Juliana abria os olhos para um novo dia...um dia de feriado chuvoso. E não pode deixar de sorrir ao encontrar a flor que ontem estava em seus cabelos...descansando perto das cartas que faziam seu coração acelerar.
Resolveu que tinha que contar todo o acontecido para a amiga e também sondar se ela e Ferdinando fizeram algum progresso na noite passada.
A moça de cabelos rosa saiu do quarto e encontrou um engenheiro tristonho para o café da manhã e uma cadeira vazia evidenciando a ausência da terceira pessoa que habitava a casa.
–Bom dia doutor Ferdinando! –Juliana tomou cuidado para que não soasse muito feliz ou teria problemas com o humor do amigo.
O rapaz apenas suspirou ...e continuou olhando a garoa que caia.
Juliana começou a se servi do café e observou o amigo levantar da mesa, pegar o casaco e ir em direção a porta.
–Ferdinando onde esta indo?
–Vou dar uma passada na minha antiga casa...preciso... sair um pouco.
–Você não acha melhor colocar um lenço no pescoço? – Juliana ria maliciosamente e Ferdinando ficou sem entender.
–Mas não está fazendo tanto frio assim...
–Não é por causa do frio – Juliana dizia enquanto apontava para um ponto no próprio pescoço fazendo com que Ferdinando procurasse o espelho mais próximo e encontrando, ali na curva entre seus ombros e o pescoço, uma marca roxa que o fazia arrepiar com as lembranças que trazia.
O jovem agradeceu de forma quase inaudível , pegou o lenço e saiu de casa ainda ajeitando o acessório no pescoço.
Ao som da porta batendo, Gina arriscou abrir a sua própria , observou a movimentação no corredor e andou devagar até a sala onde Juliana estava. Ao observar a amiga, Gina suspirou aliviada e resolveu se juntar a professora para o café.
–Bom dia Juliana!
–Aii! que bom que você acordou! Sente, sente preciso te contar tudo sobre o jantar de ontem!
Gina riu...tinha esquecido completamente do encontro da amiga e de como seria o resto do seu dia ...com uma Juliana suspirante e desatenta do mundo.
*
Ferdinando dava passos lentos sem direção. Sabia que iria para casa de seu pai com o objetivo de ver seus irmãos e tentar esquecer a ruiva que lhe atormentava a mente porém não queria aparecer lá tão cedo e correr o risco de ter que falar sobre politica.
Chegou a um parque que ficava perto da sua antiga escolinha e onde muitas vezes tinha fugido para flertar com alguma vizinha sua ou até mesmo garotas de outras series da escola.
Nunca foi o menino dos esportes ou o Nerd exemplar...mas era um menino com posses...portanto popular...e sendo sincero consigo mesmo...ele tinha um charme que chamava a atenção das garotas...de todas...menos uma.
*
–Então ele me trouxe pra casa e me mandou uma mensagem quando chegou na casa dele e...Gina? Gina? Gina!
Juliana balançava as mãos na frente dos olhos da amiga na tentativa de tira-la do transe em que se encontrava
–Oi? Sim o quarta –feira...
–Gina! Você não prestou atenção em nada?! – Juliana podia ter ficado revoltada porém ao notar o olhar triste da amiga achou que seria egoísta demais falar da sua noite maravilhosa e ignorar o aparente desastre que foi a da moça sentada a sua frente.
–Gina...me conte...o que aconteceu?
A ruiva balançou a cabeça de forma negativa e pediu que a professora continuasse narrando sua estória com Zelão.
–Não...isso fica pra depois ...agora a senhorita vai me contar porque tanto você quanto o Ferdinando estão andando como se o mundo tivesse desabado!
Gina estremeceu ao ouvir o nome do engenheiro.
–Não foi nada Juliana!
–Nada não porque eu bem vi a marca que você deixou no pescoço dele e apesar disso vocês dois parecem ter saído de algum romance do Nicholas Sparks.
–Nicholas quem?
–Nada Gina ..o que interessa é que você ainda não me respondeu...então vai ou não me contar o que aconteceu ontem?
*
Ferdinando entrou em casa e subiu direto para o quarto que os irmãos dividiam! Queria fazer uma surpresa e acorda-los cheios de mimos!
–Bom dia! bom dia! bom dia! –Dizia Ferdinando com uma alegria tirada de alguma lembrança boa do convívio com os pequenos.
Pituca e Lepe pularam da cama ao ouvir a voz do irmão mais velho...
–Nando! Nando!- Os pequenos gritavam e corriam na direção do rapaz que os abraçava ternamente.
–Você veio morar com a gente de novo? –Pituca foi a primeira a fazer a pergunta que os menores se faziam todos os dias.
–Não irmãzinha...e acho melhor você ir se acostumando com essa ideia...por que agora estou procurando um lugar so pra mim.
