The Lost Number escrita por Miss_Miyako


Capítulo 10
Nº 9: O confronto.


Notas iniciais do capítulo

-sigh-
Não me entendam errado, eu quero continuar essa fic. Eu gosto da história dela e você me motivam ainda mais, mas eu não achei que esses próximos capítulos seriam tão difíceis assim de escrever...
Quer dizer, eu sabia que seriam difíceis, mas não a esse ponto.
De qualquer forma, boa leitura, sim?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526181/chapter/10

Red estava irritado.

Red nunca estivera tão irritado em toda sua vida.

Já não bastava sua constante dor de cabeça e o sentimento extremamente desconcertante que se espalhavam dentro de si por estar no lugar que se tornou o palco de seus piores pesadelos novamente, mas ainda por cima tinha que aguentar a frustração que se formava nele.

Frustrado por ter arrastado seus amigos para ali, frustrado por ter deixado que o grupo se separasse e acima de tudo, frustrado porque a ultima pessoa no mundo inteiro que ele deixaria estar ali foi aquela que veio primeiro.

Não que ele não quisesse que os outros estivessem na Glitch City, claro que não. Mas por algum motivo, ele sentia do fundo do seu ser que preferia reviver sua primeira estadia ali a ver a garota cara a cara com aquele monstro.

Ele poderia gritar, ele queria gritar e com ela ainda por cima! Sua vontade era berrar a pleno pulmões o que raios ela tinha na cabeça, de perguntar se ela tinha alguma ideia de onde havia se metido ou se ela tinha encontrado o que tava procurando.

Mas tudo isso morreu no fundo de sua garganta, enquanto levantava do chão, ao ouvir a voz dela.

–AI!

Ou melhor, seu grito.

–Eita! – Gold tomou um susto com isso e pôs a loira no chão, quando as solas de suas botas roxas tocaram o chão, Yellow se afastou e se encolheu, abraçando a si mesma. – Desculpa! Você tá bem?!

–A- Ah, sim. – Ela respondeu e endireitou-se devagar, com sua mão esquerda apoiada em um lado de suas costas. – Foi só um mau jeito, f- ficar pendurada nos ombros de alguém é meio desconfortável.

E seus olhos verdes olharam para o lado, nervosos.

–Eu... Meio que não pensei nisso, foi mal. – O moreno respondeu, mas estranhou um pouco a reação da garota. Era mesmo tão desconfortável ao ponto dela gritar de repente? Quando ele carregava Crystal ou até mesmo Lyra em seus ombros, ela nunca chegaram a ter aquela reação.

–Não tem problema. – A loira balançou a cabeça, forçando um sorriso.

–O que aconteceu com suas costas?

Mas sentiu um calafrio percorrer suas costas – atiçando a dor em seu ferimento – ao ouvir a voz do garoto de olhos vermelhos. Encontrou-se engolindo em seco quando percebeu que ele estava há alguns passos a frente de si, olhando diretamente para ela.

–... Nada. – Ela olhou para o lado.

O moreno ainda estava irritado, bastante irritado, mas ouvir o grito da loira foi o suficiente para que preocupação o inundasse deixando suas emoções equilibradas, além de fazer o senso voltar a sua cabeça. Espernear da forma como ele pensara alguns minutos atrás só serviria para atrair a atenção dos Unowns, ou numa possibilidade ainda mais pessimista, do próprio Missingno.

–“Nada” não te faria gritar daquele jeito.

–... Eu estou bem.

–Então porque você tá segurando suas costas desse jeito?

–Já falei, foi o mau jeito.

–Se fosse esse o caso, a dor já tinha passado faz tempo.

–Eu posso ser sensível à dor e você não sabe.

–Ou você pode ter se machucado e não quer contar por pura teimosia.

A garota o encarou, cenho franzido.

–Sabe de uma coisa?! Meus machucados não são da sua conta! – Exclamou, frustrada.

Os olhos de Red se arregalaram e ele comprimiu os lábios, sentindo seus punhos tremerem.

–Me desculpa por me preocupar com você então!

Yellow encolheu-se levemente. Ela não queria brigar, mas a teimosia e choque por vê-los – por vê-lo– naquele lugar pareciam fortes demais para ela controlar.

–Não pedi para se preocupar comigo! – Respondeu. – Por que você veio pra cá?!

–Eu vim justamente porque você não quis me ouvir!!

–Como eu ia te ouvir?! Você não parava de gritar comigo!!

–Porque você não queria me escutar!

Escutar o quê?! – Ela deu um passo para frente, pontas de lágrimas aparecendo no canto de seus olhos. – Você não explicou nada quando eu te perguntei! Eu preciso que você use palavras para te entender, sabia??!

