Wings escrita por Rausch


Capítulo 2
Capítulo 1 - Como João e Maria


Notas iniciais do capítulo

Aqui é mais um capítulo de apresentação em si, e acredito que eu use o próximo para isso também. No entanto ele não deixa de ter suas emoções. Espero que gostem.



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O sol penetrou cedo pela janela e Max revirou em sua cama irritadiço. Realmente não gostava de acordar cedo, aliás era uma das poucas coisas que não gostava. O barulho de coisas se mexendo na cozinha o fizeram logo entender o que estava se passando lá, o café da manhã. O garotinho pulou da cama e mesmo com os pijamas estampando os pequenos balões coloridos, foi e abriu a porta do seu quarto. Ele tinha oito anos, mas não entendia por que o faziam ainda usar aqueles pijamas, que em sua visão eram coisas de crianças menores que ele.

Enquanto espreguiçava-se e cerrava os olhos, caminhou a descer as escadas e ouvi o barulho de espátulas batendo em panelas. A casa mantinha sempre aquele aspecto retrô com toques joviais. Max agitou o cabelo que lhe caiu um pouco por sob os olhos e foi na direção da cozinha.

–Assim não vale, eu disse que você iria usar magia para terminar primeiro.- Disse seu pai número dois, Alec.

–Mas eu não usei magia, apenas virei mais rápido. – Magnus piscou com o olho direito para o outro e o deu um beijo rápido nos lábios.

Max parou com medo de ter interrompido algo, porém exprimiu um sorriso do tipo fofo ao ver a cena. Parou um pouco próximo à mesa e percebeu que Magnus usava roupas não tão chamativas como normalmente fazia. Deixou o cabelo solto e este era lindo sem todas as cores.

–Estou com fome e os cozinheiros estão demorando. – Max cruzou os braços fronte ao peito e observou eles se virarem.

–Olha quem acordou, o brilho Junior. – Magnus foi até ele bagunçou seu cabelo. Posteriormente deu um beijo em sua cabeça.

–Isso é coisa de criança. – Max revirou os olhos.

–E você é o quê, Max? Algum adulto acima dos vinte e cinco? – A forma irônica de Alec falar o fez fazer uma careta.

–Vinte e um. Não penso tão alto. – E Max caminhou e puxou uma das cadeiras da mesa e sentou. - Por que temos de estar acordados tão cedo?

– Hoje é a primeira ida ao instituto, esqueceu? A Jocelyn vai juntar todos os novatos para a classe única dela. – Alec falou sentando na mesa.

Jocelyn Fray havia tido a ideia de juntar os que eram da linhagem dos caçadores de sombras e criar um pequeno centro de estudo, para que estes não precisassem frequentar escolas mundanas e além de aprenderem a arte do combate, pudessem já aprender todas as ciências num grande grupo de estudo.

– Ela não era pintora? - Max adiantou-se pegando uma caixa de leite em cima da mesa.

– Ela é muito inteligente. Ser Caçados de sombras significa ter mais que um lado. - Magnus falou sentando do outro lado, dando uma piscadela para o amado na intenção de o elogiar indiretamente.

Mas então eu não preciso ir. Eu não posso ser Caçador de sombras, vocês sabem. - Max disse de forma desleixada, mas os pais sabiam que aquilo já o incomodava, do mesmo jeito que suas omoplatas levemente elevadas.

–Max, não diga isso. Você pode estar lá como qualquer um daqueles meninos, ainda que não seja um Caçador de sombras. – Alec pegava uma torrada de um dos pratos e o encarava.

Apesar de sua beleza e seus olhos azuis profundos, Max jamais se sentiu um garoto normal, e muitas questões contribuíam para isso. A adoção, o fato de não ser como os outros e ter sangue angelical, a sua história limitada. Ele tinha oito, e era bem verdade que muitas crianças querem apenas brincar nessa idade, mas não ele, ele queria poder se sentir como os outros sentiam. Magnus e Alec sabiam como ele se sentia, ainda que, suas palavras não precisassem soar alto para isso.

–Pense em algo bom, Maryssa vai estar lá. Você adora sua prima, não é? – Magnus tomava um gole da xícara de chá.

–Claro, tudo pela minha prima. E sim, eu gosto da Maryssa. – Desde muito novo, Maryssa tinha sido sua única amiga, além de ser sua prima. Max gostava de estar em sua presença.

–Amor, você sabe se o Simon irá aparecer no encontro? – Alec perguntou à Magnus.

Claro que não, ele não sai ao sol, esqueceu? – O bruxo o encarou e começou a gargalhar da gafe do amado.

Max se serviu de um pouco de leite e pego uma torrada e comia normalmente, quando notou os olhares dos seus pais, olhares estranhos. O menino parou no meio de uma mordida:

–Por que estão se olhando como se estivessem planejando a dominação mundial?

