Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores como estão? Bom, aqui está mais um capítulo e espero que gostem e que esteja perto do que imaginaram.

Quero muito, muito mesmo agradecer a Helô Bonim pela recomendação. Fico mais que contente de saber que acha que Traiçoeiro mereça ser recomendada. Muito obrigada de todo coração, deixou-me muito feliz. Espero que goste do capítulo.

Irei deixar vocês lerem agora.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530268/chapter/42

 

Acordei sentindo-me fraca e com a cabeça doendo. Do lado de fora, parecia que o mundo estava desabando por conta da chuva torrencial que caía e dos trovões incessantes que faziam tudo estremecer.

Era quase como se alguém estivesse irritado.

—Isso não dará certo. – ouvi o sussurro de Branca. – Você não deveria tê-la ajudado Regina. Killian era o guerreiro dela por um motivo.

—Se eu não a ajudasse, ela teria dado um jeito. Você sabe. Tem acompanhando Emma durante todos esses anos. Sua filha é boa, mas também é determinada quando enfia algo na cabeça... – ela hesitou. – E eu me coloquei no lugar dela. Não deixaria que Robin entrasse nisso.

Passadas leves ecoaram pelo ambiente em que estávamos fazendo minha cabeça latejar.

—Vocês irritaram as deusas. Thrud está uma fera e com razão... Parece até que está tentando nos afogar com essa água toda. Freyja está irritada por Emma ter forçado o guerreiro a quebrar o juramento... É bom que esse plano de vocês duas dê certo.

—Não vai falhar. – falei, sentando-me com dificuldade. – Regina e eu repassamos mil vezes o plano, ela me treinou bem. – observei o quarto ao redor. – Onde estamos?

—Na casa de Robin. Esse é o meu quarto... Quando você desmaiou, precisava esperar que se recuperasse para que pudéssemos chegar até Gotland. Achei que aqui seria um bom lugar para ficar.

—Há quanto tempo estou desacordada?

—Algumas horas...

—Estou muito decepcionada com você, Emma. – Branca bradou em voz baixa. – Seu pai e eu estamos. Eu disse para não fazer isso!

—Eu precisava proteger o homem que eu amo, já disse. – retruquei fechando os olhos para tentar abrandar a dor que se tornava mais intensa em minha cabeça e deixava minha visão esbranquiçada, tornando a abri-los em seguida.

Ela pressionou os lábios até se tornarem uma linha fina, os olhos marejados.

—E quanto a se proteger? – indagou. – Agora que talvez, eu poderia ter minha filha comigo, você força seu guerreiro a quebrar o juramento e se tiver sucesso ao derrotar Cora, eu irei perdê-la do mesmo modo. Não pensou em mim... Em seu pai que raramente consegue vê-la. – Branca piscou repetidamente, indo para a janela. – Além de ter mexido com o destino todo.

O quarto caiu em um silêncio desagradável e Regina caminhou até mim.

—Como está se sentindo?

Ponderei por um instante, tentando encontrar uma resposta satisfatória para toda a dor e agonia que se instalava em meu peito. O desespero, misturado com o pânico crescente, junto com a dificuldade para respirar.

Era como se uma parte minha soubesse que estava morrendo e clamasse por ajuda.

E de todas as dores que já havia sentido desde que embarcara naquela viagem, nenhuma chegava perto da que eu sentia agora.

A dor da alma e do coração era bem pior que qualquer dor física. Não podiam ser curadas, apenas inflamariam cada vez mais até infeccionar, matando lentamente.

—Meu corpo está bem, mas meu interior está em pedaços Regina. Tudo dói tudo sangra. É como se toda a minha força tivesse sido drenada e eu sou feita de um vazio escuro e gelado, acumulando todo sofrimento.

—Killian! – Branca exclamou de costas para nós.

—Sim, Emma está sentindo as dores do capitão agora. O efeito do caos já deve ter passado tem algum tempo. – deduziu. – A ligação que os unia foi quebrada, mas as emoções dele sempre estarão presas a você, para que assim possa protegê-lo de Asgard quando morrer e se tornar uma Valquíria. – explicou.

—Não, eu quis dizer que Killian está aqui. – Branca se virou apontando para fora e no mesmo instante uma batida forte vinda da porta da frente nos fez saltar.

Regina se apressou jogando minha capa que estava na cadeira para mim, juntando seus frascos que estavam na penteadeira.

A batida se repetiu, ainda mais forte que antes, como se ele cogitasse em derrubá-la.

Fiquei de pé, caindo sentada logo em seguida, quando o quarto se tornou um borrão, deixando-me desorientada.

—Filha. – minha mãe veio para o meu lado, ajudando-me a levantar, colocando a capa ao redor de mim. Senti um leve formigamento, esquentando minha pele. – Apesar de não ter aprovado essa sua escolha, eu acredito em você. Sei que irá conseguir vencer Cora e proteger esse mundo. – disse rapidamente, segurando meu rosto com as mãos, beijando minha testa.

Regina se tornou imóvel ao perceber os passos rápidos no corredor, indo em direção à sala.

—Killian o que isso?— ouvimos Robin indagando alarmado.

Branca apertou minha mão com força, olhando para porta do quarto e então para Regina.

—Robin não sabe de Emma. – ela garantiu em um murmúrio.

—Swan está aqui? Por favor, diga-me que ela veio para cá.— Jones implorou com a voz alterada com o desespero.

—Emma já foi embora Killian. Ela jantou conosco e pediu para voltar. Disse que tinha combinado de encontrar você e os homens na taverna. Meu cocheiro a deixou...

—Sim, sim. Ele a deixou, mas— Killian o cortou com agonia. - Ninguém sabe onde ela está. Imaginei que Emma teria voltado para vocês por estar brava comigo. E brava com motivos.

—O que aconteceu?— quis saber soando preocupado.

Fiz a pior burrada da minha vida, Robin. Se já estava difícil de convencer Swan a aceitar meu pedido, depois do que eu fiz hoje, vai ser um milagre se ela disser sim. Se ela voltar a confiar em mim... Eu não a encontro.

