Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu tinha postado, mas então me avisaram que o nyah ferrou tudo com a formatação do texto e tava confuso, acabei excluindo pois estava pra sair e não tinha como arrumar. Mas agora vai
Desculpem.

Quero agradecer a querida da Jollymari por recomedar a fic, eu fiquei muito surpresa com a recomendação. Muito, muito obrigada, eu amei de verdade. Espero que goste do capítulo.

Espero que todos gostem do capítulo.

Boa leitura.



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Baelfire ficou observando a tradução que eu havia anotado da profecia com atenção. Podia ver o cérebro de Bae trabalhando para dar algum sentindo aquelas palavras tão pesadas, na tentativa de ficar no navio.

Landon, Killian e eu o observávamos, apenas esperando o que ele teria a dizer.

Me surpreendi quando Jones pediu para que Bae e eu esperássemos enquanto ele ia buscar Landon. Nas vezes em que tentamos dar sentido aquelas palavras eram apenas nós dois e várias teorias frustradas.

–Muito bem. Já olhou, não conseguiu decifrar. Agora saia do meu navio. – Killian praticamente rosnou ao puxar a folha da mão de Bae que não se deixou abalar, ele apenas olhou para mim.

–Já considerou que pode ser algo relacionado com a Bíblia?- indagou.

Franzi a testa, tentando entender onde ele queria chegar. Eu nunca iria considerar aquilo, simplesmente não fazia sentido a Bíblia ter algo relacionado com aquelas palavras.

–Que?

–É, Emma pense bem. - pediu juntando as mãos, eu me sentei na ponta da mesa para acompanhar sua explicação.- “O cheiro da morte anunciará que haverá mortos demais”. Qual livro da Bíblia fala sobre a destruição do mundo.

–O Apocalipse.- respondi imediatamente.

–Exatamente. Assim como na Bíblia também está escrito que o Filho retornará e que a Terra será o inferno. E se esse lugar da profecia for um lugar onde o Apocalipse já esteja acontecendo ou já aconteceu?

–Muito bem, gênio.- Killian falou, dando um lembrete que ainda estava ali. Como se eu fosse capaz de esquecer. - você decifrou uma linha da profecia inteira.

–Você não me deixou terminar.- replicou Baelfire impaciente.- “Um lugar onde a água do mar em sangue inocente se transformará, deverá se banhar, para que as criaturas das bestas o deixe passar”.

Esse é claramente um sacrifício. Alguém vai morrer.- Killian atalhou como se fosse algo obvio.

–Sim... mas aqui não diz que precisa ser uma pessoa. Afinal, nenhum ser humano é tão inocente e livre de pecados assim. Todos temos algo que não nos classificam como inocentes, de uns os pecados e culpas são maiores.- ele olhou sugestivamente para Killian.- para outros menores. Não importa o tamanho, todos tem alguma coisa que os condena.

–Nesse livro tem uma passagem que fala que mares e rios se transformaram em sangue. Algo como um castigo pelas mortes dos profetas. – lembrei.

–Então o que você sugere?- perguntou Killian com cinismo.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que algo estalou em minha mente.

–Pensem bem, rapazes.- pedi, me colocando de pé para poder encará-los.- Qual o animal que sempre aparece como sinal de inocência ?- perguntei, os dois cerraram os olhos me encarando. Landon permaneceu com o rosto impassível, pegando a folha da profecia nas mãos. - Quando vamos à igreja todos os domingos, o padre é o pastor e nós somos...- dei a deixa para ver se algum dos três conseguia responder.

–As ovelhas!- Bae exclamou animado.- Claro, como não pensei nisso antes. As ovelhas são símbolos de pureza

–Eu não vou a igreja, então não tinha como eu saber. - Killian respondeu, se sentando na cama.

–Sim. Já o que pode significar “para que a criatura das bestas os deixem passar”?- questionei, ignorando-o.

–Penso que pode estar se referindo ao Leviatã.- Bae opinou.- Já que ele é descrito como uma serpente, um crocodilo ou um polvo gigante no livro em que aparece.

Killian se retesou quando Bae descreveu o animal.

–Esse polvo gigante, também conhecido como Kraken.- falou, os braços cruzados, com os ombros rígidos.

Bae concordou com a cabeça, ainda permanecendo sentado.

–Sim, mas o Leviatã não aparece no capítulo do Apocalipse, ele esta em um livro diferente. – o lembrei.