Red parou, a raiva derretendo completamente de si quando viu as lágrimas da garota descendo por suas bochechas.

Ainda mais quando a loira cobriu o rosto com as suas mãos e ele pôde ouvir o choro dela logo depois.

Crystal, que estava quieta até então, resolveu se pronunciar finalmente.

–Tá bom, já acabou. – Ela caminhou até eles e levantou umas das mãos, olhando tristemente para a mais baixa. – Se continuarmos falando alto desse jeito, vão acabar nos ouvindo, então... Vamos nos acalmar por enquanto.

–É... – O moreno de olhos dourados assentiu, coçando a parte de trás da cabeça, mas algo chamou sua atenção. - ...Yellow. Que mancha é essa na sua roupa?

A loira arregalou os olhos e tirou a mão de suas costas.

Estava vermelha.

–Isso é sangue! Yellow, o que te aconteceu?! – A morena exclamou e correu até ela. Engoliu em seco ao ver que a mancha aumentava.

“O estresse deve ter feito o ferimento voltar a sangrar, você não pode ficar se forçando desse jeito, Yellow.”

–Desculpa, Chuchu. – Murmurou.

–Vou precisar dar uma olhada... – A garota ao seu lado falou, preocupada. – Posso?

A loira hesitou por um momento, mas acabou assentindo por fim.

–-000--

Red e Gold estavam sentados de costas para uma das arvores grossas daquela floresta enquanto Yellow e Crystal encontravam-se há alguns passos dali, escondidas por alguns arbustos secos e emaranhados, enquanto travavam do machucado da loira.

O silêncio era cortado somente pelo assobio do garoto de olhos cor de ouro, enquanto o mais velho continuava olhando para o chão, abraçado aos seus joelhos com as palavras da garota ecoando em sua mente.

Até que...

–Gold.

O assobio parou.

–Hmm? – Ele o olhou e Red respirou fundo antes de perguntar.

–Eu faço isso mesmo? Sabe, de nunca contar nada?

O mais novo piscou, surpreso pela pergunta e ajeitou melhor a posição em que estava sentado.

–Bem... Eu sempre te achei um cara bem comunicativo, Senpai, mas acho que você tem esse negocio de guardar para você sim... Mas isso é normal, sabe?

Ele levantou uma sobrancelha.

–Quer dizer, eu acho. – Gold coçou a nuca outra vez, ele nunca fora muito bom com esses papos sérios. Devido a situação porém, talvez ele devesse fazer um esforço. – A Ly-chan já falou que eu faço isso também, mas é que... Eu não gosto de ficar enchendo o saco dos outros com problemas meus... Confere?

–Hm?

–Você não pensa isso também?

–A- Ah, sim, claro.

–Então! Mas você sabe como é que são as garotas. Elas gostam quando a gente conta nossos problemas para elas mesmo assim. Elas sempre ficam se preocupando e querem nos ajudar, mas não sabem o que fazer se a gente não falar nada... Não que eu ache isso ruim...

Afinal, ele estaria mentindo se dissesse que não gostava quando a garota dos brincos de estrela se preocupava com ele.

–Sei… - O outro murmurou.

Gold tombou a cabeça para o lado e ponderou se deveria dizer aquilo ou não.

–A baixinha se preocupa com você. - Acabou falando e suspirou. - Se preocupa muito.

Pela sua visão periférica, viu seu veterano estremecer.

–Ela só não fala porque você não fala e aí ela não quer ficar te forçando a dizer.

Red o encarou.

–Como raios você sabe disso?

O garoto o encarou de volta.

–É claro como cristal, senpai.

Ele parou no lugar, depois de alguns longos segundos, tirou seu boné passou e a mão pelos cabelos antes de soltar um suspiro exasperado.

–Eu sou tão tonto assim?

–Pra caramba.

–Ah, cala a boca, Gold.

–Mas você perguntou, ué! - E esticou os braços, um pouco indignado. - ...Tá, mas olha, se isso faz você se sentir melhor, digamos que você não é tonto porque quer?

Ele soltou um resmungo e abaixou a cabeça.

–Não ajudou?

–Nem um pouco.

–Foi mal, cara.

–Meninos?

Ambos olharam imediatamente para o lado e encontraram Crystal de pé, perto da árvore deles.

–E aí, Crys? Tudo certo?

–Bem, é. - A garota olhou para o lado e Yellow caminhou timidamente até ela. - O machucado foi bem feio, mas o curativo deve segurar por agora.

O garoto de olhos vermelhos trincou os dentes.

–Como… - Como você se machucou, era o que ele queria perguntar. Mas… - … Nada. Que bom que está melhor.