—Como assim não a encontra?

—Maldição! – Regina praguejou baixinho, pegando o roupão e se enrolando nele. – Esperem aqui. – instruiu, indo para a porta com uma expressão severa no rosto.

—Ela não está com os marujos, não está no Jolly Roger... Em lugar nenhum... Eu não sei mais onde procurá—la, não quando o bote onde Emma costumava dormir sumiu... Swan não pode ter ido para o mar, não com essa tempestade. Ela não pode ir a lugar nenhum, não sem mim.

—O que está acontecendo aqui?— Regina instigou confusa, conseguindo usar um tom como se tivesse acabado de acordar. - Killian?

Jones andou. Sabia disso porque conhecia os passos afobados dele quando estava nervoso.

—Emma Ajude-me a encontrá—la, você a colocou em minha vida. Certamente consegue colocá—la uma última vez.

—O que aconteceu com Emma?

—Ela sumiu. Foi embora. Não a encontro em lugar nenhum. Ela deixou Deixou tudo para trás. Veja. Esse é o colar dela, o que me fez saber que era a Swan... E essa é...— ele respirou fundo. – A pulseira que dei dias atrás para ela, para que estivéssemos sempre juntos. Encontrei ambos caídos no convés. Emma me deixou para trás.— sua voz falhou. – Ela não me quer mais junto dela e eu entendo perfeitamente e não tiro sua razão, mas eu preciso da minha Swan, Regina, ajude-me. suplicou.

—O que você fez?— ela soou fria.

Soltei-me de Branca determinada a ir até a sala. Killan já estava agoniado, não deixaria que Regina o tratasse daquela maneira para que se sentisse pior. Eu queria cessar a dor que eu causara nele ao fazer aquilo para protegê-lo. Não tinha intenção de ver seu estado, mas agora que eu sabia como estava, era impossível que eu deixasse que continuasse a sofrer.

Contudo senti os braços de Branca me envolvendo por trás.

—Vai ser pior, filha. Killian a verá, entretanto não poderá mais tocar em você. Vocês não podem mais ficar juntos. É como se algo impelisse um para longe do outro sempre que tentarem ficar perto. Agora você precisa lidar com a escolha que fez. Eu avisei que iria acontecer.

Fechei os olhos, tombando para frente ao sentir meu coração se contorcendo dolorosamente como se ácido pingasse lentamente sob ele, corroendo-o. Branca me amparou, até que estivesse encostada à porta, enquanto eu tentava confortar Jones com o pensamento, dizendo que ele ficaria bem, quando o momento passasse.

Que encontraria uma mulher para amar.

Que não era o fim, eu sempre estaria cuidando dele, independente de onde estivesse.

Que eu o amava e se ele também me amava, iria viver a vida da melhor forma que pudesse.

Queria que ele sentisse que tudo o que eu mais desejava era que fosse feliz.

—Eu a traí e a mandei embora Mas Regina, eu não quis dizer de verdade.— explicou rapidamente, com a voz embargada. - Eu estava com raiva de mim por eu tê—la traído e ela ter presenciado Descontei nela, porém não a encontro para me perdoar. Eu preciso me perdoar para que ela veja que eu tenho certeza que quero lhe dar meu nome e construir uma família. Vou ser um bom marido e pai. Preciso dizer pra ela que o que aconteceu hoje nunca mais irá se repetir, porque ela é única. Apesar de estar naquela situação eu não cheguei a... Nós já estávamos falando em filhos e uma casa Ela pediu hoje cedo para que eu pensasse melhor se realmente queria isso, se eu tivesse certeza nós iriamos comemorar. Eu fiz merda com esse tempo Emma foi me dizer que sim, ela foi aceitar ser minha e eu estraguei tudo. Regina, eu lhe imploro que me ajude. Eu não consigo ficar sem Emma. Não sou nada sem ela.

—Você chegou a fazer alguma promessa para Emma? - indagou séria.

Silêncio.

—Eu não tenho certeza, Regina. Por quê?

—Pense Killian. - pediu.

Branca beijou minha cabeça, parecendo sentir dor também.

—Regina irá contar para ele agora. Vai ser melhor que seu guerreiro saiba que houve quebra de juramento. Pelo menos não ficará totalmente no escuro. – falou suavemente, tentando silenciar os soluços que escapavam de minha boca, sem eu perceber.

Uma vez Eu prometi que Não me deitaria com nenhuma outra mulher enquanto ela estivesse comigo Jurei ser exclusivamente dela.— contou com dificuldade. – Fiz essa promessa no dia seguinte ao aniversário de Emma... Ela... Ela tinha dito que deveríamos acabar com o que tínhamos... Que era melhor pararmos... Contudo eu não queria parar. Claro que não. Queria continuar e por isso fiz a promessa. Swan estava magoada porque no dia do seu aniversário eu havia estado com outras mulheres e deixei-a sozinha. explicou.

—Seu idiota!— ela sibilou. - Você quebrou o juramento. Quando o guerreiro de uma donzela- cisne quebra uma promessa elas vão embora para sempre. Você não sabia disso?— inquiriu com um leve tom de reprovação.

Uma pontada atingiu meu peito, no exato momento que algo parecia ter caído na sala. Mordi a língua para evitar gritar de desespero.

—Não!— Killian arquejou. - Não, pode acabar assim. Eu não aceito. Não aceito ficar sem Emma. Deve ter um modo de reverter isso. De fazê—la voltar. De fazê—la ser minha como está destinado. Eu sou o guerreiro dela, isso não pode acontecer. Swan pode estar grávida, eu preciso conhecer nosso filho, ver a barriga dela crescer. Ajudá—la a criá—lo e... Você certamente pode me ajudar.

Eu queria abraça-lo. Envolvê-lo em meus braços para curar a dor que estava sentindo. Beijar sua face delicadamente, lembrando-o que eu o amava e que tudo o que mais queria na vida era ficar com ele.

Ser sua senhora.

Queria voltar para a noite anterior e tentar com mais afinco mantê-lo preso a mim.

