Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, como passaram a semana? Cá estou com mais um capítulo, e não se preocupem, decidi pegar leve com vocês dessa vez. Espero que gostem.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530268/chapter/34

–Então… Nós estamos bem? - ele quis saber, parecendo meio temeroso.

Olhei para o seu rosto e forcei um sorriso.

–Claro. Eu estou aqui, não estou? Apenas vamos esquecer o que quase aconteceu na noite passada.

Jones olhou para fora, o maxilar trincado.

–Por que você faz questão de esquecer tantas coisas?

–Porque certas coisas apenas trazem dor quando lembradas, Killian… Gostaria que nos focássemos na noite que teremos e deixar os acontecimentos de ontem intocados.

–Eu não quero deixar intocado. Quero que conversemos sobre o assunto! - exigiu.

Assenti, apertando as mãos.

–Pode só não ser agora? Gostaria de aproveitar a noite.

Ele olhou para fora por alguns minutos e então voltou a me olhar, apontando o dedo para meus seios.

–Esse vestido, é muito decotado. - observou com uma carranca.

–Claro, é um vestido de noite. Eles costumam ser um pouco mais extravagantes.

Killian se sentou ao meu lado.

–Apesar do vestido indecente, você deixou seus cabelos meio soltos.

Dei risada de seu comentário.

–Imaginei que iria gostar. Do cabelo, digo. Não do vestido.

Ele pegou uma mecha, brincando com ela.

–Gostei do vestido também… Você irá me perdoar se eu não souber como agir?

–Não tem segredo em se sentar e assistir uma ópera, querido.

Senti seu braço passando pelas minhas costas e me puxando para si.

–Senti sua falta essa semana. De verdade.

Olhei para sua boca, tentando prestar atenção nas palavras que saiam dela.

–Você também sumia para a vila a maior parte do tempo.

–Estava cuidando do seu presente. – respondeu dando de ombros.

–Quando eu vou poder ficar sabendo o que é?

–Amanhã. Ele já está comigo, peguei hoje. – falou com sorriso, indo se sentar de frente para mim. – Ouso dizer que será o melhor presente que já ganhou na vida.

–Se não for eu irei reclamar. – brinquei. –Você se lembra? – indaguei.

–Do que?

–A primeira vez que nos vimos. Foi em uma carruagem.

Jones aquiesceu.

–Eu entrei para lhe roubar. E agora estamos os dois em uma carruagem indo para a ópera.

–Nunca imaginei Killian. Que chegaríamos tão longe. Eu achei que apenas iria vê-lo uma vez, e lembro-me que cheguei, em casa muito transtornada naquele dia do assalto. Então fui parar justamente no seu navio. Você era detestável, eu o odiava muito... Até aquele dia em que me salvou de Ramirez. Parece que foi há tanto tempo, às vezes tenho a sensação que isso aconteceu com pessoas diferentes e não conosco.

–Mas nós dois éramos pessoas diferentes, Swan... Pelo menos eu era. Agora eu sei que deveria tê-la beijado ao invés de ter rasgado seu vestido. Ou tê-la sequestrado quando a assaltei.

Ri sem motivo algum.

Killian voltou a se sentar ao meu lado e afagou minha bochecha, inclinando a cabeça em direção aos meus lábios. Virei o rosto, recusando o beijo.

Jones suspirou, mas não fez comentários sobre a minha recusa em aceitar seu beijo, apenas sentou-se no lugar de antes, olhando para fora.

–Você costuma ir a óperas sempre?

–Não tanto quanto gostaria. No condado não tem nenhum teatro, por ser muito pequeno, então tenho que deixar para ir quando vou passar as temporadas em Londres. Mas assisto muitos recitais em casas de amigos dos meus pais. Sempre sou convidada, e nem sempre eles são bons. - fiz uma careta, lembrando-me da péssima música. - Os recitais são organizados pelos próprios país que querem exibir suas filhas "musicistas". - expliquei. - Algumas são terríveis, outras são para salvar.

–E você já teve que se apresentar em um recital?

Dei risada.

–Graças a Deus meus pais nunca quiseram me exibir dessa forma. Mesmo porque só me interessei pelo piano, e sei um pouco de arpa. Aprendi canto, porque meu pai insistiu. Quando eu era pequena ele gostava que eu me sentasse ao piano após o jantar e cantasse para ele.Mas meu interesse sempre foi aprender outras línguas... Se for ver, eu não entro na lista de prendada que a sociedade exige. Eu sou péssima desenhista, dou para o gasto no bordado e apenas sei tocar dois instrumentos. O que me qualifica como uma boa opção para se casar, é que eu quero ter minha família.

–Eu acho você muito prendada. Quantas damas sabem lutar com espada e usar uma arma?

–Vou adicionar esses ítens, talvez eles aceitem.

–Eu gosto quando você canta. Já a ouvi muitas vezes cantarolando no convés do Jolly Roger enquanto admira as estrelas.

–Bom... Eu não sabia disso. Serei mais cuidadosa para não fazer barulho depois do horário permitido.

Trocamos algumas palavras, durante todo o trajeto. Jones me perguntando sobre a ópera que iriamos assistir, se eu já tinha algum lugar em mente onde iriamos jantar e fazendo comentários sobre como estava escurecendo rápido.

Quando percebi que estávamos chegando à cidade, começamos a nos ajeitar, trocando pequenos sorrisos de ansiedade.

O cocheiro abriu a porta e Killian saltou, ajudando-me a descer, depositando um beijo em meus dedos, antes de levar minha mão ao interior de seu cotovelo.

