Angels Dont Cry escrita por dastysama


Capítulo 31
Capítulo 31 - Não deixe de acreditar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/53704/chapter/31

Quando adentramos a casa, senti logo uma baforada quente vindo até nós, por causa da lareira que estava crepitando em um canto. Também havia um cheiro gostoso, de comida, que fazia minha barriga se revirar de fome. Deixamos nossas malas na sala, depois iríamos nos ajeitar em nossos quartos, mas por enquanto precisávamos de algo para nos manter em pé.


Fomos para a sala de jantar, onde havia uma mesa rústica de mogno, com uma toalha de mesa nova, que com certeza minha mãe usava em situações especiais. Acima dela havia todos os pratos que eu estava acostumada a comer, como a Tentação de Jannson – é um gratinado de anchovas (peixes) –, sopa de ervilhas secas, feijões estufados à sueca, batatas no forno, Gravlax – fatias de salmão marinadas –, rolinhos de couve e Köttbullar – uma espécie de almôndega.


Eu adorava aqueles pratos e pareciam séculos que eu não os comia já que em Estocolmo praticamente vivíamos de fast food ou de restaurantes pertos da faculdade, nada comparado aos dotes culinários de minha mãe. Mischa também não devia estar muito acostumada já que ela vivia viajando para diversos lugares, mas nunca provou direito a culinária do seu próprio país.


– Sentem-se e provem a comida antes que esfrie! – minha mãe disse para todos nós que estávamos parados apenas olhando.


Todos estavam à mesa, papai, mamãe, Joe, Mischa, eu e Freya no chão esperando que algum pedaço de comida caísse para que ela pudesse comer algo. Nada me impedia de confiscar alguma coisinha para ela, eu sempre fazia isso. Mas eu quase me esqueci de dar algo a Freya, afinal a comida estava tão deliciosa e eu sentia tanta falta desse gosto familiar. Mesmo Mischa que parecia nunca ter provado aquilo, estava comendo com grande apetite. Papai não parava de contar as novidades, ele era o que mais falava, contando tudo que aconteceu com o pessoal da família.


– Aquele seu primo, Alexander, casou, com uma linda mulher – meu pai dizia feliz da vida. Era surpresa isso para mim, por que eu me lembro que havia tido um pequeno caso com ele, coisa de garota, mas mesmo assim isso foi meio um choque para mim – Eles estão vivendo lá no centro da cidade agora, foi um lindo casamento, pena que você perdeu!


– Que incrível! – eu disse com uma voz chocha, nada impressionada – Talvez eu vá dar parabéns atrasado para ele.


– É, mas não faz muito tempo, faz um mês e meio. A moça já está grávida, suspeito que ela tenha engravidado antes do casamento, acho que foi por isso que tudo aconteceu meio as pressas.


Então eu ri, era difícil imaginar Alexander casado, ele era sempre um conquistador barato, tentando seduzir as garotas da cidade. Eu sou quatro anos mais nova que ele e vivia tentando atrapalhar os planos dele, era minha maior diversão vê-lo gritando comigo! Quando completei quatorze anos, eu tive um pequeno caso com Alexander, não durou nem uma semana por que ele teve que ir para Ahus, estudar Medicina. Como pode ver meus relacionamentos amorosos sempre duravam pouco tempo.


– E você, Vig? Namorando? – minha mãe perguntou me olhando com aquele rosto inquisidor, não brava, apenas divertida.


– Bem... eu estava, mas não deu certo – eu disse sendo franca – Ele era meio idiota, filhinho de papai e não era para mim, com certeza.


– Ah, ele não era tão ruim assim – Mischa disse me interrompendo – Na verdade eu pensei que os dois iriam se casar por que todos falavam que eles combinavam. É que ultimamente Hedvig começou a ter mais juízo e decidiu descartá-lo.


– Como assim? – minha mãe perguntou sem entender nada.


– Eu só queria dar um jeito na minha vida – eu disse tentando ser o mais clara possível – Queria voltar as minhas raízes e tentar me encontrar. Descobrir o que é certo para mim.


