Dreamy - Sonho Simulado escrita por NuttyOkari32


Capítulo 5
MidNight, um oponente explosivo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! :D
Mais uma vez, me desculpem pela demora, eu tinha perdido o plano de escrita da fanfic o que dificultou um pouquinho na hora de escrever, e eu revisei o capítulo o máximo que pude, mas com certeza deve ter uns errinhos de português ;-;
Espero que gostem (^u^ )

Victor Nutty



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—Alguém aqui não fez o dever de casa, não é mesmo?

Essa pergunta intrigou um pouco o oponente da batalha real que rapidamente puxou o gatilho várias vezes, bem, pelo menos era o que ele planejava. No beco escuro do prédio unicamente iluminado pela luz da lua cheia, Phantom deu uma breve explanação de seu poder especial como “fantasma”.

—Digamos que como “fantasma”, eu posso tornar meu corpo neutro, invisível para os outros, mas fantasmas também causam medo, então eu tenho a habilidade especial de “Paralisia por medo”, mesmo que isso não tenha nada a ver com a emoção.

MidNight, com seu corpo virtual congelado resmungava sem se mexer, e isso era visível em seus olhos e gemidos de raiva. Na maioria dos jogos, normalmente, paralisia não causa danos, mas em SpaceLife, os avatares também precisam respirar, sendo assim, MidNight logo se viu sem oxigênio e levando danos constantes razoavelmente pequenos. O efeito desse especial de Kyaro não duraria muito tempo, e como ele não achava digno finalizar seu oponente ali, apenas fugiu.

Após um minuto, o efeito passou e furioso, MidNight decidiu colocar todo o prédio abaixo. E como ele era uma espécie de terrorista, todos os prédios dentro da área de batalha tinham explosivos em seus subterrâneos, garagens e outros afins. Ele gostava de sair explodindo coisas por aí, mas achava que tinha que ter uma tensão inicial pra todo o contexto fazer sentido. Correndo por onde Shadow também foi, MidNight iniciou novamente seu voo. Um painel mapa da área abriu em frente a ele e o mostrou todos os pontos estratégicos onde as bombas estavam posicionadas. Tocando em vários pontos vermelhos no mapa preto e branco, ele levou vários prédios ao chão, várias explosões e colunas de fumaça se formaram e Phantom foi obrigado a vir para cima, onde MidNight pudesse o ver. Aquele momento foi o fim dos duelos de muitas pessoas que brigavam por seus bens, que acabaram destruídos naquele cenário devastador.

Vários carros e viaturas da polícia chegaram ao local, mas não havia nada a ser feito a não ser começar a busca por bombas. Várias pessoas começaram a correr para onde havia luz, pois a zona segura (isto é, que proíbe o PVP) era garantida pela eletricidade, sendo assim, aquele lugar virou um campo de barbaridades e assassinatos.

“Droga... Será que eu vou ter dinheiro pra pagar isso tudo?”

Vários helicópteros de noticiários começam a fazer coberturas naquela área, novamente todos ficaram sabendo da nova batalha real envolvendo Phantom e MidNight, e finalmente o helicóptero onde Liza, Jack e uma menina novata estão chega ao local. Observando o cenário de destruição Liza procura por Phantom. O piloto logo avisa que quanto mais eles demorarem ali, mais caro o voo ficará, então Liza pede para serem deixados ali, no heliporto mais próximo, dentro da zona de batalha. Dito e feito, Liza e os outros observam sua carona ir embora.

—Essa vai ser uma boa oportunidade pra vocês avançarem de nível!

—Mas Liza, não é muito perigoso?

—É, não tem proteção contra PVP aqui. Liza, acho que é melhor voltarmos.

—Que nada! É o melhor lugar pra se treinar agora, até porque, em zonas não PVP os jogadores são considerados como NPCs que dão Spawn como em qualquer parte do jogo. E já que estamos aqui, vamos lutar com quem aparecer!

—Isso é insano Liza! — Disse Jack estupidamente nervoso.

—Mas vocês vão se dar bem, acreditem em mim.

—Eu estou com você Liza. — Aceitou a novata.

—Agora só falta aquele medroso estudante do interior.

«JackSBullet» hesitou um pouco antes de aceitar aquela proposta insana de sua parceira de batalha, mas acabou cedendo.

Os três montaram um grupo para que se mantivessem informados uns sobre os outros e pudessem conversar e dividir a experiência ganha em cada combate. Descendo as escadas do prédio, passando pelo saguão principal, eles acham o que poderia ser um shopping, as luzes de emergência iluminavam o local, mesmo que por pouco.

—Olha só, se alguém aparecer, você pega a sua arma, mira nele, e atira, só isso!

—Liza... Isso não é assim tão fácil, você tem que travar a mira...

—Mas ela vai aprender isso com o tempo. Por agora, só assuste quem chegar perto, ok? Jack, vai lá dentro daquela loja e consegue umas três lanternas.

—Ok. Me deem cobertura.

—Pode deixar.

O prédio parecia inóspito. Muito dinheiro podia ser encontrado no chão e várias coisas estavam destruídas, possivelmente pela correria após o incidente. Havia muitos itens de jogadores, portanto Liza e a garota aproveitaram para pegar alguns itens que poderiam ser úteis. Jack estava demorando bastante para achar lanternas, afinal estava bem escuro dentro da loja. Mas, enquanto isso, um ruído foi ouvido.

—Liza...! Você ouviu isso?

—Deve ser alguma coisa que caiu no chão.

Logo em seguida, próximo aos pés de Liza, um estrondo e várias faíscas foram vistos e ouvidos. Liza se virou sacando sua arma tendo como alvo a posição aproximada por especulação de onde o disparo havia sido iniciado. Ela não conseguia ver nada se não um vulto pulando para lá e para cá. A luz da lua que atravessava o telhado de vidro era extremamente fraca não ajudando muito na batalha. A novata sem saber o que fazer começou a atirar para todos os lados gastando rapidamente a bateria de sua arma a laser. Nesse instante chega Jack com três lanternas de mão e uma lanterna maior para iluminar a uma distância mais abrangente. A novata pegou uma menor enquanto que Liza rapidamente pegou a lanterna maior e começou a iluminar o local ao mesmo tempo em que a novata continuava atirando aleatoriamente. Os tiros descontrolados pareceram não assustar o adversário do grupo. Agora em tensão e preparado, JackSBullet procura sua vítima para que pudesse travá-la em sua mira que aparecera em sua visão assim que botou o dedo no gatilho.

—Ele é de que classe?

—Não sei dizer, pode ser espião, vendedor de informações. Depende, estamos num lugar próximo a uma batalha real, então é de se esperar.

Sem que ninguém percebesse, o vulto deu um chute nas costas de Jack levando-o ao chão, Liza girou seu corpo e consequentemente a lanterna que refletiu sua luz brilhosa numa faca que estava na mão do player que os tentava matar.

—É um PK! (PK = Player Killer = “Assassino de jogadores”)

Sem intenção nenhuma, a novata acabou fazendo 15 disparos contra o corpo virtual do assassino que rendera Jack no chão, levando sua barra de HP a ficar vazia num instante. Entre gritos de raiva, o corpo caiu no chão e se desfez em vários polígonos vermelhos que flutuavam junto com uma fumaça da mesma cor.

—Ufa! Essa foi por pouco...

—Liza! Eu disse que era perigoso!

—Ah Jack! Para de reclamar seu medroso!

—Hey vocês... O que é isso?

A novata chamou a atenção dos dois para uma janela que havia aparecido para ela.

—“Você subiu para o nível nove...”?

Os dois trocaram olhares entre si, pasmados.

—O quê?! — Disseram Jack e Liza correndo para olhar a janela.

A janela explicou tudo o que havia acontecido. A novata tinha feito um combo que maximizou a experiência ganha fazendo-a subir oito níveis seguidos. A partir do primeiro tiro feito por ela, todos os tiros que ela desse dentro de um intervalo de um segundo (sem que outro jogador interferisse, ou errasse um disparo) até a morte de um jogador acumulariam uma pontuação extremamente grande para o nível em que ela estava, dando-a um impulso no processo.