A cidade estava movimentada. As lamparinas das ruas já estavam acesas e os grupos começavam a se formar. Vestidos coloridos e cartolas nas mãos dos senhores davam vida ao ambiente. Carruagens chegavam a todo instante. Pude distinguir jovens mulheres sendo apresentadas para cavalheiros que pareciam querer fugir, toda vez que uma matrona chegava perto. Senti pena delas, eu sabia bem o que era ser apresentada como um produto para homens com idade para se casar.

Jones fazia caretas para algumas roupas que passavam por nós, mas não comentou nada, apenas estudando tudo ao seu redor. Como se aquelas pessoas fossem espécies raras de animais.

Eu observava o rosto dele. A forma como ele tentava esconder como estava admirado com aquilo que estava vendo. Com a sociedade que sempre estava zombando, que sempre viu do outro lado, sempre esteve muito distante de suas realidades.

E agora estava ali, andando entre aquelas pessoas, recebendo cumprimentos discretos de senhores que passavam por nós e olhares das mulheres solteiras. Como se fizesse parte daquele meio, como se fosse um deles.

Killian parou diante de uma jovem que estava com uma cesta de rosas, e tateou os bolsos, até achar algumas moedas e entregá-las para a moça, que olhou de olhos arregalados para ele, antes de procurar entre as flores, entregando o maior botão para Jones.

–Para você. – ele entregou para mim.

–Muito obrigada, Killian. Eu adorei. – levei a rosa ao meu nariz, sem conseguir parar de sorrir.

A moça murmurou alguma coisa e eu inclinei-me para ouvir, já que ela parecia que tinha medo de falar. Senti minhas bochechas esquentarem e lhe dei um sorriso, agradecendo pela explicação.

–O que ela disse? - Jones perguntou.

–Que dar uma rosa vermelha significa respeito e devoção a pessoa amada. E que o fato de você ter me dado a flor indica que sente… - limpei a garganta, brincando com um espinho. -Muito amor e carinho, além de admiração, por mim.

Killian olhou para a jovem, que abaixou a cabeça.

–Obrigado pela informação.

Ela anuiu se afastando de nós dois.

–Eu sei que me deu a flor apenas para ser gentil. - avisei.

Jones fez um som de descaso com a língua, olhando para mim com um sorriso.

–Você sabe que eu a respeito. E tenho muito carinho e admiração por você também.

Voltamos a caminhar já que estávamos atrapalhando as pessoas que tinham que desviar de nós. Segurei a rosa com medo de perdê-la, pensando que ao chegar a casa de Belle eu deveria colocá-la no meio de um livro para que secasse, para então guardá-la como uma lembrança.

–Acho que devemos ir jantar. A ópera começa as oito e eu quero levá-lo para comer gelado.

–Você está no comando essa noite, capitã.

Passamos por uns restaurantes que estavam cheios demais e por conta disso os descartamos. Por fim paramos em um que era mais distante da concentração de pessoas, mas como a noite estava agradável, tinha um bom numero de casais e famílias ali.

–Se mais algum homem, olhá-la serei obrigado a quebrar o nariz de alguém. - Killian falou entre dentes, olhando fixamente para frente.

Virei discretamente para trás, encontrando um grupo de cavalheiros me analisando.

Sorri para eles, os cumprimentando com um leve aceno de cabeça.

–Eu não acredito no que eu estou vendo! Você está flertando com eles, Swan?

–Isso é completamente normal, Killian. Eles sabem que estou “disponível”. Desculpe-me por essa situação, escolhi essa cor de vestido justamente para que não ocorressem olhares para um possível cortejo.

–Você está comigo. Creio que seja o suficiente para que ninguém olhe para a mulher alheia na intenção de cortejá-la. – resmungou, puxando a cadeira para que eu me sentasse.

–Eu não sou sua mulher Jones.

– Porque não quer. Já pedi para que fique comigo. - rebateu se sentando. - Sério Swan. É ridículo como eles quase a devoram com os olhos.

Arqueie as sobrancelhas para ele.

–Apenas eles fazem isso, Jones? - questionei com cinismo. - E você sabe o que eu penso sobre esses seus pedidos. Eu não vou ficar com alguém sem estar casada. Isso é importante para mim.

Killian ficou emburrando, praguejando baixinho enquanto olhava o cardápio.

Jones optou por um prato com assados, já eu me contentei com um prato de sopa de tartaruga e vinho.

Enquanto comia, percebi Killian lançando olhares mortíferos para senhores que passavam ao nosso lado e relanceavam os olhos para mim. Pensei que ele iria matar um rapazote que parou ao nosso lado, entregando-me um pedaço de papel e se apresentando para mim, contando que havia acabado de herdar as terras do pai e como a fazenda estava crescendo, sendo assim, os lucros aumentavam e que já estava na hora de arrumar uma senhora para ajudá-lo.

Apenas sorri, e balancei a cabeça positivamente, respondendo só o necessário, prestando atenção, na forma que o punho de Jones se tornava cada vez mais cerrado.

–Espero que goste do poema, Srta. Swan. Tenha uma boa noite. – se despediu, beijando minha mão e dando um breve aceno para Killian.

Assim que o rapaz virou as costas, ele pegou o papel da minha mão, amassando-o e jogando para trás, voltando a comer.

–Ei! Eu ainda não tinha lido. – reclamei.

–E nem vai ler. Quanta ousadia vir até aqui e lhe entregar um poema. Como se eu não estivesse sentado na mesma mesa que você!