A garota não conseguia olhá-lo nos olhos, estava envergonhada demais por causa do ataque nervoso que tivera mais cedo.

–Bom! - Ao seu lado, o outro moreno levantou num pulo. - Tá meio estrupiada, assustada… Provavelmente um pouco anêmica, mas tá inteira e isso conclui nossa missão. Bora achar os outros e bater o pé daqui.

Yellow mordeu seu lábio inferior, sentindo a culpa lhe atingir. Eles tinham vindo até ali só por causa dela-.

...Espera.

Ir embora?

–Concordo. - A garota de cabelos azuis escuros assentiu. - Vai demorar para achá-los.

Sentiu a mesma sensação fria e metálica de antes furar sua nuca constantemente.

–Quanto antes começarmos, melhor. - Red levantou também.

A mais baixa pôs as mãos no pescoço, por instinto. Porém, o frio não sumiu, nem o nervosismo estranho crescendo na boca do seu estômago.

Ela não podia ir embora.

Não ainda.

–Acha melhor voltarmos para onde aconteceu o terremoto? - Crystal sugeriu.

–Quer voltar pro ninho da Seviper?! - Gold arregalou os olhos. - E se aqueles bichos possuídos ainda estiverem lá?

–Depois desse tempo todo, já devem ter ido embora. - Ela retrucou.

Não, não, não, não.

Ela não podia.

Ela não tinha como sair dali.

Não antes de encontrá-lo.

–É pouco provável que Green e os outros estejam lá ainda, já que era um campo aberto. Eles devem ter se escondido. - O dono dos olhos vermelhos comentou. - Mas é um começo.

Não fazia sentido e ela não entendia o porquê, mas tinha certeza absoluta do fundo de si, dos seus dedões do pé até a ponta dos seus fios dourados mais longos que havia algo muito errado naquele lugar.

E não era por ser sombrio, era algo maior. Mais profundo.

Havia algo muito errado com Missingno e ela sentia, sentia firmemente que precisava fazer alg-

–De qualquer forma, vamos com calma. - O mais velho apontou para cima. - Ele consegue ver tudo do alto daquela montanha.

...Montanha?

Aquela montanha que ela vira de relance enquanto voava com Kitty, então era lá que ele estava. Claro que fazia sentido, afinal pokémons passáros gostam de fazer o seu ninho em lugares altos-!

Ela tinha que ir para lá.

–Yellow?

O brilho em seus olhos verdes devia estar vívido demais, já que a outra garota deu um passo para trás quando ela finalmente a olhou.

–S- Sim?

–Tá tudo bem, baixinha? - Moveu seu olhar para Gold que tinha uma sobrancelha levantada.

Você tem que ir para lá. Ouviu uma voz no fundo da sua mente.

–Estou. - Murmurou.

Você tem que ir para lá.

–Melhor irmos logo, esse lugar tá fazendo muito mal pra gente. - O moreno mais novo cutucou o braço do mais velho de leve com seu cotovelo.

Você tem que ir para lá.

–Tem razão. - Ele assentiu.

Você tem que ir para lá.

–Então… - A garota com os brincos de estrela começou, mas não conseguiu terminar…

Agora.

… Porque a loira saiu correndo em disparada na direção da montanha.

–-000--

Devia ser o seu hábito por se preocupar com cada santo pokémon vivo que encontrava seu caminho.

Sim, devia ser por isso que ela estava correndo desesperadamente entre as árvores - que por falar nisso, abriam um caminho estranhamente claro na exato direção do elevado monte de terras - em direção ao seu objetivo.

Yellow se lembrava de ter visto algo nos olhos foscos do pássaro gigante, no seu terrível encontro, segundos antes dele cortar suas costas.

Ela queria descobrir o que era, sentia que precisava.

E também, a pequena simplesmente se recusava a acreditar que havia alguém tão mal assim.

Continuou correndo, seu machucado latejava conforme suas costas se moviam abruptamente e sua respiração parou quando seus olhos avistaram o pé da montanha onde as árvores começavam a se dispersar.

Antes que pudesse chegar lá, no entanto, trombou em um vulto vermelho que apareceu na sua frente e quase caiu para trás.

Quando olhou para cima, encontrou um par de olhos vermelhos furiosos a encarando.

–O que você pensa que está fazendo?! - Red exclamou.

A loira engoliu em seco.

–Eu preciso passar! - Respondeu.

–Você não ouviu nada do que eu disse?! - Seu tom de voz aumentou, enquanto apontava para o céu. - É exatamente lá que o Missingno mora!

–Eu sei! - Tentou equiparar seu tom ao dele. - É por isso que eu preciso ir para lá!

