Passaram umas semanas. Os dias praticamente eram um pouco parecidos e sempre quando Tom estava fora de casa eu utilizava um animal pequeno para observá-lo. Ele se sentia cada dia mais frustrado, sem entender a razão da atitude de parte das pessoas. A princípio circulavam boatos e uns se afastavam por receio, outros, que não acreditavam, trocavam uma palavra ou outra, mas não algo maior que isso. Ele começava a querer desistir de fazer amizades e apenas querer se formar logo e sair dessa cidade.

Certo dia, vi em sua mente um momento que não pude acompanhar pois foi no vestiário pouco antes da Educação Física. Ele havia acabado de trocar o uniforme e uma garota ruiva surgiu e o abordou fazendo medidas com uma fita métrica. Ele ficou confuso, se questionando o que ela foi fazer no vestiário masculino e ela o disse coisas como “Você é o novato que veio de Los Angeles, não é?”, “Hum… você é bem alto e magro mesmo, como andam falando…”, fora alguns comentários.

O rapaz viu-se confuso com a situação e ficou pensando nisso até o momento. Ele não entendeu a atitude estranha da garota e a achou um pouco louca. Além disso, o que ela quis dizer com “você é bem alto e magro, com andam falando” era algo que ele questionava. O rapaz ainda não conhece os boatos sobre essa floresta, por isso nem chegou perto de saber as respostas.

Ele passou um tempo pensando nisso e decidiu que a única maneira de saber a verdade era perguntar. O vinha até uma leve dúvida se aquela garota poderia acabar se tornando sua amiga, apesar dele ter perdido as expectativas sobre isso, mas isso não era algo que o estava preocupando no momento.

No dia seguinte, ele tentou acordar e ir pro colégio alguns minutos antes da primeira aula para conseguir encontrar a garota, mas não teve muito sucesso. Ele poderia tentar perguntar se alguém a conhecia, mas não o fez. Deduzo que ele já se frustrou de mais com o que aconteceu nos últimos dias, aí preferia evitar situações do gênero. Porém, parecia que ele era um imã para problemas, simplesmente passar no corredor era razão pra uma pessoa ou outra cochichar sobre ele e isso começava a irritá-lo.

Facilitou um pouco as coisas pra mim usando um rato dessa vez. Pude vê-lo no refeitório e foi lá que ele avistou a tal ruiva. Ela não estava sozinha, mas ele foi mesmo assim. Tom se aproximou da mesa com sua bandeja e as pessoas que estavam lá pararam de conversar quando repararam na presença dele.

— Hum… Oi, Sophia. - ele disse olhando pra garota.

— Oi, Tom! E é Soph.

— Ué, desde quando que você fala com o novato.

— Qual é, ele está aqui faz semanas, já é “de casa”. - Soph disse dando um riso.

— Tá, sua doida. - essa pessoa parece desconfortável.

— E a gente vai ser amigo do “slender*”? Essa eu passo.

— Também não acho muito uma boa, hehe.

— Meu Deus…

— Eu queria saber--

— Fala sério, - Tom foi ignorado - não me leve a mal, alguém morar perto daquela floresta é algo sinistro.

— O q--

— Pera, o que é isso no chão?

Todos olham justamente na direção do roedor que eu estava utilizando e começou uma confusão com pessoas gritando “um rato!” e algumas garotas se afastando e garotos tentando acertar o animal. Uma enorme agitação no refeitório se formou.

Opa… Usar um rato não foi uma boa ideia.

No meio da confusão, perdi a ligação com o roedor, daí não pude “ver” mais nada. Que pena. Bem, vou ter que aguardar Tom voltar para saber o que aconteceu depois.

Eu queria sair desse lugar, também queria saber o que exatamente me chama a atenção nesse garoto. Se frustrando e apenas querendo evitar o problemas, um leve desejo de ir embora. Parece… Eu não sei.

Tom não parecia muito feliz ao voltar pra casa, como sempre. Quando ele chegou sua mãe estava em casa e seu pai também e, como sempre, o perguntou como foi seu dia.

— O de sempre… Exceto que dessa vez apareceu um rato no refeitório.

— Quê? Um rato?! - disse sua mãe surpresa

— É, Umas pessoas ficaram bem doidas com isso. Sei lá… Vai se tem mais no depósito onde colocam a comida, seria terrível se alguém passassem mal por causa disso.

Ele falou num tom um pouco irônico e ao mesmo tempo com “insinuações”.

— Se está tentando usar isso pra me convencer a te mudar de colégio, tentativa falha. - falou seu pai cruzando os braços.

— Tentei. Bom, tou indo pro meu quarto, tenho um monte de dever de casa pra fazer.

“Pera, dever de casa?”

Ele subiu e enquanto isso seus pais sussurraram:

— Acha que foi uma boa ideia essa mudança pra ele?

— Tom é um pouco cabeça dura ás vezes, só temos que dar um tempo. Alguma hora ele vai se adaptar.

— Tomara.

Eles lembraram algo sobre Tom. Algo meio estranho e nebuloso… Um caso de violência? Não pude saber muito bem, pois era um pensamento que eles preferiam afastar.

Voltei o meu foco para a mente de Tom, para saber se ele estava pensando no que ocorreu depois do incidente com o roedor. Depois de terem se livrado do rato, os alunos foram mandados para suas aulas e estas seguiram normalmente. No corredor, após a última aula, ele devolveu pro seu armário o que precisava e avistou, não muito distante, aquela garota conversando com as mesmas pessoas que estavam com ela no refeitório. Ele havia pensado em conversar, ou ainda reclamar pela grosseria que aquelas pessoas falaram, mas ele estava tão chateado com isso que não fez nada, só quis esquecer disso e ir embora.

O único ponto que ele reparou com isso tudo é que tinha alguma coisa a ver com o fato dele morar ao lado dessa floresta. Ele pensou numas hipóteses, mas não conseguiu chegar a nenhuma conclusão lógica.

É, ele está bem perto de descobrir. Será que ele virá investigar? Seria uma pena, mas se for, vou ter que matá-lo como os outros,. Não sei se a mente dele aguentaria eu transformá-lo num proxy, apesar de que isso é uma opção.

Sim… Posso usá-lo para sair daqui.