A viagem foi longa, o motorista da BMW parou apenas para o almoço e janta em algum restaurante na estrada. Jonathan permanecia silencioso, assim como eu, até sentirmos o carro desacelerar e parar.

– Chegamos? – Perguntei ansiosamente. Talvez não deveria tê-lo feito pois Jonathan fez uma careta.

– Sim – Respondeu o motorista. Ele era branco, olhos negros e usava aquele uniforme preto estranho de sua profissão.

Virei meu rosto para a janela do carro e notei. De fato, chegamos.

Estávamos em frente a um grande portão rústico de ferro, a única entrada. O local é isolado por grandes muros pretos de três metros de altura. Pelo portão dava para ver um grande espaço de grama com arvores e prédios cinza com cerca de dez andares. O local era extenso e com muita mata.

– Esta na hora – Avisou o motorista saindo do carro e abrindo a porta para mim e depois para meu irmão – Cuidem-se crianças.

– Obrigada – Respondeu Jonathan. Percebi um leve tom de tristeza em sua voz.

Fui até meu irmão e beijei-lhe a bochecha.

– Não se preocupe – Abracei-o e o mesmo balançou a cabeça.

– Ok, maninha – Jonathan foi até o motorista que estava tirando as malas do carro.

– Hnn, devo avisar – Informou o motorista – Nesta escola só é permitido usarem roupas pretas. Parece que é o uniforme. – Ele analisou a mim e Jonathan com os olhos.

– Não se preocupe – Abri um sorriso sarcástico – Não é como se tivéssemos outras cores.

– Interessante – Respondeu o motorista.

Nessa hora, ouviu-se uma voz.

– Sejam bem vindas crianças – Falou uma moça de cabeços loiros claros, pele clara, olhos verdes e um vestido cinza formal abrindo o portão do reformatório – Prazer em conhecê-los Lucy e Jonathan Fellys.

– Prazer – Falou Jonathan virando-se para ela.

– Ola – Cumprimentei – Você é...?

– Oh, perdoe-me – Disse ela – Eu sou Jackeline, a diretora daqui.

– Oh – Sussurrei – E você esta aqui para...

– levá-los para seus devidos dormitórios – Completou Jackeline – Sigam-me.

Eu e Jonathan nos despedimos rapidamente do motorista, pegamos nossas malas e seguimos andando rapidamente para acompanhar a Diretora Jackeline.

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– Este é o jardim central da escola Explicou Jackeline abrindo os braços e retomando a caminhada. Passávamos por grandes prédios cinza com rosas vermelhas e brancas preenchendo os cantos, arvores aqui e ali fazendo sobras sopravam com o vento da noite, em meio do grande jardim – Badkids tem o total de sete prédios, três são dormitórios para os alunos, um para as aulas do ensino médio e dois para oficinas.

– E o sétimo? – Perguntei curiosa, olhando ao redor, parecíamos estar indo em direção a um dos prédios cinzas.

– Esse vocês descobrirão em breve – Disse Jackeline sombriamente e parando a caminhada, quase topei nela, estava tão absorta com a vista das arvores e rosas que não olhava para frente. – Bem chegamos ao dormitório de vocês!

Quando me toquei, voltei meu olhar para a diretora e segui para cima, estávamos em frente a posta de um grande prédio cinza (como todos que tem aqui), tendo 7 andares, não dez como tinha pensado, simples, sem varandas.

– Os dormitórios não são separados? – Perguntou Jonathan num sussurro. Virei-me para ele.

– Entre meninos e meninas, não – Respondeu Jackeline – Voces ficarão no mesmo dormitório.

– No mesmo quarto? – Indaguei espantada, não que eu odiasse dividir um quarto com Jonathan, apenas... É estranho, nós somos irmãos, mas... Somos adolescentes e precisamos de liberdade e privacidade!

– Não – Respondeu ela, e eu suspirei de alivio por dentro, ufa, minha privacidade... – Cada um possui um quarto mas irão ficar no mesmo prédio e andar.

Jackeline virou-se novamente em direção da porta e voltou a caminhar até ela e a seguimos entrando no dormitório.

– Sejam Bem vindos ao terceiro dormitório do reformatório BadKids – Cantarolou a diretora, o local era simples, pisos pretos, paredes brancas, grande e com apenas um balcão de madeira escura com um computador e cadeira no fundo da sala. – Venham.

A diretora foi até o balcão e retirou alguma coisa de lá e veio até nós, levantei uma sobrancelha.

– Essas são as chaves de seus quartos – Explicou ela, mostrando as pequenas peças metálicas e dando-as para nós – Lucy quarto 666 e Jonathan 777, sétimo andar.

– Que estranho – Comentei, a curiosidade estava me dominando – Qual é a do numero?

– São três dormitórios – Explicou Jackeline pacientemente como se já tivesse respondido a pergunta milhares de vezes e decora a resposta – Cada dormitório tem seus dígitos repetidos.

