Prólogo

Uma noite escura e sombria, fria, tomada pela triste solidão. Sim, é meio estranho ficar sozinho nessa casa enorme. Aqui moravam além de mim os meus pais e o meu irmão mais velho (idiota). O que aconteceu? Por que eles não estão aqui? Um incêndio.

Não faz tanto tempo assim que inventaram a lâmpada incandescente, mas não tinha como todos terem em suas casas. Além disso, meu pai era um tanto tradicionalista e preferia manter a nossa casa sendo iluminada por velas e lampiões. Nenhum incomodo, pois, à noite, não havia nada de interessante para fazer a não ser passá-la ouvindo o silêncio da escuridão da floresta a frente dessa casa. Porém, certa noite, não sei o que ocorreu, mas quando vi, a casa toda estava pegando fogo.

Eu não estava nela quando o fogo começou, pois antes havia brigado com meu pais, então fugi para a floresta e fiquei engolindo as minhas frustrações encarando um pequeno lago que havia lá perto. Decidi voltar quando já havia anoitecido, então foi quando eu vi tudo em chamas. Nesse tempo, eu tenha 13 anos.

Dor? Tristeza? Eu não tinha expressão de quem tivesse sentido essas coisas. No dia do enterro dos meus pais, apesar de eu ter ficado ali diante do túmulo deles mesmo depois te todos terem ido embora e ter anoitecido, não caia um lágrima de meus olhos nem nada do tipo. Não, não sou uma pessoa fria, eu só agia assim por que eu não queria que sentissem pena de mim, tentassem me consolar.

Detesto deixar clara a minha tristeza. A minha frieza foi o meu escudo, a minha face vazia e sem expressão foi a minha espada, a minha solidão numa casa enorme foi minha fortaleza.

Apesar de que, claro, toda vez que olho para essa casa é como se visse fantasmas deles dois vagando por ela: Minha mãe preparando o jantar, meu pai acabando de chegar do trabalho... Ela pintando um lindo quadro na varanda olhando as árvores da floresta, ele a encarando com um alegre sorriso, encantado pela beleza de suas pinceladas...

É tão depressivo pensar nisso...

Após a morte deles, graças ao seguro, a casa pode ser reconstruída para as condições anteriores e o que sobrou do incêndio me serviu bem pra me sustentar. Não tenho mais nenhum parente, então, sim, o jeito foi me virar sozinho.

Bom, já contei da minha trágica vida. Volto depois pra contar um pouco mais de um momento mais atual. Amanhã será o meu aniversário. Estou prestes a fazer 18 anos.

Boa noite floresta negra. Descanse nesse seu lindo silêncio...