—V-Você deu um Ultimate Combo! (Combo que leva o jogador oponente a zero HP, sem interferências ou erros)

—Hehehe... Parece que sim.

—Vamos sair daqui. Já pegamos o que precisávamos. — Disse Liza correndo para a entrada principal.

—Espera, deixa eu pegar uns itens também!

—Lá fora você pega! Deve ter o mesmo tanto que aqui.

—Droga...

—Ouvi alguém reclamar?!

—Ah não! Não foi ninguém! Acho que foi uma gravação do sistema de som! Hahaha...

—Sei...

Enquanto isso, nas alturas, Phantom foi para em complexo recreativo sobre vários prédios (o teto de um tinha piscinas, outro uma praça de alimentação e lojas de souvenires, ainda outro com um simulador de batalhas de curto alcance e outro com um simulador de batalha de médio alcance, todos unidos por uma grande praça ao meio sustentada apenas pelas passagens que os ligavam onde por baixo havia apenas um grande cruzamento de avenidas). Na praça central, Phantom chama MidNight para uma batalha de curto alcance:

—Que tal fazer o sangue ferver? Quer lutar com espadas?

—Pra mim tá tudo bem. — Disse MidNight pousando e desfazendo suas “asas” de energia.

Kyaro entregou então uma espada a seu adversário. Mais precisamente, uma espada parecida com as de esgrima, porém, que não se curva, dura e afiada na ponta. Quando MidNight disse estar pronto, Kyaro partiu para cima e, com toda a sua força tentou dar uma pancada na cabeça de MidNight com sua espada. Ataque bloqueado. Segurando com as duas mãos sua espada, ele lixa sua espada na de Yoshi fazendo-o recuar à luz de faíscas. Numa ofensiva lateral, MidNight tenta atacar enquanto Kyaro estava desequilibrado. Pancada certeira. Kyaro perde o equilíbrio e cai no chão, porém não soltou sua espada. Com um frio que percorreu toda a coluna vertebral, ele vê sua morte diante de seus olhos... sendo evitada por seu reflexo.

O corpo de Shadow se esquivou involuntariamente de um ataque final na hora H fazendo que a ponta da espada de MidNight penetrasse entre os ladrilhos de pedra polida do chão da praça. Aproveitando essa oportunidade, Phantom rapidamente revidou encravando sua espada entre as costelas do corpo virtual de MidNight. Mesmo que ele ainda não tivesse chegado ao estado [Morto], polígonos vermelhos saíram de onde ele foi acertado pela espada (Os jogadores sentiam as dores dos efeitos, mas estas não eram excruciantes como seriam na vida real). Em plena fúria, ele pisou fortemente sobre o corpo de Yoshi que ainda estava no chão causando-lhe uma grande dor no estômago. Phantom se contorceu pelo chão tentando conter a dor que lhe fez soltar a espada encravada no corpo de seu adversário. Foi aí que MidNight teve a sorte grande, ele tirou a espada de seu corpo e desenterrou sua espada do chão da praça. Olhando de lado, Phantom pode perceber o que ele tramava e rapidamente se tornou neutro, invisível, dificultando um pouco os golpes que acabou recebendo de MidNight. As barras HP de ambos estavam abaixo da metade, na zona amarela (1/4 = vermelha, 2/4 = amarela, 3/4 e 4/4 = verde). Phantom tentou se esquivar várias vezes para conseguir fugir dos ataques aleatórios de MidNight, mas sempre era acertado revelando em frações de segundo sua posição naquela grande praça suspensa.

Por fim, Kyaro partiu para o ataque e deu um chute em uma das mãos de MidNight, que inevitavelmente deixou uma espada cair. O som metálico percorreu o ambiente.

Hora de acabar com isso.

Veloz como um relâmpago, Phantom pegou a espada e num ataque lançou a ponta da arma contra o pescoço de seu oponente. Entretanto, MidNight foi mais rápido e abriu suas asas voando dali e explodindo as quatro passagens que sustentavam a praça. O chão tremeu e logo Kyaro se viu indo rumo ao chão, o grande cruzamento onde carros e caminhões estavam, incluindo um de combustível.

“Já era...”

O inimigo voador e o céu se tornavam mais distantes a cada segundo que surpreendentemente demoravam a passar. O céu, apesar de ser noite, estava vermelho próximo ao horizonte e aos prédios devido aos vários focos de incêndio que MidNight provocou explodindo suas bombas.

“É o meu fim...”

Kyaro levantou sua mão levemente como se fosse seu último apelo e esperança de alcançar o primeiro lugar. Teria sido um erro um garoto ter ambição? Seria demais querer ser o melhor para tudo e todos? Seria querer demais acabar com esse estilo de jogo acomodado? Era um erro seguir as instruções? Seria querer demais... Transformar as coisas para melhor?

Sua esperança fora destruída.

Ao tocar o solo, o chão da praça se partiu em inúmeros escombros que se revolveram e expeliram uns aos outros para qualquer que fosse a direção atingindo pontos vitais dos prédios vizinhos que também vieram a desabar. Os veículos que ali de baixo estavam explodiram e já não mais existiam, e se existissem, era em forma de destroços flamejantes.

Tudo se acumulou sobre ele.

A dor em suas costas proporcionadas pelos impactos de concreto e vigas de aço retorcido sobre sua pele o prendia numa situação difícil. Logo, ele estava soterrado, temporariamente inconsciente. Ele não tinha como se mover, como respirar, como falar ou gritar, muito menos como pedir ajuda. E então, devido a isso, sua barra de HP foi caindo de porcentagem em porcentagem. Seria esse o seu fim?

Lá do alto, MidNight apenas observou o que parecia ser o fim da batalha. Ousado, desceu para ver a situação. Uma fina poeira correu pelo seu arredor ao tocar o chão. Andando pelo terreno irregular, ele começa a gritar:

—Não me subestime seu bastardo! Eu poderia fazer muito mais do que isso!

Ele pausou na esperança de ouvir a voz de arrependimento de Kyaro, mas continuou:

—Não se meta nos negócios do primeiro seu maldito! Tudo está bem do jeito que está agora! Ninguém precisa de um novo Top 1 nessa joça de Cruzeiro!

Quando terminou, olhou ao redor procurando por um sinal de vida (já que a batalha ainda não havia acabado).

—Você é persistente, subalterno. Vou deixar um presente pra você então.

MidNight tirou da janela virtual de seu inventário uma bomba relógio e a programou para explodir em 3 minutos. Rapidamente saiu dali e foi em direção à zona norte da cidade principal, até porque, para ele, a batalha já estava encerrada. A área da batalha foi entendida como sendo todo o território nacional pelo sistema, já que a área de raio de quatro quilômetros combinada foi apenas de modo verbal e não técnico restritivo.

Perto dali, o grupo de Liza acabara de sair do Shopping e presenciam uma grande nuvem de poeira vinda em sua direção pelo cruzamento que dava acesso à rua do quarteirão do prédio. Jack logo comenta:

—Um prédio deve ter desabado. Não podemos ir pra lá sem uma máscara ou vamos morrer asfixiados.

—Jack... Você tem razão, por mais que eu odeie...

Uma brisa advinda da nuvem de poeira passou pelo grupo e junto com ela veio...

—Um... Polígono...? — Perguntou a novata.

—A-Alguém está ferido, temos que ir pra lá agora ajudar!

—Mas Liza, isso não faz sentido! Você roubou os itens das pessoas agora pouco, por que quer ajudar outra que está para perder os dela? É seu pretexto pra poder roubar? E mesmo assim, não tem como saber se esse polígono é de morte ou de ferimento!