– Continuo sem entender – Bufei derrotada, não entendi merda nenhuma mesmo.

– O primeiro dormitório tem apenas um digito, 1, 2, 3, o segundo dois dígitos 11, 22, 33, o terceiro tem três digito 111, 222, 333 – Disse Jackeline indo até um elevador e indicando para nós a seguimos com um aceno de mão – Vocês são vizinhos de quarto.

– Ótimo – Falou Jonathan, aparentemente aliviado – Só tenho uma duvida.

– E o que é? – Perguntou ela quando todos entramos no elevador, ela clicou para o sétimo andar.

– Há alguma diferença entre os dormitórios? – Indagou ele.

– Eu tava querendo saber isso, sabe – Completei, interessada no assunto – E também o por que de tantos prédios para dormitórios.

– Hnn, sim – Respondeu Jackeline, colocando a mão direita sob o queixo pensativamente, ela parecia estar escolhendo as palavras – Respondendo a questão de Jonathan, tem uma diferença entre os dormitórios sim, e nesse caso são quem os ocupa.

– Como assim? – Perguntou Jonathan curiosamente.

– Os alunos do primeiro dormitório são nerds, pessoas estudiosas e que não tiveram muita sorte na vida e foram colocados aqui, o segundo são mais para populares, pessoas que seguem modas e que foram para cá por causa de aborrecencias da adolescência que resultaram em suas estadias aqui – Jackeline sorriu, mas desfez seu sorriso rapidamente – E o terceiro, o de vocês, são os problemáticos, que vivem se metendo em brigas pesadas, enfim, os badboys e as badgirls, embora tenham poucas garotas aqui.

– Ah, que legal – Resmunguei sem a mínima vontade de contrariar. De fato, ser expulsa de colégio a cada mês quatro vezes não era para muitos.

– E a pergunta de Lucy – Ela continuou, ignorando completamente meu resmungo – Há vários prédios, cerca da metade é de dormitórios por causa da quantidade de alunos, como pode ver muitos pais não agüentam os filhos que tem.

Isso doeu, eu queria dizer. Sentia falta daquelas pessoas tão importantes para mim. A ultima frase de Jackeline foi como um soco no estomago em mim.

– Ah, sim – Falou Jonathan. Ele havia notado-me. Ele sempre cuidava de mim... Sempre, agora mais ainda... – Notei que os prédios são baixos...

– Há! Sim, sim! Tem tudo a ver – O Elevador parou e a porta se abriu, Jackeline passou e nós a seguimos – Algumas pessoas se suicidam e há acidentes, então não fazemos prédios altos e nem varandas para não facilitar óbitos.

– Ahh, entendo – Sussurrei seguindo-a, de fato não era uma informação muito interessante.

Nós a seguimos em silencio. Jackeline parou do nada e virou-se para nós.

– A caminhada foi curta – Cantarolou ela – Estamos no ultimo andar, vocês são os únicos daqui!

– Por que? – Perguntei subitamente curiosa.

– Bom, digamos que muitos não gostam do ultimo andar – Ela soltou um risinho – Cada andar possui sete quartos, vocês ficam com os últimos, 666 e 777.

– Que estranho – Comentei, notando coisas sobrenaturais – Estamos no terceiro dormitório, que possui três dígitos. – Jackeline assentiu – 3 é o numero da sorte grego – Com isso Jonathan levantou uma sobrancelha, éramos fãs de Percy Jackson – Estamos no sétimo andar de sete andares, sete é um numero fantasma, não da muita sorte – Sorri forçado – 666 é o numero do inferno, 777 é azar em triplo. – Bufei – Que sorte, pelo menos é triplo, sorte que temos os três grandes – Ri alto. Jackeline se abaixou e soltou uma gargalhada maior ainda.

– Vamos acordar o dormitório inteiro – Repreendeu Jonathan, franzindo o cenho – É muito estranho, mas é bem a tua cara Lucy.

– É a tua, não minha – Contrariei-o fazendo uma carranca.

– A de vocês dois, certeza – Ponderou Jackeline, aparentemente tentando calar os risos em vão – Ah, já são 2h da madrugada e terá aula das 7h até as 17h. Só avisando. – Bufei.

– Ok, temos que arrumar nossas coisas. – Concordei. Indo em direção a uma grande porta preta com o numero 666 entornado em prata puxando minha mala... Eu não tinha percebido, o chão do andar era preto como no térreo, mas a parede era cinza, e tinha sete portas pretas. Jonathan foi até a porta 777, puxando sua mala.

– Acho que é tchau agora – Falei calmamente.

– É, acho que é – Concordou Jonathan.

– Bom, até de manhã, não esqueçam de ir a minha sala pegar o horário de aulas crianças – Falou a diretora, despedindo-se e virando-se para o elevador .