– Bom... os Leviatãs são monstros, que já existiam antes da criação do mundo. É meio óbvio eles fazerem parte de um possível Apocalipse.

Soltei uma risada estranha.

–Isso é loucura, não? Me digam que isso não se passa de suposições e que não vai ter monstro nenhum, é só uma ilha que tem um nome estranho e instruções bizarras.

–Eu não acho que seja algo relacionado a Bíblia. – Landon falou calmamente, levantando o olhar para nos encarar.

–E o que você acha, Landon? – Killian instigou.

–Acredito que esteja se referindo a Helheim, o reino da deusa Hel, deusa do subterrâneo, senhora dos mortos... Como preferirem chamar.

–Me desculpe... o que? – perguntei sem entender. Landon realmente tinha falado sobre uma deusa? Ele acreditava em deuses?

–Sei que é difícil para você aceitar, Emma, mas existem outras religiões além do cristianismo. Sei que é religiosa, contudo precisa ter em mente que esse mundo é bem mais do que pensa e existem outras crenças que valem a pena ser conhecidas. – explicou, percebendo a acusação em meus olhos.

–Continue. – Bae pediu, interessado na conversa.

–A deusa Hel é filha de Loki com uma giganta, possuí dois irmãos, lobo Jormungand que foi aprisionado pelos deuses e uma serpente que é tão grande que é capaz de morder o próprio rabo, Fenrir. Ela no mar e está envolta na Terra para manter o equilíbrio. A senhora do mundo dos mortos é responsável por nove reinos de Nifelhel.

–Mundo dos mortos também conhecido como o inferno. – murmurei desgostosa com o rumo da conversa.

–Acredito que não seja instruções, mas sim a descrição do reino que estarão visitando. Um aviso do que terão que enfrentar. Como... “O cheiro podre da morte irá anunciar que haverá mortos demais.” Helheim é para onde as almas de pessoas que morreram de doença ou velhice vão. Onde são julgados pela senhora dos mortos pelas suas atitudes em vida. “Com a travessia pela garganta do diabo,aquele que sobreviver, diretamente ao inferno chegará”, pelo o que eu ouvi das histórias para chegar ao castelo tem que passar por um caminho chamado “provação”.

–As coisas só parecem melhorar conforme você fala, Landon. – comentei sarcásticas.

–“Um lugar onde a água do mar em sangue inocente se transformará, deverá se banhar, para que as criaturas das bestas o deixe passar.”, pode estar se referindo ao “Rio dos ecos”, para onde as almas de pessoas cruéis ficam para pagar por suas maldades. Afinal quase todo rio deságua no mar.

–E quanto ao resto?- Bae indagou quando Landon finalizou.

–Eu não me lembro da história toda. Vamos ter que procurar. – respondeu dando de ombros.

–Com isso já temos o suficiente para saber que teremos desafios. – Killian falou.

–Claro que terão desafios! – exclamou parecendo estupefato. Pude ver que ele se segurou para não chamar Killian de algo realmente ofensivo - Não esperam entrar no mundo dos mortos facilmente, esperam? Está claro que o maior desafio vai ser enfrentar o pior de si mesmo.

–Isso? – guinchei. – Isso não nos diz nada sobre como chegar até lá. Não temos uma localização, uma direção a qual seguir. O que temos são palavras sem sentidos, que nossas mentes estão tentando achar uma resposta. Talvez não queira dizer nada disso, talvez só quer dizer o que a pessoa que escreveu quis dizer. – falei, me atropelando nas palavras, na esperança que percebessem o quanto era sem sentindo tudo aquilo.

Os três me olharam, porém optaram por me ignorar.

–Contudo não podemos excluir ainda o sacrifício. Deuses gostam de um, os deixam felizes. – Landon comentou, voltando a estudar a página. – Vamos manter as ovelhas ainda.

–Será que podem ao menos me responder o que raios quer dizer “lutar contra si mesmo”?

–Você terá que lutar contra seus demônios interiores, Swan. Algo como uma discussão com a pior parte que existe dentro de você.- Killian respondeu.

–O que faz sentindo se você está indo atrás da cabeça de Falada. – Bae completou.