—Olha aqui Jack! Já chega! Se você não tá a fim de ir, então você tá contra nós. Além do mais, ajudar uma pessoa a não perder seus itens e bens é diferente de roubar os de uma pessoa que vai perdê-los de um jeito ou de outro! Eu já tô condenada a trabalhar com a força nacional só porque você não quis me ajudar aquele dia e agora você quer me atrapalhar também?! — Disse ela com um olhar amedrontador enquanto apontava sua arma para a cabeça de Jack.

—L-Liza... Não está sendo dura demais com ele?

—C-C-Calma Liza! Eu só tava falando o que a lógica quer dizer...

—Quem quer saber de lógica? Garoto.

—...

Jack se calou e apenas as seguiu pela densa nuvem de poeira dos escombros que acertaram o chão. E, assim, logo chegaram ao cruzamento onde Kyaro estava soterrado. Os três se dividiram para buscar a pessoa que estava em apuros, Jack andou por um lado olhando sobre as pedras e destroços. A novata cavou um pouco os escombros e a poeira. Já Liza (ou Sayouni), procurou por mais polígonos.

A novata continuou cavando até que um polígono apareceu em sua frente. Ela chamou Liza para ver aquilo e cada vez mais polígonos começaram a sair dali. Rapidamente as duas, percebendo que aquele era o local, começaram a cavar. Foi difícil, mas com bastante esforço as duas conseguiram remover os escombros que cobriam o corpo virtual. A primeira coisa que encontraram foi uma parte do cachecol de PhantomShadow.

—Mentira... — Disse Liza perplexa.

—O que Liza?

—Não pode ser, você está brincando comigo...!

—Como assim, eu não tô entendendo.

—Ele está aqui em baixo.

—Ele...? Ele quem?

—«PhantomShadow» está aqui.

Nesse momento a ficha caiu para a novata.

—Então... Ele perdeu a batalha...?

—Não se o corpo dele ainda estiver aqui. Rápido, vamos tirar ele daqui!

As duas cavaram ainda mais fundo, mas enquanto isso, do outro lado da praça, Jack achou um objeto um pouco estranho. Era difícil dizer o que era, mas possuía um relógio eletrônico. Foi quando Jack percebeu, aquilo era uma bomba relógio e faltava um minuto e meio para ela explodir.

Os postes pegando fogo e o combustível espalhado sobre o chão eram algo perigoso, que Jack fez o favor de prestar atenção. Chegando a Liza, ele relatou:

—L-L-Liza, aqui é muito perigoso! Seja lá quem for que está aí, se apresse, tem uma bomba aqui perto e falta menos de 90 segundos para ela explodir!

—Uma bomba?!

—Sim! E tem combustível espalhado pelo chão, se um desses postes cair em cima dele, nós podemos nos considerar mortos!

—Não fique aí parado, ajuda a desenterrar ele!

Jack se juntou à novata e à Liza naquele desafio. Até que, por fim, eles conseguiram retirar o corpo de Phantom. Quando Liza e a novata se preparavam para sair com ele dali, Jack correu para o lado contrário. Estranhando, Liza perguntou:

—Jack, o que você está fazendo?!

Ele apenas levantou seu braço, nele estava a bomba. Jack sorriu e sussurrou:

—Salvando essa partida.

Mesmo que não pudesse ouvir, Sayouni entendeu a mensagem e apenas sorriu de volta enquanto ele corria pela rua oposta levando consigo a própria morte debaixo dos braços.

Já era de se esperar que após alguns segundos a bomba explodisse destruindo o corpo de Jack, mas como a distância do explosivo havia sido “duplicada”, o dano não chegou à novata, Liza e Phantom. Parando sob uma marquise de um prédio de vizinhança comum, Sayouni verifica a barra de HP de Phantom, que por sinal já estava na zona vermelha. Procurando freneticamente um item regenerativo em seu inventário, ela arranja um que não o curou por completo, mas removeu-lhe a inconsciência. Kyaro acordou sentindo dores e muito desconforto, porém, vagarosamente. Ele olhou através da poeira que caía de seu cabelo para o rosto de «LightGirl42» que com preocupação o observava voltar a si enquanto ajeitava seu cabelo cor-de-rosa.

—... Hmm? Onde eu tô?

—Você tá em algum lugar.

Phantom sorriu e continuou:

—... Mas disso eu sei.

—Então pra que você quer saber mais?

—Porque eu preciso acabar com ele.

O avatar de Kyaro estava muito fragilizado e isso refletia em como ele interagia com o ambiente, pelo fato de ter várias fraturas e injúrias, o garoto falava de um modo sem fôlego e às vezes engasgava.

—Você precisa usar um item regenerativo rápido.

—Pode usar minha mão? Digo, não consigo mexê-la pra acessar o menu.

Sayouni se surpreendeu, afinal, outra pessoa pedir para acessar seu menu é um grande ato de confiança. Qualquer um poderia se aproveitar e roubar os itens, armas, dinheiro entre outros do jogador, por isso essa ação era encarada desse modo.

—T-Tem certeza?

—Se você se deu o trabalho de me desenterrar e me trouxe até aqui, então creio que não vá fazer nada de mal comigo, não é?

—...

Sayouni pegou a mão de Phantom e acessando o menu com ela, usou um item que em meio minuto recuperou Phantom por completo.

Ele se levantou e se curvou diante de Sayouni, exatamente como fizera na estação mais cedo. Sayouni notou alguma semelhança, mas achou que foi apenas coincidência. Olhando-a com determinação, Phantom disse:

—Temos que sair daqui, é perigoso, tenho certeza que ele colocou bomba até no último buraco.

—Mas como vamos fazer isso? — Indagou a novata.

Shadow olhou ao redor procurando a proprietária da voz. «FinalYumi» era o nickname da garota que estava falando. Ela usava um casaco de tecido “reto” por assim dizer, que não era fácil de se dobrar, uma saia, luvas em suas mãos e botas de cano alto em tom canela.

“Tsumi...?”

Kyaro reconheceu a voz de Tsumi, entretanto, Tsumi não reconheceu a dele (Porque ele a disfarçou com um programa).

—B-Bem, deve ter algum carro por aqui.

Olhando o cenário destruído em chamas e escombros assim como fumaça, Phantom vê um carro em condições de se mover. Sayouni adicionara Phantom ao grupo que saiu correndo em direção ao veículo. Fazendo um macete incompreensível para Liza e Yumi, ele passa o controle do carro para seu avatar. A seta no canto inferior direito e o mapa de batalha mostravam a direção que levaria Kyaro a seu oponente

Do outro lado da cidade, numa festa de gala onde estava na companhia do primeiro, MidNight vê a barra de HP de Phantom se encher novamente no canto de sua visão. Ele se encheu de fúria e raiva detonando tudo na área da batalha, a partir do navio onde estava.

Enquanto isso, na área da batalha, Phantom era quase que cegado pelas explosões e nuvens de poeira que estas levantavam. Correndo entre prédios que caíam sobre tudo sem piedade, Kyaro fez o máximo que podia para não ser pego naquele caos. O carro seguiu fielmente por uma longa e larga avenida que não tinha muitos escombros deixando assim o caminho para fora daquele lugar livre.

Mas MidNight havia enfestado o metrô de bombas também, logo os bueiros começaram a explodir em fogo para cima a toda a potência. Desviando com todo o cuidado e sangue frio, o carro enfrentou aqueles empecilhos até que a avenida se mostrasse num fim bloqueado por destroços que formavam uma rampa.

—Se segura aí! — Gritou Phantom se preparando para o pior.

O automóvel, em toda a sua velocidade passou por cima dos pedaços de concreto entrando numa zona anti PVP de uma forma nunca antes imaginada. Quando tocou o solo, todos perderam um pouco de HP, pois o impacto foi grande para se sair ileso. As pessoas que estavam observando a polícia, e a própria polícia que não deixava as pessoas se aproximarem dali, ficaram impressionados com a cena.

Os postes passavam rapidamente pela visão dos três não tendo tempo suficiente de iluminar o interior do veículo. Com um mapa aberto na poltrona do carona, Sayouni buscava atalhos, Kyaro dirigia atenciosamente enquanto ouvia as orientações de Liza e Kachiharu apenas lia os manuais do jogo de como se atirar e como fazer coisas básicas como acessar o menu, usar itens, equipar, etc.