O garoto parou, medo tomou conta de sua expressão.

–Por que?! Por acaso você quer morrer?!

–Lógico que não! - Berrou e olhou para baixo. - Mas…

Ele não respondeu.

–Eu… Eu quero tentar falar com ele! - Voltou a olhá-lo e pôs a mão sobre o peito. - Tem algo errado, eu sei que tem! Ele não pode ser tão mal assim.

–Você é muito ingênua, Yellow! - Ele berrou de volta. - É claro que ele é mal, isso é o que tem de errado com ele!

–Não é disso que eu estou falando! - Retrucou, sua garganta ardendo. - Como é que você pode ter tanta certeza?!

Perto das árvores, Gold e Crystal observavam a cena ofegantes e de olhos arregalados.

–Ei, ei… - A voz do garoto estava nervosa. - Se eles continuarem gritando desse jeito, vão acabar nos achando.

Só que os outros dois não pareciam notar isso.

–Eu tenho certeza por causa dos fatos!

–Que fatos?!

O garoto de vestes vermelhas trincou os dentes com tanta força que pôde sentir seu crânio tremer.

Pelo fato de que ele tentou me matar!– E com uma das mãos, levantou a barra da sua camiseta.

A voz de Yellow desapareceu completamente e todo o seu corpo paralisou quando seus olhos avistaram uma coisa.

Uma cicatriz. Funda, horrível, com a carne danificada em tiras grandes e cuja extensão ia da sua última costela até perto do seu estômago, localizada no seu abdômen esquerdo.

Seus lábios tremeram e seus olhos começaram a ficar molhados.

Não.

–Foi ele que fez isso em mim. - Red falou, voz contida. - Foi com as mesmas garras que fizeram isso nas suas costas!

Uma forte rajada de dor atingiu o meio de sua testa e memórias voltaram a lhe atormentar.

Os olhos foscos perigosos, a dor ao sentir a garra gelada e dura como metal o cortando, sua mão embebida em sangue quando tocara o ferimento...

Ele continuou mesmo assim.

–Eu provavelmente teria sangrado até a morte se o Aero não tivesse me salvado. - Ele abaixou sua camiseta e engoliu em seco. - Por isso que eu digo: O Missingno é mal e só.

A loira o encarou, fazendo seu melhor para conter suas lágrimas.

–Eu...

Não.

Aquilo…

Aquilo era-

–DROGA! - Um grito cortou o ar e ambos se viraram para avistar os dexholders de Johto olhando para cima. - Eu sabia, eles nos acharam!!

Mais especificadamente, olhavam para a revoada frenética de Unowns que voavam rapidamente na direção deles.

Tiros brilhantes foram disparados, acertando pontos perto dos seus pés.

–Rápido, precisamos sair daqui! - Ouviram o mais velho gritar.

Os ataques formavam crateras no chão e nas paredes da montanha, as árvores que eram atingidas pegavam fogo imediatamente.

–Não dá pra voltar para a floresta! - Crystal berrou. - Eles vão botar fogo em tudo!

–Não temos outra escolha, é a única maneira de despistá-los!!

Sem tempo para discutir, os quatro correram na direção das árvores secas que ainda não queimavam, mas um som os fez parar. Quando olharam para cima, viram um pedregulho enorme se desprender e cair exatamente na direção deles.

–Pro lado!! - Gold berrou, empurrando Crystal no processo.

O enorme pedaço de terra caiu, quebrando o chão e levantando poeira para todos os lados, cobrindo quase todo o cenário.

Os Unowns pararam, confusos e sem enxergar.

Red e Yellow haviam caído no pé da montanha enquanto Gold e Crystal encontravam-se perto das árvores que sobreviveram.

–Corre. - O moreno falou para a loira.

–Pra onde?!

–Para cima!

–O quê? - Ela encarou o caminho que levava ao topo da montanha e voltou seus olhos para ele, ou tentou, já que estava muito dificil de ver qualquer coisa direito em meio aquela neblina de pó.

–Não tem outro lugar pra ir e precisamos ser rápidos antes que a poeira baixe de vez! - O campeão da liga voltou sua atenção para o pedregulho e gritou. - Gold!

Algumas tossidas foram ouvidas.

–O quê?!

–Fujam daqui!

O QUÊ?! Mas e vocês?!

–Nós nos encontramos depois! Agora vão rápido antes que os Unowns voltem a atacar!

Silêncio seguiu por minutos que pareceram uma eternidade.

–Mas que porcaria! É melhor vocês voltarem logo, ouviram?! - Ele berrou de volta e uma arfada foi ouvida em seguida - que provavelmente viera de Crystal. - Crys, vamos!