Inclinei a cabeça, fitando seu rosto fechado.

–Está com ciúmes Killian?

–Precisa perguntar? Claro que eu estou Swan… - ele hesitou, como se quisesse falar mais coisas, contudo não sabia o quê ou como. - Nunca imaginei que fosse assim, digo, você é linda, mas...

–Não achou que as pessoas se interessariam em se casar comigo. – completei. – Bem, elas se interessam.

Jones balançou a cabeça.

–Não é isso, Emma...Já disse o que eu acho de casamentos sem amor, como se fossem um negócio. Não é certo. É repulsivo. Prefiro muito mais viver sem estar casado, viver como “pecador” ,mas sabendo que eu amo a mulher que eu escolhi e que ela me escolheu por me amar também. - ele prendeu seus olhos que aquela noite pareciam estar ainda mais azuis, nos meus.

Derramei um pouco de sopa em meu vestido, confundindo-me na hora de pegar o guardanapo para limpar, usando todo o meu foco na tarefa simples.

–Um dia você encontrará uma mulher, com quem irá querer se casar, para ter a certeza que ela será para sempre sua… - comecei, molhando um pouco o pano na taça de água, voltando a esfregar no vestido. -Que saberá que ela o espera chegar com um sorriso cheio de saudade para então correr para os seus braços. Encontrará uma mulher com quem queira fazer amor de verdade. E quando encontrar, irá se lembrar de mim e de como o avisei que esse dia iria chegar. Porque não estar casado, dá a liberdade para um dos dois abrir mão.

–Milah era casada, Emma.

–Milah não pensou nas consequências. Ou ela não se importava com o que a sociedade iria dizer dela. Mas quando ela abandonou o filho e o marido para ir com você, a vida dela foi destruída. Se Milah optasse por voltar, ela não poderia, porque não teria para onde voltar. Não estou julgando vocês dois, apenas estou dizendo o que aconteceu quando ela escolheu ir embora. E outraMilah não amava o marido. Eu estava me referindo a mulher que você irá amar e que vai amá-lo de volta.

–Eu não me vejo casando, Swan.

Empurrei o prato de sopa, ainda pela metade, para longe de mim.

–Bem... Eu sim.

Esperei que Killian terminasse de comer, olhando ao redor, para as mesas onde as pessoas conversavam com cochichos e soltavam risadinhas forçadas. Lançava sorrisos discretos para cavalheiros que me cumprimentavam. Perto da entrada estava um grupo de homens que fumavam charuto e conversam alto, com gargalhadas estrondosas e grosseiras.

Estudei minhas mãos cobertas pelas luvas. Eu havia cortado onde ficava o mindinho esquerdo para que o pano não ficasse vazio e costurado o buraco. Não tinha como perceber que faltava um dedo ali, apenas é claro se olhassem com atenção, coisa que eu sabia que eles não faziam.

Um senhor com aparência simpática se, aproximou da mesa, se apresentando e querendo saber onde poderia fazer uma visita, não para ele, sim para o filho.

–Meu filho ficaria encantado em poder ir cortejá-la, isso é, se seu irmão não se importar. - ele olhou para Killian que continuava carrancudo.

–Seria um prazer conhecer seu filho… - comecei. - Mas estou na cidade apenas a passeio, senhor. Logo volto para casa.

–Bem… É uma pena. Acredito que vocês se dariam muito bem. Ele é um bom rapaz.

–Acredito que seja. Mil desculpas por não poder conhecê-lo.

–Está tudo bem, Srta. Swan. Tenha uma boa noite. - ele beijou minha mão. - Senhor.- acenou para Jones que permaneceu imóvel.

–Já chega!- ele jogou o guardanapo na mesa.- Nós vamos embora agora. Francamente, irmão? A gente nem se parece, Swan!

–Melhor pensarem que somos irmãos do que outra coisa.

–Mas nós somos outra coisa! Nós temos um relacionamento.

–Não temos nada, Killian. O que temos é amizade.

–No seu quarto ontem, estávamos muito além da amizade, Emma. - soltou com um sorriso enviesado.

Senti meu rosto enrubescer.

–Eu deixe-me levar ontem… Principalmente por suas palavras. O senhor consegue fazer uma mulher se sentir especial com elas… Mas então você voltou a ser o asno de sempre e felizmente não fomos além daquilo. -atalhei, forçando-me a encará-lo apesar da vergonha e de suas palavras duras voltarem a minha mente. - Agora gostaria de ir ou quer tratar de mais alguma coisa? - instiguei irritada.

–Vamos… Afinal, se mais algum homem parar aqui para lhe cortejar eu juro que irei matá-lo. - ameaçou, se colocando de pé.

–Só deixe-me ir pagar...

–Por favor, somos piratas, Swan. – murmurou pegando no meu braço.

–Está sugerindo que não paguemos pela comida?

–Sim, é isso que estou dizendo. Fique calma que ninguém irá reparar que saímos sem pagar.

Sempre quando me pediam para ficar calma mais nervosa eu ficava. Senti meus ombros se tornando tensos enquanto nos dirigíamos para a saída. Jones sorria sem se deixar abalar, por outro lado, eu ficava imaginando a vergonha que seria se alguém nos parasse.

Deveria ter insistido um pouco mais sobre a conta.

Quando estávamos do lado de fora, apertamos o passo, colocando a maior distância que podíamos do estabelecimento, sem relancear os olhos para trás uma única vez.