Chegando a um porto, os três se deparam com um grande inconveniente enquanto olhavam o navio no horizonte. O mar.

—Obrigado pela companhia, mas agora eu só posso continuar sozinho.

—Mas e se você precisar de nós de novo? — Liza demonstrou preocupação.

—Vou dar motivos pra não precisar. Podem confiar em mim.

Enquanto ele ativava suas botas com jatos, Jack chega ofegante.

—J-Jack? Como você nos achou?

—Eu também tô... No gru-po não tô? Qual é o problema agora?

—Temos que chegar naquele navio. — Apontou Tsumi.

—Ah! Isso é fácil. Mas parece que alguém vai seguir um plano diferente.

Phantom confuso olhou para baixo e percebeu que Jack falava dele.

—É... Eu preciso acabar com isso rápido.

—Então... Vocês duas, venham comigo, Phantom vai voando certo? Nós vamos boiando.

—Boiando? Como assim? — Perguntou Liza.

—Tenho minhas cartas na manga também.

Phantom olhou Jack com um sorriso no rosto.

—Então, vejo vocês lá!

Todos soltaram um grande “Ok!” e correram para direções opostas. Phantom em direção ao navio e Jack, Liza e Yumi em direção a um galpão. Lá dentro, havia uma lona sobre o que parecia ser três grandes objetos. Tirando a lona empoeirada, Jack revela três Jet skis.

Não demorou muito e os três já estavam indo a todo o vapor em direção à embarcação no horizonte do mar. A água, relutante, era arremessada para os lados enquanto o grupo passava por ali. O vento esfriou o rosto de Tsumi que tentava manter o controle enquanto continha a emoção obtida em seu primeiro dia de jogo. Algo soava familiar para ela naquela pessoa, mas era insuficiente para despertar sua curiosidade.

Phantom, quando chegou ao navio, fez questão de pousar de um modo e em um lugar que ninguém pudesse percebê-lo. Descendo aos corredores do convés, ele se escondeu dos seguranças que faziam sua ronda por ali. Foi assim que Kyaro chegou ao compartimento onde ficavam armazenadas as grandes baterias que alimentavam o navio.

“Você fez isso comigo, então eu vou só retribuir o favor.”

Atirando nas grandes baterias, um grande estouro foi ouvido. O fogo tomou conta da sala de paredes metálicas e acabou danificando o casco do navio que começou a afundar lentamente (No ritmo que a água entrava, não sobraria nada na superfície do mar dentro de duas horas, tempo suficiente para Phantom). O objetivo disso foi interromper o funcionamento da zona anti PVP.

As luzes se apagaram e as de emergência ganharam força. Os convidados da festa, isto é, empresários, acionistas, políticos, enfim, pessoas da elite, estavam todos lá, confusos.

MidNight queimou em ódio e disse que procuraria por ele, mas, impedido pelo primeiro, este disse que era melhor esperar e sentar para apreciar o espetáculo.

Phantom quebrou a cúpula de vidro por cima do saguão onde ocorria a festa, desceu num pulo e apontou sua arma para MidNight. Ele estava sem fôlego, sua roupa estava em parte suja com o estrago feito durante toda a batalha e suas mãos estavam trêmulas, afinal, apesar de estar na visão periférica, o primeiro podia ser perfeitamente visto.

—Huh? Ele está com medo? — Perguntou MidNight ironicamente.

—Por que será? — Brincou o primeiro.

Phantom estava assustado, mas manteve o sangue frio focando apenas no sexto.

—Ora, ora, ele não desiste mesmo. Isso já está acabado... «PhantomShadow».

Ao estalar os dedos, todos os convidados, homens e mulheres, sacaram suas armas mirando em direção a ele. Para espantar seus calafrios, Phantom resolveu satirizar o momento.

—Desonestidade rola solta nesse lugar, não é? Parece que nosso presidente faz campanhas contra corrupção quando o corrupto é ele. Ó ridículo fantoche.

—Ridículo fantoche? Eu sou o manipulador aqui!

Ele sacou sua arma e atirou contra o corpo virtual de Kyaro. O recuo da arma em sua mão foi tão forte que seu braço se inclinou 45 graus para cima. Mira impecável, acerto implacável. O corpo se explodiu no mesmo instante.

Como deve-se ter ficado claro, a habilidade especial como fantasma de Phantom o dá três possibilidades: Paralisia por medo, neutralidade e por fim, como visto no duelo com SnowPrincess, duplicação de corpo.

O raio da explosão foi grande o suficiente para danificar a todos. O corpo falso se foi.

Tiros foram ouvidos e, um a um, os convidados foram reduzidos a polígonos vermelhos flutuantes. MidNight e o primeiro não entenderam muito. Jack, Liza e Yumi chegaram ao local onde ajudaram Phantom a ter sucesso. Tsumi logo estava no nível 27 devido ao compartilhamento de experiência do grupo e vários Ultimate Combos. Era insuficiente para aquela ocasião, mas era algo que a dava muito orgulho.

Kyaro, como não tinha visto Tsumi nenhuma vez em ação, se impressionou com a destreza dela em finalizar com facilidade players com muitos níveis acima do dela. No fundo ele estava até feliz por ver aquilo.

Quando não havia mais convidados no lugar (e como os seguranças já haviam sido apagados antes), Kyaro desceu novamente ao saguão, porém, em seu corpo verdadeiro.

—Agora que o terreno está “plano”, vamos aos negócios.

O primeiro atirou novamente, mas sua bala foi desviada por um certeiro tiro de Yumi que se assustou com o ruído repentino. Phantom apenas continuou olhando MidNight com um sorriso sarcástico em seu rosto. Phantom não havia planejado aquilo, foi um acidente que salvou todo o resto da batalha. O primeiro continuou:

—Parece que eu contratei alguém muito inútil pra executar esse serviço. Deixe que eu termine por mim mesmo.

Um frio percorreu a medula espinhal de Kyaro ao ouvir as palavras do primeiro que sacou rapidamente uma espada e num piscar de olhos perfurou o corpo de Shadow. A tensão correu em suas veias, mas não tinha como escapar agora. Pulando antes que seu oponente pudesse perceber, ele retirou outra espada e começou a cortar PhantomShadow de todos os lados possíveis. Até MidNight ficou assustado.

Habilmente Phantom tentou se desviar muitas vezes, mas só em uma ou duas teve sucesso, até que, por último, este recebeu um golpe especial em forma de super soco que o arremessou de volta para fora do barco. Nas alturas, Phantom podia ver claramente a cidade e seus prédios e pontes iluminados refletindo a si mesma na límpida água do mar. Quando percebeu que estava para cair, ele pensou:

“É agora...”

Jack, Liza e Yumi já estavam em seus Jet skis antes do melhor que estava por vir. Phantom já sabia como tudo ocorreria desde o começo da batalha (com exceção do tiro decisivo de Tsumi), dando assim início ao seu ataque mais que definitivamente final. Ele apenas deu um comando de voz num rádio que tinha ao seu dispor.

Em seguida todo o casco da embarcação se estourou em chamas e fumaça, por todos os lados. Até parecia filme de agente infiltrado do governo norte-americano, os três se preparando para fugir da zona do crime apenas observaram o espetáculo, pasmados. Fragmentos voaram pelo lugar sendo violentamente levados ao nada. Kyaro sentiu seu cachecol subir por si e percebeu que estava caindo, quando no mais, ele já estava dentro da água que numa cerimônia o abraçou com uma pequena festa. Exausto, fechou seus olhos e apenas se deixou afundar. A luz da lua se tornava cada vez mais fosca conforme ele descia mais e mais profundo, até que não pudesse enxergar mais a luz do incêndio que ocorria na superfície. O oxigênio de seu avatar estava se esvaziando e ele estava ciente disso.