A garota tentou protestar, mas sabia que não tinha jeito. Passos foram ouvidos e barulhos de galhos quebrando logo depois.

Red voltou seus olhos para Yellow, ela respirou fundo, comprimiu os lábios e assentiu, frazindo o cenho. Em seguida, dispararam montanha a cima.

–-000--

Correram por entre as árvores, saltando raízes retorcidas e recebendo arranhões ocasionais por culpa de galhos de pontas quebradas.

Gold continuou praguejando todos os palavrões que conseguia imaginar em pensamento, com parte de sua atenção em seu Typhlosion que conseguira arrancar da pokébola a tempo e outra parte em Crystal que estava logo atrás dele.

A garota tinha conseguido chamar seu Arcanine para dar suporte e mesmo que ele confiasse a vida dela ao pokémon de fogo, ele não conseguia deixar de ficar preocupado.

Eram muitos raios, eram muitos Uknowns, eram muitas as chances de algo dar errado.

Ele precisava fazer alguma coisa.

Foi pensando nisso que ele agarrou o pulso da garota e os puxou bruscamente para o lado.

–Gold?!

–Vou tentar despistá-los. - Ele gritou por cima do ombro. - Explotaro! Archy! Rápido, por aqui!

O Pokémon roxo o seguiu agilmente e mesmo que o de Crystal não gostasse nem um pouco do garoto, ele sabia que não estava em posição de recusar nada.

–Olha os galhos! - O moreno avisou enquanto abria caminho para eles.

–Gold, você vai se machucar!! Cuidado!

–De boa, Crys, tudo sobre controle!

Isso, alguns galhos e cortes não eram o maior problema deles no momento. A maior prioridade do garoto era manter a morena a salvo para depois conseguirem reencontrar Red e Yellow. Depois, ele daria uns cascudos bem dados na cabeça de seu veterano por ter tido aquela ideia de jerico.

Será que ele não sabia que - em filmes de terror - nada de bom acontecia quando o grupo se separava?!

Mas enfim, Crystal. Ele tinha que se focar na Crystal.

Por sorte, a floresta era densa o suficiente apesar de seca e retorcida, ele podia ver que conseguira diminuir a quantidade dos Pokémons psíquicos que os seguiam. Continuou correndo, sentindo seu alívio e motivação aumentarem a medida que o cheiro de madeira queimada sumia assim como os sons dos Unowns.

Só parou quando chegaram no que parecida ser uma clareira, o que - naquela ocasião - não parecia ser o melhor dos lugares para se esconder visto que estavam a céu aberto, mas os galhos finos e numerosos faziam uma espécie de parede estranha em torno do espaço, não dava para ver nada além deles de onde estavam e provalvelmente acontecia o mesmo vice e versa.

–Tá. - O moreno soltou, ofegante. - Acho que dá pra parar um pouco. Consegue ouvir alguma coisa?

A garota balançou a cabeça, sua mão repousada na cabeça do seu Pokémon de fogo.

–Ótimo.

–Será que aqueles dois estão bem?

–Eu espero que sim… - Gold depois franziu o cenho e resistiu a tentação de chutar uma pedra pequena que estava a sua frente. - Eu juro que vou dar uns socos no senpai por causa disso. Ideia idiota.

–Era melhor do que tentar nos reagrupar, Gold. Se tivessemos feito o contrário, demoraria muito para contornar a pedra e com certeza seríamos atingidos.

–Eu sei, mas…! - Ele se voltou para ela. - Quer dizer, já nos separamos do Silver e dos outros. Agora do Red-senpai quando finalmente achamos a Yellow… Nunca rola coisa boa quando pessoas se separam assim, Crys.

E suspirou exasperado. A garota dos brincos de estrela comprimiu os lábios, sentindo um gosto amargo na boca ao ver seu amigo naquele estado que não combinava com ele. Já estava com a mão no seu ombro antes que pudesse se impedir e dois ouros encaravam seus cristais.

–Vai ficar tudo bem. Daqui a pouco vamos encontrar os dois e ir atrás dos outros para sair daqui. - E segurou o tecido de seu casaco, Gold percebeu isso e encarou a mão da garota por um segundo antes de voltar seu olhos para ela, depois abriu um sorriso para ela.

O sorriso mais descontraído que conseguiu fingir.

–Tem razão, Crys! - E bufou. - Afinal, ficar pensando negativo não vai ajudar ninguém, né? Vamos esperar um pouco e ir atrás deles! Pode me ajudar chutando o senpai depois, se você quiser!

A garota parou e sorriu um pouco, sentindo-se mais aliviada.

–Vou pensar no assunto.

O garoto assentiu, ainda sorrindo e resolveu caminhar em volta da clareira.