–Porquê estamos planejando algo tão grande quanto. – Magnus disse sarcástico.

–Acho que devia comer logo e vir coma gente. – Alec levantou-se da mesa e fez rápidas cócegas, deixando que o filho se contorcesse.

Terminando sua torrada e copo de leite, Max levantou-se e começou a fazer o caminho de volta com Magnus, já que Alec havia ido na frente. Subiram as escadas e logo se depararam com a porta do quarto dos pais aberta. O menino olhou de relance para o bruxo, que indicou a porta à frente:

–Vai lá.

Max correu e adentrou o espaço. Ao ultrapassar a porta, não foi difícil perceber aquilo na cama. Era negro e bem trabalhado.

–Talvez possa sim ser como Caçador de sombras, só precisa vestir o negro. - Alec disse apontando a roupa em cima da cama.

–É muito bonita. – Max caminhou até ela e tocou o tecido macio com a ponta dos dedos.

–Veste ela. – Magnus o encorajou.

–Acho que não vai servir, ela parece um pouco justa e bem...- Ele apontou para suas costas.

–Mas, não. Vista logo isso. – Alec advertiu sério.

Assentindo, o garoto segurou a roupa e caminhou para o banheiro do quarto. Entrando no espaço, ele começou a despir lentamente sua roupa, até contemplar seu reflexo no espelho. Ficando de perfil, ele as viu. As duas marcas estavam nas suas omoplatas elevadas. “Você é de um povo diferente, você é especial.”, assim dissera Magnus quando lhe explicara sua adoção. Aquela marca provavelmente tinha a ver com tudo. O menino afastou os pensamentos e tirou o pijama, vestindo a roupa presta posteriormente. Ela se ajustou perfeitamente em seu corpo, apesar dele sentir que a parte de rás elevava-se um pouco mais.

Max queria agradar aos pais, por isso pôs um sorriso no rosto e permitiu-se passar felicidade pelo presente e tentativa de encorajamento. Ele saiu do banheiro olhando para o chão e os olhos de Magnus e Alec pararam maravilhados e fixos nele. Max estendeu os braços em gesto de apresentação. Ele era uma criança encantadora quando devia ser.

–Ficou lindo em você, filho. - Magnus disse abraçando Alec de lado.

–Já posso tirar? – Max disse sem graça.

–Claro que não, você vai vestido assim para o Instituto, e acredito que sua prima fará o mesmo. – Alec continuou abraçado à Magnus.

Todas aqueles cômodos ainda deixavam o menino perdido, mesmo estando ali várias vezes. Max sentou-se num dos bancos da biblioteca com um dos livros em mãos. Espantou-se em ver que cada livro poderia ser mais interessante que outro. Folheava algo parecido com “Guia de proteção contra Demônios”, e observava as pinturas exibidas dentro do mesmo. Seus pais haviam ficado em outro cômodo esperando outras pessoas.

–Oi. – Uma voz o chamou da porta.

–Oi. Parece que cheguei mais rápido. – Ele não precisou olhar para saber que era Maryssa.

–Minha mãe demorou a se arrumar. A gravidez deixa ela mais lenta. – A menina de cabelos ruivos caminhou na direção da mesa.

Maryssa Lightwood não parecia em quase nada com sua mãe Isabelle. Tinha ela sido fruto de um processo de inseminação artificial, e bem, seria óbvio que o doador teria sido alguém de cabelos ruivos, que a propósito eram lindos. Maryssa puxou uma das cadeiras e sentou-se ao lado de Max para olhar o que ele lia.

–Sobre o que está lendo?

–Como se proteger de demônios, só tem isso aqui. –Max deu uma risada breve.

–É uma obsessão, eu gostaria de poder ser uma criança normal. Serei traumatizada por criaturas horrenda até o fim da minha fase de crescimento. – Maryssa disse ácida.

Os dois gargalharam juntos por um momento, e Max gostava de quando passavam um tempo juntos. Mesmo tendo passado um tempo sem ver a prima, e isto tinha a ver com o fato de sua não compreensão pessoal. Desde crianças eles eram como João e Maria, e isto havia surgido de uma piada feita por Max com relação à mãe de Maryssa e seu pai. Eram realmente parecidos aos personagens do conto de fadas.

Ele e Maryssa reviraram ao máximo uns dois livros, tentando comentar até mesmo as coisas que nem podiam fazer ideia do que se tratava.

–Meninos, é hora de ir. – Isabelle Lightwood apareceu na porta da biblioteca com um sorriso mais contido. A Barriga já estava por aparecer.

–Mas já? Só iria pegar mais um livro. – Max reclamou.