As bolhas corriam pelo corpo fazendo cócegas no garoto que tranquilamente viajava em direção ao assoalho aquático. A mensagem de congratulações logo apareceu, seu brilho iluminou o rosto de Kyaro em meio àquela escuridão.

“Eu... consegui...?”

Ele não planejava ficar por ali, afinal a cerimônia de passagem de título deveria acontecer se ele queria realmente alcançar seu objetivo. Então apenas esperou. Seu corpo sumiu quando o HP chegou a zero e materializou-se na superfície onde MidNight e ele ficaram de pé sobre uma plataforma quadrada em branco que apareceu. Um olhando ao outro.

Sem muita cerimônia, MidNight abriu seu menu onde teve a mesma visão que SnowPrincess. O texto comprometido em vermelho remexia-se como gelo dentro de um liquidificador ligado. Descendo a barra de scroll, este chega ao famoso botão que concedera a Phantom o sétimo lugar. Avançar duas posições de Top 10 em um período de tempo tão curto era inacreditável. O oponente formidável deu um recado e após tocou o botão.

—Está pronto para viajar pelo interior?

—... Interior? Como assim?

—Ah é... Ninguém te falou né? Todos os outros membros do Top 10 moram nos andares abaixo da cidade principal, o segundo está no último.

—Então...

—Sim, sim, você vai ter que desvendar todos os outros andares. Eu aconselharia comprar uma casa em cada andar e ter um carro, afinal, eles geralmente moram ao lado da entrada do próximo andar que é exatamente no extremo oposto da entrada do atual. Então morrer e vir pra cá toda vez depois disso seria um incômodo muito grande não é? Por isso que eu parei e tô aqui na minha “zona de conforto”, como te disse antes.

—Eu... Nunca imaginaria uma coisa dessas.

—Não tem problema, mas, agora que não posso mais te parar, vou te dar um presente por ter ganhado e uma dívida por ter me irritado. O presente é uma casa no andar quatro, já que aqui é o 5º.

Após dizer isso, MidNight se dirigiu à borda da plataforma onde ativaria suas placas energéticas de voo.

—Obrigado, mas qual é a dívida que eu vou ter que pagar. — Perguntou Kyaro checando a janela virtual com a escritura da casa que recebera.

—Você paga tudo o que nós destruímos!

Ele voou e sumiu dali rapidamente enquanto que Kyaro apenas o observou desaparecer no céu estrelado.

—O QUÊÊÊÊ?!

Não muito longe dali, os três que ajudaram Yoshi começaram a rir consigo mesmos. Aquela cena foi patética. Liza e seus parceiros, depois de se divertirem bastante foram até Shadow parabenizá-lo.

—Parabéns Phantom!

—É assim que se faz! Aquilo foi demais! — Disse Jack apontando para onde o navio estava.

—E-Eu estou impressionada P-PhantomShadow-san! — Disse Tsumi.

—Eu é que estou impressionado com você! Hahahaha! Nunca vi alguém conseguir dar tantos Ultimate Combos com tanta frequência!

—E-Eu só tive sorte.

—O quê? Sorte? Nunca que aquilo seria sorte, você tem uma grande carta na manga.

—Está me deixando envergonhada PhantomShadow-san.

—Não precisa me chamar pelo Nick todo, me chame só de Phantom ok? E quanto a você Jack, você realmente me surpreendeu aquela hora! Obrigado cara.

—Não foi nada, temos que ajudar nossos parceiros, não é? — Jack disse isso dando uma rápida olhada para Liza que estava ao seu lado, Phantom logo entendeu.

—Você também Liza, sem você eu teria perdido a batalha ainda na metade.

—Ah! Que isso? Eu faria de novo só pra sentir o gostinho da aventura! Hahahaha!

Kyaro já se preparava para o pior quando abriu o relatório financeiro pós-batalha. Ele hesitou um pouco, mas exibiu a janela. Ao ver as pilhas de números e contas matemáticas, a cor sumiu de seu rosto, ele de fato parecia que tinha visto um fantasma. Seu rosto travou num sorriso torto e seus olhos se vidraram no resultado final do relatório. A mudança de humor repentina foi perceptível para todos.

—H-Hey... O que aconteceu? — Perguntou Liza.

—Eu tenho que destruir menos coisas quando for batalhar novamente... — Disse Phantom decepcionado.

—H-Huh... Nós podemos ajudar a pagar...?

Ao virar a janela para o grupo ele disse:

—Acho que não...

Era mais dinheiro do que o que eles poderiam ganhar no jogo com dois anos jogando direto, sem parar para dormir, comer ou assistir às aulas. Todos se assustaram com o valor.

—V-Vai ficar tudo bem? Você vai conseguir pagar? — Perguntou Yumi.

—Acho que vou ter que pedir pra pagar parcelado... Talvez eu possa pagar com o dinheiro da minha empresa, mas... os investidores, acionistas e a mesa de diretores não vão gostar nada disso.

—Desculpe por não podermos fazer nada... — Disse Liza enquanto recebia uma mensagem da Guarda Nacional.

—A culpa não é de vocês, eu vou tomar conta de tudo... Hey, Liza, o que é isso? Por que você está com uma mensagem da guarda nacional? — Disse Phantom olhando intrigado a janela em tons de preto e vermelho.

—Ah! Isso? N-Não é nada! Nada mesmo!

—Deixa eu abrir o jogo. Quando você tava tendo sua batalha com a SnowPrincess, a Guarda Nacional chegou pra prender você porque você tinha “feito estragos” no palácio presidencial, aí a Liza se juntou a um grupo de jogadores que queriam que você ganhasse e eles lutaram pra te dar mais tempo de batalha, mas antes disso, a Liza fez uma promessa com eles que se ela perdesse, ela e mais outros jogadores fariam parte da Guarda. E aí, agora ela tá com essa mensagem aí.

—Aqui tá dizendo que seu treinamento inicial começa amanhã no tempo interno.

—Y-Yumi! Não olhe isso!

—Você tá numa fria... Eu já participei uma vez da Guarda antes de ser Top 10. Tive sorte de conseguir sair. Tive que lutar com vários soldados. Não, você não pode ficar lá, eles vão te explorar até enjoarem de você.

—E-E-E agora?! O que eu faço?

«PhantomShadow» se aproximou de «LightGirl42» e acariciou seu cabelo. Jack travou em ciúmes. Liza ficou um pouco surpresa com o gesto e então perguntou:

—O que eu tenho que fazer?

—Nada, eu vou te tirar dessa.

—Mas como?

—Se alguém lhes pagar uma bela quantia em dinheiro, eles fazem parte do que você quiser que eles façam.

—Mas você já tem muitas coisas pra pagar! Não posso aceitar isso.

—Fica tranquila. Os próximos lucros da empresa estão chegando então eu posso adiar o pagamento da área destruída em alguns dias.

Percebendo que ficou sem argumentos, Sayouni apenas abaixou sua cabeça envergonhada, seu rosto estava um pouco vermelho. No fim ela aceitou o favor de Phantom. Jack apenas observou a cena, com um pouco de desgosto, isto é, ciúme.

Kyaro pagou a Guarda Nacional para a retirada de Sayouni, o que foi algo difícil de conseguir. Ele pagou o conserto do apartamento onde vivia e do complexo inteiro, assim como a rede elétrica, de distribuição de água, estradas e metrô. Ainda assim, os prédios continuavam destruídos.

No quarto do apartamento de Phantom, ele sentou-se na cadeira de escritório em frente ao telão e girou até que ficasse de frente para a janela. Yumi, Liza e Jack olhavam seu reflexo na grande vidraça enquanto estavam sentados à mesa pequena no chão. O cachecol de Phantom balançou de um lado para o outro, impaciente. O garoto havia acabado de sair do banho, logo, não estava com suas roupas usuais de Top 10, seu figurino consistia numa calça preta, uma camisa branca com mangas e gola azuis-claros e um cachecol vermelho.

—Parece que vou ter que viajar... Né?