—Você passou a noite com Killian. – Branca afirmou incrédula. – Agora faz sentido. – murmurou para si mesma.

Toquei minha barriga, lembrando-me do quanto ele parecia estar animado com a ideia de ter filhos.

Uma casa cheia deles.

Fiz uma pequena prece para que não estivesse grávida.

Porque não conseguiríamos sobreviver se estivesse.

—Eu não posso.— Regina respondeu por fim.

—Regina— Robin interveio. - Ele está desesperado. Dá para sentir que se arrepende. Está agonizando.

—Eu já a coloquei na sua vida uma vez, Killian. Você provou que não consegue mantê—la. Quebrou um juramento!

—Regina Por favor Ajude-me. Eu prometo não perdê—la mais. Eu prometo. Se colocar Emma de volta em minha vida, nunca mais irei perdê—la de vista.

—Não irei mais infligir dor a Emma colocando-a em sua vida.

—Mas irá infligir dor a mim? questionou.

—Não fui eu quem lhe infligiu essa dor, Killan.— ela pareceu repreendê-lo. - Não fui eu que o forcei a trair Emma e mandá—la embora.— soltei uma risada melancólica ao ouvi-la dizendo aquilo. — Você fez isso consigo mesmo. Talvez agora aprenda uma coisa chamada paciência Colocou outra mulher em sua cama por que ela não lhe deu a resposta que queria na hora?

—Regina— Robin tentou novamente.

—Não!— rosnou irritada. - Vocês sabem como foi difícil fazê—la entrar na sua vida a primeira vez? Eu podia muito bem não ter feito nada que minha mãe havia mandado. Podia ter deixado Emma quieta e em segurança. Deixado que se casasse com Graham e assim ela não seria mais uma donzela- cisne. Mas eu sabia, sabia que vocês precisavam se conhecer. Sabia que você é o verdadeiro amor dela e ela o seu. Fiz o que eu fiz, porque sabia que não iria terminar o trabalho Era isso que eu esperava de você, que a protegesse. Sei que o trabalho, era dela, contudo Emma não foi treinada para proteger ninguém. Eu não vou interferir mais na vida dela. Mesmo porque, isso é uma regra e não sou eu que as faço.

Regina, eu estou lhe prometendo que vou protegê—la. Se for preciso eu a esconderei do mundo, mas não me deixe sem Emma. Eu não consigo. Está doendo. É difícil de respirar.

Eu sabia o que ele queria dizer com aquilo. Era difícil para mim também, exigia todo o esforço do mundo para levar o ar até os pulmões.

—Tenha uma boa noite, senhor Jones. Nossos negócios acabam aqui. Monte em seu cavalo e volte para o seu navio. Espero nunca mais vê—lo.

—Regina, por favor. Diga-me quanto quer, eu lhe pagarei, mas me ajude a recuperar Emma. Eu a amo. Fui um asno de ter feito o que fiz, porém prometo nunca mais repetir esse erro. Não me deixe sem ela, eu não consigo. Eu a quero como minha esposa. Quero ter minha família, mas para isso eu preciso de Emma. Por favor. Eu lhe juro...

—Será que não entendeu que não tem jeito? Você a perdeu, senhor Jones. Emma Swan foi embora e nunca mais irá retornar. É assim que funciona com as donzelas- cisnes. Agora saia dessa casa e aprenda a viver com as consequências de seus atos!

Os passos de Regina retornaram e Branca arrastou-me para longe da porta bem a tempo. Ela a abriu com violência e a bateu do mesmo modo.

—Sua burra! – murmurou com raiva. – Você passou a noite com Killian para abandoná-lo no dia seguinte? Tem noção do que isso vai desencadear? As deusas estão irritadas e com toda razão do mundo!

—Regina, agora não é hora de brigar com Emma. Ou devo lembra-la que você também foi bem burra quando concordou em ajudá-la? – Branca instigou com severidade calando-a.

Ela se sentou do lado de minha mãe encolhida, o rosto preso em uma carranca, prestando atenção. Branca passou um dos braços por seu ombro a puxando para perto de si, fazendo com que deitasse a cabeça em seu ombro.

—Ah meu Deus o que eu fiz? Eu não posso tê—la perdido. Não assim, sem a chance de conversar com ela uma última vez. Sem ter visto um último sorriso. Aquelas palavras não pode ser a última coisa que disse para Swan. Emma merece ouvir apenas palavras doces Ah céus! Jones exclamou como se se lembrasse de algo.

—O que foi?

—Foram dois juramentos. Eu prometi para Emma que lhe daria memórias doces e a faria feliz e não cumpri. A última lembrança que lhe dei fora eu a chamando de coisas horríveis como se fosse nada. Eu deveria ter dito eu a amo e pedido perdão naquele momento.

—Vou conversar com Regina, Killian. Talvez eu consiga fazê—la mudar de ideia. Talvez tenha um modo de fazer Emma voltar.

—Robin, eu a amo Eu não sei, não entendo por que a traí. Já nem estava mais tão irritado como estava pela manhã… Eu sou um idiota. Você já viu alguém tão imbecil a ponto de perder a mulher que ama quando acabou de recuperá—la? Duas vezes eu a afastei por causa do meu comportamento.

—Talvez você não a ame tanto o quanto pensa. Talvez isso seja gratidão por tudo o que ela fez por você.— Robin tentou, mesmo que sua própria voz o traísse, mostrando que não acreditava no que dizia.

—Eu a amo mais do que um mero nível de pensamento. E eu a mandei embora! Coloquei outra mulher em nossa cama. Na cama que fizemos amor E se Emma foi para o mar? Ou Cora encontrá—la? Eu não quero ser o responsável pela morte dela, Robin. Emma não pode morrer porque eu falei coisas na hora da raiva. Ela tem que voltar para mim. Eu tinha que cuidar dela, era a minha vez.

—Você já olhou nas estalagens? Hospitais?