Assim que ele teve certeza que ela não podia mais ver seu rosto, seu sorriso desapareceu. Certo, ela parecia mais aliviada, isso era bom.

O moreno olhou para as paredes de árvores negras, perdido em pensamentos. Podia ver Explotaro juntou de Archy pelo canto do olhos, enquanto Crystal conversava com os dois e sentiu alívio lhe acertar mais uma vez.

Estava tudo bem, afinal. Ele podia se acalmar, foi o que pensou ao se virar para encará-los de frente. Estava com as mãos nos bolsos e, talvez, há dois metros de distância deles.

Podia sentir as batidas de seu coração se estabilizando aos poucos e seus pulmões voltando a receber sua quantidade de oxigênio normalmente.

Foi então que tudo pareceu acontecer em câmera lenta.

Como sua cabeça se virando na direção de um galho com pontas arredondadas demais, que se encontrava perto da parte de árvores que estava logo atrás de Crystal.

Como seus olhos se arregalando ao ver que aquele “galho” tinha um formato muito estranho e não estava conectado a nenhum dos troncos.

Ele tinha que protegê-la.

Como seus passos quando o garoto disparou na direção dela assim que ele avistou um estranho círculo de luz vindo das árvores.

Proteger Crystal era sua principal prioridade.

Como o barulho das folhas quebrando sobre seus pés e atraindo a atenção da garota que virou para ele.

Crystal era a sua principal prioridade.

Como o momento que ele a empurrou para o lado no exato segundo que um raio de luz se fez presente, indo exatamente na direção dela.

Crystal.

Olhos claros como cristais se arregalaram.

GOLD!

–-000--

Yellow sentiu algo a puxar pelo braço e a próxima coisa que viu foi um pedaço de tecido vermelho enquanto o dono do mesmo segurava suas costas, a luz diminuíra consideravelmente e pelo canto de seus olhos verdes pôde ver uma linha grossa de Unowns passar voando ao lado deles.

Suas mãos seguravam as mangas brancas da camiseta de Red com força e seu ferimento ardia a medida que seu peito se inflava a procura de ar.

–Tudo bem? - Ouviu o garoto murmurar e ela o encarou, afastando-se um pouco ao perceber que estava praticamente abraçada ao mesmo.

–Uhum. - Ela deu um passo para trás, ofegante, mas parou quando viu que ele ainda estava com os braços em volta de si.

O moreno se deu conta e a soltou finalmente, cruzando os braços depois.

–Bom. Ainda bem. - Red murmurou, olhando para o lado e a loira assentiu. Quando seus olhos olharam para sua esquerda, curiosos para saber o porquê da falta de luz, avistou paredes de pedra e estalactites.

–Uma caverna…? - Sussurou. Bom, cavernas não costumavam ser lá muito incomuns em montanhas, então não era tão surpreendente assim.

No entanto, aos olhos treinados de alguém que já viajara o bastante por diversos terrenos, a garota percebeu que a formação daquele lugar parecia muito diferente das de Kanto.

Começou a andar na direção do fundo da caverna, mas parou ao sentir uma mão agarrar seu pulso com força.

–Ai! - Ela virou para o garoto. - Red-san, o que f-!

Mas parou.

O medo evidente nos olhos escarlates do garoto, que encarava um ponto adiante e não ela, fora a resposta que Yellow precisava.

Era ali.

–É aqui, não é? - Seus olhos encontraram os dela. - Onde o… Onde Ele mora?

Red comprimiu os lábios e assentiu devagar, ela sentiu a mão dele tremer enquanto ainda se mantinha fixada ao seu pulso.

Algo doloroso pareceu se enfiar aos poucos no peito dela.

–Vamos logo embora daqui. - Ele se voltou para a entrada da caverna e começou a puxá-la.

Ela não se mexeu.

Yellow esperou que ele se virasse e a encarasse com um olhar exasperado, mas ele não o fez. Apenas continuou parado, a única mudança foi o aperto em volta de seu pulso que aumentou.

–Yellow, por favor. - A voz fraca dele aumentou a dor em seu peito e a garota engoliu em seco. Nunca se perdoaria por fazer o garoto se sentir daquela forma, pois ela sabia que era a maior culpada.

Mas ela não podia voltar atrás. Sentia que não conseguiria.

Por isso, o mínimo que podia fazer era poupar o garoto da melhor maneira que pudesse.

Red se voltou para ela e havia súplica em seus olhos.

A loira respirou fundo e se aproximou dele, séria. Desvencilhou-se de sua mão e apoiou as suas aos lados do queixo dele gentilmente, sentiu as pontas frias de seus dedos tocarem sua pele quente.