–Muito bem, Swan. - elogiou. - Poupamos um bom dinheiro.

–Foi tão errado.

Ele fez uma cara de pouco caso, retirado um relógio do bolso.

–Onde conseguiu esse relógio?

–Não. Não roubei. Belle me emprestou. São quase sete e meia, acha que dá tempo de tomarmos o gelado agora?

Fiz que sim, olhando para os dois lados da rua antes de puxá-lo comigo para atravessar.

–Tem uma cafeteria perto do teatro, apenas espero que não esteja cheia.

O pequeno estabelecimento que eu tanto conhecia de vindas passadas estava todo iluminado e com uma fila do lado de dentro. Os atendentes como sempre sorriam, toda vez que entregavam a tacinha com o doce gelado dentro.

Killian e eu entramos na fila, esperando com certa ansiedade a nossa vez. Eu sempre ficava daquele jeito quando ia comprar o gelado, com medo que quando chegassem, em mimeles falassem que havia acabado.

Quando chegamos ao balcão, Jones olhou para o meu rosto e pedi para ele o sabor de uva, não resistindo e pegando para mim também, mesmo que eu tenha entrado ali, dizendo mentalmente que não iria.

Encostamos à parede por não haver lugar para nos sentar e fiquei olhando para o rosto de Killian, querendo saber qual seria sua reação.

–Eu ainda ajo como um asno, Emma? - perguntou baixinho, olhando desconfiado para a taça em sua mão.

Comecei a comer o meu doce, sentindo-o derreter em minha língua.

–Às vezes. - fui sincera. - Principalmente quando se trata dos meus sonhos. Você os despreza e quase sempre acaba ofendendo-me de alguma forma.

–Eu a ofendi noite passada?

Aquiesci, sem olhá-lo.

–Perdoe-me, eu juro que estou tentando melhorar.

–Eu sei Jones. Agora sugiro que você coma antes que derreta.

Assim que colocou a colher na boca, ele olhou para mim surpreso.

–É gelado mesmo! – exclamou levando mais a boca. – Sinto muito, Swan, mas supera sua éclair sim.

–Isso muda de pessoa para pessoa... Antes o gelado era apenas consumido pelos nobres, agora quem, tiver dinheiro para pagar, pode entrar aqui e comer quanto aguentar. Quer provar o de banana? – ofereci e Jones rapidamente entregou-me sua taça para que eu segurasse e pegou do meu, levando a boca.

–Esse é bom também, é mais suave. – ele deu um beijo melado em meu rosto. – Obrigado.

Pisquei atordoada com o gesto, terminando de tomar o meu gelado.

–De nada. Foi uma forma de agradecer tudo o que tem feito por mim. Vou devolver isso para irmos.

–Irei esperá-la do lado de fora. – avisou.

Entreguei as taças para a mulher que ficava no caixa, pagando pelo gelado. Nesses poucos minutos fui cortejada por um senhor de bigodes enormes e grisalhos, com uma pança pontuda. Aguentei pacientemente suas palavras que saiam com dificuldade, como se ele tivesse algum problema respiratório.

–Querida. – Killian parou ao meu lado, passando o braço de maneira possessiva em minhas costas. – Está tendo algum problema aqui?

O senhor olhou de Killian para mim, em seu braço e na forma que me segurava.

–Ah mil... Perdões... Eu não... Sabia que... Era casada.

Abri a boca para dizer que não era, mas Jones foi mais rápido.

–Mas ela é. Então sugiro que vá jogar essa sua conversa para cima de outra que esteja disponível. Venha, amor.

–Perdoem-me novamente. – o senhor pediu, saindo rapidamente da nossa frente.

–Não posso te deixar um minuto, sozinha que esses abutres, caem em cima de você. – reclamou guiando-me para fora, em direção ao teatro. – Ainda bem que voltaremos para casa logo. Acredite sua amiga é muito bondosa em nos deixar ficar lá, mas não é a nossa casa.

–O Jolly Roger não é a minha casa. – lembrei, entregando as entradas da ópera. – E não estou nem um pouco ansiosa para voltar, para ser sincera. Gosto de ficar com Belle. E a próxima vez que você se apresentar como meu marido, eu irei matá-lo. – ameacei, segurando o vestido para subir as escadas que levavam ao camarote.

–Eu salvei sua vida.

–Sei me salvar sozinha dessas situações, Killian.

–Achei que quisesse um marido, Swan.

–Sim, eu quero. Mas o senhor já deixou bem claro que não tem interesse em ser marido de ninguém.

Killian segurou em meu braço, fazendo-me virar para olhá-lo. Surpreendi-me ao encontrá-lo sorrindo.

–Você quer que eu seja seu marido? - instigou.

Escrutinei seu rosto a procura de alguma coisa que eu não sabia o que era. Ele não parecia estar zombando de mim, mas isso não queria dizer que estava falando sério.

–Você já disse que não quer se casar. E eu estou de certa forma comprometida. - voltei a andar, entrando no camarote. - Afinal, por que estamos tendo essa conversa? Aí não Jones! - puxei seu braço para que não se sentasse.

–Não quer que eu sente ao seu lado?

–Não é isso. Apenas as mulheres sentam-se nessa fileira. Você é aqui. – indiquei a poltrona de trás. - Esse é o programa, você pode acompanhar as músicas por ele.

Killian pegou o papel na mão.

–Mas isso está em italiano!

–Sim, mas você conseguira entender a história. Qualquer coisa é apenas perguntar.

–Como chama a ópera?