—Já olhei a cidade toda com os homens. Minha Swan sumiu. Eu ainda não acredito que fiz isso. Que a traí. Se ela engravidou eu nunca irei conhecer meu filho. Eu sabia que eu seria igual a ele. Eu não queria ser igual meu pai, não queria abandoná—la e fazer meu filho crescer sozinho. Nosso bebê não pode pensar que eu não o amo. Eu não quero que ele se sinta como eu me senti por ter sido rejeitado pelo meu pai. Imbecil!

Branca e Regina abraçaram-me como se para tentar evitar que eu escutasse os barulhos, vindos da sala.

—Killian, fazer isso não adiantará nada. Você tem que manter a calma, se a ama e, é recíproco, vocês irão se encontrar e poderá se explicar.— Robin tentou acalmá-lo

—Eu sabia que tinha que ter ficado com ela hoje. Não tinha que tê—la tirado da cama. Deveria ter ficado abraçado a, minha Emma. Algo me dizia que as coisas dariam errado. Sempre dá errado quando está certo demais Swan fez algo de diferente? Percebeu alguma diferença nela?

—Ela ajudou Regina com o almoço, parecia mais sorridente que o normal

—Swan cozinhou? Ela estava feliz?

—Sim, e ela até que é boa. Depois Emma fez um bolo com Roland. Não sei o que estava acontecendo na cozinha, mas eles riam bastante Ela estava bem feliz, Killian. Então jantamos e Emma pediu um pedaço do bolo para levar para você. Fora isso, o dia foi normal. Nada de diferente que chamasse atenção Você está bem?

— Eu me odeio Fui um estúpido com Emma. Era um bolo que tinha no embrulho?

—Era. Por quê?

—Eu joguei no chão. Eu não sei o que deu em mim, disse coisas horríveis para ela Era— ele ficou em silêncio como se buscasse as palavras. - Meu coração parecia dizer o tempo todo não faça isso, tenha cuidado, porém algo mais forte que eu fez com que eu ignorasse esses conselhos. Eu sabia que tudo era errado. A prostituta, as palavras ditas, contudo eu não conseguia controlar. Simplesmente continuava fazendo quando tudo o que eu queria era parar de ser aquele homem que eu odeio ser. Meu coração ordenava que eu me perdoasse, e eu ia fazer isso, no entanto quando abria a boca, saía aquilo tudo.

—Estranho Era quase como se estivesse sobre um feitiço.

—Sim! Você acredita em mim que eu não queria machucá—la dessa forma? Acredita em mim quando digo que amo Emma?

—Claro que acredito Killian. Algo deve ter acontecido. Talvez não tenha sido sua culpa.

—Foi minha culpa. Eu deveria ter sido mais forte independente de qualquer coisa Ela vai voltar, vou encontrá—la. Sei disso, não aceitarei perdê—la desse modo. Swan foi capaz de perdoar coisas piores que fiz. Ela conseguirá me perdoar uma última vez.

—Se tiver algo que eu possa fazer para ajuda-lo...

—Papai?— a voz infantil de Roland se fez presente. -Tio Killian? O que aconteceu com a Tia Emma? Cadê ela?

—Roland, volte para a cama.— Robin pediu.

—Por que você está chorando tio?

—Ah pequeno Eu fiz uma coisa errada, agora tia Emma está muito, muito brava.

—Ela foi embora por que você fez coisa errada?

—Foi pequeno. Ela foi, mas eu irei encontrá—la. Não se preocupe.

—Por que você fez coisa errada se sabia que iria deixa-la brava? Você queria que ela fosse embora? quis saber.

—Não pequeno, de jeito nenhum. Nunca quero que tia Emma saia do meu lado, acontece que adultos às vezes fazem coisas erradas sem motivos aparentes.— explicou.

—Tia Emma está bem? Eu ainda vou ter meu amiguinho se ela voltar?

—Roland! Já para a cama.— Robin falou com autoridade. - Escute você não está bem, volte para o navio. Entro em contato se conseguir convencer Regina a nos ajudar.

—Tudo bem. Desculpe por incomodá—los tão tarde, eu não teria vindo se não fosse importante.

—Eu sei que não. Tenha uma boa noite, Killian.

Ouvimos a porta se fechar e Branca se colocou em pé, indo até a janela, apertando os olhos.

—Pobre rapaz. – comentou. – Ele já foi.

Regina estendeu a mão para mim, ajudando-me.

—Desculpe-me se fui dura demais com Killian. Foi necessário.

—Não precisava culpá-lo daquela forma. – atalhei a voz estranha, como se não pertencesse a mim. – Isso o fez sofrer ainda mais...

—Regina... Acho que sua mãe está aqui... Emma? – Robin abriu a porta com tudo, estancando no lugar, seus olhos presos em mim. – Killian acabou de sair daqui. Ele está louco atrás de... Você esteve aqui o tempo todo? Quem é ela? – apontou para minha mãe.

Regina respirou fundo.

—Cora não está por perto. – respondeu.

—Mas Killian disse uma coisa que uma vez você me explicou ser o efeito causado pelo caos... – ele se calou, sua expressão se suavizando com o entendimento. – Você.

—Nós. – consegui falar. – Eu pedi para Regina fazer isso.

—Eu irei chamá-lo. Não ouse sair daqui. – ordenou.

—Não faça isso, senhor Hood. – Branca se pronunciou. – Apenas piorará a situação. Um juramento foi quebrado. Emma e Killian não podem mais ficar juntos.

—E quem diabos é você? – instigou irritado.

—Sou Branca. A verdadeira mãe de Emma. – se apresentou. – Agradeceríamos se mantivesse nosso encontro em segredo.

Robin balançou a cabeça, parecendo decepcionado.

—Você disse que não faria mais isso. Prometeu para mim que não colocaria mais ninguém sobre o efeito do caos. – acusou. – E ainda teve a coragem de falar com Killian como se ele fosse o culpado quando ele não teve controle de nada!

Regina se aproximou dele, tentando pegar em sua mão, porém Robin se afastou.

—Foi à última vez, eu te juro. Foi necessário para que ficássemos juntos. Emma e eu iremos até Gotland, nós temos um plano. – contou os olhos fixos nos dele. – Se tudo der certo, nós iremos vencer e poderemos ter nosso futuro. – sua voz estava abafada. – Contudo, eu preciso que você não conte para Killian sobre isso.