–Caro doce da tia, depois você volta. Jocelyn apenas vai falar algo.

–Tudo bem. – Max levantou-se e ali deixou os livros indo com Maryssa até a porta.

Isabelle beijou o topo da cabeça do sobrinho e fechou a porta. Enquanto andavam pelo corredor, Maryssa e o primo confabulavam acerca de percorrer todo o Instituto. Caminharam até uma sala de recepção, na qual a mulher já os esperava.

–Ah, ainda bem, os Fujões. – Dave Herondale disse no seu usual tom de sarcasmo.

–Cala sua boca, pintinho amarelinho. – Maryssa disparou.

–Calma! – Jace pôs a mão no ombro do filho e acalmou a situação.

–Dave, não atrapalha mais o negócio. – Dinah, sua irmã gêmea disse impaciente.

Dave e Dinah Herondale eram filhos de Clary e Jace, eram os mais velhos e logo após vinha Grace, a mais nova. Dos gêmeos pouco se via da mão, mas a mais nova parecia uma cópia dela. Dave era do tipo de garoto sarcástico e que era geralmente estúpido em qualquer brincadeira, já Dinah era mais centrada, apesar de conseguir ser fútil em algumas horas.

–Podemos apenas explicar o chamado? Será breve. – Jocelyn se adiantou. Ao perceber o concordar da sala, a mulher prosseguiu. – Creio que todos já sabem o motivo de estarem aqui, além de eu já ter falado com os pais de vocês. Bem, vamos tentar ser um grupo e aprender juntos. Nossas crianças sempre sofreram para apegar e desapegar dos mundanos, e para quebrar isso estamos aqui. A partir de hoje seremos a escola de você, tanto para serem treinados como para serem educados. É claro que não domino tudo, mas Luke me ajudará em algumas coisas, ele apenas não pôde estar presente hoje.

–Mas eu até gosto dos mundanos. Eles são interessantes e vestem roupas legais. – Dinah disse ao lado de sua mãe.

–Dinah, isso é sério. E ainda pode usar as roupas. – Jocelyn conteve a neta. – O que digo é, vamos precisar nos organizar onde pertencemos, com exceções do Senhor Bane ali e dos Senhor Lewis. Bruxos e Vampiros à parte. – Ela riu e olhou de relance para Max. – E acima de tudo, precisamos ser uma família acima de diferenças. Entendidos?

Todos acenaram positivamente e a mãe de Clary finalizou seu discurso. Max olhou para seus pais e sorriu brevemente. Levantando-se para se preparar para ir embora, sentiu sua prima tomar seu braço:

–Quer ir lá para casa hoje? Vamos, vai ser legal, e podemos dançar Just Dance. Meu pai me deu um.

–Não sei, não saio muito. Você sabe. – O menino olhou meio sem graça.

–Mas, Max. A gente quase nem se vê. – Maryssa protestou. – E eu não gosto das minhas vizinhas, são franguinhas insuportáveis com as bonecas. – A menina conseguia ser tão desaforada quanto a mãe.

–Você deveria ir, Max. Vai ser bom brincar um pouco cm a Mary. – Magnus o encorajou. – Posso te buscar mais tarde.

–Você fica sempre só, vai se divertir um pouco, Max. – Alec entrara em defesa também.

–Tudo bem, eu vou. Mas tenho de dançar uma música da Madonna, o papai adora ela. – Ele olhou e piscou para Magnus.

–Cause we are living in a material world...-Magnus cantarolou desafinado.

–And i, i’m a material girl. – O menino cantarolou num tom suave e bonito, e nunca havia notado nada assim. Ele logo se calou e puxou o braço de Maryssa.

–Ei, Max, sua roupa é estranha. Parece que suas costas vão saltar. – Dave passou rindo.

–Vai se catar, Palhaço. – Maryssa respondeu outra vez. Dave realmente era inconveniente.

–Serão longos anos, seremos muito feliz juntos. Menos o Max, ele vai estar em cima duma montanha dupla erguida nas costas. – E ele saiu correndo e rindo.

Max olhou para baixo e procurou não transparecer tristeza, apenas pediu que fossem logo embora. Não demorou, afinal Isabelle era prática. Logo estavam no carro indo para o outro lado da cidade. Enquanto encostava sua cabeça no vidro do carro, Max por um momento vislumbrou as casas e pensou no sentido delas, da mesma forma como das ruas e das pessoas. E aos oito anos ele não fazia a mínima ideia do seu sentido, por mais que precocemente tentasse descobrir.


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Notas finais do capítulo

Então, espero que tenham gostado. Devo dizer que mais para a frente as coisas vão ficar deveras intensas. Deixem seus comentários, é importante para o caminhar da trama. Até logo, Shadow Hunters.



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