–O que faz sentido se você está indo para o mundo dos mortos. – Landon rebateu. – Algumas pessoas enxergam Nefihel como uma coisa mais lírica, como um lugar para conhecer a si mesmo, para adquirir conhecimento. Afinal Odin se suicidou para ir até lá e adquirir o conhecimento das runas, que foi a língua que a senhorita Emma conseguiu traduzir. Logo com essa informação podemos praticamente excluir a teoria de ser algo relacionado com a Bíblia.

Desabei no sofá, sentindo minha cabeça girar. Tudo parecia piorar a cada momento quando tentávamos entender aquilo.

–Nós podemos estar errados.- falei por fim.- Afinal, como pode ser possível estar acontecendo o “Apocalipse”, se aqui está tudo normal? Ou como pode existir um mundo dos mortos em que podemos entrar? Por favor, me digam que eu não sou a única que percebe o quanto isso insano!

–Emma.- Bae se virou pacientemente para mim, ele hesitou um pouco antes de continuar.- Sei que você está acostumada a uma vida de passado, presente e futuro. Céu, Terra e inferno. Uma vida em que existe apenas o seu Deus, porém existem certas coisas que são possíveis de acontecer. Assim é com o tempo e as crenças... nós vivemos em um mundo que não conhecemos direito. Já parou para pensar que nesse mesmo mundo possa existir uma civilização mais a frente que a nossa, assim como uma que ainda nem aprendeu a se comunicar corretamente? Que esse mundo pode ter camadas e vivemos em uma dessas camadas, ou dimensões ao mesmo tempo? Que também possa existir pessoas diferentes, com hábitos diferentes e seres que pensamos não existir? Estamos supondo o que pode estar acontecendo. Landon e eu podemos estar errados, do mesmo jeito que é possível.

Aquilo tudo soava confuso para mim. Confuso para a minha cabeça acompanhar.

–Acho que ela já teve o suficiente por hoje, Baelfire - Killian o dispensou rudemente.

–Ele vai poder ficar? – indaguei. Killian me olhou parecendo aborrecido com a pergunta. – Afinal ele ajudou, e foi muito mais do que nós dois conseguimos.

–Mas ele pode estar errado. Landon mesmo já disse que podemos descartar a teoria.

–Assim como Landon também pode estar errado. – rebati.

Killian revirou os olhos.

– Pode pegar suas coisas e se juntar ao Jolly Roger. E quando vier, me arrume uma ovelha. Uma não, duas, só para garantir. – ordenou. – Satisfeita?

Bae se levantou, ainda com os olhos em mim, preocupado.

–Tudo bem. Obrigado, Killian.- Baelfire agradeceu se dirigindo para a porta.- O tempo, Emma, é cheio de rachaduras que somos incapazes de perceber se não estivermos no lugar certo.- falou antes de sair.

–Por que não nos ajudou antes, Landon? – Killian indagou irritado. – Assim evitaria de ter Baelfire a bordo do navio.

–Bom, eu teria ajudado, capitão. – respondeu seco. – Se o senhor não quisesse manter Emma só para si esse tempo todo, assim recusando minha ajuda. Gostaria de me lembrar mais detalhes sobre a história para poder ajudar. Irei usar o pouco tempo que ainda nos restam aqui para ver se consigo mais detalhes. – avisou. – Você vai ficar bem, Emma?

Aquiesci, sem levantar a cabeça que era sustentada pelas minhas duas mãos, enquanto eu encarava minhas bostas.

Killian e Landon trocaram algumas palavras em voz baixa e então o primeiro imediato saiu rapidamente.

Pude ouvir os passos abafados de Killian pela cabine e o suave fechar da porta.

Eu queria ficar sozinha, queria que tudo aquilo não passasse da imaginação fértil, já danificada deles que haviam passado muito tempo no mar. Queria que quando chegássemos lá, um bando de corgis estivessem nos esperando com os rabinhos abanando e línguas para fora prontos para brincar.

–Você está bem, Swan?- perguntou por fim, se agachando ao meu lado e inclinando a cabeça para tentar enxergar meu rosto.

–Não.- o som saiu abafado, por conta de minhas mãos que seguravam meu rosto.- Por que, Jones? Por que você quer ir para um lugar como esse? O que você pode querer em um lugar destes?

–É complicado. Eu preciso de respostas.- murmurou, olhando para mim.- Resposta que você não vai entender.