Robin olhou para mim, como se pensasse.

—E quanto a você? Voltará para Killian?

—Eu morrerei. – falei com sinceridade. – Tenho apenas um companheiro para a vida toda. E como o juramento foi quebrado, não posso voltar para ele. Faz parte de quem eu sou.

Para minha surpresa, ele começou a rir, andando de um lado para o outro.

—Nós íamos ajudá-las. Killian e eu não temos poderes, mas podíamos ajudá-las. Nós temos valor...

—É exatamente por terem valor que fizemos isso! – guinchei apertando as mãos. – Para protegê-los. Se formos bem sucedidas Regina voltará para você e Killian estará vivo. Não brigue com ela. Não quando eu insisti para que fizesse isso. Eu estou dando a chance para que vocês fiquem juntos e sejam felizes, quando eu não terei isso. Regina só estava me ajudando.

Ficamos em silêncio, apenas o som de nossas respirações preenchiam o ambiente. Aquilo já estava me deixando cansada. Eu apenas queria chegar a Gotland e terminar com tudo.

Encarar Cora e derrotá-la por ter estragado o meu futuro.

—E se vocês não conseguirem? Se falharem?

—Nós duas morreremos e o mundo estará perdido. – Regina respondeu com um dar de ombros.

Robin encarou o chão por alguns minutos, seu peito subindo e descendo lentamente.

—O que eu devo dizer para Killian se ele retornar e perguntar por você? – indagou, levantando o olhar para ela.

Fechei os olhos, suspirando de alívio ao perceber que ele não contaria nada para Jones.

—Diga que fui para Gotland ver se Emma foi levada para lá. Fale para ele que saí logo em seguida a sua visita.

Ele assentiu, atravessando o quarto até Regina, a puxando para um abraço e procurando seus lábios com aflição, o qual ela retribuiu, segurando seu rosto nas mãos.

Desviei o olhar para Branca que continuava perto a janela e caminhei até ela, olhando para fora, tentando enxergar pela parede feita de água.

Encostei a testa no vidro gelado, sentindo a dor em minha cabeça dar uma aliviada e tentei silenciar minha mente, meu coração. Eu aceitaria a dor que fosse, mas primeiro eu precisava estar forte. Precisava vencer Cora para que Regina e Robin ficassem juntos.

Precisava ser forte por eles.

Ser forte por meus pais.

Ser forte por Killian.

Aos poucos, enquanto limpava minha mente, deixando-a em branco, senti meu corpo começando a ficar entorpecido, como se bolsas de água quente fossem colocadas sobre ele para amenizar a dor. Ainda sentia uma pequena reclamação em meu peito, contudo já permitia que eu respirasse sem esforço.

—Está pronta? – Regina perguntou e eu me virei para ela. Robin ainda a segurava como se considerasse não deixá-la sair nunca de seus braços.

Anui, voltando para o centro do quarto. Branca segurava a caixa onde estava minha lança e a estendeu para mim.

Segurei-a sem hesitação, não estranhando mais a arma como no começo, acostumada já ao calor que emanava dela.

Branca sorriu para mim com orgulho, trocando um olhar com Regina.

—Você está determinada. – minha mãe constatou. – Minha guerreira deveria se olhar no espelho antes de partir.

Virei-me sem entender aquele pedido e fiquei boquiaberta ao ver meu reflexo. Como da outra vez que usara a capa, ela havia se moldado aos meus braços como se fossem asas de fato, meus cabelos estavam soltos dessa vez, um elmo com asas protegendo minha cabeça. O rosto estava mais anguloso e brilhante.

Mas dessa vez uma armadura dourada cobria todo o meu peito. Uma calça prateada se moldava as minhas pernas, como se fosse uma segunda pele.

Meu olhar encontrou o de Robin pelo espelho que observava sem parecer acreditar no que estava bem em sua frente, para então olhar para fora, ao perceber que a chuva cessara de repente.

—Roland! – exclamei ao ver o pequeno tentando se esconder.

Ele pareceu sem graça de ter sido descoberto e entrou no quarto.

—Tio Killian está procurando por você. – avisou. – Devemos chamá-lo?

Neguei com a cabeça, agachando-me para ficar na sua altura.

—Você não pode contar para tio Killian que me viu aqui, tudo bem?

Roland tocou as asas.

—Você morreu? Meu papai disse que quando as pessoas morrem, elas adquirem asas porque viram anjos.

Sorri para ele, abraçando-o apertado.

—Apenas não conte isso para Killian, certo? Esse é nosso segredo. Só você e seu papai sabem que eu virei um anjo. Acha que pode guardar?

Ele assentiu, erguendo a mãozinha e me oferecendo seu mindinho. Entrelacei o meu com o dele, apertando os lábios para não voltar a chorar.

—Se quebrar a promessa serei obrigado a cortar seu dedo fora, Roland. – Robin lembrou os braços cruzados.

—Não irei papai. – garantiu.

—Posso te pedir uma coisa antes de ir? – perguntei para ele, que aquiesceu. – Cuide do tio Killian para mim, pode ser? Enquanto ele estiver aqui, não deixe que se sinta sozinho.

—Vou chamá-lo para brincar.

Dei um beijo em sua testa, levantando-me.

—Faça isso. Ele irá adorar.

—Emma... Devemos ir. – Regina chamou.

—Por que Regina está indo junto? – Roland quis saber, agarrado ao pescoço de Robin.

—Regina irá guiar Emma para o lugar certo, então voltará para viver conosco.

Ele sorriu.

—Para vida toda? Seremos uma família?

Regina abriu um sorriso largo, depositando um beijo na bochecha dele e afagando seus cabelos.

—Sim filho. Seremos uma família. – prometeu.

Ergui uma asa para que ela se colocasse ali, envolvendo-a com cuidado.