–Red-san. - Ela falou. - Quero que você fique aqui…

–Yell-

–E quero que você confie em mim.

Ele parou.

Lembrou das lágrimas dela, das palavras que soltara e da conversa que tivera com Gold.

–Eu confio em você. - Respondeu em um sussurro e resistiu a tentação de segurar uma das mãos dela. - Eu não confio nele.

–Vou ficar bem. - Yellow o soltou e lhe dirigiu um sorriso pequeno. - Se algo acontecer, por favor corra.

Segurou uma Chuchu que protestava antes de entregá-la ao garoto.

E ela se virou, andando rapidamente ao longo da extensão das paredes de pedra. Red levantou uma mão, mas não disse nada. Sua cabeça levou uma pontada de dor bem mais forte que as outras e suas pernas se recusaram a dar qualquer passo.

Xingou seu corpo mentalmente e se limitou a observar as costas da garota enquanto ela sumia em meio a escuridão.

–-000--

A pequena parou de andar assim que chegou ao núcleo da caverna. O teto era tão alto que ela não conseguia enxergá-lo mais, apenas as paredes que se estendiam em direção ao negro total. Também não tinha certeza do comprimento do lugar, mas tinha certeza que parecia ser tão grande quanto. Estreitou os olhos, mesmo que acostumados ao breu, para olhar em volta.

Não havia nada, absolutamente nada. Apenas as paredes de pedra, o escuro, o frio e ela.

Ou foi o que pensou.

“Não sei se foi muita coragem ou muita audácia da sua parte em vir até aqui.” Sentiu uma voz grave reverberar em sua mente e seus batimentos dispararam.

Sons de asas grandes e pesadas foram ouvidos e ela sentiu uma rajada de vento a acertar assim que um vulto enorme pousou no centro da caverna.

Seus olhos verdes claros o encararam, observando suas garras metálicas, suas penas escuras e grandes, seu bico curvo até se focarem em seus olhos foscos e profundos.

As mãos de Yellow se fecharam em punhos.

“Veio continuar, eu imagino?”

Ela respirou fundo, um pouco confusa pela escolha de palavras dele.

–Eu só quero conversar.

Uma risada fria e cortante se espalhou pelo ar e ela se pegou engolindo em seco outra vez, mas manteve-se firme.

“Conversar? Ora, me poupe.” Missingno ajeitou suas asas. “Em todos esses séculos, a última coisa de que preciso é conversar.”

Juntando toda a sua coragem, a loira caminhou para o centro da caverna e parou em frente a ele.

–Eu não quero lutar. - Agradeceu por sua voz não ter tremido, diferente de seus joelhos. - Eu realmente só quero conversar.

Avistou um brilho incomum atravessar os olhos da ave e ele deu um passo para trás.

“O quê? Por algum acaso, é nessas horas que devo…” Aprumou sua postura. “Dizer minhas últimas palavras?”

Os ouvidos da pequena captaram algo a mais no final da fala dele e suas costas gelaram.

Aquilo era…

Mas por que?

–Não. - A voz dela se suavizou sem que percebesse e ela ergueu uma de suas mãos. - Eu quero entender.

“Entender o quê?”

–O que aconteceu. - Foi a resposta. - Você também não quer mais lutar, não é?

Ela ergueu completamente sua mão em direção a ele.

Silêncio se seguiu e o Pokémon pássaro ficou parado, Yellow rezava em sincronia com seus batimentos descompassados.

Ela conseguia sentir. Ela tinha certeza, tinha certeza que tinha algo mais naquela lenda. Algo mais em relação a ele, algo que foi escondido e precisava ser descoberto.

Porém, Missingno chacoalhou sua cabeça violentamente e seus olhos ficaram diferentes.

Estavam selvagens, assustadores.

NÃO!” O berro dele fora tão alto que a garota quase sentiu que poderia ficar surda, mesmo que a voz dele só estivesse em sua mente. “EU NÃO VOU SER ENGANADO!

Ela arregalou os olhos.

–Enganado?! Mas como assim?! Eu nã-!– A loira tentou berrar de volta, mas foi cortada por um grito vindo dele, um de verdade, que poderia realmente deixá-la surda. Um que ele soltou abrindo seu bico enorme enquanto esticava-se para frente.

Yellow correu para trás, com medo que as garras dele tentasse esmagá-la, mas para sua surpresa, Missingno se moveu para trás, ainda mexendo sua cabeça violentamente.

“NÃO, NÃO, NÃO!” Ela podia ouvi-lo berrar dentro de sua cabeça e ela teve de apoiá-la em ambas as suas mãos.

“EU NÃO QUERO!”