–E nesse lugar so pra você ...vai ser so pra você mesmo ou vai ter espaço pra gente? – Lepe ja sabia a resposta mais queria ouvir da boca do irmão que ele nunca os deixaria.
–Ora essa mais que pergunta boba! e claro que tem espaço para um Pirata de chapéu de jornal -Dizendo isso Ferdinando tirou de um dos bolsos um jornal que havia ganhado na rua e fez rapidamente um chapéu para o pequeno Lepe.
–E eu?
– Ahh..mas eu também tenho um espaço pra minha princesinha das flores. – Com a mesma habilidade que tinha feito o chapéu do irmão Ferdinando agora fazia uma flor de jornal para a pequena Pituca.
Depois de receberem o pequeno presente os pequenos o abraçaram e o acompanharam até a cozinha de Amância que fez questão de servir o antigo patrãozinho com um belo pedaço de bolo de cenoura e uma xícara de café enquanto Lepe e Pituca não largavam as rosquinhas coloridas. No fundo ele sentia falta de tudo isso.
Estava se deliciando com o momento de paz que tanto precisava quando ouviu o som de pulseiras chacoalhando e colares se chocando.
–Ora vejam só quem esta aqui e nem veio falar com a madrasta!
Ferdinando riu da falsa indignação na voz de Catarina e foi logo cumprimentando a mulher mais espalhafatosa que conhecia.
–Bom dia Catarina como vai?
–Eu vou bem sim! So tentando colocar um pouco de juízo na cabeça daquele seu pai. Ai Ferdinando tem horas que ele me tira do sério e eu penso seriamente em ir embora do jeito que você fez. Mas ai...ele percebe... e vem se amansando...e ah...você sabe que eu não resisto aquele teimoso!
Ao ouvir a madrasta falar da teimosia do pai Ferdinando viajou quase que completamente para a visão que era a mulher teimosa que o tirava do sério e que ainda o faria enlouquecer totalmente.
Ao notar que a expressão do enteado mudara instantaneamente do sorriso para um olhar sombrio e distante Catarina soube que o que ele precisava naquele momento era de uma amiga...não...melhor...ele precisava de uma mãe.
–Ferdinando...meu querido...você não quer conversar la na sala enquanto esperamos as crianças terminarem o café?
–Pode ser...- Ferdinando se levantou e deixou as crianças sob o cuidado de Amância e da babá Rosinha.
Chegando na sala Catarina lhe ofereceu um licor qualquer e colocou o mesmo para ela. Ferdinando pegou o copo mais nem chegou a olhar o que tinha la dentro.
–Conte me o que está acontecendo nesse seu coraçãozinho Ferdinando – Catarina o observava com um olhar materno e que o fazia querer desabafar todos os problemas do mundo.
–Ai Catarina...eu estou perdido.
*
–AI MEU DEUS! Não me diga isso! – Juliana estava pasma! Olhava a amiga com os olhos azuis arregalados
–Digo sim e tem mais acho mesmo que foi muito bom não ter acontecido nada.
–Ahhh Gina..você é uma boba não sabe o que está falando...
–Sei sim...eu conheço o Ferdinando e não é de hoje! Aquele um não presta Juliana!
–Ah é? E como você pode afirmar isso?
–Por que eu sei

FLASHBACK
Gina sempre foi uma menina independente, não precisava de ajuda com as matérias na escola nem com os demais deveres como ajudar o pai na loja. Por não ser uma patricinha e também não ser um gênio...Gina participava do seleto grupo dos excluídos socialmente...o que para ela não fazia diferença alguma.
Ela era quieta, não se misturava e não ligava para moda nenhuma um sinal disso era que andava quase sempre com as mesmas roupas largadas e confortáveis. Apenas queria que o tempo passasse logo para voltar a ajudar o pai que era o que realmente gostava de fazer.
No auge dos seus 15 anos Gina podia dizer que não fizera nenhum amigo significativo em sua passada pelo ensino escolar. A única pessoa que conhecia era Ferdinando Napoleão...e eles só se falavam na presença dos pais já que o jeito mauricinho dele e o jeito selvagem dela eram um grande problema na hora da comunicação. E como os pais haviam brigado a alguns anos o contato dos dois se resumiu a apenas a um olhar de reconhecimento.
Ferdinando naquela época passava por problemas em casa...aqueles que até hoje o atormentavam...a política.
Era o ano das eleições escolares para representantes de turma e todos apostavam que ele iria se candidatar ja que tinha o tal do histórico familiar . Porém estava decidido: não iria chegar nem perto deste assunto.
Em uma bela manhã o rapaz estava sendo perseguido pelo jornal da escola que insistia em fazer uma matéria com o mais promissor futuro candidato. Numa de suas fugas Ferdinando acabou esbarrando em uma ruiva que conhecia muito bem mas tinha esquecido , ou na verdade nunca tinha aprendido, a lidar.
