Lissy tinha os braços envoltos na cintura de James, enquanto ele afagava o seu cabelo. Eu os observava de longe, quando ouvi um tiro bem próximo de mim e institivamente levei as mãos no ouvido.

— Muito bem garoto! Acertou em cheio! — o sargento gritou para Peter. —Ele tirou o cabelo colado da testa e colocou para trás. Novamente Peter colou os olhos no seu rifle e foi seguindo a andorinha com o cano da arma. E atirou.

Todos nós caímos na risada. Peter tinha errado feio o tiro, e a andorinha por sua vez, voou bem acima de nossas cabeças e esnobou o soldado. Ri mais ainda.

Acabei me encostando numa árvore mais próxima e fui me lembrando de como consegui chegar ali.

— Lissy Sandes! Juro que nunca mais deixo você me convencer de nada! — reclamei desviando de um galho á altura do meu rosto.

Não bastasse minha dor de cabeça, eu já quase caíra duas vezes por ali.

— Tem certeza que é esse o caminho? — perguntei cansada.

— Não, mas da ultima vez nós viemos por aqui.

— Da ultima vez estávamos perdidas! —retruquei.

— Tanto faz. — ela deu de ombros e então chegamos ao topo do barranco, pelo qual tínhamos caído antes.

— E agora? Oh grande gênio?

— O certo é gênia! —retrucou ela e eu revirei os olhos. — E agora nós gritamos e caímos no barranco.

— E por que diabos nós... — a senti me empurrar e rolei barranco abaixo.

De longe, não foi à coisa mais esperta que já fizemos, porém aquele dia conseguimos chegar no lugar. Quase inteiras. Só que dessa vez não tivemos a recepção de gostosos sarados, ninguém foi nos socorrer, me frustrei um pouco.

— Já chega, vamos embora!— me levantei e tirei algumas folhas do cabelos, por sorte não tinha mais lama ali.

— Não! Olha podemos não ter achado eles aqui, mas...

Um estouro soou ali perto e vimos que algo atingiu uma árvore na mesma direção, nos aproximamos da árvore.

— O que é isso? — perguntei e vi um talho na árvore, mas depois ouvi outro estouro.

— Tiros! —gritou Lissy jogando-se ao chão.

— O quê? — a olhei confusa e desesperada, mas um projétil passou raspando ao lado dos meus cabelos, e eu me joguei no chão imediatamente também.

— Estamos num tiroteio? Meu Deus, se você sobreviver diga aos meus pais que eu os amo, e diga a minha irmã também que não é pra ela encostar um dedo nas minhas roupas, senão eu venho à noite puxar o pé dela. — gritou Lissy.

— Cale a boca! — falei e os tiros continuavam.

Por mais algum tempo, consegui ouvir estrondos, até que eles pararam e eu me levantei, mas imediatamente os tiros recomeçaram.

— Para com isso! — gritei enfurecida.

Os tiros pararam e eu marchei em direção de onde eles vieram.

— Quem está ai? — ouvi quem quer que fosse, perguntar.

— A pessoa que vai enfiar essa arma tão fundo no teu cú que quando eu apertar o gatilho vai sair bala até pelo seu nariz!

— Vish fodeu. — resmungou outra voz.

Quando me aproximei das pessoas encontrei militares com armas em punho.

— Sam? — Peter indagou surpreso.

— Por que estavam atirando na gente?

— Não sabíamos que estavam lá, e “a gente” quem? —indagou James.

— Eu a Lissy— bufei.

— Lissy? — perguntou James interessado.

— É ela está por... — mostrei todo o espaço de onde eu tinha saído—por ali.

[...]

Um chacoalhão me acordou de meus devaneios e eu olhei para Peter, que me havia cutucado.

— Acorda Sammy— ele disse e eu sorri.

— Estou acordada— garanti e me levantei— Cadê a Lissy? Temos que ir embora.

— Ela estava com James perto do rio—falou Peter e eu assenti.

Quando cheguei no rio avistei os dois sentados bem perto um do outro, estavam jogando pedrinhas no rio—sorri, eles fazem um belo casal— James agora a puxava para um beijo. Fiquei com vergonha de ficar olhando, mas com mais vergonha ainda de atrapalhar os pombinhos, hoje eu estava gente boa. Esperei eles terminarem de se amar e fui falar com Lissy.

