentiu remorso.

Após algum tempo, as quatro companheiras se reuniram e decidiram que o melhor a se fazer para minimizar as falhas no trabalho seria incendiar a propriedade. Deixar os bandidos mortos do lado de fora criaria mais confusão sobre a origem do incêndio, e daria tempo à população de Fort Tonnerre para inventar uma grande quantidade de histórias inacreditáveis. Havia ainda o problema de possíveis testemunhas ou de que o sigilo tivesse sido quebrado antes mesmo daquela noite. Em qualquer que fosse o caso, se houvessem punições a serem feitas, Sabrina decidira assumir a responsabilidade.

No caminho de volta para a base da organização, Sabrina caminhava ao lado de Felícia. Ela decidira fazê-lo a fim de ter uma longa conversa com a garota, na esperança de que a companheira abandonasse seu comportamento afetuoso e infantil.

Mas Felícia falava tanto, que Sabrina não tinha oportunidades para sequer começar a repreendê-la.

– Ei, Sabby, você quer saber o que a Cigana me disse?

– Não.

– Mas eu vou falar mesmo assim! Sua chata!

Sabrina suspirou.

– Ela disse que nós duas estaremos ligadas para o resto de nossas vidas, não é legal? E ela também disse que sabia que você ia matá-la sem nem conversar antes, por isso ela me contou sobre o seu futuro.

– Meu futuro? Não perca tempo acreditando nessas coisas, Felícia.

– Mas sabe, ela disse umas coisas bem duvidosas. Que você ia encontrar um homem que mudaria sua vida, e que vocês iam viajar pelo continente atrás de um lugar esquecido.

Sabrina riu.

– Isso é ridículo, está vendo como não se deve acreditar nesse tipo de crendice?

– Não ria Sabby! Eu estou falando sério!

– E o que mais ela disse?

– Bom, tinha alguma coisa sobre uma criança. Talvez seja o filho de Sabby e desse homem, não concorda?

– Então a mulher não apenas me casou como também me deu filhos, ótimo.

– Você deveria levar essas coisas mais a sério, Sabby!

– Tem algo que eu quero lhe falar, Felícia. Sobre o que você fez na ultima missão.

– Ah! Você viu o que eu fiz na entrada da propriedade? Eu queria que você tivesse me visto usando o gladio, eu fiquei tão feliz quando consegui essa arma! É uma pena que ela deixe tanta sujeira.

– Escute – dizia Sabrina.

Felícia a abraçou, interrompendo-a.

– Obrigado por estar voltando comigo, Sabby, eu estava com saudades – disse Felícia, com um sorriso genuíno em seu rosto rosado.

Sabrina retornou o sorriso.

– O que você quer me falar?

– Não é nada. Nada mesmo.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e acompanhar, toda crítica será bem vinda :)

Próximo Capítulo (12 na ordem de publicação): A Fonte da Magia Antiga – Parte Um.



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