—Eu não sabia que os outros Tops 10 moravam nos andares abaixo.

—Andares abaixo? Do que você está falando Jack?

—É simples Yumi. Esse mundo aqui é uma grande nave espacial dividida em cinco andares. E o que estamos agora, o da cidade principal, é o quinto. Se quiser se tornar uma Top 1, você vai ter que viajar para os outros andares para desafiar os outros Top 10.

Liza, prestando atenção no discurso de Jack, contribui com sua opinião.

—Ouvi dizer que a temática de cada um dos andares muda conforme você desce de andar pra andar, e que o quarto é mais puxado pro rural enquanto que o quinto é urbanizado e civilizado.

Phantom continuou olhando a janela. Grandes nuvens se formavam no céu escuro que passou a ser iluminado unicamente pela luz da grande capital já que a luz da lua foi bloqueada pelas nuvens. As gotas começaram a cair lavando os prédios destruídos e toda a sua poeira. Enfim, Phantom se virou para o grupo de amigos e perguntou:

—Por que vocês não tomam um banho?

Liza dobrou seus braços e uniu suas mãos próximas ao centro de suas clavículas dando as costas a Kyaro.

—Então você é desse tipo?

Jack morreu de rir enquanto Yumi olhava envergonhada fazendo a mesma coisa que Liza. Quando percebeu o que Liza tinha dito, Phantom pediu desculpas desesperadamente, mas isso só reforçou a tese de LightGirl42 que depois de muito tempo sendo implorada por seu perdão e ouvindo esclarecimentos do novo Top 6, acabou cedendo. E lá foram elas, Tsumi e Sayouni juntas para o banheiro.

Quando as duas entraram, Jack se virou para Phantom e lhe perguntou:

—Você vai espiar?

—O-O quê?! Você tá doido?

—Bem, você é um cara ou não é?

—Sou! Mas é claro que não vou fazer isso. Além do mais, tenho umas coisas pra te perguntar. Pedir a elas pra tomarem banho foi só uma desculpa pra termos essa conversa a sós.

—O q--?!

—Eu vou abrir o jogo.

“Esse cara deve tá pensando um monte de porcaria a esse ponto da conversa...”

—Você gosta da Liza não é?

—M-M-Mas o que?! Por que isso de repente?!

—Você insinuou isso lá no meio do mar, não lembra?

—A-Aquilo foi...

—Aham, sei.

—Eu tô falando a verdade!

—Cara, seja mais honesto consigo mesmo.

—Tá bom, tá bom! Sim... Eu gosto dela... E daí?! Algum problema?

—Nenhum.

—Mas por que está me perguntando isso agora?

—Por que você tem que conquistá-la!

Jack se calou e ficou olhando Phantom com um olhar penetrante.

—Hey! Não precisa ser tão pessimista! Você pode conquistá-la assim ó! — Disse ele enquanto estalou os dedos.

—Eu poderia se não tivesse um fantasma no meu caminho.

—Ah, o que? Isso? Ela só tem admiração por mim, não é amor.

—Como você sabe disso?

—Quando se tem várias fãs que parecem te amar, você aprende a diferenciar! Hahahaha! — Dizia ele com um olhar motivado.

—Então eu tenho uma chance?

—Tem não, sempre teve.

E assim a conversa decorreu até que as garotas saíram do banho e Jack fosse tomar o seu, que, aliás, foi merecido. Continuava chovendo e Phantom perguntou se elas queriam deslogar, treinar ou passar a noite ali.

—Ah...! Eu acho que seria melhor a gente dormir aqui... — Disse Liza alongando os braços e bocejando.

Rapidamente Shadow deu uma olhada para Jack como se estivesse dizendo “é uma oportunidade”. Arrumados a cama e os colchonetes, todos se preparavam para dormir. Phantom na cama e os outros nos colchonetes. O leve som da chuva agradava o momento de sono. O grande relógio digital na parede marcava 07:43 PM2 discretamente. O ar-condicionado se movia regulando onde deveria esfriar melhor, a grande vidraça tornara-se fosca para evitar entrada de luz.

Yumi, Jack e Liza estavam deitados uns do lado dos outros. Tsumi era a única que estava virada para a parede e corretamente coberta. Já Jack estava dormindo de cabeça pra cima, coberto somente no tórax e de braços e pernas abertos. Sayouni, em toda a sua delicadeza, estava dormindo de “conchinha”, virada para Jack. Procurando algo em que pudesse se segurar inconscientemente, ela encontra o braço de seu companheiro de batalha e aluno. Seu rosto estava tranquilo e sua respiração suave, assim permaneceu durante toda a noite.

—Eles parecem bem à vontade... — Comentou Yumi.

—Você tem razão... — Retrucou Phantom olhando a cena a frente de seus olhos.

Liza estava dormindo abraçada em Jack.

Phantom e Yumi decidiram esperar pelo acordar deles para que pudessem todos deslogarem juntos, então o garoto e sua amiga de infância (a qual ainda não tinha o reconhecido) foram pesquisar sobre o quarto andar no grande computador ao canto do quarto. Kyaro se sentou em sua cadeira e Tsumi apenas assistiu as grandes tabelas com textos e imagens coloridas que apareceram na janela do navegador.

—Hey, Phantom-san, onde você mora? Digo, na vida real.

—Isso é um segredo. Não posso contar.

—Nem pra mim? Eh... Por quê?

—Não quero correr riscos, e nem que você passe por eles por minha causa.

—Como assim, riscos?

—Liza pode te contar tudo se você quiser depois.

—...

Mas, como tudo que é bom dura pouco, o alarme soou (baixo), já era de manhã e eles precisavam ir para a escola.

Sayouni acordou lentamente e sentiu uma sensação relaxante em seu corpo. Como seu cérebro ainda estava despertando, ela voltou a deitar sua cabeça sobre o corpo de Jack que ainda abria seus olhos, com sono. O alarme continuou persistentemente, mas Kyaro e Tsumi nem ligaram muito e continuaram suas pesquisas.

LightGirl42 parecia bastante confortável ali, mas foi forçada a acordar. Quando finalmente caiu em si, estranhou o que pensava ser um “objeto” em que estava deitada. Ao olhar mais amplamente, percebeu que era Jack. Seus rostos estavam bem próximos e ele ainda estava zonzo de sono.

O rosto dela ferveu de vergonha.

Ela começou a gritar, o que obviamente assustou Jack que acordou na marra. Achando que ele havia se aproveitado disso, ela logo lhe deu um tapa na cara e um soco que o fez sair de seu colchonete e bater a cabeça na parede.

—Tão energética logo de manhã... — Tsumi e Kyaro apenas observavam.

Sem dizer mais nada, Liza rapidamente realizou o LogOut do jogo. Eles trocaram olhares e comentaram um pouco sobre o assunto jogando piadas de tempos em tempos, mas no final acabaram deslogando também.

...

Acordando no mundo real, Sayouni moveu sua mão para cobrir a fresta de luz que atravessava a cortina quase fechada. Tocou seu capacete como alguém que pede por piedade após ser manipulado, mas ela sabia que estava tudo bem.

Os carros começavam a passar pela avenida mais intensamente. As pessoas se preparavam para seus expedientes de meio período ou integrais, os telões presos aos prédios das avenidas mudavam o tema de seus assuntos mostrando o que era mais apropriado para seus consumidores. O sol nascia e as sombras projetadas começavam a se tornar não muito úteis para quem estava fora de casa naquele momento. Hoje seria o segundo dia de aula, e ela já se sentia entediada, só de pensar nisso.

Por um segundo, ela se lembrou do que aconteceu no apartamento de Phantom. Surpirou resmungando.

—... Acha que pode ficar tão íntimo assim de mim...?