– E o que descobriu? – meu pai perguntou enquanto comia um rolinho de couve.


– Que o melhor é começar pela minha família, não queria que ficássemos separados. Voltei para me desculpar com vocês por ter fugido, queria apenas que vocês me apoiassem em meus sonhos.


– E qual é seu sonho atual se abandonou a diplomacia?


– Diplomacia não era um sonho, era apenas um modo de me afastar do meu verdadeiro sonho, vocês sabem...


– Os quadros – minha mãe disse com o rosto iluminado, então ela olhou para o quadro na parede, onde estava nossa casa pintada perfeitamente com cores vivazes. Era o quadro que eu havia dado para minha mãe no aniversário dela de dois anos atrás.


– É... – eu disse suspirando – Lembro o que a tia Kendra disse naquele natal quando eu gritei para todos ouvir que seria uma grande pintora. Ela apenas riu e disse que isso não dava dinheiro nenhum, que eu seria uma falida vivendo apenas de sonhos.


– Ela estava bêbada – papai disse tentando me animar – E ela não pode falar nada, ela é solteirona e ninguém realmente a aguenta, afinal só sabe falar mal das pessoas. Devia ter continuado a pintar, você sabia fazer isso tão bem!


– Eu sei, mas ela tinha razão, ninguém vive de quadros, o máximo que vou conseguir com isso é vendê-los para os moradores daqui. Queria algo mais, queria ser realmente reconhecida, ter galerias com minhas artes e pintar para pessoas famosas. Não quero ser uma falida vivendo apenas de sonhos.


– Você quer ir para a França tentar a sorte lá – minha mãe disse simplesmente – É o que você sempre dizia antes, sempre gostou de lá, é só entrar no seu quarto que já descobre seu verdadeiro sonho.


– Isso é um sonho distante – eu disse sabendo que as chances de eu conseguir ir para a França eram as mesmas de voltar para Estocolmo – Não vou conseguir, mas gostaria de pelo menos tentar.


Mamãe se levantou da cadeira e sumiu pela porta da sala, não sabia o que tinha acontecido. Só sei que depois de um tempo ela voltou, segurando um envelope grande e estendendo ele para mim.


– O que é isso? – eu perguntei atônita.


– O dinheiro para ir para a França, seu pai e eu pesquisamos antes quanto era. Agora você poderá realizar seu sonho.


– Não posso aceitar! Depois de tudo que eu fiz!


– Hedvig você foi atrás de seus sonhos e é o que muitas pessoas devem fazer. E isso não é nada, a lã está saindo tão bem ultimamente que estamos a exportando para outros países. Quando você falou dos quadros no telefone, eu sabia que não podia deixar assim, eu não queria vê-la enfunada aqui, apenas querendo saber como seria sua vida se não tivesse abandonado a diplomacia. Aqui é seu lugar, Hedvig, mas não se pode viver no mesmo lugar para sempre, às vezes temos que partir.


– Vocês vão me deixar ir para a França? – eu perguntei sem conter minha voz embargada.


– Vamos – disse meu pai também se levantando e ficando ao lado da minha mãe – Não podemos deixar todo o seu dom para nós, você tem que mostrar a eles do que você é capaz. Quero que quando você volte aqui, já seja uma garota de sucesso, que consiga conquistar tudo o que quer.


Eu me levantei e abracei os dois, não acreditando no que estava acontecendo. Tudo estava acontecendo sem que eu movesse um dedo, talvez quando algo realmente tem que acontecer, nem precisamos nos esforçar tanto. Percebi que Joe também se levantou e veio nos abraçar, logo depois Mischa também fez o mesmo.


– E eu vou com você Hedvig – ela disse animada – Vou cuidar dela para vocês, não vou deixá-la se meter em nenhuma encrenca. Apesar de que agora, eu acho que ela tem mais juízo que eu. Não sei vocês, mas acho que aqui está uma nova Hedvig.


Sim, acho que eu havia nascido novamente. Dessa vez para vencer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Angels Dont Cry" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.