A pequena parou.

Lá estava. A mesma coisa que sentira segundos atrás.

“EU NÃO AGUENTO MAIS!” O pássaro gigante berrou, uma luz forte começava a se formar no final de seu pescoço.

Não lhe restava mais dúvidas. Ela não havia se enganado.

–Missing-! - Tentou outra vez.

CHEGA!” O grito estridente dele cortou seus pensamentos como uma navalha e a garota sentiu tontura a atingir como um raio.

Em meio a sua visão que tentava se estabilizar, percebeu a luz que partia dele explodir, condensando-se em ondas visíveis e acesas que se espalharam por toda a extensão do núcleo da caverna.

Uma delas lhe atingiu em cheio no peito e ela sentiu todo o ar ser puxado de seus pulmões a força. Seu coração pareceu parar por um momento, uma sensação fria e cortante se espalhou por ela, deixando seus músculos bambos.

Teria caído no chão se não fosse por dois pares de garras que agarraram seus ombros firmemente e alçaram voo.

Tudo estava acontecendo rápido demais para seu cérebro registrar, só conseguira perceber a silueta de seu Butterfree voando a sua frente.

Isso e a figura de Missingno curvando-se em direção ao chão, seu corpo iluminado com a cor da mesma luz que a atingira pouco antes.

Perdeu o Pokémon de vista quando passou voando pela entrada por onde viera, percebendo que aquele que a segurava era Aero.

Sua consciência estava estranha, parecia falhar e voltar como se estivesse em um sonho, só conseguindo se segurar a realidade quando sentiu seus pés baterem no chão e duas mãos segurarem seus ombros.

–Yellow, tá tudo bem!? - Red exclamou, a olhando diretamente nos olhos.

Eles estavam de volta a entrada que dava para o lado de fora da montanha.

–E- Estou. - Ela murmurou, resquícios da tontura mostrando-se presentes. Aero a soltou e o garoto a trouxe mais para perto.

–Poli, agora! - Ele gritou e ela viu o Poliwrath dele atirar um Water Gun em direção as pedras pontudas do teto, fazendo-as caírem e bloqueando a passagem pela metade.

Ela podia ouvir os Unowns voltando.

–Temos que sair daqui sem que eles nos vejam, mas como?! - Ele pensou em voz alta enquanto a consciência da loira ameaçava dar voltas de novo.

Em meio ao caos, uma voz foi ouvida.

–Por aqui.

Ambos se viraram para a entrada da caverna e encontraram um Bulbasauro parado na frente dela.

Ele possuía uma coloração diferente com um padrão estranho.

Algo parecido com pedra? Solo talvez…?

–Mas o quê…? - Red arregalou os olhos ao mesmo tempo que Yellow quando realização os atingiu.

Não era um padrão da pele do Pokémon. Era literalmente o chão da montanha.

Eles conseguiam ver através dele.

–Se vocês quiserem viver. - O Pokémon transparente continuou. - Então me sigam.

E ele correu para a direção esquerda em relação a entrada da caverna. O moreno não se viu em posição de argumentar, visto que os Pokémons psíquicos pareciam estar ainda mais próximos e ele não sabia se o próprio Missingno podia vir atrás deles ou não.

–Aero, Poli, Pika, vamos!

–Kitty, Chuchu!

E correram atrás dele.

O Bulbasauro mostrou uma rachadura que ficava alguns passos a cima da caverna do Pokémon pássaro e entrou dentro dela, sinalizando que fizessem o mesmo. Além dela, um caminho secreto que se expandia em direção ao pé da montanha se mostrou diante deles.

Ainda se apoiando ao garoto de vestes vermelhas, os pensamentos de Yellow retornaram aos eventos que aconteceram com a ave gigante.

Junto do sentimento desconfortável que podia sentir em todo seu corpo, a garota estava ainda mais confusa do que antes.

Mas ela tinha certeza do que era aquilo que sentira vir do Pokémon pássaro, minutos atrás.

Era medo.

Dúvidas ela sentia

E percebeu o

Fardo que levaria


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dois cliff seguidos? No mesmo capítulo? Vão me matar com pedras ou machados? -leva tiros-
EU SINTO MUITO, SÉRIO! ;A;
Já estamos seguindo para uma das partes mais importantes da história, mas ainda falta mais umas coisas acontecerem. Não sei se fico ansiosa ou com medo, hehe;;;

Also, eu fiz uma playlist pra fic, caso vocês queiram, eu posso deixar o link numa notas iniciais ou finais futuras, quem sabe.

Espero que tenham gostado (me sinto mal falando isso, mas bem) e até o próximo capítulo!
—leva mais tiros-



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Lost Number" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.