–Não, eu preciso de respostas!- reagi, levantando a cabeça para encará-lo.- Sei que não somos nada e que não me deve explicações, mas eu quero respostas, Gancho! Eu preciso de respostas - apontei para meu peito com força.- Essa sou eu e detesto ficar no escuro. Não me deixe mais no escuro. Eu já estou vivendo todos os dias sem enxergar algo, pelo menos para isso me mostre uma luz- implorei em um sussurro desesperado. – Me deixe saber por que estamos indo para esse lugar. Me deixe saber se haverá algum beneficio para alguém que não seja você. Me diga se você arriscaria a vida de pessoas apenas para ter uma resposta?

Killian abriu a boca, porém a fechou rapidamente.

–Esqueça, já era de se esperar que não fosse me dizer nada.- falei tentando esconder o ressentimento em minha voz e falhando visivelmente.

Me levantei com a intenção de sair dali. Estava percebendo com uma frequência cada vez mais alarmante que o ar parecia se tornar mais denso quando Killian e eu ficávamos sozinhos, e eu sentia aquele comichão, puxão, pulos e a sensação de ventre gelado que me assustavam. Comecei a pensar que poderia estar doente, contudo essas sensações somente apareciam quando estava com Killian.

E a noite que ele quase me beijara não saia de minha mente, e para ser honesta comigo mesma, eu havia até sonhado com aquilo. Mas no sonho eu não o atrapalhava com a desculpa mais patética de todas.

Peguei na maçaneta da porta e a puxei, porém estava trancada.

Virei - me para Killian, que agora estava de pé, mas ainda no mesmo lugar me estudando.

–Abra.- ordenei com a voz forte, empurrando todos aqueles pensamentos para o fundo da mente. Tudo o que eu menos queria era que Gancho percebesse como me afetava e me magoava quando dizia ou deixava de dizer certas coisas.

–Sinto muito, não posso deixá-la sair daqui.- respondeu tranquilamente.

–E por que não?- perguntei colocando as mãos na cintura.

“Por favor, me deixe sair, me deixe sair, me deixe sair”.

Implorei em minha mente, o único lugar que ainda considerava seguro... ou nem tanto, ela andava em pandarecos nos últimos dias.

“Por favor, não tente me beijar novamente.”

Gancho me olhava com um brilho estranho no olhar e então deu um passo em minha direção e depois outro, bem lentamente, sem tirar os olhos de mim. Podia jurar que o azul cintilava e sua pupila estava dilatada.

– Porque ... Talvez esteja na hora de tirá-la do escuro. Ou pelo menos acender uma vela.

De repente respirar nunca foi tão difícil para mim.

Eu estava perdida. Tive certeza disso quando meu coração começou a falhar em meu peito, emocionado demais com a expectativa de algo proibido, algo que deveria temer, ao mesmo tempo em que parecia brigar comigo se caso eu fugisse novamente.

Suas batidas falhas não deveriam ser direcionadas a um homem como aquele.

Ainda assim eram. Cada batida descompassada, cada respiração irregular que saia com dificuldade, cada pedaço de minha pele, estavam direcionadas para aquele homem que eu não conseguia confiar completamente.

Podiam não ser amanhã, nem depois, porém naquele momento eram para ele.

Eram para o homem mais proibido da face da Terra para mim.

Então algo começou a queimar em meu âmago. Começou como algo apenas crepitante, mas conforme Killian se aproximava mais, com seus olhos passeando preguiçosamente pelo meu corpo, foi aumentando, até eu ter certeza que um incêndio havia iniciado.

Isso só podia ser o que chamavam de desejo, e se fosse mesmo, pelos céus eu desejava Killian!

Eu podia desejar um beijo, mas nada além que isso. Meu coração podia falhar por ele naquele momento, mas nunca amá-lo.

Isso jamais.

Talvez todas as suas investidas estivessem dando resultados.

Killian finalmente atravessou a cabine até mim determinado, e não parecendo nem um pouco afetado com aquela tensão entre nós. Não tinha com o que se afetar, ele era experiente, eu não.

Que ironia, não? A mulher que menos fazia o tipo dele, era justamente aquela que ele desejava no momento.

Desejo é um sentimento muito estranho, ele faz você se sentir atraída por pessoas que você não deveria e não quer.

O desejo sem dúvidas tem um humor muito, muito negro.

–Killian.- o chamei insegura, mal podendo confiar em minha voz.

Ele se limitou a inclinar a cabeça e encarar meus olhos, me fazendo ter dificuldades para lembrar o que queria dizer.