Removeu o capacete e deixou cair seu cabelo sobre a gola de seu pijama. As paredes cor-de-rosa continuavam intactas, os pôsteres de cantores coreanos, de animes japoneses e de bandas americanas continuavam pendurados lá normalmente. Tudo estava como devia ser. Sayouni tirou seu pijama e colocou em seu lugar o uniforme da Teacher Gary Benson combinando seu cabelo azul-claro com o tecido azul-escuro. Ela pegou um controle de videogame que Jack havia esquecido ali quando a visitou pela primeira vez, era um modelo antigo, portanto, sem muito design e assim, retangular. Hikari pegou o controle como quem não queria nada demais, entretanto pela força do hábito, apontou o controle com destreza e como Liza, mirou na lâmpada de seu quarto.

Ela espremeu suas pálpebras e com o sangue fervendo, quase fingiu que atiraria. Sorriu. Percebeu a estupidez de seu ato e apenas jogou o controle em cima de sua cama com os cobertores bagunçados. Ela pegou seu celular e, por comando de voz, afirmou:

—Pesquisas sobre Thinker APPC. (Arm portable personal computer = “Computador pessoal portátil de braço”)

Uma série de links foram abertos numa página no pequeno visor do Smartphone, as novidades apontavam um futuro tão brilhante que chegava a ser enjoativo, os resultados continham palavras em negrito que realçavam o quanto ela podia se interessar pelo conteúdo.

—Nada de novo... — Sussurrou para si mesma.

Ela apenas fechou o aplicativo e confiante saiu do quarto.

...

Do outro lado da cidade, já desperto, Kyaro Yoshi buscava mais informações sobre os múltiplos andares da imensa nave Cherry dos quais nunca tinha ouvido falar. Os fóruns do jogo contavam breves e vagas histórias a respeito disso, o que certamente, nem de longe o deixou satisfeito. Nesse momento Tsumi entrou no quarto pela porta da sacada, percebendo isso, rapidamente fechou a guia de navegador, tentando imitar o sangue frio de PhantomShadow.

—Eu acho que a escola devia ser menos presencial... Sei lá...

Tsumi desabou na cama de seu amigo de infância e começou a reclamar sem motivo, como ela fazia de vez em quando.

—Mas você não ia estudar desse jeito.

—E é esse o intuito!

—As genuínas palavras de alguém que morre para estudar história.

—Mas é verdade! Por que eu tenho que estudar sobre um homem que encontrou petróleo no século passado lá naquelas praias onde sei lá quem perdeu as botas.

Kyaro se virou girando sua cadeira de escritório e encarou Kachiharu seriamente.

—Tem fundamento...

—Eu não disse? Eu sempre estou certa! Mwahahahaha!

—Sei, vai sonhando.

—Mas falando nisso, o que você acha de morar nesse continente?

—Eu vou sair daqui...

—Pra onde?

—Eu estava pensando esses dias, e parece que estão construindo um país artificial...

—País artificial? Como assim?

—Estão fazendo uma espécie de navio gigante que no futuro vai ser um país, onde as pessoas vão trabalhar e viver como se estivessem em terra.

—E como eles vão fazer pra se manter lá?

—O projeto diz que toda a energia vai ser à base de energia nuclear, os alimentos vão ser cultivados lá dentro em “fazendas” de laboratório especializadas em aumentar a produção geneticamente e melhorar a qualidade de vida. A água será do mar, só que passará por um processo artificial pra virar potável.

—Pera aí... Minha cabeça tá girando, isso é muito complicado...

—Não é não.

Kyaro levantou de sua cadeira com papéis nas mãos, papéis de uma pesquisa que ele tinha feito sobre o jogo com tudo o que lhe agradara no resto dos poucos fóruns úteis. Usou de sua lábia nos mínimos detalhes para que ela não notasse com muita força sobre as folhas, mas o senso de aluna procrastinadora falou mais alto.

—Mas já te passaram dever de casa?

—N-N-Não é dever de casa.

—Mas então é o que? É difícil te ver tocando em papel depois que você ganhou seu Dreamy...

—Não é nada não.

—Ah! Vai! Deixa eu ver!

—Não, você não pode ver, eu te falei isso ontem.

—Por quê? Não é sensato para uma menina ver isso?

—Não, eu não fico vendo essas coisas!

—Então por que você disse o contrário ontem e está escondendo tudo o que está fazendo?

—Eu não estou escondendo tudo.

—Eu quero ver isso é agora!

Ela se levantou e avançou contra Yoshi com toda sua força, mas no meio do caminho tropeçou e ambos vieram ao chão.

—Ai... Essa doeu...

Tsumi bateu a cabeça e ficou um pouco tonta, esse era o momento que Kyaro precisava, não havia porque esperar ela recuperar sua plena consciência. Porém, o corpo de sua amiga estava sobre o seu. Ele pegou seu braço na tentativa de afastá-la, entretanto ela não apresentava força o suficiente para se mover dali. A garota tentava se arrastar para alcançar as folhas que estavam na mão esquerda de seu amigo. Pior para Yoshi, naquela situação, qualquer movimento era crucial, não só porque sua verdadeira identidade estava em jogo, mas também porque Kyaro é um garoto e nesse momento ele estava em total contato corporal com uma menina.

“E agora? O quê que eu faço?!”

—Tsumi! Sai de cima de mim!

Esperneando, sem querer, ele move sua perna numa direção errada, atingindo Kachiharu em um ponto crítico. O rosto dela corou num instante enquanto olhava fixamente nos olhos da pessoa que lhe acertara. Paralisada pela sensação ela não sabia o que fazer.

—F-F-F-Foi sem quer--

Que belo tapa...

Kachiharu se afastou com seu rosto vermelho de vergonha. Ela apenas olhou o garoto puxando sua saia para baixo na tentativa de esconder algo.

—Então você é desse tipo mesmo!

—E-Eu disse que foi um acidente!

—Não disse não!

—Mas estou dizendo agora!

—E você quer que eu acredite?!

Kyaro parou por um momento e suspirou, sentou-se e colocou as folhas em frente a seu tórax onde Kachiharu podia claramente enxergar.

—Tá bem... Eu conto o que eu tô escondendo, mas você não pode espalhar, pra ninguém!

Kachiharu se acalmou e prestou mais atenção ao discurso de seu amigo, soltou sua saia e colocou o cabelo por trás da orelha.

—Sou um túmulo!

“Aberto, só se for...”

—Eu sou o «PhantomShadow»...

—Sério?!

—Não.

Tsumi jogou um livro na cara de Kyaro.

—Hey! Não precisa fazer isso!

—Você merece por me fazer de tonta!

—... Okay... Mas, continuando. Eu não sou ele, mas ajudo ele passando informações...

—Você é o informante dele?

—Sim.

—VOCÊ CONHECE ELE?!

—Sim...?

—Me apresenta pra ele!

—M-Mas eu não posso!

—Por quê?!

—Ele quer sigilo... err, e... Ah! Ele mora nas ilhas do Sul!

—Não tem problema! A gente faz uma chamada de vídeo e visita ele na excursão de férias!

—O quê que eu te falei sobre sigilo?!

—... — Tsumi apenas o olhou com seu olhar cortante.

—Podemos ir pra escola agora?

—... Sim, mas quero distância de você.

—Por quê? Eu não te falei o que você queria saber?

—Sim, mas isso não tira o fato de você ser um tarado.

“Haja paciência!”

—Já são 06:14, estamos a um minuto de ficarmos atrasados, e eu não sou tarado!

—Você é o único que está enrolando aqui, mas, antes de irmos.

—O que é agora?

—Pra você saber as coisas do jogo você tem que jogar não é, digo, nem tudo que existe dentro do jogo é coberto pela mídia externa, certo?

—Sim... Por que está perguntando isso?

Tsumi se levantou da cama e caminhou até Yoshi que ainda estava sentado, agachou-se, e próxima ao seu rosto, puxando sua gravata e consequentemente o rosto dele, disse:

—Você mentiu quando disse que não conhecia esse jogo e não jogava ele, né?

—S-Sim, me desculpe...

Tirando o excesso de força que fazia sobre o tecido, Tsumi deixou a gravata e suspirou, reclamando logo após.