–Algo como “Manual para cavalheiros sobre amor e assassinatos”, dizem que é uma comédia. Espero que seja boa. Sente-se que vai começar.

O ambiente aos poucos foi ficando escuro, enquanto as velas eram apagadas e as do palco acesa. Logo o primeiro ato se iniciou e não demorou muito para que Jones me cutucasse, perguntando o que estava acontecendo nas cenas.

–Monty descobriu, após a mãe falecer que ela pertencia a uma família importante de aristocratas. - sussurrei em seu ouvido, já que ele havia se inclinado para frente. - Ela foi deserdada da família por ter se casado com um musicista sem a aprovação. Agora essa senhora está dizendo que ele deve ir atrás do que é seu de direito. No caso um condado, que é uma herança, e que ele é o oitavo na linha de sucessão. - terminei de explicar e Killian voltou a se endireitar.

Houve mais perguntas, mas quando ele pegou o tema da peça, acredito que começando a observar mais o que acontecia no palco, do que nas músicas que eles cantavam, pude ouvi-lo gargalhando com o resto do teatro. Mas gargalhando de verdade, não algo forçado, que geralmente soltamos quando tentamos nos encaixar.

Ele estava se divertindo com a ópera.

No intervalo do segundo ato, deixe-o conversando com os cavalheiros que estavam ao seu lado para ir ao toalete. Escutei alguns comentários das senhoras que ali estavam sobre meus cabelos estarem soltos, mas tentei ignorá-los, e apesar de estar morrendo de vontade de fazer xixi, dei meia volta e retornei para junto de Killian.

–Essa é a senhora Jones? - um deles perguntou. –Se caso não for, já deixo aqui meu pedido de casamento.

Olhei para Killian com uma sobrancelha arqueada e ele riu, pousando a mão em minha cintura.

–Sinto muito companheiro, continue procurando. – respondeu me dando um leve apertão onde sua mão estava. - É minha senhora, mas ela prefere que a chamem de Swan. Emma disse que se recusava a perder o nome ao se casar. - brincou. - E eu prefiro chamá-la de Swan.

Contive a vontade de revirar os olhos e corrigir Jones. Era melhor que achassem que erámos casados, ao invés de achar que eu era sua amante, uma mulher de vida fácil.

Quando a ópera chegou ao fim, novamente procurei seu rosto para ver qual era sua reação e me senti internamente feliz ao ver o sorriso largo que exibia enquanto aplaudia.

Ele parecia uma criança.

Descemos junto com a multidão, que falava um pouco alto demais e quando chegamos, em frente do teatro, Jones me puxou para si, beijando-me sem parecer se importar com as pessoas ao redor, que deveriam estar nos olhando horrorizadas com aquela demonstração de afeto em público.

–Obrigado, Swan. Foi incrível. Nunca achei que eu poderia gostar de pessoas gritando dessa forma. Apesar, que minha parte preferida não foi o espetáculo e sim você murmurando em meu ouvido.

Bati de forma discreta em sua barriga para que ficasse quieto.

–Apenas o “obrigado” já estava bom. Não precisava do beijo. Vamos que eles estão nos olhando. E da próxima vez o deixo sem entender uma palavra.

–Eu passei a noite toda com vontade de fazer isso. Não me importo com essas pessoas. – o ouvi murmurando. – Isso quer dizer que teremos outros encontros? – quis saber. Revirei os olhos, seguindo para onde havíamos deixado a carruagem. -Vamos voltar para casa de Belle?

–Claro, estou exausta.

–Você bem que poderia dormir comigo hoje.

–Não comece Jones. – aceitei sua mão para entrar na carruagem. – Lembre-se que eu pedi para não pedir mais do que posso dar, se não pode me dar o mínimo que preciso.

–Mas se formos dormir...

–Você realmente acha que não acabaríamos na situação de ontem, Killian?

–Eu não acharia nem um pouco ruim, Swan… - ele suspirou. - Tudo bem. Não irei começar. - Seus olhos foram para a rosa que ainda estava firmemente segura em minha mão. – Você gostou da rosa.

–Gosto de receber flores. Minhas preferidas são as tulipas, elas não possuem cheiro, mas são lindas... Tenho vontade de ir para Holanda e passar horas e mais horas em seus campos cheios de tulipas.

–Vou me certificar de levá-la até lá quando tivermos um tempo.

–Ah sim! Eu adoraria! – exclamei animada e Killian riu, chegando mais próximo de mim. – Jones...?

–Shhh, eu não irei começar com nada além do que já está acostumada. – prometeu.

E ele não começou. Apenas se contentou em me beijar, com menos intensidade que a noite anterior em meu quarto, quase como se estivesse com medo de fazer algo de errado e eu o afastasse.

Em determinado momento, nos separamos e Jones me ajeitou em seus braços. Juro que tentei me manter desperta, mas estava tão confortável que deixei meus olhos se fecharem de bom grado, relembrando de como apesar da noite passada ter sido um desastre, essa havia recompensando tudo.

[...]

Acordei com um leve balançar e a sensação de que estava em movimento. Não da carruagem, mas como se estivesse sendo carregada.

Ergui a cabeça, ainda confusa do longo cochilo, reconhecendo as paredes da casa de Belle.

–Shh, volte a dormir. Eu a deixo em seu quarto. – Jones sussurrou, arrumando-me em seus braços, começando a subir as escadas.