–Você não olha por onde anda?- Ela gritou ignorando a mão de ajuda dele e se levantando sozinha.
– Você e que estava no meu caminho
–E agora esse corredor é seu é?
–Você se lembra com quem está falando?
–Claro que sim... e não é o tão famoso Ferdinando Napoleão o frangote da escola?
–Do que você me chamou?
–De fran-go-te so um covardão mesmo pra ficar com medo de uns votinhos.
–Você não sabe o que está falando.
–A éh..e você sabe?
Ferdinando respirou fundo e ao notar uma luz piscar atrás de si e observou que estavam sendo filmados.
–Você vai me pagar Gina! – ao deixar bem claro suas intenções Ferdinando saiu de la o mais rápido que pode deixando Gina absorvendo a ameaça do rapaz.
Alguns dias se passaram e Ferdinando cumpriu a ameaça da pior maneira possível. A encontrou na hora do intervalo entre aulas e ali ... no meio do refeitório com câmeras filmando Ferdinando resolveu chamar a atenção da ruiva.
–Ei Gina...eu vou lhe ensinar a nunca mais me chamar de covarde
–Gina voltou a atenção para o jovem a sua frente, levantou – se e o rondou rindo como se não ligasse para a ameaça.
– CO-VAR-DÃO!
Ferdinando não conseguiu se controlar e a beijou, tendo várias câmeras de celular como testemunhas.
Gina ficou perplexa e tentou se desvencilhar do rapaz
–Mas o que é isso Ferdinando –Gina fugia do rapaz que foi mais rápido e a prendeu na parede do refeitório
–Simplesmente um beijo minha cara!
Ferdinando voltou a beija-la e de novo a ruiva conseguiu se soltar
–Você me espera aqui que eu ja volto!
–E dar a chance de você pegar aquele seu estilingue? Não, não!
Ferdinando a beijou novamente e ao final conclui.
–Espero agora que você nunca mais me chame de covarde.
Lhe deu um ultimo beijo e saiu sorrindo de forma marota deixando a ruiva vermelha de raiva e gritando para todo o colégio o quanto o odiava.
Depois do episódio Ferdinando recebeu a visita de um pai furioso que juntamente com o seu pai fez com que o moço , por livre e espontânea pressão resolvesse se candidatar.
O que ele não sabia e que esse simples ato teria consequências futuras.

FIM DO FLASHBACK

–Então foi isso Juliana...aquele porqueira foi quem me deu o meu primeiro beijo...e eu fiquei muito mal sabe.
Gina dizia e pela primeira vez Juliana via sinais de tristeza profunda na amiga
–Mas Gina...foi so um beijo
–Não foi só um beijo Juliana. Foi o meu primeiro beijo! E ele foi roubado! E depois ele ficou fazendo pouco sabe. Quando perguntavam se a gente tava namorando ele era curto e grosso e falava que aquilo tinha sido uma bobagem...apenas um beijo e que não significava namoro. Mas foi o MEU primeiro beijo Juliana!
–É...ele não devia ter feito isso...-Juliana balançava a cabeça decepcionada. –Mas você tem que vê Gina que vocês mudaram, cresceram...tenho certeza que o Ferdinando não é mais nenhum moleque.
–Pode até ser...mas eu não confio mais nele. Por isso que quando ele disse aquilo eu ...eu fiquei tão irritada !Ai Juliana isso não estava nos meus planos !
–Como assim minha amiga...agora eu não estou lhe entendendo...
–Ah Juliana ..eu não sei...eu sempre quis me vingar de alguma forma ao mesmo tempo que sempre achei que se vivesse bem longe dele eu estaria em paz. Eu não planejei tudo isso! Eu queria viver longe dele Juliana! Mas ai..
–Mas ai...
–Ai que existe alguma coisa que me impede! Quando ele me beijou da primeira vez agora...eu não tive o controle de evitar...eu sempre tive o controle de tudo na minha vida...mas quando ele coloca as mãos em mim...- Gina fechou os olhos e levou a mão ao pescoço que também não escondia que o engenheiro havia passado por ali. –Eu não resisto! Eu não sou mais uma adolescente que ele roubou o primeiro beijo...dessa vez ele ta fazendo pior...ele ta roubando o meu auto controle!
–Minha amiga...eu acho que existem coisas que a gente não pode evitar...que a gente apenas deixa acontecer...
–Mas isso não pode acontecer!
–Ah é? E não pode por que?
Gina ficou em silêncio...não sabia o que responder.
–Eu so sei que ontem ele estragou tudo! Ele estragou meus planos de viver uma vida tranquila sem ele.
–E estragou por que ?
–Por que não era pra eu ta assim como eu to!
–E como você esta?
Gina respirou fundo e admitiu sem coragem de olhar nos olhos da professora.
–Apaixonada.