—Estava me esquecendo. – Branca deu um pulinho. – Peguei no navio de seu capitão. Pode ser útil também. – ela colocou a espada que Killian havia me dado de aniversario na bainha da armadura. – Voe para casa quando tudo terminar. Seu pai e eu estaremos esperando-a.

Aquiesci, fechando os olhos, esperando que Regina me passasse à imagem do ambiente. Havíamos treinado naqueles dias, para ver se seria possível que ela transmitisse suas memórias na hora de ir embora, para que eu pudesse nos levar.

O lugar escuro e úmido atingiu minha mente, causando um calafrio de medo em minha espinha. Velas estavam espalhadas ao redor para iluminar, lançando sombras monstruosas à parede. Conseguia ouvir o barulho das ondas ao longe, o que me fez saber que o lugar onde o sacrifício seria feito era perto do mar, provavelmente em uma caverna, escondida. O cheiro das ervas silvestres carregados pelo vento era fraco, mas ainda assim presente e pensei que não combinava com o ambiente melancólico em que estava sendo levada.

—Achei que não viria minha menina. – a voz de Cora atingiu meus ouvidos e eu abri os olhos, encontrando-me cara a cara com ela. – Quem diria que você conseguiria achar a mamãe? – indagou, com um leve sorriso nos lábios, seus olhos frios. – Quer um abraço? – quis saber, abrindo os braços. - Devo dizer que está atrasada para a festa, porém está tudo bem. Sempre soube que era lerda... Agora quanto a você, minha filha. – juntou as mãos, fitando Regina que se mantinha perto de mim, olhando-a com desconfiança. – Sabia que não me decepcionaria.

—Não deveria tirar conclusões precipitadas, mãe. – Regina retrucou.

Observei ao redor com cautela, vendo anões, gnomos da escuridão, gigantes, entre outros seres que eu não saberia nomear, fechando um circulo ao nosso redor. Em um canto distante o duende para quem dei meu dedo, parecia achar divertido toda a cena que desenrolava a sua frente.

Cora deu uma risada sarcástica.

—Vocês duas não acharam mesmo que conseguiriam nos derrotar? Planejamos isso á séculos e finalmente teremos tudo, aquilo que nos foi tirado. – sua voz se tornou melodiosa. – Os deuses foram criados a partir de um gigante. Por que nós temos que nos ajoelhar diante deles? Essa guerra já se desenrola por séculos, e os deuses sempre vencem. Sempre. O grande Odin é filho de gigantes e mesmo assim nos despreza. Somos tidos como inimigos... Mas aparentemente servimos para amantes, enquanto nossos homens são mortos. E tolas são aquelas que se casam com os deuses para terem uma vida privilegiada, deixando os seus para trás... Porém tudo isto está para mudar, graças a você Emma. Nós teremos o que é nosso por direito. O Ragnarok irá se iniciar e garantiremos que o pássaro de Hel não consiga chegar até os deuses para avisar. O barco dos mortos sairá e destruiremos Asgard. Todas as gigantas que nos deixaram para trás para receberem o status de divindades serão mortas... Esse vai ser o futuro... Não se sente sortuda por saber que tudo isso acontecerá por que teremos você? Uma das descendentes das primeiras Valquírias que vieram para terra, que se relacionara com os homens... – ela fechou os olhos, erguendo as mãos. – Você tem tanto poder aí dentro, que será capaz de destruir os deuses e dar o que é nosso por direito.

Empunhei a lança, que imitia uma luz branca, ficando em posição de ataque, sentindo-a vibrar em minha mão.

—Eu não deixarei Cora. Lutarei até o último suspiro para garantir que fracasse. – falei sem emoção. – Não me importa quem veio de quem. O que me interessa é que o mundo permaneça do modo que está. Equilibrado, controlado. Não conseguirá iniciar o Ragnarok antes do tempo. Não terá sucesso nisso.

Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo surpresa, antes de começar a gargalhar.

—Não é porque está vestida como uma guerreira que você se tornou uma de fato, Emma. Mas vão em frente, gostaria de vê-las tentar. – indicou todo o espaço.

Senti uma energia pesada se aproximando por trás e virei-me instantaneamente, fincando a ponta da lança no pescoço de um gigante que levou as mãos, a garganta parecendo surpreso. Fechei os olhos ao terminar de enfiar toda a lâmina, até senti-la saindo do outro lado.

Meu estomago revirou e reprimi o pedido de desculpas que quis sair.

Afinal eu teria que matar e já tinha consciência disso.

Não queria dizer que me agradava.

Puxei-a com força, escutando o corpanzil cair com um baque e retornei a olhar para Cora.

—Eu não estou brincando, Cora. Eu não sou mais a garotinha que você deixou para trás. Sou uma mulher agora. Sei quem eu sou.

Cora fixou seus olhos em Regina com ódio.

—Não posso acreditar que traiu sua própria família.

—Isso nunca foi família, mãe. A senhora entendeu errado tudo ou a ganância tirou-lhe a visão, mas não precisamos viver dessa forma. Nós fomos criados para sermos neutros... Poderíamos ter escolhido o lado dos deuses. Nós temos essas forças destrutivas, mas podemos usá-las para o bem, mamãe.

—Os deuses são fracos. Você deveria saber. Acham-se muito melhores porque ficam em Asgard bebendo e comendo servidos por suas servas, dizendo que fazem algo.

—Hel era uma giganta. – Regina argumentou. Olhei para ela surpresa. – Agora veja onde ela está.

—Hel é uma tola que se deixou vender por míseros pedaços de terra e uma falsa sensação de importância. Odin a mandou para lá para ter controle sobre os filhos de Loki. Não esqueça que os irmãos dela, estão presos... – Cora fechou os olhos, parecendo entediada. – Por favor, façam o que vieram fazer. Não quero deixar duas crianças desiludidas por não dar a chance de ao menos tentarem.

Com aquelas palavras soube que seria impossível qualquer movimento que Regina e eu tínhamos planejado. Que Cora sabia nossas estratégias. Que talvez, estivesse nos observando aquele tempo todo.

Isso explicava porque não havia enviado mais nenhum sinal. Ela sabia que eu viria ao seu encontro.