–A porta.- consegui balbuciar, a tocando com as mãos, uma parte de mim ainda se mantinha assustada com aquele proximidade. Parte de mim queria lembrá-lo de abrir a porta e me deixar ir.

Killian a admirou por uns instantes e voltou a me olhar intensamente, fazendo minha pele arder.

–Você quer mesmo que eu a abra? – instigou, dando mais um passo em minha direção.

Eu queria afirmar com a cabeça, e dizer que sim eu queria que ele abrisse, contudo parecia incapaz, pois parecia errado, assim como era errado eu querer tanto aquilo. No fim balancei a cabeça sem ter certeza do que havia respondido.

–Você tem certeza?- perguntou mais uma vez, seu rosto sério e esticando a chave para mim, me entregando a chance de sair dali, a chance de não fazer nenhuma besteira. Killian estava me dando a chance de escolher.

Então traidoramente minha cabeça negou, derrotada, meu peito subindo e descendo rapidamente. Killian abriu um sorriso para mim, guardando a chave.

–Ótima escolha, Swan.- Gancho aprovou, com a voz deliciosamente rouca fazendo meu estomago dar um pulo.

Antes que eu pudesse tentar falar alguma coisa, Killian me prensou contra a porta, encostando seus lábios avidamente nos meus, ao mesmo tempo que parecia cuidadoso e até de certa forma carinhoso.

Senti minha respiração falhar de vez, enquanto meu corpo ficava rígido pelo ataque repentino, para então eu fechar os olhos e me deixar ser beijada, sentindo a mão de Killian em meu rosto enquanto ele me fazia provar do gosto de sua boca, de forma calma, quase como se ele não quisesse me assustar. Parecia... parecia muito como uma aprendizagem.

Sua mão desceu do meu rosto para começar a percorrer meu corpo de forma lenta e torturante, como se fosse uma terra nova que ele estivesse descobrindo e fizesse questão de explorar com toda a atenção. Eu não sabia o que fazer além de ficar parada, recebendo suas caricias, sentindo minha pele esquentar e meu ventre afundar a cada contato.

Killian se separou, beijando o canto de minha boca, para então eu sentir seus dentes mordiscando a parte de baixo de meu queixo e não pude reprimir o gemido incoerente que escapou de meus lábios.

–Ah, Emma.- Killian arquejou ao pousar sua mão em minha cintura.- Tão, mais tão cheirosa... e delicada. Nunca estive com uma mulher tão delicada - ele passou o nariz lentamente de um lado para o outro pelo o meu maxilar .

“E eu nunca estive com um homem tão colado ao meu corpo”

– Devo avisar que achei essa roupa indecente para uma dama.- falou me prensando ainda mais na porta, o calor de seu corpo atravessava o tecido de minhas vestes.

–Co...como?- minha voz saiu estrangulada. Killian agora beijava a parte de trás de minha orelha.

–Esta escandalosamente justa. – murmurou. – Como espera que eu resista a não fazer isso? – Killian levantou os olhos para mim, aqueles olhos azuis ainda brilhantes e agora com algo mais. Me deu um sorriso malicioso e eu tive que segurar o grito surpreso que ameaçou sair quando senti sua mão se livrando de meu corpete e seu gancho puxar minha blusa um pouco para baixo, para então depositar um beijo em meu colo, seu rosto perigosamente perto de meus seios, se ele se abaixasse um pouco mais... - E é macia. – constatou, subindo uma trilha de beijos pelo meu pescoço.

Nesse momento senti que estava afundando em algo que não fazia ideia do que poderia ser. Já não era capaz de fazer nada a não ser estremecer aos seus toques. Algo em minha mente gritava que eu deveria sair correndo, me afastar, fugir, que aquilo iria acabar mal, que ninguém iria querer casar comigo se descobrissem, porém eu não tinha forças.

Era simplesmente mais fácil ignorar aquela minha parte moral, porque eu não tinha forças para escutá-la.

Não tinha forças, para empurrá-lo para longe de mim, mesmo que eu soubesse que era errado. Não tinha forças porque eu estava gostando daqueles toques, mesmo sabendo que não deveria. E principalmente porque eu lutava para manter minhas mãos paradas, com medo de atrapalhar de alguma forma, quando minha vontade era movimentá-las e trazê-lo para mim.