–Está tudo bem. Agora que eu acordei pode me colocar no chão. – pedi, mesmo não querendo sair de seus braços, onde estava sendo carregada como algo bem precioso. - Na verdade, tinha que ter me acordado quando chegamos. Eu não sou mais criança para ser carregada.

–Faço questão. Pretendo fazer muito isso ainda. – sorriu.

Franzi a testa olhando para o seu rosto sem entender o que ele quis dizer com aquilo.

–Esqueça. Estava pensando em uma conversa que tive com sua amiga mais cedo. – explicou. – Eu apenas acho que ela está certa.

–Belle sempre está certa. Agora o senhor me deixou curiosa para saber sobre o que?

Killian parou na porta do meu quarto, colocando-me no chão.

–Conto-lhe em breve. Tenha uma boa noite, Emma. E obrigado novamente.

–Não precisa agradecer. Já lhe disse que foi uma forma de retribuir tudo o que tem feito por mim. – deixei minha mão na maçaneta, louca para ir dormir.

–Não estou dizendo obrigado quanto a isso. Estou dizendo obrigado por não fugir de mim e nem me afastar depois do ocorrido de ontem. Você tinha esse costume.

–Talvez eu esteja crescendo e aprendendo a lidar com meus erros.

O sorriso no rosto de Killian se fechou e ele deu um passo à frente, perto demais.

–Não foi um erro. Foi natural, porque nós dois queríamos e ouso dizer que ainda queremos. Não é errado, Swan. E eu vou esperar o momento que irá deixar que eu a ame.

–Está usando a palavra de forma errada. Você não pode fazer amor com uma pessoa que não ama Jones. - atalhei a conversa que eu havia ouvido entre ele e Belle retornando a minha mente. - E você disse que não me ama.

Jones encostou seu corpo ao meu, fazendo os pelos de meu braço se arrepiar.

–Eu nunca disse isso. – falou sério, sem nenhum traço zombeteiro que eu estava acostumada. -Você me ama? - instigou, cravando seus olhos nos meus.

Abri a porta, dando um passo para dentro.

–Boa noite, Killian. – despedi-me dele, fechando com tranca a porta, encostando-me a ela, respirando fundo, várias e várias vezes até conseguir me mexer para começar a me despir.

Ele havia ouvido.

Claro que havia. Eu o assustei noite passada com minha declaração totalmente inapropriada.

Eu era uma garotinha perto dele, e agora, após o susto ter passado, devia estar nas nuvens por saber que havia ganho meu coração.

Não quis acordar Belle, então me virei para me livrar dos vários grampos que prendiam uma parte de meus cabelos e tirar o vestido, sentindo um alívio ao vestir a camisola branca de algodão e me esconder na cama.

Peguei a caixinha no criado mudo e a abri, observando a pulseira simples que, ficara pronta apenas alguns dias antes. E só havia ficado pronta, tão rápido porque eu pedi que apenas deixassem as três pedras alinhadas. Escolhi cordões de couro preto, nada de ouro ou correntes finas. Nada muito delicado e extravagante.

Eu queria me lembrar deles da forma que os conhecia. Homens que não viviam com riquezas nenhuma.

Coloquei-a em meu pulso, gostando de como havia ficado, e por algum motivo naquela noite, não senti vontade de tirá-la como sempre fazia. Queria ficar com ela perto de mim.

Com eles perto de mim.

Foi fácil encontrar o sono novamente, e ser embalada com as lembranças do som e as luzes da noite que tivera.

Não sei exatamente o que tentava me tirar do sono em que me encontrava. Os chacoalhões em meus ombros ou a voz de Belle, que soava levemente alterada.

–Merde, merde, merde. – ela praguejava sem parar, correndo de um lado para o outro. – Emma pelo amor de Deus acorde. – me cutucou novamente.

Abri os olhos com preguiça, sentando-me na cama, sem estar completamente acordada.

–Onde é o incêndio? – instiguei soltando um bocejo.

Belle me olhou apavorada, correndo até mim e puxando-me para fora da cama.

–Graham e seu pai estão aqui. – ela avisou. As palavras transpassaram a névoa do sono que ainda rondavam minha cabeça, a realidade do que Belle dizia atingindo-me.

–Não é possível! – exclamei indo para a janela. Na porta da frente estava Graham e meu pai ao seu lado, com uma frota de guardas em alerta. – Como eles me acharam? E agora, Belle?

–Aqui. – ela amarrou uma trouxa contendo algumas peças de roupa. – Eis o que você irá fazer. Watley está tentando atrasar a entrada deles, nesse tempo você irá até o quarto do senhor Jones. Ao acordá-lo vocês irão fugir pela escada dos criados e sairão correndo direto para o estábulo, onde um cavalo já está lhes esperando... Ou você pode usar sua capa. – Belle estendeu a capa branca. – Foi assim que você chegou aqui, não foi? Você pode usá-la para chegar até o navio.

Neguei com a cabeça, querendo distância daquela capa.

–Guarde com você. Eu não a quero.

Belle jogou a trouxa de roupa em mim com certa violência.

–Então ande rápido. E não é garantia que vá conseguir fugir. – Belle me abraçou apertado, para então prender sua capa azul preferida de caminhada em meu pescoço. – Sinto muito minha amiga. Eu irei descobrir como eles ficaram sabendo de você. Tente me dar notícias. Agora vá! Ande. – ela me empurrou para a porta até nos encontrarmos no corredor, onde me olhou daquela forma que dizia que acreditava em mim e saiu correndo em direção ao saguão.