—Você não tem jeito... Mentiu sobre mais alguma coisa? Aproveite que hoje eu estou aberta a perdoar as suas faltas comigo.

—Não, que eu me lembre não.

“Eu acabei de mentir!”

—Então está tudo bem...

Kachiharu soltou seu corpo sobre o de seu amigo lhe dando um abraço. A pequena queda fez Kyaro obrigatoriamente ter de se recostar na estante com livros, ele podia claramente ouvir a respiração de sua amiga e sentir suas mãos sobre suas costas.

—Idiota... — Disse Tsumi com um sorriso no rosto.

...

—Shiho~! Vem logo! A gente vai se atrasar!

Sem resposta, a menina entrou sem avisar no apartamento de Hiyari Shiho. Estava tudo muito bem arrumado como sempre. A garota passeou pela casa observando cada detalhe, desde o tapete milimetricamente posicionado até as lindas flores com paletas combinadas e ângulos de inclinação calculados.

—Shiho! Vamos! A gente não tem o dia todo!

Andando pelo corredor, ela chega ao quarto de sua amiga. Com certo receio de bater na porta, ela reúne coragem. Batendo suavemente, não recebe resposta. Mais uma vez, sem retorno. Ao final ela decidiu apenas entrar, a porta estava aberta. Surpresa, concertou suas luvas brancas e entrou no cômodo.

As cortinas estavam dançando ao vento com a janela aberta, o quarto estava brilhando, tudo estava no seu devido lugar, a paleta de cores em todo o seu requinte era em branco e vinho, demonstrando o bom gosto de sua hóspede. Enquanto isso, Shiho estava sentada em frente ao seu computador de mesa pesquisando sobre várias coisas ao mesmo tempo. Vários papéis com anotações estavam sobre a mesa ao lado do mouse, abaixo do teclado, sob o monitor e pendurados uniformemente numa prateleira acima do Desktop.

Era a centésima vigésima terceira vez que Yuuka presenciava essa cena, não admira que ela apenas se recostou na parede e cruzou suas pernas e braços tossindo para chamar atenção.

Hiyari desviou seu olhar por um instante e continuou a pesquisar o que lhe interessava.

—Sabe? Não faz parte do perfil de uma pessoa perfeita chegar atrasada.

—Estava esperando você, até porque se eu fosse antes, poderíamos nos desencontrar. E não faz parte do perfil de uma pessoa perfeita desencontrar alguém propositalmente.

—Obrigado pela consideração, agora vamos porque está ficando tarde.

—Tenho que guardar essas coisas, pode esperar só um pouco?

—Claro. — Disse Mizushima sentando-se no chão.

Hiyari ajuntou as folhas com o máximo de cuidado e as guardou numa gaveta da mesa onde estava sentada. Deu o comando de voz para que o computador se autodesligasse. Ela se levantou e pegou sua maleta.

—Muito bem, vamos?

—Sim sim.

—Você quer me dizer alguma coisa hoje?

—Por enquanto não.

—Nada? Sobre o clube, os novos membros, suas pesquisas, o que você quer melhorar esse mês, se você encontrou aquela pessoa, nada mesmo?

—Quer um relatório completo? — Perguntou Shiho saindo do quarto com sua amiga.

—Com discussão, por favor.

—Então... Sobre o clube, você já sabe o que eu vou dizer.

—Está como sempre? Precisando se superar?

—Sim. Sobre os novos membros...

—Você não tem muitas expectativas deles, certo?

—... É. Sobre minhas pesquisas, eu --

—Não encontrou algumas respostas.

—... Sim... Sobre o que eu quero melhorar esse mês, eu tava pensan--

—Em melhorar sua habilidade em jogos?

—Não! E porque você tá antecipando tudo o que eu vou falar?

—Ah! Me desculpa! Virou um hábito...

—Como uma coisa dessas pode ser um hábito?

—Bem, você sempre tem as mesmas visões pessimistas das coisas, então geralmente as suas frases se repetem mais que o nascer do sol.

—Ah... Eu não havia notado.

—sem problemas, eu já acostumei. Mas, hey, o que você achou do Kyaro-senpai?

—Kyaro é uma pessoa meio desleixada e egocêntrica, não gostei muito dele.

—Mas parece que é o contrário, não está usando nem o honorífico.

—Ele me pediu para não usar, então só estou cumprindo um favor.

Ambas saíram do prédio onde Shiho morava e caminharam pelas ruas conversando pela longa e movimentada avenida, a caminho da escola Teacher Gary Benson.

—Hey, eu andei pesquisando sobre a novata, a Kachiharu Tsumi e parece que ela é uma cantora mesmo, ela faz shows pela internet via Dreamy e consegue um absurdo de visualizações!

—Isso pode ser bom...

—Não me diga que você já tem uma estratégia pra se dar bem com isso.

—E o que você acha que eu diria?

—Shiho... Não acha que seria bom melhorar esse seu lado primeiro esse mês?

—Mas esse senso de estratégia é o que define os espertos dos pesos-mortos do mundo.

—Então eu sou uma?

—Com certeza. Completamente.

—Obrigado pela parte que me toca. — Disse com um sorriso forçado.

As garotas atravessaram as ruas pelas faixas de pedestres e logo já se encontravam dentro da instituição de ensino. Mas antes que Hiyari pudesse entrar no prédio principal, no Hall de entrada, onde ontem acontecera a festa, Yuuka estranhamente pediu para ela esperar. Mizushima era uma pessoa energética e que estava disposta a conversar sobre qualquer coisa com qualquer um, era difícil vê-la com insegurança no olhar, e foi justamente isso que Hiyari testemunhou.

Yuuka parecia relutante para entrar ali, seu corpo estava estático, não se movia, até que Sayouni chegou e reconheceu o rosto de Shiho.

—Bom dia Hiyari-san! Como vai você?

Shiho, naturalmente não respondeu, estava preocupada com sua amiga, portanto, permaneceu a observá-la. Percebendo a atmosfera pesada, Sayouni se virou para Yuuka confusa.

—Hey... Você está bem? — Questionou Hikari à amiga de Shiho a qual não conhecia.

—Yuuka. Yuuka? Tem algo de errado que você quer me contar?

Mizushima apenas ficou ali, em transe, até que voltou ao normal, ela tentou disfarçar com um sorriso forçada não muito convincente e com movimentos corporais travados. Ela focou seu olhar em Sayouni com curiosidade para tentar desviar o rumo da conversa, algo a atormentara.

—Mas hein? Quem é você? Uma nova amiga da Shiho?

—B-Bem... Acho que somos só conhecidas. Não é Hiyari-san?

—Exatamente.

—Ah... Que pena, mas espero que vocês possam se dar muito bem e se tornem muito amigas no futuro, então nós vamos ser um trio! Hahahahaha!

—M-Mas antes disso, você está bem?

—Sim, sim! Não se preocupe, eu nunca estive melhor!

Hiyari apenas observou o desenrolar da conversa entre as duas, algo não estava certo, algo não estava no seu devido lugar, não estava “nunca estive melhor”.

A garota perfeccionista teve um pressentimento de que algo muito ruim se aproximava. Que desestabilizaria toda a tranquilidade e segurança que obteve até hoje. Justamente por isso, pelo resto do dia, Shiho perguntou à sua melhor amiga, diversas vezes, se havia algo de errado.

Mas a resposta sempre era um não.

Um não que, em sua essência, negava a si mesmo.


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Notas finais do capítulo

O Phantom tá muito imbatível ultimamente, acho que tenho que dar uma freada nele u_u
Além do mais, o pressentimento da Shiho não tá errado não :O
Só que esse acontecimento vai ser só no próximo arco da história, então podem ficar tranquilos :P
OBS.: Tive que pedir ajuda pra umas pessoas da minha sala pra escrever algumas cenas dessa fic kk, mas infelizmente acho que não posso citar o nome delas por causa da política de postagem do Nyah :(
No mais, espero vocês no próximo capítulo :D

Victor Nutty



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