–Você pode corresponder também, Emma. Na verdade, estou esperando que faça isso. – murmurou em meu ouvido como se soubesse de minha luta interna, voltando aos meu lábios, suave e gentilmente.

Suave e gentil eram palavras que nunca esperei usar para descrever Killian, muito menos seu beijo. Não que eu tivesse pensado em como seria.

Eu estava me saindo uma bela de uma libertina sem vergonha.

Comecei a movimentar minhas mãos por suas costas, de forma temerosa o segurando em um abraço, para subir a mão direita até sua nuca, mergulhando meus dedos em seu cabelo.

Nós dois ficamos nos encarando, arfantes e então, depois de longos segundos, Killian me beijou com intensidade, de forma ardente, parecendo que havia cansado de ser gentil e agora quisesse provar minha boca de verdade.

Foi algo mais urgente dessa vez, senti sua língua brincando no canto de minha boca, onde os lábios se juntam e minimamente correspondi a esse beijo, querendo participar, embora não querendo fazer errado.

Eu não queria que aquilo parasse nunca. Queria ficar para sempre ali, entre Killian e a porta.

Porém o ar faltou e Killian se separou de mim, mordiscando de leve meu lábio inferior, para então esconder o rosto na curvatura de meu pescoço, onde eu podia sentir sua respiração pesada, muito semelhante a minha, me causando um arrepio pelo corpo todo.

–Maldição, Swan!- Killian praguejou, tomando minha boca novamente em um beijo rápido e carregado com algo que não saberia dizer o que era. - Além de tudo é extremamente deliciosa.- balbuciou, me apertando em seus braços.

Tentei clarear minha mente enquanto Killian continuava a me torturar com sua boca e sua mão pelo meu corpo, sua barba me pinicava de forma esplêndida, me impedindo de conseguir ter qualquer tipo de pensamento coerente.

Senti meu corpo ficando rígido novamente e meu sangue gelar, quando senti os primeiros botões de minha blusa sendo abertos. Aquilo já estava saindo fora de controle. Eu queria apenas ser beijada, nada além disso.

Algo além daquele beijo seria a total perdição para mim. Não existia nada pior que uma mulher perdida. Na verdade, depois do que acabei de fazer poderia me considerar uma.

–Killian, Killian.- o chamei com urgência na voz, toda aquela nevoa de desejo que me atingiu se dissipando.- Jones pare!- pedi tentando o empurrar com minhas mãos trêmulas.

–Shh, Swan.- ele mordeu a parte mole de minha orelha e então desceu para depositar beijos em meu ombro, empurrando o tecido com o nariz, para ter acesso.- Não estrague o momento.

–Killian, pelo amor de tudo, pare! - implorei começando a me sentir apavorada. Eu estava trancada ali com ele, como o faria parar?

Ele então me pressionou mais contra a porta, se é que isso era possível, para que eu sentisse toda a extensão de seu corpo.

–Esta sentindo?- perguntou me olhando com olhos escurecidos pelo desejo.- Está sentindo o quanto a quero agora? Não me peça para parar, não agora, Emma.- pediu, e eu pude sentir o tamanho de seu desejo, próximo ao meu quadril. Killian me deu mais um beijo intenso ao qual não consegui retribuir, tentando me livrar de sua boca. - Nem nunca. Nunca me peça para parar. Isso tudo é loucura, mas ainda assim... Céus, eu preciso de você agora! - ele bateu a mão com força na porta e eu me encolhi.

Eu estava começando a sentir medo de Killian.

–Killian, por favor.- sussurrei apavorada com seu jeito.- Por favor, me solte. Eu... eu não posso e não quero isso. Você está me assustando neste momento. Deixe- me sair. - falei tão baixo que fiquei na dúvida se realmente havia dito algo.

Então os olhos de Killian pareceram clarear. Ele me olhou com a testa franzida e com atenção, para finalmente dar um passo para trás, desgrudando seu corpo do meu, mas ainda mantendo sua mão em minha cintura.

Me senti mais relaxada ao perceber que ele já estava voltando a si, ao mesmo tempo que comecei a me sentir envergonhada com o que havia feito.

“Um pouco tarde para se envergonhar, não?” meu subconsciente perguntou para mim com reprovação.