Apertei a trouxa de roupas em minhas mãos seguindo para o quarto de Killian. Girei a maçaneta, felizmente a encontrando aberta.

–Jones! Jones! – o cutuquei com desespero. – Pelo amor de Deus, acorde homem! Killian! – guinchei alto demais, minhas mãos e todo o meu corpo tremendo. Minhas pernas pareciam que a qualquer momento iriam deixar de executar seu trabalho de me manter em pé. Meu coração batia com violência contra as minhas costelas. – Killian Jones acorde! – bati em seu peito.

Ele abriu os olhos, olhando-me assustado, para então se sentar em alerta ao ver o meu estado.

–Swan o que aconteceu?

–Graham e meu pai estão aqui. Precisamos ir agora! – indiquei a porta.

Jones foi bem mais rápido que eu para assimilar o que estava acontecendo. Ele calçou os sapatos e colocou o gancho com destreza, pegando uma caixa comprida e nada mais, segurando em meu braço e puxando- me para fora.

–Escada dos criados. – sussurrou com apreensão.

–Como sabia? – indaguei, correndo para acompanhar seu ritmo. O ar nem conseguia chegar aos meus pulmões antes de ser expelido. – Belle disse para corrermos direto para o estabulo, que lá terá um cavalo nos esperando.

–Ótimo. Cuidado para não cair. Erga a camisola. – instruiu, nos guiando sem parar por um minuto.

A porta da cozinha se encontrava aberta e em questão de segundos já nos estávamos do lado de fora da casa, correndo sem cessar em direção ao estábulo. Escorreguei algumas vezes, sendo segurada por Jones antes que eu chegasse ao chão.

O cavalo estava ali, junto com o tratador que tinha o semblante confuso. Killian montou no animal, esticando a mão para que eu subisse logo atrás.

–Emma! – congelei a caminho da montaria ao reconhecer a voz de meu amigo.

–Graham. – murmurei, virando-me para vê-lo. - Graham! - gritei, sentindo uma sensação estranha, quase como se ele não fosse real e sim um fruto da minha imaginação.

Ele estava parado no comecinho do terreno irregular, usando suas vestes de oficial. Mesmo de longe parecia cansado, mas a forma como seus ombros estavam caídos mostravam que ele estava aliviado.

Aliviado em me ver.

Sorri para ele, sentindo as lágrimas começando a se acumular em meus olhos e inconscientemente dei uns passos em direção a ele.

–Swan monte no cavalo agora! – a voz de Killian ordenou.

Voltei-me para ele, sem saber o que fazer por um momento.

–Filha!

–Pai! – gritei em resposta, ao ver o homem que havia me criado parado ao lado de meu amigo. – Perdoe-me pai. Perdoe-me se eu o decepcionei. – implorei, caminhando mais alguns passos.

–Emma, não. – Jones chamou-me novamente, quase como se implorasse.

–Está perdoada, menina. Apenas volte para casa e esqueça isso. Esqueça Cora.

Graham o olhou sem entender nada.

–Você estava certa, filha. - meu pai continuou. - Sobre tudo. Peço desculpas, por tê-la lhe ignorado. Se vier conosco eu lhe contarei toda verdade.

Dei mais alguns passos, a grama pinicando meus pés descalços.

–A verdade? - perguntei. - O senhor sabe da verdade?

Ele assentiu, esticando a mão.

–Sei e irei contá-la para você se vier comigo. Mas acredite em mim, não continue nessa jornada, você apenas irá se machucar.

–Swan… Monte no cavalo agora! - Killian tentou novamente. Não olhei para ele, os olhos fixos em meu pai.

–Você promete me contar a verdade se eu for com vocês? Promete que não irá, me prender como fez todos esses anos? - funguei, sentindo meus olhos quentes.

–Prometo filha.

Meus pés deslizaram em direção a eles obedecendo, forças maiores do que as minhas, quando eu me sentia pesada demais para tomar qualquer decisão.

–Emma, eu venho a procurando todo esse tempo. Onde se enfiou? – Graham instigou e eu virei a cabeça para encará-lo, encontrando-o quase próximo a mim.

Se eu esticasse o braço ele poderia puxar-me para si e levar-me de volta para casa.

Eu queria correr para os braços de meu amigo. Ficar segura ali como havia ficado por tantas vezes. Queria não mais viver com as incertezas.

Queria ter alguém sólido para me amparar quando estivesse desmoronando. Alguém que eu tivesse certeza sobre os sentimentos, que eu não tivesse que ficar lutando a cada instante para não me perder por completo.

Eu sabia que por mais que não amasse Graham da forma que amava Jones, existia sim um amor dentro de meu peito. Eu não o amava como uma mulher devia amar um homem, mas certamente eu poderia aprender. Foi assim com Killian, eu não o amei de um dia para o outro, foi algo lento, que criou raízes e em um belo dia floresceu.

Talvez fosse hora de arrancar essas raízes e plantar outras. As mudas já estavam ali, guardadas, esperando seu momento. Se eu fosse com Graham, eu poderia aprender a amá-lo da mesma forma que amava Jones, não poderia?

E se não fossem raízes que me prendessem a ele, poderia considerá-lo meu Norte, porque eu sabia que ele sempre estaria ali quando eu precisasse me encontrar. Graham foi isso para mim todos aqueles anos.

–Swan monte no maldito cavalo agora! – Jones gritou e eu pisquei, tirando-me de meus pensamentos, fazendo as lagrimas que, embaçavam a minha visão caírem.

