POV Adelaide

Um mês se passara desde a volta de meus pais. E para ser sincera, eu não estava muito feliz com isso. Minha vida de anos fora destruída em alguns minutos, e isso não foi legal. Ethan estava meio distante e mais silencioso do que antes. E isso me deixava com muita raiva. Não foi culpa nossa, como eu já disse várias vezes, não escolhemos quando nos apaixonamos, apenas seguimos cegamente o coração. Mas meus pais pareciam não entender. Meu pai era filho de um rico produtor de alimentos, e graças a meu avô, eles tiveram que se casar para que a produção não parasse e até melhorasse. Claro que isso não tinha a menor lógica, mas ninguém foi capaz de contrariar o rei. Eles tiveram um casamento arranjado, e depois de alguns meses, finalmente se apaixonaram. Minha mãe teve sorte, pois apesar de rico, meu pai era alguém muito caridoso e gentil, coisas que já notei não existirem em Mozart. Ele parece alguém muito cobiçador e arrogante, só de pensar que em breve estarei casada com ele, meu estômago dá voltas. Pelo menos, eu teria um último momento feliz. Meu aniversário de dezoito anos. Felizmente eu consegui convencer meus pais a permitirem que meu último aniversário como solteira fosse no país que eu mais amo depois de minha casa, Illéa. Era um ótimo país, possuía uma rica cultura e uma economia extremamente estável. Claro que ele tinha constantes conflitos internos, mas isso todos os países têm. E claro, tinha a família real. A família que com o tempo eu aprendi a chamar de minha também. Todos eram muito bons e gentis comigo, e essas duas qualidades são as que mais observo nas pessoas.

Todos os preparativos já estavam prontos. Como haviam dito a dias atrás, quase todos os reinos compareceriam ao meu aniversário, e eu nunca havia ficado tão ansiosa em toda minha vida. Alguns reinos como Nova Ásia, Inglaterra, Holanda e Turquia eu mal conhecia os soberanos. Além desses, eu tinha uma vaga lembrança dos reis e rainhas dos outros países. Eu não conhecia todos, apenas havia estudado, e muito, sobre eles. Por exemplo, eu sabia que a Inglaterra era um dos mais influentes países do mundo. Eu poderia ficar um bom tempo falando de curiosidades de todos os países, mas creio que seria meio irritante.

Enfim, eu estava em meu quarto, terminando de colocar meu vestido quando ouço duas batidas na porta. Ajeitei meu vestido, fechei o zíper e disse um “entre!” alto o suficiente para a pessoa escutar. Um ruivo entrou timidamente em meu quarto e eu sorri. Fui alegremente até ele e tentei beijá-lo, mas ele recusou. Afastei-me um pouco, assustada. Ele estava olhando para baixo tristemente.

– O que houve? – lhe perguntei.

– Todos já chegaram. O príncipe da Áustria deseja vê-la. – disse ele, quase como um sussurro. Bufei de desgosto.

– Você sabe que estou sendo obrigada a isso. Aproveite, por favor. Esse é o nosso último dia. Irei imediatamente para Itália assim que a festa acabar. – disse, aproximando-me. Ele tocou meu rosto com a mão e em seguida me beijou calmamente.

– Tudo bem. Farei o meu possível. – disse ele com um sorriso fraco.

– Obrigado. – disse pegando sua mão e beijando-a. Dei-lhe um abraço apertado e saí de meu quarto.

Consegui ver Mozart a alguns metros de meu quarto. Ele estava de costas para mim e se assustou quando toquei em seu ombro. Logo me lançou um sorriso cafajeste, ao qual retribui revirando meus olhos. Ele tocou minha mão e beijou-a.

– Está tão bela quanto da última vez que a vi, senhorita. – disse ele com o mesmo sorriso.

– E você tão irritante quanto eu me lembro. – disse debochadamente. Ele riu um pouco.

– Pelo visto, ninguém apagou esse seu fogo ainda.

– Que atrevimento! – disse, sentindo-me ofendida.