–Ah Meu Deus! - coloquei as mãos em minha cabeça, sentindo que iria ter um ataque a qualquer minuto.- O que foi que fiz? O que foi que eu fiz?- perguntei em voz alta, me libertando dos braços de Killian ao redor de minha cintura e colocando a maior distância possível entre nós dois.- Eu..eu..nós.- tive dificuldade em falar, puxando meus cabelos.

–Emma.- Killian me chamou.

–Por que eu fiz isso? Eu não deveria ter feito, eu sou uma pessoa horrível. Horrível!- eu engolia em seco sem parar, tentando segurar o choro. Eu havia sido forte durante um mês inteiro. O que custava ser forte todos os meses em que ficasse ali?- Eu deveria ter pegado a chave quando me deu a chance de sair. Por que eu fiquei? Será que não aprendi nada sobre como me portar?

Então me coloquei joelhos do lado da cama, juntando as mãos, olhos fechados com força e começando uma prece em voz baixa:

–Me perdoe Pai, porque pequei. Me deixei ser envolvida pela luxuria, desejo, fui fraca e cai em tentação...

“E que tentação”, acrescentei mentalmente e me reprimindo logo em seguida. Eu estava pedindo perdão e então tentava dar uma de engraçadinha? Duvidava que Ele estivesse rindo agora.

–Emma!.- Killian me puxou pelo braço até me por de pé e fazendo-me encará-lo.- Se acalme, respire fundo e não chore.- pediu, ainda me segurando pelo braço. Tentei fazer o que ele aconselhou. - Sabe, geralmente não é essa a reação que recebo quando beijo alguém.- comentou divertido, tentando me fazer relaxar.

Lancei-lhe um olhar duro, mostrando que sua tentativa de me fazer ficar calma não havia funcionado.

–Ah Meu Deus, Killian!- exclamei não conseguindo mais segurar as lagrimas de culpa e vergonha.- Isso mostra que eu sou uma pessoa horrível e que eu me perdi. Eu não tenho mais salvação. Estou perdida e irei queimar no inferno. Tenho certeza que depois disso meu lugar foi reservado. – declarei começando a morder os nós dos dedos e produzir uns sons estranhos com a garganta. – Por que eu tinha que ser tão fraca?

Killian, para minha surpresa começou a rir, mas rir com vontade mesmo. O que me deixou além de tudo irritada.

–Emma, você saqueou um navio e está achando que Deus irá lhe condenar por causa de um beijo inocente?

Dei uma fungada e cruzei os braços na defensiva.

–Aquele beijo não foi nada inocente. – retruquei olhando para a porta e me lembrando em como nos encontrávamos minutos antes.

Killian riu com vontade mais uma vez.

–Nada inocente é o que eu estou querendo fazer com você e quase o fiz se não tivesse me parado.- replicou em um murmúrio tão baixo e com toda a sinceridade para si mesmo, como se não tivesse reparado que havia pensado um pouquinho alto demais.

Não tenho certeza se era para eu ter ouvido essa confissão. Não tenho certeza se foi realmente isso que ele disse de tão baixo que foi.

Eu o olhei perplexa sentindo meu rosto ficar vermelho.

Abri a boca para dizer algo, contudo fui incapaz de articular qualquer palavra. Estava abalada demais com tudo que acontecera na última meia hora.

–Não há nada errado com o que nós fizemos. - Killian tentou me convencer. - É completamente normal e aceitável, um beijo uma vez ou outra. Não precisa temer tudo, muito menos um toque inocente.- falou suavemente, em seu tom totalmente persuasivo enquanto acariciava meu rosto com sua mão.- E não precisa ter um ataque se eu quiser beijá-la novamente.- sussurrou, seu hálito beijando de leve meus lábios.- Deus não irá condená-la por isso. E não irei pedir desculpas por beijá-la e muito menos por começar a desejá-la. –declarou, se inclinando e depositando um beijo no canto de minha sobrancelha.

Meu coração deu um pulo com esse último beijo tão casto, o que podia ser considerado irônico se fosse ver como estávamos momentos antes, bem longe de sermos castos.

Eu quase me deixei levar por sua conversa, quase o deixei me beijar novamente.

Quase.