–Querida, vamos voltar para casa. - Graham falou cuidadosamente. - Você pode me contar suas aventuras, como fez com aquela carta em que falava da vovó Libélula.

–Você recebeu?

–Sim, eu recebi. E a carrego comigo sempre, na esperança de encontrá-la. Veja. -ele tirou a carta de dentro do bolso. - Eu estive tão preocupado com você, Emma. Senti sua falta. - Graham estava tão perto agora que podia sentir seu cheiro de suor, ver as gotículas escorrendo por sua têmpora.

–Eu também senti sua falta, meu amigo. Escrevo todos os dias para você, pois sinto falta das nossas conversas.

Graham secou as lágrimas que escaparam para o seu rosto, sorrindo para mim e estendendo a mão.

–Então vamos, temos muitas conversas, para colocar em dia, querida.

Sorri para ele, mas pareceu algo forçado, enquanto levantava a mão para colocá-la na dele e acabar com tudo aquilo. Graham acenou com a cabeça incentivando-me.

–Swan, por favor… Não.- suplicou Jones, quase com agonia e deixei minha mão parada no ar, finalmente sendo tirada da bolha em que me encontrava.

Eu não sabia o que fazer.

Quem escolher.

Estava tão confusa.

Eu poderia ir embora. Voltar com meu pai. Iria me casar com Graham. Seriamos felizes.

Teríamos filhos.

Talvez Graham fosse meu guerreiro e esse era o momento que eu deveria correr para os seus braços…

Minha mão pousou delicadamente na mão de Graham, que a apertou com força, antes de acabar com o espaço entre nós.

Quando ele me abraçou, quebrei em lágrimas desconsoladas, apertando- o e me sentindo em casa.

Sua mão foi para a minha cabeça, afagando meus cabelos e senti seus lábios em minha testa, repetidamente, enquanto o som de nossos choros, misturavam-se, em meio a risada nervosas que saia dele.

Toquei as bochechas de Graham, certificando-me que ele era real, que meu amigo estava ali, abraçando-me com saudade e não gritando comigo por ter fugido. Olhando-me com carinho e alegria, como se eu fosse à única coisa que ele mais queria ver em toda a sua vida.

–Minha Emma, nunca mais me dê um susto desses. - murmurou, finalmente soltando-me. - Quem é ele? - indagou, indicando com o queixo para trás de mim.

Sequei meu rosto e virei-me para olhar Jones que continuava montado no cavalo, seus olhos me olhando acusadoramente e, brilhantes de raiva misturada com mágoa.

Como se estivesse se sentindo traído.

–Killian… - o chamei. Iria explicar para ele o porquê da minha escolha. Que já que ele não podia me dar aquilo, eu poderia não ter outra chance se não fosse com Graham naquele momento.

Mas...

Eu conseguiria abandoná-lo dessa forma? Sem terminar de ajudá-lo a fechar seus machucados? Queria eu ser mais uma que o havia deixado para trás, ser mais uma a lhe causar uma ferida inflamada?

Suspirei com a plena consciência de que estragaria tudo com e corri em direção ao cavalo, escapando da mão de Graham que tentou me segurar, ouvindo meu nome ser chamado diversas vezes por ele e meu pai, pedindo que eu não fizesse aquilo.

Coloquei meu pé no estribo e peguei impulso, arriscando uma olhadela para trás.

–Eu o amo Graham, por favor, perdoe-me. – gritei, apertando meus braços ao redor de Killian, que não demorou ao dar o comando para que o cavalo começasse a ganhar movimento.

Os sons de tiros preencheram o ar, fazendo com que eu me encolhesse. Escutei gritos pedindo que cessassem fogo sendo ignorados, para então o som de perseguição se iniciar.

Eu seria levada para casa e Deus sabe o que seria de Killian.

Um grito saiu do fundo da minha garganta e senti meu corpo ficando inteiro dormente. Forcei meus braços a ficarem ao redor de Killian, com medo de cair, sentindo uma dor insuportável em meu quadril.

Jones forçou o cavalo a aumentar o ritmo, desviando bruscamente, na tentativa de despistar. Não fazia ideia de como ele enxergava alguma coisa, já que para mim tudo não passava de um borrão verde escuro.

Seu corpo estava tenso e sua respiração saía rápida demais, pela sua postura eu podia ter certeza que ele estava irritado.

Já eu sentia frio e um peso se assentando sobre meu corpo, como se estivesse tirando todas as forças que ainda restavam em mim.

Aos poucos fomo- nos embrenhando mais na mata. Killian não falou nada, nem mesmo um simples praguejamento, os sons de cascos nos perseguindo sumiram, e apenas a escuridão nos envolvia.

Olhei novamente para trás, encontrando o nada e não sabia se estava aliviada ou decepcionada com isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Espero que não tenham ficado decepcionados com o capítulo, hahahaha.

Pequena nota sobre o gelado: Sim, é o nosso conhecido sorvete. E sim, ele já existia, boatos históricos que já existia desde a.C e que foi inventado pelos chineses(tinha que ser, né não?). Existem nomes de quem os introduziu na Europa, desde Alexandre o Grande, até Marco Pólo, mercador medieval. Na época todo mundo adorou, mas apenas a realeza e os aristocratas tinha dinheiro para bancar tal luxo. Foi quando descobriram uma forma de armazenar o sorvete, em 1550 se não me falha a memória e dessa forma nascia, o que hoje conhecemos como sorveteria.

Acho que era só isso que eu tinha para dizer hoje.

Muito obrigada por lerem.

Beijos.