– Perdão, não foi minha intenção.

– Sei. Fingirei que acredito em você.

– Bem, sua festa já vai começar. Não seria belo se nós entrássemos juntos? – disse ele animadamente.

– Não. – respondi secamente.

– Ora, vamos lá. Assim você já se acostuma. – disse ele oferecendo-me seu braço. Bufei e aceitei. Ele sorriu e eu revirei os olhos.

Descemos as escadas silenciosamente. Seu sorriso era notável, não que eu estivesse olhando-o, ou admirando seus olhos, ou seus cabelos...Espere...O que eu estou fazendo? Repreendi-me mentalmente e voltei a me concentrar em meu andar. Logo chegamos ao salão e fomos recebidos com grande festa. Todos diziam parabéns a mim e eu retribuía com um aceno. Encontrei meus pais e meus irmãos e fomos até lá. Eu abracei a todos, e quando chegou à vez de minha mãe, ela me sussurrou algo.

– É bom ver que já está aceitando seu futuro. Sei que ele lhe fará muito bem minha filha. – disse ela e eu revirei meus olhos. Já havia perdido a conta de quantas vezes eu havia feito aquilo naquele dia.

Os reis de Illéa vieram me cumprimentar também. Estranhei por não avistar nenhum de seu quatro filhos, mas tentei deixar para lá. Deixei Mozart de lado e fui cumprimentar e agradecer todos ali presentes. Finalmente conheci os reis da Inglaterra, e devo admitir que o filho deles, Dollen, era até bonitinho. E pelo pouco que conversamos muito gentil também. Segui pelo salão, mas parei abruptamente ao ouvir a voz de Ethan amplificada pelo microfone. Me virei em direção ao som e notei que ele e seus irmãos estavam todos em cima do palco, envoltos de instrumentos.

– Bem, eu e meus irmãos treinamos essa música por anos para nós a tocarmos para uma pessoa muito especial para mim. – disse ele, lançando-me um rápido olhar mas logo dirigindo-se novamente para as pessoas.

E então a música começou a tocar. Começou com Katrina tocando notas do piano em um teclado. Ela estava bela em seu traje despojado de jeans e camiseta colorida. Eu nunca havia a visto tão radiante. Então, Ethan começou a cantar. Eu não acreditava em suas palavras. Aquela música era perfeita para nós! Sem que eu percebesse, lágrimas começaram a correr de meus olhos no meio da música. Tratei de secá-las rapidamente, pois sabia o quão perigoso poderia ser se alguém descobrisse que a música era dirigida a mim. Finalmente eu notei os trajes de todos eles. Ethan estava um pouco parecido com a irmã, mas estava de calça jeans escura e blusa branca. Amberly, que me impressionei ao vê-la tocando violão, estava com roupas de algodão e lã, como uma hippie. Malcolm estava idêntico ao irmão mais velho, fora que em sua camiseta estava escrito “We are strong boys!”. Desviei meu olhar para os reis de Illéa, que observavam tudo encabulados. Meus pais também. Os outros estavam com expressões de puro contentamento, por questão da melodia. Assim que a música terminou, senti alguém puxar meu braço. Sem ver quem era a pessoa, a segui. Ao chegar na pequena varanda que se localizava em uma das portas do salão, eu finalmente o vi. Ou melhor, os vi. Minha mãe e meu pai olhavam enraivecidos para mim.

– Eu não tive...

– Independente. A senhorita vai imediatamente para a Áustria. Sem mais nem menos. A festa acabou aqui. – disse meu pai, cortando-me. Assenti com a cabeça e a pendi para baixo. Algumas lágrimas arriscaram cair, mas eu logo as enxuguei.

Voltei para dentro, e a pedido de meus pais, pedi a Mozart para irmos para casa. Para sua casa. Ele se convenceu de que agora eu estava apaixonada por ele. Não sei de onde ele tirou essa ideia. Nem tive tempo de me despedir de meu amor e de meus amigos.

Agora começava a minha vida de repreensão. Que saco!