–Talvez Ele não vá, mas eu irei.- consegui dizer me afastando de Killian.- Eu irei pois fui criada para não me entregar de tal forma a não ser para meu marido. O que aconteceu aqui foi uma experiência interessante e, não vou mentir para você, muito prazerosa.- me forcei a olhar para ele enquanto falava, sentindo meu rosto pegar fogo. Killian abriu um sorriso triunfante para mim, voltando a se aproximar. Estiquei as mãos a frente do corpo e dei um passo para trás- Mas deve ser única, se acontecer mais alguma vez pode estragar nossa convivência e uma possível amizade entre nós, sem falar da minha reputação. E eu não estou pedindo que se desculpe por nada, apenas me respeite apesar do que acabou de acontecer. Outra detestaria ter que ver você se auto punindo, já que uma de suas regras é bem clara sobre se relacionar com uma mulher virtuosa. - o lembrei.

Killian me encarou, os olhos sérios e por fim assentiu, o indicador sob os lábios que ainda estavam inchados de minutos atrás e o cabelo todo desalinhado.

–Compreendo. Tudo bem, Emma. Entendo e respeito seu ponto de vista e você. – falou em um tom neutro. - Agora quanto a regra, ela foi feita para ser quebrada.

–Mesmo?- perguntei aliviada.- Ah que bom, fiquei com medo que já tivesse estragado tudo.- soltei uma risada nervosa e fechei os olhos.- Posso perguntar uma coisa?

–Céus! Você não para com essas perguntas por um minuto? – e então seu olhar e seu tom de voz suavizou. – Acho que você tem direito a essa pergunta.

–Eu fiz certo?- indaguei mal acreditando que estava realmente verbalizando aquela pergunta.- Digo o beijo, já que eu nunca...- deixei a frase morrer, encarando as botas de Killian.

–Você foi incrivelmente boa.- Killian respondeu.- Mas se quiser se aprimorar ainda mais, eu posso lhe dar umas aulas, ficarei feliz em ser seu professor...- falou em um tom totalmente sedutor e provocativo.

–Não!- praticamente gritei.- Digo, só estava curiosa.- falei como se não fosse nada importante.

Killian ficou um tempo me observando, creio que para ter certeza que não voltaria ter um ataque e acabasse me matando por termos nos beijado. Conhecia história de mulheres que haviam se matado por muito menos que um beijo. E de mulheres que foram forçadas a se casarem por serem pegas em situações semelhantes a que eu estava.

–Bom já que acabamos aqui irei subir. Os homens já estão voltando para o navio, preciso passar as instruções. – avisou, retirando a chave do bolso na calça e abrindo a porta.- Fique o tempo que precisar para se recompor.

–Obrigada. E Killian.- o chamei antes que ele saísse. Ele rapidamente se virou para mim.- Por que...Por que fez isso?- perguntei realmente curiosa.

Killian pareceu confuso por um momento, mas então sorriu para mim.

– Você fugiu na outra noite que tentei beijá-la. Então percebi que se trancasse a porta e a deixasse escolher poderia conseguir alguma coisa. Fiz isso porque estava com vontade, assim como você. – falou com indiferença – Como eu disse não irei pedir desculpas.

Minhas bochechas esquentaram ainda mais. Sim, eu queria ter sido beijada por ele, esse pensamento já me ocorria há algum tempo, porém gostaria de ter tido mais força de vontade para lutar contra, para evitar a culpa que estava pesando sobre meus ombros no momento.

–Agora se me da licença.

Fiquei observando Killian sair da cabine para então desabar sentada. Eu meu sentia uma devassa, ao mesmo tempo que me sentia a mulher mais maravilhosa, para então me sentir uma sem vergonha.

Estava me sentindo traída por mim mesma. Vivia me convencendo que não confiava nele, isso e aquilo, para então, me atacar com ele.

Suspirei frustrada ao perceber que desejo e confiança andavam bem distantes um do outro. O que eu precisaria fazer de agora em diante era me manter mais alerta e não me deixar cair facilmente. Agora que Killian sabia que eu o sentia algo por ele também, desejo talvez, iria usar isso a seu favor.

Por favor, que isso que eu sinto seja apenas desejo.

Por favor, Deus que seja só desejo, pois eu não quero amá-lo.


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Notas finais do capítulo

Gente, me desculpem. Acho que agora consegui arrumar o capítulo. É incrível como quando a gente ta com um pézinho atrás, acontece umas coisas dessas.

Enfim, espero que tenham gostado. Estou com medo do que vocês acharam.

E Jollymari, muito obrigada de novo pela recomendação, foi uma surpresa enorme recebê-la e muito agradável, espero continuar agradando.

Beijos.