Olhei para Regina, que assentiu, criando uma bola luminosa de fogo. No mesmo instante fiz a lança se abrir em um escudo, segurando-o a cima de minha cabeça. Senti o impacto que me desequilibrou, ao mesmo, tempo que via pequenos pontos avermelhados se espalhando, pousando sobre as criaturas que começaram a grunhir ou gritar ao se verem pegando fogo.

O ambiente começou a esfriar e agradeci por ter minhas penas para me esquentar.

Retirei a espada da bainha, começando a desferir golpes, quando vieram para cima, chutando e empurrando sempre que possível. Erguia o escudo, sempre que minha visão pegava a bola de fogo vindo em minha direção, escutando os lamentos quando os monstros se queimavam.

Algo pesado atingiu minha cabeça, tirando minha visão momentaneamente, fazendo-me cambalear. Sacudi o escudo, para que voltasse ao seu formato original, usando a lança e a espada às cegas, quando me senti sendo tirada do chão, para ser jogada no mesmo minutos depois, com a sensação de estar pegando fogo.

—Emma! – ouvi o grito de Regina ao longe, enquanto me debatia, tentando cessar a queimação.

O ar foi tirado de meus pulmões e naquele momento não consegui me mexer. Tateei o chão procurando uma de minhas armas. Mãos apertaram meu pescoço, impedindo que eu conseguisse voltar a respirar. Comecei a me debater, desferindo socos.

Eu ainda continuava queimando. O cheiro de carne queimada vinha de mim.

—Como será que seu capitão ficará ao ver essa cena? – Cora murmurou em meu ouvido. – Ao ver que falhou com sua donzela.

Balancei a cabeça em uma negativa, implorando para que deixasse Killian fora daquilo. Ele estava machucado, não precisava se sentir pior.

—Sim. Acho que será interessante.

Cravei minhas unhas em seus braços, tentando livrar-me dela. Minha cabeça começava a girar e parecer que iria explodir a qualquer momento com a falta de ar.

—Eu te aturei durante muito tempo, patinha. Consigo aturá-la mais um pouco, afinal, logo você estará morta e eu terei tudo que sempre quis... Oh! Preste atenção. Consegue ouvir? Caso contrário, posso pedir para todos ficarem quietos.

Fechei os olhos, tentando ignorar a pressão nos meus ouvidos, o fogo que consumia meu corpo, as mãos que tentavam estrangular-me.

Emma!

Apenas esse grito de pânico. A voz de Killian assustada.

O riso de Cora ao fundo.

Naquele instante senti tanta raiva, que mesmo sem força, atirei um soco contra ela. As mãos sumiram de meu pescoço e eu tentei puxar o ar com desespero, sem conseguir, a garganta trancada impedindo. Pontos pretos dançavam em meus olhos, no entanto consegui ter um vislumbre de Regina, ainda aguentando firmemente, apesar de já parecer exaurida.

E podia garantir que em poucos minutos seria pega.

Olhei para Cora que ainda estava caída ao meu lado e subi em cima dela, com ódio, desferindo socos e a arranhando, já que não sabia onde estavam minhas armas.

—Isso é por ter me tirado dos meus pais. – grunhi, vendo um filete rubro escorrer de seu nariz. – Por ter estragado o futuro de sua filha todos esses anos ao mantê-la aqui... E esse por ter me tirado do homem que eu amo. Duas vezes. – cuspi em seu rosto.

Senti um puxão pelo meu cabelo, erguendo-me até que ficasse em pé.

O duende da risadinha estranha segurava-me com diversão, enquanto esperava Cora se levantar.

—Parece que se enganou ao achar que essa era inofensiva. – provocou.

—Cale a boca. – retrucou, olhando ao redor, seu rosto marcado com minhas unhas. – Cansei de brincar patinha.

—Percebeu que está perdendo, não é mesmo? – instiguei com sarcasmo, vendo que apesar de ter sido capturada, eu havia ferido um número razoável dos seus.

Ela sorriu, limpando a boca.

—Faça-a ficar quieta. – ordenou e no mesmo instante senti algo sendo enfiado em meu braço.

—Eu disse para você que não fazia ideia do poder contido naquele dedo. – ouvi o duende murmurando, antes de minha visão ficar escura.

[...]

Abri os olhos, sentindo-me zonza, tentando me localizar. Olhei para cima, encontrando meus braços presos, assim como meus tornozelos.

—Nós temos os poderes do fogo e gelo. Regina explicava, demonstrando. Usarei ambos, enquanto você luta. Irei resfriar o ambiente, desse modo deixando os outros seres lentos por conta do frio. Cora não costuma ter um grande batalhão consigo, será fácil.

—Você tem certeza? indaguei com dúvida. Parecia pouco provável que Cora se deixaria ficar tão vulnerável desse modo.

—Sim. Tenho certeza... Você usará a lança aberta no formato de escudo. Quero que a segure acima de sua cabeça, como esse metal impele o fogo, quando as chamas acertarem...

—Elas se espalharão. concluí.

—Exatamente... Quando estivermos, exterminado praticamente todos, irei atrás de Cora e então a levaremos para os deuses.

Balancei a cabeça.

—Parece simples e falho demais esse plano. comentei.

Ela bufou, revirando os olhos.

—Escute, eu convivi com eles todos esses anos. Sei como tudo funciona. Irá dar certo. afirmou.

Virei o rosto para o lado, encontrando Regina deitada próxima a mim, ainda desacordada, uma espécie de agulha em seu braço, deixando que o sangue caísse livremente, juntamente com sanguessugas que rastejavam por sua pele.

—Eu fazia isso em você. – Cora murmurou. – Quando pequena... Claro que a torturava mais. Era bem divertido.

—Por que faz isso? – indaguei a voz rouca e falha.

—Regina precisa estar vazia para que possamos passar sua luz para dentro dela. E eu acostumo ela á receber um pouco desde pequena, quando eu tirava de você, para que estivesse pronta para esse momento. – ela acariciou umas correntes que estavam penduradas, com um semblante pensativo. – Por acaso você já ouviu falar no “Leito de Procusto”? – quis saber.