Depois de muito falar com Barbie Malibu, a convenci de largar James por um segundo, mas ainda sim ele, Peter, e o sargento nos levaram até o nosso Acampamento e dessa vez nós aprendemos o caminho.

[...]

Ao chegar no acampamento, Johny apareceu bravo.

— Onde vocês estavam?

— Acampamento militar— respondeu Lissy.

— Fazendo o que?

— Fomos falar com eles— falei.

— Vocês tem que parar com essa mania de sair escondidas e voltar só essa hora!

Abaixei minha cabeça e tentei ao máximo fazer a cara do Gato de Botas. Consegui convencê-lo.

— Tudo bem Sam... mas que isso não se repita. — ele me olhava de cima a baixou com a mão na cintura e um doce sorriso no rosto.

— Pode dei... — travei quando vi Castiel com Megan. Tentei não pensar em uma infinidade de coisas, tentei não odiar Megan, não tinha porque odiá-la. Meus pensamentos foram interrompidos por Kyle.

O garoto vinha em minha direção com um sorriso nos lábios. Kyle segurou meu rosto no meio das mãos e me beijou.

Lembro-me de quando eu estava na sexta série, era tudo tão descomplicado, tudo tão colorido. Decidi que iria fazer uma carta para Kyle. Naquela época Megan e eu havíamos recém nos conhecido, nossa professora de Ciências me fez sentar com ela. Depois disso, passávamos recreios e mais recreios juntas. Contei á ela meu amor platônico por Kyle, e pedi a ela que entregasse a tal carta a ele.

Anos depois fui descobrir que ela havia entregado a carta, mas ele a perdeu e por algum motivo não tivera a oportunidade de lê-la. A partir daquele dia decidi que não seria mais covarde, não mandaria mais cartas, falaria tudo o que tinha para falar frente a frente.

— Que porra é essa Kyle? — empurrei o garoto que agora me olhava confuso.

Ele não respondeu e eu me afastei, dando lhe as costas, passei por Megan e Castiel calada. Fui direto para o refeitório, possivelmente comida ia me fazer sentir melhor.

— Nossa Sam, onde você estava? — Lissy comia macarrão, era evidente que era macarrão, o canto da sua boca e parte da bochecha estava toda suja.

— Primeiro limpa essa cara Lissy, a Barbie Malibu tem de estar sempre perfeita—ralhei rindo enquanto a loura se limpava.— Segundo, eu estava no mesmo lugar que você, a diferença foi que você sumiu do nada. — fui gritando no meio do refeitório enquanto me dirigia ao buffet atraindo milhões de olhos curiosos.

Terminei de me servir e me sentei ao seu lado.

— Ei garotas, onde vocês se meteram dessa vez? — uma voz muito familiar invadiu o refeitório. Megan.

— Estávamos andando. — respondi vagamente e Lissy me olhou confusa.

— O que aconteceu Samantha? — Megan me olhou séria.

— Nada. —comecei a comer.

— Por que está me tratando assim?

— Assim como? —perguntei de boca cheia.

— Você está estranha.

— Impressão sua.

Ela bufou e saiu se arrastando para fora do refeitório. Soltei o garfo me sentindo mal e passei a mão no rosto.

— Você a tratou mal. Por que fez isso? —perguntou Lissy

— Não sei—admiti e me levantei.

— Onde você vai?

— Pedir desculpas... — mas assim que me afastei da mesa, vi Megan se sentando perto de Castiel e ele a abraçou.

Parei imediatamente e voltei ao meu lugar.

— Desistiu? —perguntou Lissy.

— É — resmunguei e afastei o prato de mim.

Esperei que Lissy terminasse de comer e saímos do lugar, Lissy foi para seu dormitório e eu ia para o meu, quando esbarrei com Kimberly.

— Onde você foi? —perguntou ela.

— Não te interessa.

— Olha como fala comigo garota.

— Não me enche.

— Duende! — eu e ela nos viramos para Castiel que vinha correndo até nós. — Opa, atrapalhei?

— Você nunca atrapalha— disse Kimberly e eu revirei os olhos enjoada.

— Então, podemos conversar Sam? —indagou ele.

— Não estou boa para conversar agora— retruquei e observei Kimberly sair de perto.

— Mas é importante— ele segurou minha mão e me olhou nos olhos para me convencer a ficar. Cedi.

— O que foi?

— Quero falar sobre... A Megan.