– Só em pensar que durante todo esse tempo eu senti falta das nossas conversas. Dos seus desabafos bem no meio da melhor parte do filme. Senti falta dos seus beijos, de te levar o café todos os dias. Senti falta até mesmo do seu cheiro de cerejas. Parece bobagem, mas era bom te ter sempre do meu lado. Um dia fomos grandes parceiros. Eu me apaixonei perdidamente por aquela detetive que não media esforços para alcançar justiça.

– Castle...

– Me deixa terminar... Mas depois de você ter feito isso, toda aquela imagem que eu tinha de você se desfez. Se antes eu te amava, o único sentimento que eu consigo sentir por você agora é ódio. E não pense que as coisas vão ficar desse jeito, Beckett. Hoje mesmo eu vou ligar para o meu advogado. Eu vou pedir a guarda da minha filha. - ele falou antes de sair batendo a porta.

XXXX

Castle chegou no apartamento de Alexis com os olhos ainda vermelhos. Tinha acabado de falar por telefone com seu advogado sobre a guarda da filha. Foi advertido de que o caso seria difícil pois como a garota nasceu na Inglaterra, o julgamento aconteceria em um tribunal inglês. Mas isso não o intimidou e pediu para o advogado começar a papelada imediatamente.

Preocupada com o pai, a ruiva deixou as louças que estava lavando de lado e o perguntou o que tinha acontecido.

– Eu tenho uma filha com a Beckett. - Castle confessou enquanto desabava no sofá. Alexis sentou do lado dele, estava confusa com a novidade. A última vez que tinha visto Kate foi quando ela ainda namorava seu pai e a única coisa recente que soube sobre ela é que estava morando em Londres. - Ela estava grávida quando nós terminamos e não me contou. Ela escondeu a minha filha de mim! E provavelmente nunca iria me contar sobre ela!

– Pai, eu sei que você está muito nervoso e também sei que o que ela fez não foi certo, mas... você a deixou se explicar? - a garota conhecia a detetive, sabia que ela devia ter um motivo para ter feito o que fez.

– Isso não tem explicação, Alexis! – falou, irredutível.

– Como você descobriu?

Castle explicou para a filha tudo o que tinha acontecido naquele dia - desde o café com Beckett até o momento que a confrontou. Ele não conseguia segurar as lágrimas, estava inconsolável. Ainda não conseguia aceitar o fato de ter ficado quase quatro anos longe da filha.

– Qual é o nome da minha irmãzinha? - Alexis mudou de assunto ao perceber que o pai estava a ponto de perder o controle e desmoronar.

– Sofia.

– Você a conheceu?

– Não. Eu fiquei tão descontrolado quando descobri tudo que achei melhor voltar lá amanhã para conhecê-la.

– Eu sei que ela vai te amar assim como eu te amo.

– Eu também sei. Sou uma pessoa irresistível.

XXXXXX

Ainda não eram 9 horas da manhã quando Beckett ouviu batidas na sua porta. Estranhou o fato de alguém ir até sua casa pois era domingo e não tinha marcado com ninguém.

– Oi. - Castle cumprimentou ao notar que ela ficou sem ação ao vê-lo.

– Vai embora, Castle. - ela pediu. A voz trêmula denunciava seu nervosismo. Não tinha conseguido se acalmar desde que ele lhe dissera que iria pedir a guarda da filha.

Como ela iria suportar viver longe de Sofia? Kate tinha passado a noite inteira velando o sono da pequena, enquanto sua mente divagava até os momentos que já tivera ao lado dela. Lembrou de quando a pegou nos braços pela primeira vez, seu primeiro sorriso, seus primeiros passos, a primeira vez que falou "mamãe". Não conseguia sequer imaginar a dor que ambas sentiriam se fossem separadas. Em hipótese alguma ela iria deixar isso acontecer.

– Eu só quero conhecer a Sofia. - ele falou baixinho, mas de modo firme. - Não vim para discutir com você. - completou. Kate abriu um pouco mais a porta para lhe dar passagem. Ela já esperava que ele fosse aparecer para conhecer a filha.

– Nós duas estamos brincando de esconde-esconde, então vou ter que achá-la primeiro. - Kate falou com um sorriso fraco.

– Posso ajudar a procurar? - ele estava sem jeito. Não conseguia imaginar qual seria a reação de Sofia ao conhecê-lo.

– Não precisa. Geralmente ela se esconde no quarto dela. Vamos lá. - Castle a seguiu até o quarto todo cor-de-rosa e repleto de ursinhos. Assim que eles entraram, puderam ouvir uma risadinha abafada que vinha de baixo da cama.

– Nossa, onde será que tá a Sofia? - Kate piscou para que ele entrasse na brincadeira.

– Você tem certeza que ela está aqui? Porque eu não estou a vendo em lugar nenhum.

Ao ouvir a voz desconhecida, a garotinha saiu do seu esconderijo e se jogou no colo da mãe aos risos. Castle ficou paralisado ao vê-la. Sofia estava com um vestidinho amarelo que evidenciava as nuances claras do seu cabelo castanho. Os cachos, idênticos aos de Kate, pendiam suavemente até o meio de suas costas. Já os olhos de Sofia eram de um azul intenso, iguais aos seus. Os seus traços eram infinitamente mais delicados do que ele imaginou. As bochechas estavam rosadas por conta da brincadeira. Tão linda! Uma perfeita combinação entre ele e Beckett.

– Quem é ele, mamãe? - Sofia perguntou apontando para Castle, que ainda a observava todo bobo.

– Esse é o Rick. Ele é lá de NY! - Kate falou enquanto colocava a filha no chão.

– Prazer, Rick. Eu sou a Sofia. - ela estendeu a mãozinha para ele que rapidamente a apertou.

– O prazer é todo meu.

– Você conhece a tia Lanie, o tio Ryan e o tio Espo? Eles também são lá de NY! - a garota perguntou, enquanto o puxava pela mão para sentar em sua pequena mesinha. Kate sorriu ao ver para onde Sofia o estava levando, pois a filha só usava aquele lugar brincar de chá da tarde com suas bonecas ou para fazer alguma “reunião importante” com suas amiguinhas.

– Eu conheço todos eles. - Castle falou se sentando em uma das minúsculas cadeirinhas.

– Eles são bem legais! A mamãe sempre fala sobre eles, não é mamãe?

Kate confirmou balançando a cabeça. Ela também sentou em uma das cadeirinhas e observou discretamente a reação de Castle ao conversar com a filha. Dava para perceber de longe que ele já estava encantado por ela.

– Eu tenho um monte de histórias sobre quando eu, eles e sua mãe derrotávamos os caras malvados.

– Você me poderia contar alguma? - a menina pediu, maravilhada. Ela adorava ouvir historinhas novas.

Castle começou a contar uma história um tanto quanto exagerada para a filha, que gargalhava com a caras e bocas que ele fazia. Os dois haviam tido uma conexão imediata.

Kate levantou com a desculpa de ir fazer o almoço para os deixar a sós, afinal, aquele era um momento só deles.

– Obrigada. - ele sussurrou para Kate antes que ela fechasse a porta do quarto.