—Não.

—Bem... Procusto era um bandido que vivia em uma floresta, sempre que viajantes passavam por lá, ele oferecia guarida para que passassem à noite. Ele tinha uma cama e se o convidado fosse pequeno demais ou grandes demais, eles tinham que ser moldados para as medidas que Procusto considerava ser perfeita... Acredito que terei que aplicar isso em você, patinha. Não por ser necessário. Apenas por ser divertido... Na verdade, eu esperava que chegasse antes, vários dos brinquedinhos que comprei para tortura-la não serão usado. – lamentou. – Irei dar uma leve esticadinha, enquanto transmito essa bela visão para o seu capitão, tudo bem? – Cora segurou com força em meu rosto. – Esse altar é grande demais para alguém tão miudinha como você.

—Por que você está tão determinada a atingir Killian?

—Não é ele que eu quero atingir. É você, Emma. Eu sei que a melhor forma de lhe causar dor, é fazendo seu amor sofrer.

Cora girou uma manivela e senti meus membros sendo esticados aos poucos. Tentei não gritar, entretanto ela esticou ainda mais, até que um grito mudo saiu do fundo de minha garganta, meu corpo se arqueando, tentando voltar a uma posição normal, confortável. Sentia o suor descendo por cada parte de meu corpo, minha respiração saindo pesada.

Ela apertou ainda mais e tive a impressão que a qualquer momento seria descolada. Sentia as juntas reclamando.

E meu peito parecia estar sangrando, para então acelerar de medo.

Jones estava sentindo medo. Ele estava apavorado e quase podia ver seus olhos azuis deixando transparecer aquele pavor, sem saber o que fazer. Como ajudar.

Recordava-me bem de como acordava no meio da noite por causa de seus pesadelos.

Eu estou bem amor tentei alcançá-lo, mandar-lhe uma mensagem. “Não se preocupe comigo. Se estiver sentindo medo, apenas reze como fizemos durante várias noites, recorda-se?

—Se você pudesse ver patinha como ele está. – Cora vibrou de felicidade. – E pensar que em algumas horas o mundo será repleto de sentimentos como esse. Medo, infelicidade, raiva... Ódio.

Ela prendeu a manivela, deixando-me naquela posição, dando a volta na pedra em que estava deitada, admirando.

—Vemo-nos mais tarde, sim?

Observei-a sair com rabo de olho, tentando me soltar das correntes. Um, estralo alto fez com que eu parasse ao sentir uma fisgada em meu ombro.

Mantive os olhos fechados, tentando acalmar meu corpo, minha respiração. Tentando abafar as dores internas, a sensação de falha e perda que tomavam conta. Esforcei-me para limpar a mente como antes, pensando em como sair daquela situação.

Escutei algo caindo e abri os olhos, encontrando Regina sentando-se com dificuldade o rosto sem cor. Ela puxava as sanguessugas de seus braços, os olhos fechados e pude ver as marcas avermelhadas que os bichos deixaram.

Regina se levantou, segurando com força a lateral da pedra, cambaleante.

—Ela estava nos observando. – comentou. – Fomos muito ingênuas de achar que conseguiríamos. Nós não iremos vencê-los. Vamos morrer.

—Não diga isso. – adquiri forças para falar, a voz ainda estranha. – Pensaremos em algo.

—Perdoe-me por tê-la atingido com a bola de fogo.

—Ainda está queimando um bocado. –comentei sentindo a ardência no lugar, como se ainda estivesse em chamas.

Ela balançou a cabeça, se atrevendo a dar uns passos em minha direção, até estar na manivela, soltando-a para que meu corpo voltasse ao normal.

—Estamos apenas algumas horas da lua surgir. – se escorou ofegante. – Esta é a noite mais longa do ano... Como será que eles estão? – perguntou baixinho.

—Não sei. – murmurei.

—Cora a esganou. – notou – Seu pescoço tem as marcas dos dedos dela. – Regina se inclinou, examinando meus olhos. – Você ficou um bom tempo sem ar, suas órbitas estão vermelhas.

—Ela disse que fez Killian “ver”... Isso é possível?

—Como se fosse um sonho sim. – respondeu, voltando para sua pedra. – Cora está tão ansiosa que já nos colocou no altar. – constatou desanimada. – Você estava certa, sabe? Meu plano era simples e falho... Eu imaginei que Cora iria manter o pequeno número de sempre. Desculpe por tê-la arrastado nisso achando que realmente iríamos vencer.

—Nós fomos bem Regina. Conseguimos derrubar um bom número deles. Você fez o seu melhor, eu não estou a culpando. Então, por favor, não se culpe.

Ficamos em silêncio por longos minutos, cada uma presa em seus pensamentos, em suas preocupações. Em quem foi deixado para trás.

—Nós pensaremos em algo Regina. Não é o fim apenas porque parece não haver saída.

Ela olhou para mim, amarrada em meu altar, braços e pernas, então voltou a fitar o teto, seu rosto sem impassível.

—Claro. – concordou sem convicção. – Nós daremos um jeito com toda certeza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então foi isso. Espero que tenha gostado do capítulo, que tenha sido o que esperaram. Contem-me o que acharam.

Quero novamente dizer muito obrigada a Helô Bonim pela recomendação. Adorei suas palavras e cada partezinha dela, fizeram-me sorrir de verdade. E eu que tenho que que te agradecer por ter lido Traiçoeiro, por ter nos dado uma chance. Para mim é um prazer poder escrever e receber esse apoio é algo que nunca esperei. Sendo assim,muito, muito obrigada por acompanhar e por tudo mais.

Pequena nota que o método de tortura usado por Cora se chama balcão estiramento e era usado na época medieval, como tortura e morte... A mais antes de chegar a parte da morte, desmembramento o corpo ainda esticava uns trinta centímetros. Nada legal.

Isso é tudo, vemo-nos daqui duas semanas? E espero que tenham um bom feriado, com muito chocolate.

Muito obrigada por lerem.

Beijos.